Pesquisa Unifor: Chatbot auxilia profissionais da saúde no uso do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
seg, 11 agosto 2025 16:59
Pesquisa Unifor: Chatbot auxilia profissionais da saúde no uso do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
Coordenado por Karina Pedroza, o estudo contribui com a atualização dos profissionais que utilizam o SISVAN para melhorar a qualidade dos dados sobre alimentação e nutrição da população brasileira

No Brasil, as informações sobre o estado nutricional e os marcadores de consumo alimentar da população atendida na atenção primária são disponibilizadas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). A plataforma contribui para que os profissionais da saúde conheçam a natureza e a magnitude dos problemas de nutrição, identificando áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais.
Pensando nesse cenário, a Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, fomenta pesquisas que contribuem para análises na área da saúde nutricional de forma rápida e eficaz. O estudo “Chatbot mediando o processo de trabalho em saúde com ênfase nos dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional”, é um desses exemplos.
A pesquisa desenvolveu e validou o chatbot Vânia, uma ferramenta de inteligência artificial integrada ao WhatsApp, para auxiliar profissionais de saúde no uso do SISVAN. O estudo consiste em contribuir com a atualização dos profissionais que utilizam a plataforma e, assim, melhorar a qualidade dos dados sobre alimentação e nutrição da população brasileira, facilitando o diagnóstico da saúde nutricional e o planejamento e reorientação de políticas públicas.
Karina Pedroza, professora do curso de Nutrição da Unifor e coordenadora do projeto, explica que a tecnologia criada é um assistente virtual que simula conversas humanas por mensagens. No caso do Vânia, ele tira dúvidas sobre o SISVAN em tempo real, como um “professor digital” sempre disponível no celular. “Por exemplo: se um profissional não sabe como medir uma criança corretamente, o chatbot explica o passo a passo com imagens e textos simples”, comenta.
Segundo a professora, o principal objetivo foi criar uma solução tecnológica que tornasse o SISVAN mais acessível e eficiente, ajudando profissionais de saúde a registrar dados antropométricos (peso, altura etc) e de consumo alimentar com menos erros e maior consistência e qualidade da informação.
“A vigilância nutricional é um desafio constante, especialmente em um país com realidades tão diversas como o Brasil. Continuar pesquisando nessa área é essencial porque a tecnologia evolui rápido, novas ferramentas de inteligência artificial, como chatbots mais avançados ou integração com outros sistemas de saúde, podem tornar o SISVAN ainda mais eficiente. Os problemas nutricionais mudam, a obesidade infantil cresce, enquanto algumas regiões ainda enfrentam desnutrição. Precisamos de dados atualizados e precisos para criar políticas que atendam a essas necessidades.” — Karina Pedroza, professora do curso de Nutrição da Unifor e coordenadora da pesquisa
Complementando a equipe, a pesquisa ainda contou com os(as) professores(as) Luiza Jane Eyre, do Programa Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Unifor e orientadora do estudo; Antônio Augusto Ferreira, também do PPGSC e colaborador; Ana Cléa Camurça, da graduação em Nutrição da Unifor e colaboradora; e a bolsista Maria Eduarda Jucá, egressa do curso de Enfermagem da Unifor.
Como a pesquisa foi desenvolvida?
O estudo foi dividido em cinco etapas:
- Entrevista com gestores de saúde para entender os desafios do SISVAN;
- Análise de dados nutricionais de adolescentes no sistema;
- Revisão de estudos sobre chatbots em Saúde;
- Desenvolvimento do chatbot Vânia usando a plataforma Total Chat;
- Validação por especialistas em nutrição e tecnologia.
De acordo com a bolsista Maria Eduarda Jucá, atualmente mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a construção da pesquisa também envolveu a revisão da literatura, elaboração de conteúdos com linguagem acessível e desenvolvimento da ferramenta com apoio de profissionais da tecnologia e da saúde.
“Inicialmente, fizemos uma revisão científica sobre as principais dificuldades enfrentadas por profissionais em relação ao SISVAN. A partir disso, estruturamos um banco de perguntas e respostas baseado nas dúvidas mais frequentes. Em seguida, programamos a Vânia em uma plataforma de chatbot do Google”, explica.
Foram ainda realizados estudos qualitativos, análise de dados secundários, revisão bibliográfica, desenvolvimento tecnológico e validação por juízes. Tudo isso para garantir que o chatbot fosse útil, preciso e fácil de usar.
No aguardo de validação para uso público, a ferramenta funciona no WhatsApp, com respostas sobre medidas antropométricas, cadastro no SISVAN e geração de relatórios. Ainda haverá a fase de testes com profissionais de saúde em campo e a validação dos conteúdos com especialistas para garantir clareza, usabilidade e aplicabilidade da ferramenta no cotidiano do Sistema Único de Saúde (SUS), além de ajustes para incluir mais funcionalidades.
Qual a importância da pesquisa?
O SISVAN é crucial para monitorar problemas como obesidade e desnutrição no Brasil. Melhorar seu uso significa políticas públicas mais eficazes, que incluem programas de alimentação escolar ou combate à fome, impactando diretamente a saúde da população.
Com isso, a professora Karina destaca que, para os profissionais, esse estudo traz o benefício de respostas rápidas sobre como usar o SISVAN. De maneira indireta, a ferramenta consegue dar para os gestores públicos dados mais confiáveis para planejar ações, beneficiando a população com um melhor acompanhamento nutricional e acesso a programas sociais.
“Pesquisar nessa área significa salvar vidas. Cada melhoria no SISVAN ajuda a direcionar alimentos para quem tem fome, combater a obesidade nas escolas ou detectar doenças crônicas mais cedo. É investir em um futuro onde a saúde pública seja, realmente, promotora de saúde e previna doenças e agravos não apenas de modo emergencial”, declara a professora.
Já Maria Eduarda ressalta que o chatbot Vânia busca qualificar a atuação dos profissionais de saúde no uso do SISVAN. “Quando os dados são bem preenchidos e utilizados, eles orientam políticas públicas e ações de cuidado mais eficazes, impactando diretamente na saúde coletiva”, comenta.
Para ela, o estudo facilita a compreensão e o uso do SISVAN, contribuindo para diagnósticos mais precisos sobre a situação alimentar e nutricional das comunidades e promovendo ações preventivas mais eficientes. Além disso, o chatbot representa uma forma inovadora, ágil e acessível de capacitar profissionais em serviço.
“As pesquisas que unem tecnologia e educação em saúde têm grande potencial transformador. Elas ajudam a aproximar os profissionais das ferramentas que já existem no SUS, fortalecem o cuidado baseado em evidências e estimulam a inovação no serviço público de saúde” — Maria Eduarda Jucá, egressa do curso de Enfermagem da Unifor e membro da equipe de pesquisa
Resultados alcançados
A pesquisa já gerou contribuições importantes em diferentes frentes. Em relação aos dados nutricionais de adolescentes acompanhados pelo SISVAN (2008-2019), foi encontrado um aumento preocupante da obesidade em todas as regiões do Brasil. Enquanto isso, o Nordeste ainda apresenta altos índices de magreza e a cobertura do sistema ainda é baixa (menos de 20% da população).
Funcional no WhatsApp, o chatbot Vânia responde às principais dúvidas sobre:
- Como pesar e medir corretamente em diferentes faixas etárias;
- Passo a passo para cadastrar pacientes no sistema;
- Geração de relatórios e análise de dados.
O estudo está sendo compartilhado gradualmente com a comunidade científica. Até agora, já obteve importantes resultados publicados e está sendo finalizado o processo de documentação sobre o chatbot, que é a novidade mais prática deste trabalho. A primeira etapa da pesquisa, que foca na análise do estado nutricional de adolescentes no SISVAN, foi publicada na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil (RBSMI).
Unifor oferece estrutura de ponta para pesquisa
Segundo Karina, a Universidade de Fortaleza foi fundamental em todas as etapas desta pesquisa, oferecendo diversos tipos de suporte. “Durante os quatro anos de doutorado, recebi bolsa do Programa de Apoio a Equipes de Pesquisa 2023, da Fundação Edson Queiroz. A Unifor disponibiliza laboratórios equipados e acesso a bases de dados científicas essenciais para a revisão bibliográfica”, compartilha.
A Unifor promove um ambiente acadêmico que estimula a pesquisa aplicada, organiza eventos como o Encontro de Pós-Graduação e Pesquisa — onde Karina teve a oportunidade de apresentar resultados parciais do projeto. Além disso, conta com assessoria para submissão de artigos a periódicos qualificados, oportunidades de publicação nos Encontros Científicos da Universidade e incentivo à participação em congressos nacionais e internacionais.