ter, 9 dezembro 2025 09:49
Banco Master e Bolsa em alta no Brasil são os destaques do mês de novembro

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.
Mercado de Capitais Internacional
Nos Estados Unidos, a política monetária seguiu pressionada pela divergência entre setores: enquanto a indústria segue debilitada, o mercado de trabalho voltou a surpreender positivamente. Em novembro, foram criadas 119 mil vagas de Emprego Não-Agrícola (NFP), mais que o dobro das expectativas e revertendo a queda do mês anterior. Esse desempenho reforça a necessidade de o Federal Reserve manter a política monetária em terreno restritivo, em um ambiente em que a inflação de serviços ainda responde à rigidez salarial. Já o dado do PIB permanece pendente: a paralisação parcial do governo — encerrada em 15 de novembro — atrasou a divulgação da estimativa preliminar do terceiro trimestre, que foi cancelada e remarcada para dezembro, aumentando a incerteza sobre o ritmo real da atividade.
Na Zona do Euro, o cenário foi de expansão moderada. Segundo dados preliminares da Eurostat, o PIB da região cresceu 0,2% no terceiro trimestre de 2025 em relação ao trimestre do ano anterior, sustentado principalmente pelo setor de serviços, enquanto economias centrais, como Alemanha e Itália, registraram desempenho fraco. Na política monetária, a ata do BCE de outubro indicou que parte dos dirigentes avalia que o ciclo de cortes pode estar próximo do fim, dada a estabilização da inflação em torno da meta no horizonte relevante. Ainda assim, o comitê manteve uma postura explicitamente flexível, reconhecendo que novos cortes seguem possíveis diante do ambiente externo frágil e da sensibilidade da região a choques comerciais.
Na China, o PMI de novembro manteve o sinal de fraqueza da atividade. A indústria registrou 49,2 pontos, oitavo mês consecutivo de contração, e o setor de serviços caiu para 49,5 pontos, reforçando um quadro de recuperação desigual. A demanda interna segue moderada, enquanto setores de alta tecnologia continuam sendo o principal contraponto positivo. A confiança empresarial melhorou ligeiramente, mas ainda insuficiente para sugerir uma retomada sustentável no curto prazo.
Nos mercados globais, novembro apresentou desempenho misto. O S&P 500 (+0,1%) ficou praticamente estável e o Nasdaq (-1,5%) recuou, refletindo a cautela diante da incerteza monetária. Na Ásia e Europa, o comportamento também foi negativo, com o Nikkei 225 (-4,1%) e o alemão DAX (-0,5%) no vermelho. O índice de volatilidade VIX (-6,2%) recuou, indicando menor aversão ao risco, enquanto o dólar (-0,5%) perdeu força frente às principais moedas.
Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Novembro/2025)
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Índice/Ativo |
País/Mercado |
Variação (%) | ||
|
Mês |
Ano |
12 meses |
||
|
DJI |
EUA |
0,32 |
12,16 |
6,25 |
|
S&P 500 |
EUA |
0,13 |
16,45 |
13,54 |
|
Nasdaq |
EUA |
-1,5 |
21,00 |
21,58 |
|
Dólar |
Forex |
-0,60 |
-13,61 |
-10,65 |
|
Bitcoin |
Investing.com |
-17,50 |
-3,40 |
-6,30 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Mercado de Capitais Nacional
O mercado de trabalho brasileiro manteve o ritmo positivo. A taxa de desemprego caiu para 5,4% no trimestre encerrado em outubro, menor nível da série histórica da PNAD Contínua. A ocupação total atingiu 102,5 milhões de pessoas, com novos recordes no número de trabalhadores com carteira assinada (39,182 milhões) e no rendimento médio real (R$ 3.528). A informalidade, porém, segue elevada em 37,8%, reforçando a heterogeneidade do mercado laboral.
Na política monetária, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15,00% ao ano na reunião de novembro, preservando o grau de aperto necessário para ancorar expectativas. A inflação oficial, medida pelo IPCA, avançou 0,09% em outubro, enquanto o acumulado em 12 meses chegou a 4,68%, ligeiramente acima do teto da meta. Apesar da desaceleração mensal, a persistência da inflação de serviços sugere cautela por parte do Banco Central.
A atividade econômica mostrou perda de fôlego. O PIB cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre, segundo a FGV, refletindo o impacto dos juros elevados sobre o consumo e o investimento. Após o impulso da agropecuária no início do ano, o desempenho dos demais setores perdeu tração, enquanto o ambiente de crédito mais restrito continua limitando a atividade.
No sistema financeiro, a liquidação extrajudicial do Banco Master mobilizou o maior acionamento da história do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). O FGC estima cerca de R$ 41 bilhões em garantias para aproximadamente 1,6 milhão de credores, com possibilidade de o montante chegar a R$ 49 bilhões, segundo declarações de sua diretoria.
Nos mercados, novembro registrou continuidade no movimento de valorização dos ativos domésticos. O Ibovespa (+6,4%) avançou, em contraste com o sentimento mais cauteloso observado nas bolsas globais, enquanto o dólar (-0,5%) registrou leve queda frente ao real.
Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Novembro/2025)
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Índice |
Variação (%) |
||
| Mês | Ano | 12 meses | |
|
IBOV |
6,37 |
31,13 |
22,92 |
|
IFIX |
1,86 |
17,46 |
16,67 |
|
IEE |
9,42 |
58,31 |
49,40 |
|
SMLL |
6,03 |
35,56 |
24,94 |
|
ISE |
7,62 |
38,69 |
29,31 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Novembro/2025)
|
Ação |
Ticker |
Variação (%) |
Preço |
|
Magazine Luiza |
MGLU3 |
23,26% |
R$ 10,28 |
|
MRV |
MRVE3 |
22,53% |
R$ 9,30 |
|
Raia Drogasil |
RADL3 |
21,08% |
R$ 24,01 |
|
Grupo Vamos |
VAMO3 |
20,06% |
R$ 3,83 |
|
Cyrela |
CYRE3 |
16,73% |
R$ 35,72 |
Fonte: Infomoney.com
Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Novembro/2025)
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Ação |
Ticker |
Variação (%) |
Preço |
|
Hapvida |
HAPV3 |
-53,62% |
R$ 14,10 |
|
Engie |
EGIE3 |
-23,97% |
R$ 30,64 |
|
Minerva |
BEEF3 |
-15,58% |
R$ 6,23 |
|
PetroReconcavo |
RECV3 |
-15,28% |
R$ 10,70 |
|
Raizen |
RAIZ4 |
-10,64% |
R$ 0,84 |
Fonte: Infomoney.com
Ação estudada do mês: Grendene (GRND3)
a) Análise fundamentalista
Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas
|
Indicador |
Resultado |
|
Índice P/L |
6,35 |
|
Índice P/VP |
1,14 |
|
EV/EBITIDA |
7,69 |
|
Dividend Yield D.Y |
9,88% |
Fonte: Status Invest
Posição: 30.11.2025
A análise fundamentalista da Grendene (GRND3) revela uma companhia sólida no setor de calçados, com indicadores que podem atrair investidores que buscam empresas lucrativas, pouco alavancadas e com perfil de geração consistente de caixa.
O índice P/L mostra quantos anos seriam necessários para o investidor "recuperar" o preço pago pela ação considerando o lucro atual da empresa. O P/L de 6,35 indica que a empresa está sendo negociada a múltiplos baixos em relação ao seu lucro, o que tende a chamar atenção de investidores com viés de valor. Esse múltiplo descontado é reforçado pelos resultados recentes apresentados no 3T25, quando a companhia registrou lucro líquido de R$ 138,5 milhões, apesar da queda de 38% em relação ao 3T24, conforme o relatório trimestral da empresa.
O P/VP de 1,14 mostra que as ações estão precificadas levemente acima do valor patrimonial contábil, indicando que o mercado reconhece a capacidade da Grendene de gerar retornos superiores ao custo de capital. Também sugere estabilidade patrimonial, já que a companhia mantém um amplo volume de disponibilidades e dívida líquida negativa (aproximadamente –R$ 1,0 bilhão), conforme observado no demonstrativo financeiro.
O EV/EBITDA mede o valor da empresa (Enterprise Value) em relação à geração operacional de caixa (EBITDA). O múltiplo EV/EBITDA de 7,69 reflete uma empresa com baixa alavancagem e boa geração operacional, mesmo após o impacto negativo na margem operacional no 3T25, influenciado por queda de volumes domésticos e aumento das despesas operacionais. Ainda assim, o crescimento das exportações (alta de 86,1% na receita bruta no trimestre) ajudou a compensar parte dessas pressões.
O Dividend Yield representes o retorno em proventos sobre o preço atual da ação. O DY de 9,88% demonstra que a Grendene segue como uma forte pagadora de proventos, reforçada tanto pela elevada geração de caixa quanto pelo histórico consistente de distribuição. Somente em 2025, a empresa já realizou múltiplos pagamentos de dividendos e JCP, mantendo sua posição como uma das ações de consumo com maior retorno ao acionista no segmento.
A Grendene se posiciona como uma empresa resiliente, com ampla diversificação geográfica, caixa líquido robusto, forte presença no mercado internacional e marcas consolidadas, como Melissa, Ipanema e Rider. Esse conjunto confere previsibilidade, flexibilidade financeira e capacidade de atravessar períodos macroeconômicos adversos, mantendo geração de valor para os acionistas no médio e longo prazo.
b) Análise técnica
Gráfico 1 – Gráfico semanal Grendene (GRND3)
Posição: 30.11.2025Após um prolongado movimento de baixa que se intensificou a partir de meados de 2022, o papel GRND3 vem preservando uma estrutura descendente bem definida, guiada por um canal de baixa ilustrado pelas linhas amarelas. Esse canal tem direcionado o preço ao longo dos últimos anos, marcando topos e fundos cada vez mais baixos e indicando predomínio do fluxo vendedor no período.
Dentro dessa tendência, o ativo encontrou uma região de suporte importante em R$ 4,38 (linha verde pontilhada), onde surgiram repetidas defesas compradoras. Essa faixa vem funcionando como piso do movimento, impedindo quedas mais acentuadas e demonstrando que, apesar do viés negativo, o mercado reconhece valor nessa zona de preços.
Recentemente, o papel reagiu a partir dessa base e voltou a testar a linha superior do canal de baixa, sendo negociado atualmente próximo da região de R$ 5,11. Esse movimento sinaliza uma tentativa de recuperação, embora ainda dentro da estrutura descendente de longo prazo. A superação consistente da parte superior do canal seria o primeiro indício técnico de reversão, com uma resistência intermediária relevante posicionada em R$ 6,01 (linha vermelha pontilhada). Romper essa zona abriria espaço para movimentos mais expressivos, com alvo potencial em torno de R$ 7,90.
Por outro lado, caso o preço volte a recuar, a manutenção acima do suporte em R$ 4,38 será essencial para evitar a retomada da tendência principal de baixa. A perda desse nível aumentaria o risco de retorno à faixa mais profunda do suporte entre R$ 4,38 e R$ 3,70, região onde o ativo encontrou força compradora em múltiplas ocasiões recentes.
No campo dos indicadores, o IFR (Índice de Força Relativa) se mostra em trajetória de recuperação, aproximando-se da região neutra dos 50–60 pontos, o que sinaliza leve fortalecimento do momentum comprador, ainda sem indicar sobrecompra. Já o histograma do MACD revela barras negativas em processo de redução, indicando que a pressão vendedora vem perdendo intensidade e que uma possível reversão de curto prazo começa a ganhar sustentação, embora ainda careça de confirmações mais fortes no preço.
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Equipe de elaboração
Professores
- Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
CNPI-P – n. 8409 - Prof. Allisson David de Oliveira Martins
Economista - Corecon-Ce n. 3221
CNPI – n. 9113 - Prof. Ricardo Aquino Coimbra
Economista - Corecon-Ce n. 2575
CNPI-P – n. 9579
Alunos
- Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
- Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
- José Freitas Alves Neto – Ciência de Dados
- José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
- Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas
- Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas