Saúde da mulher: Entenda a história e a importância dessa área
O segmento se configura como uma das grandes áreas prioritárias das políticas nacionais de saúde
No Brasil, as mulheres representam a maior parcela da população, correspondendo a 51,8% do total de 215 milhões de pessoas. Apesar de serem maioria, elas sofrem problemas que impactam nos principais indicadores sociais, incluindo fatores de saúde, como a mortalidade materna e as adversidades do ciclo gravídico-puerperal.
A partir desse contexto, a saúde da mulher surge com o objetivo de promover a assistência integral ao bem-estar do público feminino por meio da organização e monitoramento de ações que visam reduzir a morbidade e mortalidade desse grupo.
Essa se tornou uma das grandes áreas prioritárias das políticas nacionais de saúde com o decorrer do tempo. Em 1984, o Ministério da Saúde desenvolveu o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). A iniciativa tinha a proposta de descentralizar, hierarquizar e regionalizar os serviços voltados às mulheres, mas apenas na perspectiva da saúde reprodutiva.
A partir da pressão de movimentos sociais, aprofundamento de estudos na área e o entendimento da necessidade de tratar a saúde da mulher de forma integral, foi criada, em 2004, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), que ampliou as ações e está em vigência até hoje.
Segundo o Ministério da Saúde, o projeto tem o objetivo de:
- Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro.
- Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie.
- Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde.
A PNAISM também estabelece atenção humanizada às mulheres em casos de vulnerabilidade social, como mortalidade materna, violência doméstica e sexual, doenças crônico-degenerativas e câncer ginecológico. Com isso, a iniciativa viabilizou um olhar mais aprofundado para temáticas muitas vezes tratadas como tabus.
Sammya Bezerra, docente do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz — destaca que, na atualidade, as principais áreas de estudo e atuação na saúde da mulher são:
- Planejamento da vida sexual e reprodutiva;
- Assistência pré-natal;
- Assistência ao aborto, parto e puerpério;
- Prevenção e detecção do câncer de colo uterino e da mama;
- Combate à violência sexual.
Sammya Bezerra, docente do curso de Medicina da Unifor e PhD em Saúde Coletiva (Foto: Arquivo pessoal)
A professora afirma que as principais patologias que acometem o sexo feminino englobam infecções (urinárias, vulvovaginites e infecções sexualmente transmissíveis), doenças ligadas ao ciclo menstrual e reprodutivo (anovulação, endometriose e infertilidade), cânceres (mama, colo uterino e ovário), fibromialgia, obesidade, ansiedade e depressão.
Prevenção aos cânceres
Uma das principais problemáticas que englobam a saúde da mulher é o câncer. Dentre os tipos que acometem com maior frequência o segmento feminino, destacam-se o de mama — o mais incidente nas mulheres —, colo do útero, endométrio, ovários, vulva e vagina.
O combate a essas doenças é árduo, gerando um índice significativo de mortalidade e causando diversas sequelas, mas os danos podem ser reduzidos pela prevenção.
A exemplo disso, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) do Brasil revelou que, em 2020, cerca de 13% dos casos de câncer de mama poderiam ter sido evitados por meio da redução de fatores de risco relacionados ao estilo de vida dos indivíduos.
O combate ao câncer de mama começa com a conscientização sobre o assunto entre o público feminino (Ilustração: Getty Images)
Em meio a esse contexto, a docente do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, Priscila Paiva, decidiu se dedicar a esta linha de estudo. A aptidão pela área surgiu de sua atuação como nutricionista oncológica, na qual se deparou com a realidade vivenciada por muitas mulheres que enfrentavam o câncer de mama.
“Compreender os aspectos nutricionais relacionados com a etiologia da doença, os sintomas e desfechos relacionados ao tratamento na vida dessas mulheres, me motivou a estudar e pesquisar algumas temáticas, em especial a obesidade, alimentação e estilo de vida antes, durante e após os tratamentos antineoplásicos”, revela.
Além de investigar o impacto do câncer de mama nas mulheres, suas pesquisas a permitiram levantar novas proposições que evidenciam a importância dos estudos voltados à saúde da mulher. Assim, fortalece a ideia de que é cada vez mais necessária uma maior atenção no cuidado nutricional das mulheres com foco na prevenção do câncer feminino.
“As pesquisas relacionadas com a saúde da mulher poderão fornecer evidências científicas robustas e consistentes que permitam explicar melhor a relação dos comportamentos de saúde e a relação com o surgimento de doenças que acometem a população feminina, além de viabilizar a elaboração de novas estratégias de tratamentos e políticas públicas que possam prevenir o câncer feminino” — Priscila Paiva, docente do curso de Nutrição da Unifor.
Em 2021, Priscila deu início à pesquisa NutriFemi - Fortaleza em parceria com a professora Sara Moreira, da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O trabalho busca descrever o perfil da mulher fortalezense quanto aos fatores de risco ligados ao estilo de vida, que estão diretamente relacionados com a prevenção do câncer feminino.
Nos resultados preliminares, foi verificado que, das 786 mulheres avaliadas, 52,4% apresenta obesidade ou sobrepeso e 72,2% apresentam algum risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, segundo a circunferência da cintura. Quanto ao consumo alimentar:
- 33,4% relataram consumir fast food com frequência;
- 90,8% consomem carne vermelha e processada;
- Cerca de 37% nunca ou raramente consomem frutas, legumes, grãos integrais e feijões;
- 30,8% nunca praticam atividade física;
- 64,1% apresentam comportamento sedentário.
“Estes resultados reforçam a hipótese de que o estilo de vida das mulheres de Fortaleza pode concorrer para aumentar o risco de surgimento de câncer na população feminina”, declara.
É importante salientar que os dados são preliminares e o estudo não apresenta um desenho que estabeleça a relação de causa e efeito. No entanto, isso já aponta que estratégias de educação em saúde, no que diz respeito a modificações no estilo de vida dessas mulheres, são necessárias para a prevenção ao câncer.
Fique ligada
Compreendendo a importância da temática, a docente Sammya Bezerra listou cinco dicas para mulheres cuidarem da sua saúde. Confira:
1 - Cuidado com a alimentação
Cuide da sua alimentação, de preferência com acompanhamento nutricional feito por profissional especializado.
2 - Pratique exercícios físicos
Saia do sedentarismo, praticando pelo menos 30 minutos diários de exercícios físicos cinco vezes por semana, idealmente com acompanhamento de profissional de educação física.
3 - Realize exames com frequência
Visite o médico e faça seus exames regularmente. Exames como papanicolau e mamografia detectam precocemente os principais cânceres da mulher e estão previstos como garantidos pelo SUS.
4 - Atenção para a higiene
Cuide de sua saúde íntima e reprodutiva, atentando para a higiene genital, prática de sexo seguro e planejamento familiar.
5 - Priorize a saúde mental
Não esqueça de cuidar da sua saúde mental, incluindo em sua rotina tanto os momentos semanais de lazer, como encontros com amigos, sessões de terapia cognitiva-comportamental e relaxamento.