qui, 29 outubro 2020 14:15
Dedicação: profissionais de Enfermagem estão no front contra a Covid há sete meses
Profissionais da área contam experiências vividas durante o período de pandemia e enfatizam o amor pela profissão
A Enfermagem exerce papel indispensável na sociedade. São os enfermeiros que acompanham de perto os pacientes e participam diariamente do seu processo de tratamento e recuperação.
Durante o período da pandemia e com o alto número de contágios pela doença, diversos enfermeiros estão no front contra a Covid-19 desde o início da crise sanitária mundial e permanecem até o presente momento.
Confira a seguir relatos de profissionais de Enfermagem que há sete meses dedicam seus dias ao cuidado com a saúde do próximo por meio do amor pela carreira.
O cuidado que salva
Aos 32 anos de profissão, a enfermeira Ana Cláudia Lima, tem a área a qual escolheu como fonte inestimável de admiração e afeto. Funcionária da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e professora do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, a empatia é valor em sua trajetória: como docente, acompanha os alunos do Internato Hospitalar na disciplina de estágio prático. Como enfermeira, presta assistência aos pacientes do Hospital São José, na Unidade de Terapia Intensiva.
“Atualmente, temos uma unidade de Covid-19 em funcionamento e com a perspectiva de aumento do número de casos, pretendemos abrir o hospital de campanha. Antes do surgimento dos primeiros casos aqui em Fortaleza, realizamos um treinamento sobre o uso de equipamento de proteção individual, proteção ambiental e descarte dos resíduos. Hoje, continuamos com as medidas de proteção individual, como uso de máscara, higiene das mãos, distanciamento nos setores em todas as dependências do hospital”, destaca.
Sobre os desafios cotidianos enfrentados pelos enfermeiros no atual período, Ana Cláudia fala sobre a importância de que a sociedade reconheça o empenho profissional daqueles que se arriscam na linha de frente da luta contra a pandemia. “O trabalho dos enfermeiros não é valorizado como deveria, pela grande responsabilidade da sua atuação dentro da equipe de saúde. O enfermeiro atua em todas as etapas do ciclo vital, do nascimento, crescimento, desenvolvimento e morte. Durante o período mais crítico da pandemia, os profissionais estavam presentes 12 horas de plantão, em uso de paramentação, às vezes com apenas 30 minutos para comer. Um desgaste físico e emocional muito grande, sobretudo no cuidado dos casos graves”, afirma ela.
Mesmo diante da rotina exaustiva, a enfermeira enche os olhos de gratidão ao ver a melhora de um paciente. Para ela, uma verdadeira recompensa. “Todo o cansaço e fadiga vão embora quando vejo que um paciente recuperou a saúde. Eu me sinto muito realizada na minha profissão, amo o que faço: cuidar do outro, como gostaria de ser cuidado”, se emociona.
Corrida contra o vírus
Nas memórias da coordenadora de enfermagem do Hospital São Mateus, Tamara Gomes, a urgência intrínseca ao início da pandemia de Covid-19 exigiu total doação da equipe. À medida em que os novos casos eram confirmados, os profissionais da saúde vivenciavam o cansaço da rotina na área de isolamento, um período difícil.
“São pacientes sem acompanhante, então, tudo o que eles precisavam vinha da enfermagem. Absorvemos muitas atividades, como entregar a dieta, banho no leito, medicação e troca de fraldas. Tínhamos um perfil de pacientes bem graves, com pulmões comprometidos e cansados. A maioria deles ficavam em oxigênio e muitos tinham quadro agravado. Subiam para a UTI, e se estivesse lotada, desciam para o pronto atendimento, para ficar em uma área reservada para pacientes críticos”, relata a profissional, que é formada pelo curso de Enfermagem da Unifor e egressa do Mestrado Profissional em Tecnologia e Inovação em Enfermagem também da instituição.
Segundo ela, boa parte da equipe de enfermagem adoeceu em meio à primeira onda de contágio. “Muitas enfermeiras e técnicas de enfermagem adquiriram a Covid-19. As equipes ficaram desfalcadas e eu tive uma maior demanda de enfermagem, pois são pacientes que necessitam de maiores cuidados. Durante a pandemia, nós entramos para cuidar do paciente na linha de frente e fazer tudo o que era necessário”, enfatiza.
O misto de alegria e tristeza faz parte da profissão para Tamara. De um lado, a percepção da relevância do ofício de enfermeira para ajudar os pacientes, de outro lado, os momentos emocionalmente árduos para driblar com resiliência.
“Senti alegria por ver o quão fundamentais nós somos. Nenhuma outra equipe de saúde passa tanto tempo com o paciente como a equipe de enfermagem. Me deu alegria e prazer em ser enfermeira e poder cuidar dos pacientes, ver muitos deles saindo de alta. Já outros, não vi. Eu mesma adoeci e sou mãe de duas crianças, não podia deixá-las com ninguém porque meus pais tem acima de 60 anos. Elas tiveram pouquíssimos sintomas, mas eu tive sintomas bem ruins. Fiquei debilitada, mas me cuidei em casa”, conta.
Liderando uma equipe constituída por cem profissionais, a enfermeira Tamara Gomes ressalta como a união faz diferença no dia a dia hospitalar. “Meu trabalho hoje é cuidar bem dos meus funcionários para que eles cuidem bem dos pacientes. Meu desafio é ser uma excelente líder, para que os profissionais da minha equipe sejam ótimos colaboradores e os pacientes possam ter uma excelente experiência enquanto internados em nosso hospital”, declara.
Mudança de cenário e inspiração
A enfermeira e professora do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza, Rita Mônica, está no front de combate à Covid desde março. Durante jornada, algumas mudanças de cenário estiveram presentes em sua atuação no Hospital Geral de Fortaleza. “Hoje, nossa rotina é fazer uma busca nesses pacientes e às vezes nos deparamos com surpresas. Por exemplo, temos uma unidade de terapia intensiva onde os pacientes estão internados. Como são pacientes graves, nem sempre manifestam algum tipo de sintoma. Mas a gente se depara com alguns casos positivos que são inesperados”, explica.
De acordo com a profissional, atualmente há uma percepção de heterogeneidade sobre a doença. “Já não temos uma unidade fechada apenas para a Covid. Estamos tendo uma heterogeneidade, começa sem Covid e daqui a pouco esse paciente está com a Covid. Então, transfere-se o paciente e aos poucos é formada uma nova unidade de Covid. Em nossa rotina, trabalhamos com essa incerteza, mas ainda com proteção. Mas sinto um cenário mudando, as vezes pensamos que estamos com a unidade limpa e de repente algum paciente está doente”, ressalta.
Para Rita Mônica, o sentimento de amor pela Enfermagem está ligado à realização pessoal. “Tudo o que tenho e o que sou devo a minha profissão. O enfermeiro atua de forma muito ativa, houve momentos em que não existiam técnicos, então o enfermeiro assumia. A atuação direta ao óbito, ao acolhimento à família, o enfermeiro é quem passa mais tempo junto ao paciente. Esse cuidado e zelo com o paciente e família, extremamente grave e crítico, no qual as pessoas sentiam medo em tocar, nossa profissão é aquela que zelava”, enfatiza.
A enfermeira revela que a inspiração para escolher sua profissão veio da mãe, também enfermeira. Ainda criança, Rita Mônica gostava de ouvir sobre a rotina de cuidado e dedicação à saúde dos pacientes da mulher cuja importância tem lugar cativo em sua vida.
“Eu gostava e ficava admirando quando ela me contava os casos, sua habilidade com curativos. Tenho profunda admiração por ela e percebi que levava jeito para o ramo. Fico muito feliz por ter me graduado na Unifor, foram momentos ricos de grande aprendizagem. Quando quis me tornar professora universitária, eu já atuava no HGF. Por isso, já me sentia bem preparada para o ensino. Sempre trabalhei dentro de um contexto complexo de UTI, unidade de transplante, centro cirúrgico, captação. Fiz muitos cursos relacionados à educação, portanto, ser professora na área aconteceu por isso, meu estímulo inicial foi me sentir apta para passar um pouco da minha experiência para a formação de um aluno”, encerra.