seg, 15 março 2021 17:52
A Ciência feita por elas e a Literatura que apreciam
As referências na literatura e no cotidiano são o mote para contar a trajetória plural das mulheres que fazem a Universidade de Fortaleza em diferentes áreas do conhecimento
Ciência é palavra feminina e, cada vez mais, é produzida pelas mulheres no Brasil. No mês do Dia Internacional da Mulher, professoras e pesquisadoras da Universidade de Fortaleza contam o que representa ser cientista no Ceará e como a produção e a atuação de outras mulheres foram importantes para abraçarem a carreira de pesquisadoras. As professoras da Unifor Alexandra Siebra, Danielle Maia Cruz, Danielle Malta e Vládia Célia Pinheiro indicaram livros escritos por outras mulheres, não necessariamente na área em que atuam. Contaram ainda quais mulheres foram cruciais para estimulá-las a entrar e a continuar na academia.
A presença do artigo feminino antes da profissão cientista já foi raríssima no Brasil, assim como em muitos outros países. No início do século XIX, mulheres precisavam se disfarçar de homens para assistir às aulas em universidades europeias e escritoras chegavam a usar pseudônimos masculinos para conseguirem publicar. Rita Lobato foi a primeira mulher a graduar-se em Medicina no Brasil, apenas no ano de 1887, embora o ensino superior no país já existisse há quase oito décadas no país.
Entre as professoras da Unifor a diversidade nas escolhas literárias e nos temas que decidiram pesquisar, assim como os rumos que tomaram ao longo da vida pessoal, é emblemática da pluralidade dos significados de ser mulher e de ser cientista. A premiada escritora espanhola Rosa Montero destaca, no prefácio do livro “Nós, mulheres: grandes vidas femininas”, a importância de conhecer e contar sobre as mulheres que a antecederam. “Porque há uma história que não está na história e que só pode ser resgatada aguçando-se o ouvido e escutando os sussurros das mulheres”, explica Rosa Montero.
Veja também no blog da Biblioteca da Unifor indicações de grandes escritoras da Literatura Brasileira na matéria Por que ler Mulheres?.
Universidade de Fortaleza
A Universidade de Fortaleza conta com predominância de mulheres tanto no corpo docente quanto discente. Na Unifor, elas são 55,74% entre alunos dos cursos de graduação. Na docência, esse índice chega a 57,77%. Além disso, a universidade também conta com uma mulher à frente da instituição desde 2009, a professora Fátima Veras. A seguir, docentes de cada um dos quatro centros de Ciências da Unifor contam um pouco das próprias histórias, das preferências literárias e relatam os caminhos que vêm trilhando na busca constante pelo conhecimento.
Elas na academia
Mulheres nas Ciências Contábeis
“A importância da mulher na academia é imensurável e a sua participação nela deve ser constantemente incentivada, a fim de tornar a sociedade mais justa e igualitária”
— Alexandra Siebra
Ainda que o número de mulheres em produção relacionada à iniciação científica, mestrado e doutorado tenha crescido, de acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), as participações delas em bolsas de produtividade ainda são inferiores às concedidas aos homens. Nesse cenário, é importante que a sociedade discuta a participação das mulheres na produção científica no mundo, destaca a coordenadora e professora do Curso de Ciências Contábeis da Universidade, Alexandra Alencar Siebra.
Ela considera que os motivos para essa situação são diversos. “Entre eles [os motivos] estão a maior designação de atividades de casa para as mulheres, o preconceito em relação à competência delas na ciência e a escassez de estímulos sociais para que elas avancem suas pesquisas na academia”, afirma a pesquisadora.
O protagonismo feminino gera referência para meninas ao construir seus desejos na infância e mulheres que escolhem o caminho da pesquisa, pondera a professora que atua no Centro de Ciências da Comunicação e Gestão da Unifor. Alexandra Siebra, além de pesquisadora, estudante de doutorado e consultora, é a filha do Vicente e da Ceci e a mãe da Giovana.
Para Alexandra, duas mulheres desempenharam um papel de destaque na academia, como a pesquisadora Mary Parker Follet, visionária que no século XIX desenvolveu e introduziu o conceito de circularidade na interação entre seres humanos, um pensamento que é base para o gerenciamento colocado em prática no dia-a-dia das empresas. E como destaque atual, a contadora Maria Clara Bugarim, professora titular da Universidade de Fortaleza, presidente da Academia Brasileira de Ciências Contábeis (Abracicon) e da Associação Interamericana de Ciências Contábeis que realiza com maestria a conexão entre ciência e sociedade.
Na vida, Alexandra destaca a ligação com sua mãe Ceci, referência em muitos aspectos. “Minha mãe, que com sua coragem de nordestina saiu do interior do Ceará para tentar a vida no Rio de Janeiro, nunca deixou de acreditar na vida e enfrenta até hoje as adversidades do cotidiano com firmeza e criatividade. Se tornou a minha melhor amiga, ao ser minha confidente e porto seguro e, mais do que tudo, me apoia e me ajuda a viver toda a minha potencialidade. Duas mulheres que acreditaram e acreditam em mim”, relembra a pesquisadora.
Em sua trajetória profissional, Alexandra Siebra destaca sua orientadora de doutorado, professora Mônica Cavalcanti Sá de Abreu, que em 2010, a ajudou a tomar a decisão que mudaria sua vida: "Na época fiquei em dúvida se abandonava o mestrado para assumir um concurso público, ou continuava a investir no sonho de ser pesquisadora e professora universitária. Acreditei no sonho e hoje vivo a realidade de ser docente no ensino superior”, conclui.
Na literatura, Alexandra Siebra destaca cinco obras marcantes por motivos distintos.
O Diário de Anne Frank, de Anne Frank
Na Holanda ocupada por nazistas na Segunda Guerra Mundial, o comerciante Kraler abriga duas famílias de judeus no sótão. A jovem Anne Frank mantém um diário da vida cotidiana dos Franks e dos Van Daans, narrando a ameaça nazista e a dinâmica familiar. Um romance com Peter Van Daan causa ciúmes entre Anne e sua irmã, Margot. Anos depois de as duas famílias terem sido capturadas, Otto Frank volta ao sótão e acha o diário da filha. O livro impactou a professora após sua visita à Holanda, onde conheceu o local onde Anne escondeu-se com a família.
A Hora da Estrela, de Clarice Lispector
O livro conta a história de Macabéa, uma migrante nordestina que sai de Alagoas para tentar uma nova vida no Rio de Janeiro. A moça é datilógrafa e consegue um emprego simples que a ajuda a se manter nos primeiros meses. Porém, “A Hora da Estrela” não se trata de uma narrativa feliz. “O último romance de Clarice Lispector relata a vida da jovem nordestina e seus sonhos, que me leva a um lugar vivido”, conta.
O Quinze, de Rachel de Queiroz
Com o enfoque na região nordestina, a obra O Quinze tem caráter regionalista. Numa narrativa linear, a cearense Rachel retrata a realidade dos retirantes nordestinos quando a região foi atingida por uma grande seca em 1915. A obra traz o regionalismo e a representação feminina de destaque em um cenário social opressor.
Atitude Empreendedora: descubra com Alice seu país das maravilhas, de Mara Sampaio
Por meio das aventuras de Alice, personagem criada por Lewis Carroll, a autora Mara Sampaio propõe, num texto lúdico e criativo, formas de desenvolver uma atitude empreendedora, algo essencial para o crescimento de qualquer profissional, seja como funcionário de uma empresa, seja como dono de um negócio próprio. Na análise, o leitor é levado a identificar as características de comportamento e, sobretudo, as atitudes que permitem empreender com sucesso.
Viver Melhor: Reflexões para o Crescimento Pessoal e Profissional, de Marília Fiúza
A premissa de Marília Fiúza é: viver melhor requer um investimento de atenção e de cuidado com várias áreas da nossa vida, sem depositar energia excessiva ou exclusiva em uma só. Viver melhor é combater a violência interior existente em todos nós. As reflexões convidam a pensar diferente expandindo nossa mente, buscando eliminar julgamentos e todas as crenças que tornam seres humanos pesados ou afastados de si mesmos e dos outros.
A luta pela equidade de direitos
“Isso (o aumento das mulheres na universidade) deve ser celebrado como uma conquista histórica do direito à escolaridade. Fruto de uma luta dos movimentos feministas. Isso porque o direito não é algo dado, mas algo conquistado. E que deve ser permanentemente vigiado, para que não se perca esse direito”. - Danielle Maia Cruz
Ser uma mulher que estuda sobre a condição de outras foi uma das escolhas da professora do Mestrado Profissional em Direito e Gestão de Conflitos (MPDIR/Unifor), Danielle Maia Cruz. Os passos da pesquisadora levaram-na à coordenação do Laboratório de Estudos sobre Violências contra Mulheres, Meninas e Minorias (Levim), que é vinculado ao Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da Universidade de Fortaleza. A opção por ser mãe do Antônio, de 7 anos, também trouxe novas influências na trajetória de trabalho, pois foi um estímulo para estudar sobre os impactos da maternidade na carreira docente. O tema vem sendo pesquisado no Levim desde 2018
A professora comemora a conquista feminina por mais espaço na educação superior, mas alerta também sobre a importância de garantir que não haja retrocessos na caminhada pela educação e por outros direitos. “A escolaridade é algo muito importante na vida de uma mulher, de mulheres e de meninas, porque oferece maiores oportunidades de vislumbrar uma vida com maior autonomia financeira, uma vez que o título acadêmico confere maiores chances na construção de uma carreira profissional. Mas não somente autonomia financeira, autonomia social”, avalia. Com pós-doutorado em Avaliação de Políticas Públicas, a professora pesquisa temas com ênfase em cultura popular, patrimônio, sociologia da arte e as imbricações de gênero e raça nos temas citados. Também entrou em outra graduação e cursa o sexto semestre de Psicologia na Unifor.
Sobre os incentivos na carreira acadêmica pela qual optou, Danielle considera que teve “muita sorte” e conta “com orgulho” o apoio que recebeu da socióloga e psicanalista Maria Inês Detsi, professora aposentada da Unifor. Maria Inês, ministrava uma cadeira de metodologia científica, quando conversou com a então aluna de graduação ainda indecisa sobre a carreira e a orientou a cursar disciplinas como ouvinte na Sociologia.
“Provavelmente porque, na época, ela enxergou em mim algumas habilidades que até então ninguém tinha enxergado. E isso foi fundamental: o olhar sensível dela. Ela fez uma escuta muito atenta ao meu sofrimento na época e foi muito certeira”, conta a professora que à época decidiu trilhar um novo percurso nas Ciências Sociais, curso para o qual migrou depois de ter iniciado a graduação em Comunicação Social. Foi então que Danielle descobriu o interesse pela pesquisa e pela docência. Alguns anos depois, a mesma professora a indicou para participar de uma seleção na Unifor, em 2013.
“Sou grata por ela ter visto tantas possibilidades em mim. Então, ela é uma mulher que realmente vai ficar marcada na minha história. E eu tenho muito orgulho de ter essa história”, relata.
A indicação dos cinco livros escritos por mulheres feita por Danielle é a seguinte:
Mutações - Liv Ullmann
Destaque entre as atrizes do século XX, Liv Ullmann relembra a infância e os primeiros momentos de atriz no livro lançado em 1976. Aborda ainda amores e desamores e a própria relação com o cineasta Ingmar Bergman, com quem foi casada. A autora norueguesa dedica o livro à filha Linn, sobre quem fala com frequência, e revela as preocupações de mãe.
Olhos D´água - Conceição Evaristo
A escritora mineira Conceição Evaristo, que cunhou o termo “escrevivência”, aborda a pobreza e a violência urbana que acometem a população afro-brasileira. No livro se apresentam mulheres como Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida e a menina Zaíta. Em Olhos d’água estão presentes mães, filhas, avós, amantes, homens e mulheres.
A Paixão segundo G.H - Clarice Lispector
“Provação significa que a vida está me provando. Mas provação significa também que estou provando. E provar pode ser transformar numa sede cada vez mais insaciável”, reflete a protagonista identificada apenas como G.H. em um dos seus fluxos de consciência. A própria Clarice nunca coube em estereótipos. Tem a condição feminina como tema recorrente. O livro é de 1964, sete anos antes a escritora havia voltado ao Brasil com filhos pequenos após ter acompanhado a carreira do ex-marido, diplomata.
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres - Clarice Lispector
A mesma autora publicou em 1969 o sexto romance. É sobre as descobertas de Lori, a Loreley, consigo mesma e com Ulisses. Um dos trechos célebres do livro diz: “Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente”.
Cartas a Nelson Algren - Simone de Beauvoir
Livros compostos por correspondências remetem às histórias e aspectos íntimos. Publicado somente em 1998, este lança um novo olhar sobre a autora de o Segundo Sexo, obra que é marco do feminismo e que foi lançada em 1949. De Paris, a filósofa existencialista enviou centenas de cartas de amor entre 1947 e 1964. O destinatário era o homem por quem se apaixonou e com quem viveu um “amor transatlântico”, o escritor Nelson Algren, que vivia em Chicago (EUA).
Fascinada pela pesquisa em Saúde
“Os brinquedos de meninos eram diferentes dos brinquedos das meninas. Não era incentivado isso (ser cientista) entre as meninas. Tem que começar daí para a gente mudar como sociedade: nas crianças. A garota pode brincar também de ser astronauta, de cientista!” — Danielle Malta
O que faz uma menina se encantar? Danielle Malta ficou fascinada ao descobrir o mundo que cabia em um laboratório. O arrebatamento causado pelo território da ciência transformou-a e tornou-se profissão: cientista. “Devia ter uns 10 anos quando entrei e vi pipetas, microscópios... Fiquei fascinada pelo laboratório”, conta. Também ainda está na memória o cheiro característico de reagentes químicos que faziam parte do cotidiano da mãe, Maria Helena Malta, bióloga na Universidade de São Paulo. Foi ela, conta Danielle, a principal incentivadora para que a filha escolhesse atuar na biomedicina, área de interface entre a biologia e a saúde humana.
Natural de Ribeirão Preto (SP), Danielle começou a pesquisar ainda na iniciação científica em meados dos anos 1990. Hoje é doutora em Medicina e professora titular do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade de Fortaleza. É líder de grupo de pesquisa no diretório do CNPq - Aspectos epidemiológicos, clínicos, imunológicos e microbiológicos de bioagentes patogênicos. Também integra o quadro de professores do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (Renorbio).
Realizar pesquisa e produzir ciência vão muito além de um projeto pessoal, avalia. “Esse é um momento crucial para mostrar que é a ciência que faz a diferença em um país. Os esforços mostram que sem ciência o país não vai para a frente. Ainda bem que temos instituições importantes como Fiocruz e Butantã”, analisa a professora sobre a situação que os brasileiros vêm enfrentando desde que foi declarada a pandemia de Covid-19, em março de 2020.
Danielle ressalta também a importância de a academia contemplar a diversidade de gênero e de classe. A professora teve contato com a pesquisa ainda nos primeiros anos de graduação, em São Paulo, e lembra-se de que algumas colegas não conseguiam fazer pesquisa porque não tinham recursos sequer para o deslocamento até o laboratório. Ela pondera que, em países como o Brasil, boas ideias acabam deixando de ser aproveitadas pela ciência, pois as oportunidades não chegam a uma parte da população sem acesso ao ensino superior.
A professora reforça a importância de receber todo incentivo da Universidade de Fortaleza para atuar como pesquisadora e diz ter “muita satisfação” com a carreira que escolheu. “O conhecimento é muito valioso. O conhecimento rege a nossa vida. Não só a profissional, mas a vida pessoal mesmo. A maioria no laboratório (onde ela atua) são mulheres. Elas têm brilho no olho!”, ressalta a cientista.
Para Danielle, que não tem filhos, a possibilidade de as pesquisadoras incluírem no Lattes o período de licença-maternidade é uma conquista que deve ser celebrada para que se incentive ainda mais a presença feminina na produção científica. “Isso está mudando e tem que mudar”, defende. “A ciência abre caminhos para ter um pensamento crítico. A gente precisa, como sociedade, incentivar isso (a presença das mulheres em diversos setores da sociedade, inclusive na academia)”, reforça a pesquisadora que indicou livros que a marcaram e dois artigos com os quais contribuiu.
Ciência no cotidiano: Viva a razão. Abaixo a ignorância! por Natália Pasternak e Carlos Orsi
O simples fato de vivermos no século XXI já nos faz beneficiários da ciência e dos seus frutos, mesmo que a gente não se dê conta dessa verdade. Os objetos que nos dão conforto, que nos dão prazer, que nos transportam, que nos emocionam, que nos informam (até este livro) só existem da forma como existem por conta dos conhecimentos científicos. O cidadão que ignora fatos científicos básicos pode se tornar presa fácil de curandeiros e charlatões, gente que mente para os outros e, não raro, para si mesma.
Quem tem medo do Feminismo Negro? por Djamila Ribeiro
Quem tem medo do feminismo negro? reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de "silenciamento", processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação. Foi apenas no final da adolescência, ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, que Djamila entrou em contato com autoras que a fizeram ter orgulho de suas raízes e não mais querer se manter invisível. Desde então, o diálogo com autoras como Chimamanda Ngozi Adichie, bell hooks, Sueli Carneiro, Alice Walker, Toni Morrison e Conceição Evaristo é uma constante.
Sejamos todos feministas por Chimamanda Ngozi Adichie
O que significa ser feminista no século XXI? Por que o feminismo é essencial para libertar homens e mulheres? Eis as questões trazidas à tona por Chimamanda Ngozi Adichie em Sejamos todos feministas, ensaio da premiada autora nigeriana de Americanah e Meio sol amarelo. "A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo”, diz a autora.
Neste ensaio agudo, sagaz e revelador, Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e nigeriana para pensar o que ainda precisa ser feito de modo que as meninas não anulem mais sua personalidade para ser como esperam que sejam, e os meninos se sintam livres para crescer sem ter que se enquadrar nos estereótipos de masculinidade.
A professora Danielle Malta considera fundamental a divulgação científica e escolheu dois artigos que são representativos do que vem produzindo como pesquisadora:
Artigo- Análise in silico de incompatibilidades em ensaios RT-qPCR de 177 sequências SARS-CoV-2 do Brasil
A reação em cadeia da polimerase de transcrição reversa quantitativa (RT-qPCR) pode detectar a síndrome respiratória aguda grave Coronavírus-2 (SARS-CoV-2) de uma maneira altamente específica. No entanto, uma diminuição na especificidade dos ensaios de PCR para seus alvos pode levar a resultados falsos negativos. Aqui, 177 sequências completas de alta cobertura do genoma SARS-CoV-2 de 13 estados brasileiros foram alinhadas com 15 ensaios de PCR recomendados pela OMS. Clique aqui para o artigo completo.
Artigo- A atividade antiviral no vírus Zika e a atividade larvicida no Aedesspp. deLippia alba óleo essencial e β-cariofileno
Lippia alba é uma espécie amplamente utilizada na medicina popular para diversos tratamentos de saúde. O óleo essencial de L. alba e seu principal composto β-cariofileno foram examinados quanto à sua atividade antiviral contra o vírus Zika (ZIKV ) in vitro e in silico . Além disso, foi investigada a atividade larvicida sobre as larvas de Aedes aegypti e Aedes albopictus. A atividade anti-zika desses produtos foi determinada em diferentes estágios da infecção e do ciclo de replicação do ZIKV. Clique aqui para o artigo completo.
A presença delas nas Exatas
“Quanto mais estimularmos a presença da mulher na academia, mais estereótipos e o status quo serão quebrados e novas oportunidades serão criadas para as meninas e mulheres”. — Vládia Pinheiro
Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Informática Aplicada (PPGIA), Vladia Pinheiro, tem dois filhos. Gustavo, de 23 anos, engenheiro de produção, e Maria Clara, de 20 anos, estudante. Vladia salienta a importância da presença das mulheres na academia, principalmente nas ciências exatas. “Somos a maioria no Brasil, mas não somos maioria na academia. E na área de exatas, mais grave ainda, somos a imensa minoria, da ordem de 3 homens para 1 mulher. Destaco, portanto, que, quanto mais estimularmos a presença da mulher na academia, mais estereótipos e o status quo serão quebrados e novas oportunidades serão criadas para as meninas e mulheres.”, declara a pesquisadora.
Culturalmente, a imagem do que é ser mulher vem atrelada estritamente ao uso de emoções, esvaziando assim a capacidade feminina quanto às ciências exatas, por exemplo. Com o objetivo de aproximar as mulheres do mundo da Ciência, iniciativas são realizadas no Brasil, como o projeto “Meninas Olímpicas do Impa”, promovido pelo IMPA com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ademais, projetos acadêmicos são recomendados pela pesquisadora Vladia Pinheiro. São esses, os grupos Women@+DCS da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, e o Brasileira em PLN, no Brasil, que visam mostrar os trabalhos de mulheres nas ciências, como forma de destacar a importância e relevância de suas pesquisas.
Quanto à trajetória profissional, Vladia destaca o protagonismo da Professora Elizabeth Furtado, pesquisadora e professora do PPGIA/Unifor. "Foi minha co-orientadora do meu curso de mestrado que fiz aqui na Unifor. Ela foi muito importante como referencial de uma mulher casada, com filhos e com grande sucesso na carreira acadêmica. Eu olhava para ela e dizia: é possível", relembra a docente.
A literatura tem um papel importante ao passo que promove identificação com o fazer intelectual realizado por mulheres. Vladia Pinheiro cita cinco dos livros mais marcantes em sua vida.
Jane Eyre, de Charlotte Bronté
Publicado em 1847 sob o pseudônimo "Currer Bell", Jane Eyre é um clássico da literatura inglesa na Era Vitoriana e o romance de estreia da autora. Charlotte Bronté marcou a história ao desafiar o destino imposto às mulheres e as posições sociais que elas deveriam ocupar. O romance possui características góticas e conta com personagens inesquecíveis como o misterioso Rochester, patrão de Jane e peça vital da narrativa.
Frankenstein, de Mary Shelley
Frankestein inaugurou o gênero de ficção científica em pleno século XIX, e até hoje faz parte da história, o romance gótico é leitura obrigatória para países de língua inglesa. O pioneirismo da autora a fez estar a frente de nomes como Edgar Allan Poe, H.G Wells e Bram Stoker. Essa história dispensa apresentações!
Inteligência Artificial, de Elaine Rich
O título é um dos poucos livros da área escrito por mulheres e referência ao explorar a Ciência Artificial. Mesmo sem embasamento profundo, o leitor explora conceitos como redes neurais e robótica, o texto explora a gama de problemas que têm sido resolvidos usando as ferramentas e técnicas da Inteligência Artificial.
Cachorro Velho, de Tereza Cardenas
Tereza Cardenas é escritora cubana, que, com este livro, ganhou o prêmio Casa de Las Américas, a mais alta honra literária de Cuba. Cachorro Velho é um retrato duro e comovente da desumanidade da escravidão que assolou Cuba até 1886, mas que deixa marcas de preconceito racial até os dias atuais.
The Semiotic Engineering of Human-Computer Interaction, de Clarisse Sieckenius de Souza
No livro, Clarisse de Souza propõe uma visão em que a Interação Humana-Computador (Human-Computer Interaction or HCI, em inglês) é definida através de conceitos semióticos e de ciência da computação para investigar a relação entre usuário e designer. A Semiótica é o estudo dos signos e a engrenagem essencial para isso é a comunicação. Assim, Designers devem, de alguma forma, estar presentes na interface a fim de entregar aos usuários como usar os signos para construir um sistema ou programa.