seg, 24 fevereiro 2025 08:58
A vez dos alunos(as) sêniors!
Pessoas com mais de 50 anos buscam cada vez mais a Unifor para fazer transição de carreira e realizar o sonho da graduação, em um momento em que o mercado começa a enfrentar o etarismo e ver habilidades do público sênior como estratégicas aos negócios

Eles estão chegando cada vez com mais força. Nos mais diversos cursos de graduação da Universidade de Fortaleza, vinculada à Fundação Edson Queiroz, alunos com mais de 50 anos buscam uma transição de carreira ou realizam o sonho de dar o primeiro passo acadêmico. São estudantes sêniors, interessados não apenas em manter-se ativos com uma nova jornada de aprendizado, mas lutam por espaço concreto no mercado de trabalho.
Um quarto da população brasileira tem mais de 50 anos. Com o desafio de vencer o etarismo e absorver esse contingente de força laboral no mercado, empresas estão cada vez mais lançando programas para diversificar suas equipes. Habilidades dos profissionais sêniors — como comprometimento, inteligência emocional e experiência — passam a ser vistas como estratégicas aos negócios.
As estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, até 2040, mais da metade da força de trabalho brasileira deve ser exercida por pessoas com mais de 45 anos. Neste contexto de transformações, a experiência e a formação de excelência são diferenciais importantes no currículo.
A seguir, os alunos sêniors da Unifor contam sobre os caminhos que os levaram de volta para a universidade, como esperam encontrar novos espaços no mercado de trabalho e as ferramentas que a instituição oferece para isso, como por exemplo o apoio da Central de Carreiras, um elo entre os universitários e o mercado.
É sempre tempo de (re)começar
Formada em Direito e com larga experiência no sistema de justiça e de segurança pública, Laurélia Monteiro decidiu abraçar uma área completamente nova. Com o sonho de trabalhar com roteiro e montagem, matriculou-se no curso de Cinema e Audiovisual da Unifor. Aos 52 anos, está cursando agora o segundo semestre com fome de aprendizado.
“Decidi agora retornar à graduação na Unifor em uma área completamente nova para mim, depois de trabalhar por 30 anos na área jurídica. Pesquisei e descobri que o curso de Cinema da Unifor tem nota máxima no MEC e professores reconhecidos, além de ter excelentes equipamentos e laboratórios", conta.
Nesse momento da vida, Laurélia diz ter entendido que as coisas que fazia profissionalmente já não lhe interessavam ou desafiavam tanto. “Resolvi investir em uma área que eu sou apaixonada desde sempre, o cinema. Para aprender, para me relacionar com pessoas diferentes do meu nicho de trabalho anterior e para exercer um ofício novo, desafiador e que possa ser somado às minhas experiências de vida. Além de conseguir uma remuneração justa, por óbvio", afirma.
A universidade é um terreno confortável para Laurélia. Cinema é, na verdade, sua quarta formação. Ela já é graduada em Direito, Engenharia Elétrica e Filosofia. Ao longo da vida, Laurélia sempre buscou organizar afinidades e usar os seus mais diversos interesses em favor do seu desempenho profissional.
“Trabalho há mais de 30 anos na área jurídica e por mais de 20 anos na área de segurança pública. Minha experiência profissional é eminentemente investigativa e de gestão organizacional", conta.
Foram essas experiências profissionais, segundo Laurélia, que praticamente moldaram a sua personalidade, mas nunca a engessou. “Como sempre me interessei a aprender coisas novas, acabei angariando, na medida do possível e dentro das minhas atribuições, uma experiência múltipla", diz.
Nesse novo caminho profissional, ela considera essencial ter aprendido a se relacionar com as pessoas e a entender que as organizações operam de forma mais eficiente quando os profissionais têm clareza sobre o propósito e o público de seu trabalho, reconhecendo que há uma finalidade que vai além da monetária. "Acho que isso pode fazer a diferença na minha futura profissão", declara.
“O mercado de trabalho já percebeu que a maturidade e a experiência podem ser muito importantes para facilitar processos, quaisquer que sejam eles, profissionais, relacionais, organizacionais. Acreditar na experiência pode sim gerar ideias inovadoras e criativas” — Laurélia Monteiro, estudante de Cinema e Audiovisual
Nesta nova formação, Laurélia diz se sentir ainda mais curiosa. “Tenho como desafios lidar em pé de igualdade com pessoas mais jovens que minha filha, aprender a usar equipamentos de som e fotografia, além de softwares de edição de vídeos e de som. Mas sou grata pela acolhida da Unifor que me recebeu muito bem e pela chance de conviver com pessoas tão interessantes e criativas”, afirma.
Para a aluna, as pessoas estão conseguindo viver mais e viver melhor. Nesta perspectiva, a busca pelo aprendizado faz bem não só para o indivíduo, mas também para toda sociedade.
Sonhar e se reinventar
Sandra Diógenes já tinha se formado em Administração e construído uma empresa que lhe dava bom retorno financeiro, quando decidiu reinventar a vida e se matricular no curso de Engenharia Civil da Unifor. Aos 51 anos, ela cursa agora o sétimo semestre e mantém o sonho de atuar na área para a qual está migrando. “Estou na melhor fase da minha vida", diz.
A empresa lhe dava retorno financeiro, mas não era o que queria. “Decidi então mudar de direção e buscar algo que realmente me apaixonasse. Foi então que iniciei um curso técnico em edificações e, logo no primeiro semestre, senti uma conexão profunda com a Engenharia Civil", conta, animada.
Sandra nasceu na zona rural de Jaguaribara, mas sempre morou em Jaguaribe. Veio para Fortaleza há 37 anos, onde construiu uma vida sólida. Mãe solo de uma menina, tem orgulho de ver a filha cursar Arquitetura na mesma universidade que a acolheu e onde ela um dia sonhou estudar.
Ambos os sonhos são possíveis graças a seu trabalho duro. “Trabalhei no ramo de supermercado por muito tempo, abri uma empresa no segmento de frigorífico, passei alguns anos e hoje estou engatinhando no ramo imobiliário e mercado financeiro. Atualmente, usufruo destas rendas passivas", celebra.
Sandra acredita que, apesar de estar migrando para uma área totalmente nova, seu tempo de carreira e a experiência a ajudarão neste novo caminho. “Todo o conhecimento e habilidades que adquiri ao longo da minha vida profissional são diretamente aplicáveis e valiosos na minha nova trajetória como engenheira civil. Acredito que essa combinação de experiências vai me proporcionar uma base sólida para alcançar sucesso e realizações na Engenharia Civil", afirma.
Sandra diz se sentir realizada com essa escolha. “Cada desafio superado e cada novo aprendizado reforçam que estou no caminho certo e que nunca é tarde para recomeçar", declara.
“Há uma mudança gradual na percepção do mercado em relação aos profissionais mais velhos. A ideia de que a idade é um fator limitante está sendo desafiada, e as contribuições valiosas desses profissionais estão sendo mais reconhecidas” — Sandra Diógenes, aluna de Engenharia Civil
É que a aluna vê que o mercado de trabalho está se tornando mais receptivo a profissionais sêniors, oferecendo diversas oportunidades para quem busca se qualificar. “A combinação de experiência, compromisso com a educação contínua e a capacidade de adaptação são fatores que tornam esses profissionais altamente valiosos e competitivos no mercado atual", defende.
A decisão de matricular-se em um novo curso de graduação a esta altura da vida está na busca pela realização pessoal e profissional. “Quando obtive maturidade, descobri que tinha que fomentar todos meus esforços na construção de uma graduação que me levasse a um estágio que proporcionasse conquista pessoal, profissional e financeira, e a Engenharia Civil casou-se muito bem com a Administração", considera.
Sandra diz que, por meio de planejamentos estratégicos, busca viabilizar as melhores oportunidades e maximizar os retornos financeiros sem a necessidade de trabalho árduo. “Espero que de alguma forma a minha história inspire outras pessoas (50 +) que, por uma série de motivos, não conseguiram se realizar profissionalmente. Sempre há tempo e para mim está sendo muito revitalizante a vida acadêmica", finaliza.
Um propósito de vida
Ana Miranda tem 55 anos e acaba de começar o curso de Estética e Cosmética, depois de mais de 25 anos de experiência na área comercial. “Estou em transição de carreira", ela diz, orgulhosa. Foram décadas trabalhando com multinacionais, empresas e tecnologias relacionadas a cosméticos. Depois de muitos anos oferecendo produtos, ela decidiu que era hora de se capacitar para executar os serviços.
“Achei coerente buscar uma graduação que me desse uma formação teórica e prática, que viesse de uma universidade com respaldo, como é a Unifor", conta. Além do desejo de prestar serviços e contribuir para o bem-estar das pessoas pela área de Estética e Cosmética, Ana tem interesse em dar aulas e contribuir com a difusão do conhecimento.
Casada e mãe de um jovem de 22 anos, foi o encantamento com a experiência do filho no curso de Medicina Veterinária que a levou para a Unifor. “Foi através do olhar dele que me encantou a universidade e a possibilidade de buscar essas oportunidades", conta. “Acho que a Unifor é a universidade mais completa”, acrescenta.
Na nova graduação, Ana encontrou uma forma de fazer uma transição de carreira sem mudar completamente a área de atuação. “Eu não trabalhei em outra área, e a área comercial me trouxe uma larga experiência sobre produtos, sobre técnicas de vendas, sobre o mercado, sobre como atuar nas diversas áreas desse mercado", diz.
Nesta perspectiva, Ana acredita conhecer o perfil de profissionais da área de estética, o que lhe traz um olhar bem amplo sobre um mercado promissor. Ela espera, nos próximos semestres, conseguir aproveitar os incentivos que a Unifor oferece para os estudantes sêniors, com desconto para pessoas acima dos 50 anos.
“É um benefício que incentiva cada vez mais as pessoas a estudarem, principalmente nas universidades particulares. Esse incentivo é super importante também em profissionais com mais de 50 anos, que geralmente têm outras responsabilidades e que desejam fazer transição de carreira", comenta.
“Neste novo momento da vida, buscando uma nova formação, eu me sinto empolgada e extremamente feliz. Estou realizando um propósito de vida. É uma satisfação poder se manter ativa e inspirar outras pessoas. A gente ainda permanece jovem, ativo e capaz, após os 50 anos de idade” — Ana Miranda, aluna de Estética e Cosmética
Novos horizontes
Daltro Veras é policial federal e apaixonado pelo mundo jurídico. Aos 55 anos, está no último ano do curso de Direito da Unifor. Mas este é um momento de reaproximação dele com a Universidade, onde começou um curso de Engenharia Civil no final dos anos 1980. Acabou deixando esta graduação ao passar no concurso da Polícia Federal.
Anos depois, no entanto, sentiu a necessidade de voltar à Universidade. Acreditava que estudar Direito lhe proporcionaria suporte profissional. “Estou muito satisfeito com minha formatura, mas ainda estou decidindo se irei advogar", conta Daltro. Por enquanto, o plano é exercer a nova profissão depois que se aposentar da Polícia Federal.
Caso siga esse caminho, Daltro acredita que ampla experiência será de grande valia para a nova área. Ele conta que começou a trabalhar muito jovem ajudando o pai, que era veterinário. Depois, atuou no comércio e em uma pequena indústria de confecção de moda praia e moda íntima, além de atuar em estúdio de filmagem e fotografia. “Sempre trabalhei e estudei", diz, orgulhoso.
“O mercado de trabalho está para todos que tenham disposição para encará-lo. Creio que o fato do povo brasileiro ser trabalhador, desbravador, não gostar da ociosidade, seja o motivo da sua procura por uma graduação após os 50 anos de idade” — Daltro Veras, estudante de Direito
Um mercado mais receptivo para profissionais sêniors
Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum ver pessoas acima dos 50 anos se matriculando em cursos de graduação, uma tendência que reflete mudanças culturais, econômicas e sociais. “Muitos buscam a educação superior para realizar sonhos adiados, promover o desenvolvimento pessoal ou até mesmo iniciar uma nova carreira", aponta a vice-reitora de ensino de graduação e pós-graduação da Unifor, Maria Clara Bugarim.
Segundo ela, a longevidade aumentada e a percepção de que a vida profissional e pessoal podem continuar em novas direções após os 50 anos também são fatores importantes. “Além disso, a flexibilidade proporcionada pelos cursos a distância e a maior valorização da experiência de vida no mercado de trabalho têm incentivado essa matrícula em cursos de graduação após os 50 anos", considera.
Por outro lado, o mercado de trabalho está mais receptivo a profissionais com mais de 50 anos, valorizando a experiência e habilidades adquiridas. “Embora haja desafios, como a necessidade de atualização em novas tecnologias, há áreas que oferecem boas oportunidades. Com a qualificação certa, há espaço para esses profissionais crescerem e se destacarem", atesta a professora Carolina Quixadá, gestora da Central de Carreiras.
A Central de Carreiras é uma ferramenta crucial ofertada pela Unifor para auxiliar seus estudantes no ingresso ao mercado de trabalho. Por meio de ações que vão do aconselhamento de carreira a uma plataforma com oportunidades de atuação, ela oferece apoio para alunos e egressos de todas as idades.
“Ofertamos sessões individuais de orientações curriculares e workshops de desenvolvimento profissional, além de oportunidades – de estágio e emprego – para a inserção dos estudantes no mercado de trabalho", resume Carolina. O serviço está disponível para apoiar os alunos com mais de 50 anos que desejam se destacar no mercado.
Neste caminho, Carolina lembra que continuar se capacitando é fundamental para se manter relevante no mercado de trabalho atual, que está em constante mudança. “A atualização de habilidades e o aprendizado contínuo garantem que o profissional se diferencie, mostrando flexibilidade e disposição para enfrentar novos desafios. Isso aumenta as chances de crescimento na carreira, melhora a competitividade e ajuda a manter uma carreira sólida, além de abrir portas para novas oportunidades", explica.
A capacitação, salienta a docente, também é essencial para lidar com as inovações tecnológicas e as mudanças nas demandas do mercado de trabalho.
Um ponto em favor dos alunos sêniors é que o mercado começa a enfrentar o etarismo e a perceber os diferenciais que profissionais mais maduros podem agregar aos negócios. Para Carolina Quixadá, a experiência de trabalho de profissionais com mais de 50 anos agrega valor pois oferece uma visão estratégica, habilidades de resolução de problemas e competências transferíveis, como liderança e comunicação.
“Seja na mesma área ou em transição de carreira, essa bagagem permite adaptabilidade, o que é altamente valorizado no mercado. Além disso, a maturidade ajuda a lidar com desafios de forma mais calma e assertiva, o que é uma vantagem em ambientes de trabalho dinâmicos e em constante evolução", declara.
E como anda a procura e as oportunidades de trabalho para os profissionais com mais de 50 anos? Segundo a gestora da Central de Carreiras, a procura e as oportunidades de trabalho para profissionais com mais de 50 anos têm aumentado, especialmente em setores que valorizam a experiência, como consultoria, educação e gestão.
“Embora ainda existam desafios, como o preconceito etário em algumas áreas, muitas empresas reconhecem o valor de um profissional mais maduro, com habilidades consolidadas e visão estratégica. A tendência é que mais oportunidades surjam à medida que a diversidade etária ganha importância e a demanda por experiência e equilíbrio de gerações no ambiente de trabalho cresce” — Carolina Quixadá, gestora da Central de Carreiras