Entre a busca pelo “corpo perfeito” e os riscos invisíveis: o alerta médico sobre Ozempic e Mounjaro

ter, 2 dezembro 2025 10:11

Entre a busca pelo “corpo perfeito” e os riscos invisíveis: o alerta médico sobre Ozempic e Mounjaro

Professora do curso de Medicina da Unifor ressalta que, mesmo com eficácia comprovada, o uso seguro depende de prescrição médica e acompanhamento regular 


No Brasil, observa-se aumento na procura por canetas emagrecedores e, como consequência, mercado clandestino ganha força (Foto: Getty Images)
No Brasil, observa-se aumento na procura por canetas emagrecedores e, como consequência, mercado clandestino ganha força (Foto: Getty Images)

O uso de canetas emagrecedoras, como Ozempic e Mounjaro, se tornou um fenômeno social que vai além do uso médico. Nas redes sociais, celebridades e influenciadores exibem transformações corporais rápidas, enquanto cresce a circulação clandestina desses medicamentos, que originalmente foram desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2. A facilidade de acesso e a pressão estética criaram um ambiente propício ao uso indiscriminado, perigoso e, muitas vezes, sem supervisão adequada.

Para aprofundar o debate, a professora Karina Sodré, do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor) — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, disseca os mitos, os riscos, os benefícios e as razões que explicam a explosão no consumo dessas medicações, que agora ultrapassam o campo clínico e se tornam também um fenômeno cultural.

A ascensão das canetas emagrecedoras

De acordo com a docente, que é endocrinologista e doutora em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP), a busca crescente por Ozempic e Mounjaro não é fruto de um único fator, mas de uma combinação poderosa: eficácia clínica, pressão social, viralização nas redes e o desejo por resultados rápidos

A professora Karina explica que, embora a indicação original seja o tratamento do diabetes tipo 2, a perda de peso observada nesses pacientes chamou atenção, sendo posteriormente comprovada em estudos clínicos específicos sobre obesidade e sobrepeso. “Vivemos em uma sociedade que idealiza a magreza e impõe uma intensa pressão para atingir o corpo perfeito. Esses medicamentos são vistos como uma ‘solução rápida’ ou um ‘atalho’ em comparação com as mudanças demoradas de dieta e exercício”, afirma.

Além disso, a ação das substâncias, que modulam apetite e saciedade, facilita a adesão a dietas de restrição calórica, o que amplia a procura. A popularidade explodiu ainda mais com o compartilhamento massivo de relatos e antes/depois nas redes sociais, criando um ciclo de influência estética e comportamental.


O Mounjaro promove perda de cerca de 26% do peso corporal, enquanto o Ozempic chega a até 16% (Foto: Getty Images) 

Karina reforça um ponto essencial: obesidade é uma doença e precisa ser tratada como tal, mas o uso das canetas para fins puramente estéticos está muito distante disso. A popularização também foi impulsionada pelos resultados robustos em estudos clínicos internacionais, especialmente com as versões de doses mais altas para obesidade, como os medicamentos Ozempic e Wegovy (remédios à base de semaglutida) e variações de tirzepatida — princípio ativo do Mounjaro — aprovadas fora do Brasil.

A semaglutida (Ozempic e Wegovy) imita o hormônio GLP-1, retarda o esvaziamento do estômago, reduz apetite e aumenta saciedade. Já a tirzepatida (Mounjaro) atua em GIP e GLP-1, potencializando controle metabólico e perda de peso em pessoas com obesidade. 

Ozempic x Mounjaro: diferenças que importam

Ambos, porém, têm perfis de efeitos colaterais semelhantes e requerem o mesmo nível de cautela e acompanhamento médico. A docente reforça que outra confusão comum é entre Ozempic e Wegovy: “Embora contenham o mesmo princípio ativo, têm doses máximas diferentes e indicações distintas.” 

Ela cita que crenças populares precisam ser urgentemente combatidas. A ideia de que as canetas são uma solução mágica é a principal delas. Sem mudanças no estilo de vida, o peso retorna. Outro mito perigoso é acreditar que quem não tem diabetes corre menos risco: os efeitos colaterais e contraindicações são os mesmos. E, especialmente, o mito de que essas medicações servem para perder apenas alguns quilos: “O risco não justifica o benefício.”

O lado oculto da automedicação e da venda clandestina

Se de um lado há eficiência comprovada, do outro emergem riscos graves. A endocrinologista enfatiza que o uso sem acompanhamento médico ignora triagens vitais e pode desencadear complicações.

Entre os principais perigos da automedicação, ela cita efeitos colaterais intensos, como náuseas, vômitos e diarreia, que podem evoluir para desidratação. Há ainda riscos mais graves, como pancreatite, um evento raro, mas potencialmente fatal, e hipoglicemia, quando os medicamentos são combinados de forma inadequada com outros tratamentos.

Outro alerta diz respeito às contraindicações ignoradas. Por exemplo, pacientes com histórico familiar de carcinoma medular de tireoide (CMT) ou neoplasia endócrina múltipla tipo 2A (NEM-2A) não devem utilizar tais remédios. Ademais, há a possibilidade de reganho rápido de peso, consequência comum quando o paciente utiliza a medicação sem acompanhamento e interrompe por conta própria.

Ao ser questionada sobre o perigo de aplicar o medicamento sem conhecimento técnico, Karina responde de forma categórica: “É extremamente perigoso por múltiplos motivos”. Ela cita infecções no local da aplicação, abscessos, aplicação intramuscular acidental, além do risco de erro na dose, que pode gerar ineficácia e até mesmo overdose.


“A compra no mercado paralelo adiciona riscos catastróficos: falsificação, contaminação, armazenamento inadequado e ausência de rastreabilidade. Em caso de lote contaminado ou recall, o usuário clandestino não pode ser notificado, colocando sua vida em risco”Karina Sodré, professora do curso de Medicina

A professora de Medicina lembra que esses medicamentos exigem cadeia de refrigeração rigorosa. No mercado clandestino, além de falsificações, há risco de composição adulterada com insulina, hormônios ou substâncias tóxicas, podendo levar à intoxicação grave ou reações alérgicas potencialmente fatais.

O impacto da pressão estética e os danos psicológicos

A docente Karina destaca que o uso indevido das canetas está profundamente ligado à cultura da magreza. “A mídia e as redes sociais promovem um padrão irreal, fazendo com que pessoas em peso saudável se sintam inadequadas e busquem a medicação para atingir esse ideal”, afirma. 

Essa pressão pode desencadear distorção da imagem corporal, piora de dismorfias pré-existentes e até servir como gatilho para transtornos alimentares, como anorexia e bulimia. Além disso, o efeito rebote após o uso sem orientação costuma gerar frustração, culpa e até depressão, especialmente quando o peso retorna rapidamente.

Reganho de peso: o que você precisa saber

Um dos principais efeitos colaterais, o rebote de peso vem acompanhado de aumento de apetite, retorno da fome intensa e desaceleração metabólica. Em diabéticos, há ainda piora rápida do controle glicêmico. Por isso, a interrupção deve sempre ser planejada com o médico, com ajuste gradual da dose e reforço do estilo de vida saudável.

As canetas emagrecedoras são, sem dúvida, um avanço importante no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Mas, fora desse contexto e sem acompanhamento profissional, representam riscos reais e graves, físicos, emocionais e sociais. 

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Esta notícia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), contribuindo para o alcance do ODSs 3 – Saúde e Bem-Estar e 4 – Educação de Qualidade

A Universidade de Fortaleza, assim, assegura educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos, e também garante uma vida saudável e propicia o bem-estar para todos, em qualquer idade.