sex, 7 março 2025 16:24
Emília Vidal Porto: a arte cearense perde grande referência em cerâmica e design
A artista realizou duas exposições na Unifor, em 2003 e 2007, e tem quatro de suas obras no acervo de artes da Fundação Edson Queiroz

Figura de destaque nas artes plásticas brasileiras, a artista cearense Emília Vidal Porto faleceu nesta sexta-feira, aos 82 anos, em Fortaleza. Egressa do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), da Fundação Edson Queiroz, Emília Porto se destacou também como designer de interiores e ceramista, tendo carreira consolidada principalmente no Ceará e em São Paulo.
Na Unifor, Emília Porto realizou duas exposições: a primeira de 20 de março a 4 de abril de 2003, intitulada “Objetos Cerâmicos”, e a segunda de 13 a 30 de abril de 2007, sob o título “A Cadeira Branca Pintada de Marrom”, ambas no hall da Biblioteca. Quatro obras da artista fazem parte do acervo permanente da Fundação Edson Queiroz: Pato (2003), Cadeira (2007), Sem Título (sem data) e Jarro (sem data).
Para a professora Adriana Helena Moreira, Vice-Reitora de Extensão da Unifor, “a presença de obras de Emília Porto no acervo evidencia o compromisso da Fundação Edson Queiroz em apoiar e reconhecer artistas contemporâneos, especialmente aqueles com raízes locais. Sua potente produção artística transita entre cerâmica, pintura e madeira, ampliando a variedade de técnicas e expressões artísticas presentes no acervo”.
Emilia Porto está entre as maiores artistas do Brasil (Foto: Divulgação)
Já para o designer, ceramista e artista plástico Tulio Paracampos, além de artista admirável por sua proposta estética única, “Emília Porto sempre foi muito estimada não só por mim, pois sei do seu estímulo na motivação criativa de colegas. Além de produzir para sua época, ela marcou o seu tempo e deixa importante produção, pois foi grandiosa e entusiasmada, o que ilustra a sua exemplar e extensa obra artística”.
Segundo Paracampos, Emília foi ponte do grande momento da cerâmica nos anos 70 e 80, contribuindo para a formação de grande número de ceramistas cearenses. “Há mais de vinte anos, recebi por um bom tempo a orientação amistosa de Emília na minha prática cerâmica. Ela foi responsável por me transmitir aspectos relacionados a uma atitude produtiva, planejada e formal na intenção, porém dinâmica e espontânea no momento da produção. À Emília, minha eterna gratidão!”.
A artista plástica Côca Torquato também deu seu depoimento sobre a importância e a influência de Emília Porto para as artes brasileira e cearense, em particular: “conheci a Emília Porto nos anos 1990. Ela tinha um ateliê, um misto de ateliê e galeria na (rua) Pereira Filgueiras. Então eu fui lá diversas vezes. Uma galeria que recebia os artistas de braços abertos, com um sorriso no rosto".
"Excelente artista, excelente ceramista. Dedicou-se muitos anos à cerâmica vitrificada. Tenho um carinho muito grande e uma admiração enorme por ela. E também um sentimento de gratidão, porque ela me convidou para participar de Casa Cor e para fazer coletivas. Então, a Emília vai fazer muita falta. Eu gosto imensamente dela e do trabalho dela. Um trabalho significativo para a história principalmente da cerâmica no Ceará. Ela foi praticamente pioneira”, complementou Côca Torquato.
No catálogo da exposição “A Cadeira Branca Pintada de Marrom”, o filho Alexandre Vidal Porto, egresso do curso de Direito da Unifor e hoje diplomata e escritor, comentou dessa forma a arte da mãe: “Emília Porto pinta os objetos da vida quotidiana. Cria suas telas de acordo com as cores e as formas que gostaria que o mundo tivesse. Para isso, recorre a elementos pouco tradicionais, que ela traz de sua trajetória como ceramista e designer de interiores. Multidimensional, sua obra artística retrata pessoas, objetos e situações que ainda não existem”.
Trajetória de sucesso
Desde a infância, Emília demonstrou talento para as artes, iniciando no desenho aos oito anos. Sua formação artística se aprofundou em São Paulo, onde foi estudada e lecionada em importantes instituições. Entre 1973 e 1985, foi professora de cerâmica no Studio 40 e também ministrou aulas de design de interiores na Universidade Sem Fronteiras por uma década.
Ao longo dos anos, Emília participou de diversas discussões e recebeu prêmios por seu trabalho. O seu envolvimento com a arte foi além da produção artística, tendo atuado também como curadora de eventos culturais e na criação de móveis e espaços de interiores.
A obra de Emília Porto é caracterizada por forte identidade visual, explorando cores vibrantes, formas orgânicas e temáticas que remetem à cultura e ao cotidiano nordestino. Seu impacto na cena artística cearense se posiciona como referência para as novas gerações de artistas.
Nos últimos anos, ela participou ativamente do circuito artístico cearense, promovendo exposições e contribuindo para o fortalecimento da arte no Ceará. Uma de suas exposições recentes, em julho de 2023, foi homenagem a Frida Kahlo, realizada no Iate Clube de Fortaleza.