seg, 8 abril 2024 16:14
Do Ceará para o Mundo: Welligton Barbosa fala sobre doutorado em Portugal e estágio na Inglaterra
Egresso do curso de Psicologia da Unifor estuda a escrita de idosos e como a cultura atravessa esses registros
Abraçar um sonho, muitas vezes, exige mais do que vontade. É preciso superar medos, inseguranças, contar com apoio da família e, até mesmo, estar em um meio propício para que esse objetivo seja incentivado e possa crescer.
Foi o que aconteceu com Francisco Welligton Barbosa Jr., egresso do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, doutorando em Estudos Culturais na Universidade de Aveiro, em Portugal, e membro do Laboratório Otium e do Neco.
Há anos ele pensava em estudar fora do país, mas considerava uma possibilidade distante. “Não imaginava que seria capaz. Sabe aqueles sonhos que a gente sonha, mas que não imagina que possa realmente realizá-los? Era esse o caso”, revela o acadêmico.
No entanto, os projetos de Welligton encontraram terreno fértil na Unifor. O jovem integrou o Laboratório de Estudos Sobre Ócio, Trabalho e Tempo Livre (Otium), que o possibilitou conhecer universidades e grupos de investigação fora do país, especificamente na Espanha e em Portugal.
Além disso, o então estudante de graduação contou com o apoio de Clerton Martins, coordenador do Laboratório Otium e docente da Unifor. “Sem dúvida, foi o professor que mais acreditou em mim e me incentivou, pois percebia que era isso o que eu queria”, relembra.
Após as primeiras experiências no exterior por meio dos grupos de investigação, Welligton entendeu que queria mais, e logo se identificou com a proposta da Universidade de Évora, em Portugal, onde cursou o mestrado em Literatura.
Os professores Clerton Martins, Odete Jubilado (presidente da sessão de defesa) e Cristina Santos (orientadora) junto a Welligton na defesa do mestrado em Literatura, em Portugal (Foto: Arquivo pessoal)
Escrita como autoexpressão
O doutorado de Welligton em Estudos Culturais investiga a escrita de idosos em Portugal. Segundo o acadêmico, mergulhando nesse universo, percebeu que muitas dessas pessoas escrevem como uma forma de autoexpressão, de subjetividade.
Ele identificou também que os escritos dos idosos portugueses, de algum modo, carregam valores aprendidos durante a ditadura vivida no país. Seja valores propagados pelo regime, seja valores que o contestem.
“A cultura atravessa você. E por mais que você possa tentar negá-la, ela vai fazer parte de você e se manifestar pelas mais diferentes possibilidades. A escrita é uma delas”, analisa o psicólogo.
Bolsista da Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT) em Portugal, equivalente à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) no Brasil, Welligton considera como fatores decisivos para a conquista a submissão e a publicação de artigos científicos – elementos muito pontuados no país lusitano – assim como capítulos de livros, textos em conferências, além de organização de eventos.
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“Penso que isso de entrar em contato com outra cultura é de uma riqueza imensa. É uma riqueza teórica e vivencial, pois ambas se interligam, eu assim considero. E ambas vão se atravessando e contribuindo para a construção da investigação da melhor forma possível, num movimento de reflexões, construções, desconstruções, questionamentos e, junto a isso, sensibilidade e ética” — Welligton Barbosa Jr., egresso de Psicologia da Unifor e doutorando em Estudos Culturais na Universidade de Aveiro
Tão logo soube que poderia realizar o estágio doutoral fora de Portugal, Welligton decidiu pesquisar universidades no berço dos Estudos Culturais, a Inglaterra. Foi quando encontrou o currículo de Cornelia Gräbner, do departamento de Línguas e Culturas da Lancaster University.
“A professora Cornelia estuda sobre escritas e práticas de resistência, o que se relaciona ao meu tema. Então, juntamente à minha orientadora doutoral, enviei uma proposta para a realização do estágio, que foi aceita”, destaca.
Aprofundando saberes
Foram três meses de experiência na Lancaster University. Segundo Welligton, o estágio o fez perceber seu próprio trabalho de forma diferente. “Após o intercâmbio, minha investigação mudou em muitos aspectos. Pude aprofundá-la em outros. E mesmo perceber certas fragilidades às quais eu não me atentava”, observa.
O jovem também acredita que mudou como pessoa, pois percebeu várias coisas que outrora não estavam claras. “Eu considero que numa investigação é preciso desafiar-se. Desafiar-se para além do texto. E ao desafiar-se para além do texto, desafiar-se como pessoa, penso que isso contribui para que você desenvolva o seu texto da melhor maneira possível, da mais criativa e sensível. E este estágio ajudou-me muito nisto”, avalia.
Com planos de se tornar professor e investigador, Welligton conhece bem a importância de incentivar jovens a desenvolverem seu potencial acadêmico dentro e fora do país. Para ele, unir os aprendizados de diferentes realidades é o que possibilita estabelecer diálogos, produzir outros conhecimentos com aquilo que faz sentido.
“Mais do que isso: podemos criar novas possibilidades, novos olhares para enxergar sobre um tema e sobre nós próprios. Mas isso, eu defendo, só é possível se nós nos permitirmos atravessar pelo conhecimento e por aquilo que vivemos”, declara o futuro docente.
“A ciência e a vida estão de mãos dadas. Atravessam-se. Portanto, para fazer ciência, é preciso não nos fixarmos apenas em um pensamento racional, mas nos sentidos, no apaixonamento pela vida. Precisamos sentir. Precisamos tocar o mundo” — Welligton Barbosa Jr., egresso de Psicologia da Unifor e doutorando em Estudos Culturais na Universidade de Aveiro
