seg, 26 fevereiro 2024 10:21
Pesquisa Unifor: Estudo avalia os impactos da IA no jornalismo
Trabalho é fruto do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Comunicação Empresarial (Nepce), equipamento do curso de Jornalismo da Unifor
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem se estabelecido como uma ferramenta fundamental em diversas áreas, e o jornalismo não é exceção. Com algoritmos cada vez mais sofisticados e capacidade de processamento de dados sem precedentes, a IA está transformando a maneira como as notícias são produzidas, distribuídas e consumidas.
Mas qual será o resultado dessa realidade? Embora as plataformas de inteligência artificial prometam eficiência e rapidez de produção, seu impacto nem sempre é positivo. Na verdade, há crescentes preocupações sobre os efeitos adversos que a automação pode ter na qualidade e integridade do jornalismo.
Visando esclarecer esse cenário, o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Comunicação Empresarial (Nepce) do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza — instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz —, realizou uma pesquisa sobre os impactos da IA na produção jornalística.
Sobre jornalismo e IA
Segundo Wagner Borges, coordenador da graduação em Jornalismo da Unifor, o estudo nasceu com o objetivo de subsidiar o curso com estratégias de comunicação relacionadas à temática, visto os impactos que a IA pode gerar na formação de futuros jornalistas. Além dele, são responsáveis pelo trabalho os professores Carlos Bittencourt e Delano Lima.
“É preciso entender que, por mais que se critique ou elogie a inteligência artificial, ela é um um fenômeno com tendência de crescimento constante. Por isso, precisamos nos adaptar e compreender a revolução que ela traz, especialmente no cenário mercadológico da comunicação.” — Wagner Borges, coordenador do curso de Jornalismo
A partir daí, buscou-se analisar como é aplicada, na prática, a IA na produção jornalística. Isso aconteceu por meio de uma técnica chamada Análise de Desenvolvimento de Texto, utilizada na área de Processamento de Linguagem Natural (PLN). Com ela, é possível apontar a atitude emocional expressa em um determinado texto.
O método, que foi aplicado do primeiro semestre de 2022 ao final do segundo semestre de 2023, contemplou seis grandes portais de notícia que utilizam inteligência artificial:
- Associated Press (AP);
- Reuters;
- The Guardian;
- Washington Post;
- BBC;
- G/O Media;
- News Corp Australia.
A análise aconteceu em títulos de matérias e fragmentos de textos, classificando os resultados em três categorias de emoção: negativa, neutra ou positiva.
Resultados
Os resultados da pesquisa apontam que, em títulos, a emoção predominante é neutra (90%), destacando um caráter mais informativo. Já nos fragmentos, destaca-se o sentimento positivo (49.9%), refletindo, como um todo, a ausência de uma perspectiva mais crítica.
Para Carlos Bittencourt, docente do curso de Jornalismo e pesquisador do Nepce, os resultados apontam que “a inteligência artificial tem buscado a neutralidade”, ainda mais no que se refere ao jornalismo como um negócio, trazendo colocações mais positivas.
Uma das perguntas que tem sido feita é “Os robôs vão dominar o jornalismo?” (Ilustração: Getty Images)
Além disso, por meio de nuvens de palavras e redes semânticas, foi possível avaliar os termos com maior repetição e os modelos utilizados para as construções dos textos, partindo das três categorias de emoção.
“A IA trabalha num espaço de previsibilidade na construção do texto, que revela-se correta, mas pouco inovadora”, destaca um dos trechos do trabalho.
> Confira os resultados da pesquisa
E o futuro?
O estudo também fez uma projeção de estratégias para o futuro, partindo de três teorias. A primeira, é se a IA substitui o jornalismo; a segunda, se IA melhora o jornalismo; e a terceira, de que a IA engole o jornalismo.
A partir disso, foram desenvolvidas seis estratégias comunicacionais que, já em 2024, serão aplicadas no curso de Jornalismo da Unifor:
1. Utilização de IA generativa para aumentar a eficiência nos fluxos de trabalho de produção de notícias existentes. Isto envolve a otimização de etapas específicas do processo de produção, mas pode trazer benefícios de curta duração.
2. Adotar uma abordagem mais ambiciosa ao reimaginar e expandir o escopo de novos produtos usando IA generativa. O objetivo é acomodar a escolha ampliada do público facilitada pela IA generativa.
3. Foco na diferenciação e na vantagem competitiva, oferecendo produtos noticiosos exclusivos que permanecem valiosos para o público em um ecossistema de informação mediado por IA.
4. Desenvolver tecnologias e serviços de informação proprietários centrados em notícias, semelhantes a ferramentas de inteligência especializadas. Esta estratégia requer um investimento de capital significativo e iniciativas lideradas pela investigação.
5. Pré-treinar, de forma cautelosa, modelos de linguagem proprietária usando o arquivo de uma redação, pois pode ser um desafio atrair o talento necessário e manter a relevância e a precisão do modelo.
6. Aconselha-se cautela ao construir chatbots proprietários para acesso conversacional a notícias e arquivos. São vários os desafios na replicação da natureza fluida da comunicação com grandes modelos de linguagem.
Conheça o Nepce
O Núcleo de Estudo e Pesquisa em Comunicação Empresarial (Nepce) capacita estudantes a tornarem-se profissionais alinhados com as demandas da sociedade e do mercado ao trabalhar temas como jornalismo corporativo e assessoria de comunicação.
O Nepce é o primeiro equipamento dessa natureza operado por um curso de Jornalismo privado no Nordeste. A iniciativa opera no hub de laboratórios do curso de Jornalismo da Unifor, estando integrado ainda ao Portal de Notícias NewsLink e a NewsLinkTv.
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