seg, 11 setembro 2023 16:12
Economia Circular: Alternativa que contribui para um futuro mais sustentável
Sistema econômico prioriza o reaproveitamento de resíduos para a produção de novos produtos
Tema que vem ganhando destaque nos últimos anos, a sustentabilidade já faz parte dos planos estratégicos das organizações. Assim, entre as pautas discutidas nos ambientes corporativos está a busca por meios de minimizar o impacto ambiental causado pelos processos de produção.
Nesse contexto, fazendo contraponto à tradicional economia linear — na qual não há reutilização de materiais —, surge o conceito de economia circular (EC), que visa prolongar a vida útil dos recursos.
Princípios da economia circular
Segundo o doutor Fernando Viana, docente dos cursos de graduação e pós-graduação em Administração da Universidade de Fortaleza — vinculada à Fundação Edson Queiroz —, a economia circular é um sistema econômico que se baseia em modelos de negócios que substituem o conceito de “fim de vida”. Trata-se de um sistema regenerativo que minimiza o consumo de recursos e a geração de resíduos.
“Isso ocorre pela adoção dos chamados princípios da EC, entre os quais se destacam ecodesign, redução, reutilização e reciclagem, nos processos de produção/distribuição e consumo”, explica Fernando. Ele cita ainda o princípio da renovação, que prioriza o uso de energia gerada a partir de fontes renováveis.
Repensando cadeias de produção
Organizações que possuem a economia circular como uma das diretrizes contribuem de forma relevante para diminuir a escassez de recursos, pois desenvolvem produtos que são pensados, desde sua idealização, para atenderem a critérios como:
- Consumir menos matérias-primas virgens;
- Ser facilmente reutilizado ou reciclado;
- Reduzir emissões de gases nocivos.
“Países que mais têm avançado na direção de uma economia circular possuem um forte direcionamento institucional (leis e regulamentos) para isso, somado a um mercado consumidor com um maior nível de conscientização e valorização do consumo de produtos ‘sustentáveis’. Nesse sentido, algumas nações europeias têm se destacado nessa transição para a EC, a exemplo de Holanda (Países Baixos), Bélgica e França” — Fernando Viana, doutor em Administração e docente da Unifor
Benefícios ambientais e econômicos
Dessa forma, os benefícios ao meio ambiente estão diretamente associados à redução do consumo de recursos extraídos da natureza, à menor geração de resíduos — que podem gerar prejuízos ambientais, especialmente quando descartados de forma inadequada —, e ao baixo nível de emissões, possibilitado pela priorização de uso de fontes renováveis de energia.
A adoção dos princípios da EC também proporciona vantagens econômicas vinculadas à redução do consumo de matérias-primas e à adição de valor “ecológico” aos produtos, concepção valorizada entre os consumidores no atual contexto de conscientização da sociedade sobre as necessidades do planeta.
Economia Linear x Economia Circular
Sobre a origem do conceito, o professor Fernando destaca a existência de diversas correntes de pensamento que funcionam como antecedentes da ideia da economia circular. Entre elas, o docente ressalta a teoria geral dos sistemas, a biomimética, a abordagem cradle to cradle (do berço ao berço), a ecologia industrial e a simbiose industrial.
“O conceito de EC ganha proeminência a partir de 2013, com relatório publicado pela Fundação Ellen MacArthur, formada em 2010, no Reino Unido, para pensar e desenvolver a ideia de circularidade em resposta à mentalidade linear do modelo econômico predominante”, contextualiza.
A economia circular busca reduzir o desgaste e promover a conservação do planeta ao reutilizar os recursos que já estão circulando no mercado (Ilustração: Getty Image)
Viana explica que na economia linear, os recursos naturais são extraídos, utilizados e descartados, gerando duas formas de externalidades: remoção do capital natural do ambiente e redução do valor do capital natural causado pela poluição e pelo resíduo gerado.
Em contrapartida, por circular entende-se a economia que não gera efeitos danosos sobre o meio ambiente. Ao contrário, ela restaura danos causados na aquisição de recursos e garante o mínimo de resíduos gerados por meio do processo produtivo e do ciclo de vida do produto.
Filosofia sustentável
Para implementar pressupostos de EC nas empresas, é necessário mais que a iniciativa da organização de forma isolada. “Para tal, a empresa precisa incorporar uma ‘filosofia’ voltada à sustentabilidade, algo que tem crescido nos últimos anos, a partir da maior valorização das questões relacionadas à sustentabilidade (econômica, ambiental e social) pelos investidores e consumidores”, relata Viana.
Segundo o professor, não existe necessariamente um “passo a passo” rígido a ser seguido para adotar tal modus operandi, pois a forma de implementação da economia circular depende da realidade de cada empresa e do contexto de atuação.
Entretanto, de modo geral, Fernando sugere que tudo deve começar no desenvolvimento de produtos com a adoção do princípio do ecodesign, ou seja, na elaboração de mercadorias que utilizem menores quantidades de materiais virgens e que possam ser facilmente reutilizados ou reciclados.
Fornecedores e clientes também devem estar inseridos na mentalidade da economia circular (Foto: Getty Images)
Os processos também precisam ser repensados para diminuir os desperdícios e a geração de resíduos. “Muitas vezes, essas mudanças só conseguem ser efetivadas se houver colaboração dos parceiros da cadeia de suprimento: tanto dos fornecedores, que também precisam desenvolver soluções voltadas à circularidade, quanto dos clientes”, enfatiza.
Quer estudar sobre Economia Circular?
Em consonância com as exigências do mercado atual e com as demandas da sociedade focadas no consumo consciente, a Universidade de Fortaleza prepara profissionais para entender e trabalhar com a economia circular por meio do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA).
Na matriz curricular dos cursos de mestrado e doutorado, a disciplina de Economia Circular é ministrada pelo professor Fernando Viana. “Atualmente tenho dois estudantes de doutorado e um estudante de mestrado desenvolvendo trabalhos sobre a temática”, frisa.
Desde 2017, o assunto faz parte dos conteúdos estudados/pesquisados no PPGA, que promove a condução de projetos de pesquisa, elaboração de teses de doutorado, dissertações de mestrado e publicação de artigos em periódicos científicos.