seg, 13 janeiro 2025 12:46
Entrevista Nota 10: Mateus Lins e o romance de entretenimento como novidade na formação literária
Coordenador do aperfeiçoamento em Escrita de Romance de Entretenimento fala do novo curso lançado pela Pós-Unifor e comenta sobre o novo gênero que tem ganhado destaque no mercado literário
Em 2021, o Prêmio Jabuti lançou uma novidade em suas categorias competitivas: o Romance de Entretenimento. A mais tradicional premiação literária do Brasil institucionalizou e popularizou a presença em solo nacional de um gênero de literatura que já vinha ganhando destaque no exterior, sob o nome de “romance comercial”.
Para o escritor de ficção e advogado Mateus Lins, a inclusão da nova categoria é uma forma de valorizar a escrita produzida por autores que se dedicam às diversas narrativas de fantasia, ficção científica, distopias, horror, suspenses policiais e outros gêneros conexos.
“Embora esses livros já participassem do prêmio antes da criação da categoria, agora eles contam com um júri especializado para avaliá-los. E acredito que todos saem ganhando com isso, autores, editoras e leitores, uma vez que livros com pegada mais comercial passam a ganhar maior vitrine com o prêmio e se tornam mais acessíveis aos leitores”, reflete o autor do romance “O Reino de Mira”.
Atenta às mudanças no mercado editorial, a Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza lança o curso Escrita de Romance de Entretenimento, do qual Mateus é coordenador. A formação busca promover o aperfeiçoamento dos interessados em escrita de ficção, leitura literária, técnicas de escrita, teoria da literatura, criação e interpretação de textos no novo gênero que vem despontando mundialmente.
Um dos grandes diferenciais da formação é o corpo docente experiente e renomado, com autores premiados e finalistas do Prêmio Jabuti, como a jornalista Socorro Acioli. Mestre e doutora em Estudos de Literatura, ela é curadora e professora do curso, tendo sido a única brasileira selecionada para a oficina de roteiros ministrada pelo escritor colombiano e Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, em 2006.
“Dentro dos cursos de escrita, sempre buscamos criar uma networking para os alunos, com os estudantes dentro dos seus grupos e das suas turmas, e eles também vão poder acessar essas pessoas, vão poder conversar com elas durante as aulas. Eu acho que isso se torna um momento muito importante”, destaca Mateus Lins, que também é coordenador e docente da Especialização em Escrita e Criação.
Egresso da graduação em Direito e do Mestrado em Direito Constitucional da Unifor — cuja dissertação foi finalista no Prêmio José de Oliveira Ascensão —, Mateus é autor do livro infantil “Pingo e Malu” e de diversos contos e crônicas publicadas por meio de antologias e de prêmios literários. Em 2023, seus projetos na área da escrita o levaram a trabalhar como mentor de lideranças e projetos sociais para a Clinton Global Initiative University.
Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele fala sobre o novo curso lançado pela Pós-Unifor e comenta o novo gênero que tem ganhado destaque no mercado literário.
Confira na íntegra a seguir.
Entrevista Nota 10 — O que é o romance de entretenimento e o que diferencia ele do tradicional romance literário? Você acredita que esse gênero redefine, de alguma forma, o conceito de literatura na atualidade?
Mateus Lins — O termo romance de entretenimento se popularizou após a criação da categoria “Romance de Entretenimento” pelo Prêmio Jabuti. Ele premia romances que exploram narrativas dentro de universos fantásticos, distópicos, de ficção científica, horror e, também, suspenses policiais. Essa distinção existe no mercado internacional, colocando essas narrativas dentro do que eles chamam de “romance comercial”, mas, no Brasil, o termo poderia soar pejorativo e, por isso, foi escolhido “romances de entretenimento” para a premiação.
Não acredito que o termo redefina o conceito de literatura na atualidade, porque o entretenimento é apenas mais uma forma de se fazer literatura e essa proposta sempre esteve presente em nossa construção literária por meio de nomes como Agatha Christie, Ursula Le Guin, J.R.R. Tolkien e George R.R. Martin.
Entrevista Nota 10 — Em 2021, o Prêmio Jabuti lançou o Romance de Entretenimento como nova categoria competitiva. Como o mercado editorial tem reagido à mudança? O que essa adição representa para a cena literária brasileira, especialmente para os escritores que se dedicam à produção de romances?
Mateus Lins — Eu enxergo a criação da categoria como uma forma de valorizar a escrita produzida por autores que se dedicam às narrativas de fantasia, ficção científica, distopias, terror, suspenses policiais e outros gêneros conexos. Embora esses livros já participassem do prêmio antes da criação da categoria, agora eles contam com um júri especializado para avaliá-los. E acredito que todos saem ganhando com isso, autores, editoras e leitores, uma vez que livros com pegada mais comercial passam a ganhar maior vitrine com o prêmio e se tornam mais acessíveis aos leitores.
Entrevista Nota 10 — O romance de entretenimento tem uma relação muito próxima com o mercado editorial, dado seu direcionamento mais comercial. Hoje, quais são as oportunidades e desafios para quem busca focar na produção desse gênero? E para quem decide investir na carreira literária, qual a importância de realizar um aperfeiçoamento nessa área?
Mateus Lins — Eu acredito que, hoje, um dos maiores desafios que os autores possam vir a enfrentar para a produção desse gênero seja exatamente a construção de narrativas que tenham esse caráter de verossimilhança, que se conectem com os leitores e que discutam também aspectos que sejam importantes para a sociedade, apesar de universos ficcionais, de universos fantásticos, distópicos ou recheados de ficção científica. Eu acho que esse talvez seja um dos maiores desafios para quem busca a produção desse gênero.
Em nosso curso de aperfeiçoamento, o que nós vamos fazer é exatamente analisar obras de diversos gêneros literários dentro do romance de entretenimento que explorem muito bem a construção de personagens, de enredo, de cenário e também demonstrar como que podemos utilizar técnicas e elementos narrativos para poder tornar as narrativas mais fortes, próximas ao leitor, com caráter de verossimilhança.
Então, o curso de aperfeiçoamento vai ser muito voltado em como estruturar essas narrativas, pensando nas narrativas para cada um dos segmentos, para cada um dos gêneros dentro do romance de entretenimento. Por isso que nós fazemos a divisão de módulos dentro do módulo de fantasia. Nós temos tanto o estudo de referências como vamos discutir os principais elementos necessários que compõem a estrutura de uma narrativa fantástica, quais os caminhos para poder escrever uma narrativa fantástica. E, por fim, nós ainda fechamos o curso com o módulo que é a edição da literatura de entretenimento, que conta com um editor que é muito experiente dentro desse campo, exatamente para poder discutir e apresentar caminhos possíveis para que os autores busquem colocar os seus livros no mundo.
Entrevista Nota 10 — Uma das novidades da Pós-Unifor para 2025 é o lançamento do curso de Escrita de Romance de Entretenimento, reforçando a presença das formações em artes na instituição. Como surgiu a ideia desse programa? Quais são os principais diferenciais do curso?
Mateus Lins — A ideia do programa surge diante de uma necessidade que há no meio literário, que é exatamente a produção de romances de entretenimento e focar também na construção desses gêneros específicos; e não existem cursos, pelo menos institucionais, que sejam voltados a abraçar essas demandas. A Unifor se lança na vanguarda, no sentido de propor um curso que aborda a construção desses gêneros literários. E eu acho que isso é muito importante, porque quando analisamos o mercado, verificamos que muitas pessoas, muitos autores e escritores, têm se voltado para esses gêneros literários. Então, por que não pensarmos também em uma formação que os atenda? A ideia desse programa surge diante dessa análise.
Sobre os principais diferenciais do curso, primeiro, vamos analisar a construção de referências em cada um dos gêneros a serem explorados dentro do curso, como que essas referências constroem seus personagens, seus enredos, seus cenários, para depois partirmos para a construção, a própria escrita, o próprio desenvolvimento dessas narrativas, o que é que nós precisamos trabalhar dentro de uma narrativa de fantasia, dentro de uma narrativa policial, dentro de uma narrativa distópica, quais são os principais elementos que precisam existir dentro delas.
E, para além disso, vamos ter professores que têm muita experiência na produção dessas narrativas. Muitos deles são autores premiados ou que são finalistas do Prêmio Jabuti. Temos também editores. E, além disso, a formação apresenta um módulo que se chama Diversidade, Sociedade e Representatividade na Literatura Ficcional. Esse módulo, em específico, vai ser um módulo que vai apresentar maneiras de discutirmos temas que são importantes para a nossa sociedade por meio dos personagens e das narrativas ficcionais. Isso acaba sendo um ponto importantíssimo quando pensamos em literatura. A literatura é um reflexo do nosso mundo e ela também precisa entregar algo para ele.
Entrevista Nota 10 — O novo curso de Escrita de Romance de Entretenimento, assim como a Especialização em Escrita e Criação, conta não só com a estrutura e o suporte de excelência da Unifor, mas também com grandes nomes do universo literário nacional. De que maneira o contato com um corpo docente experiente e renomado pode influenciar os caminhos profissionais dos alunos?
Mateus Lins — Eu acredito muito na troca de experiências. Acredito que um corpo docente experiente e renomado pode vir a influenciar os caminhos profissionais a partir do momento que, além de demonstrar como escrever narrativas de entretenimento e de analisar referências, pode compartilhar um pouco das próprias experiências pessoais. Claro, a experiência de cada um é única e dificilmente ela vai se repetir para outras pessoas. Mas saber como uma determinada pessoa chegou aonde ela está é importantíssimo porque nos mostra alguns possíveis caminhos. E embora cada um tenha a sua jornada, é uma forma também de estudar a jornada profissional. Então, eu acredito que ter também o apoio dessas pessoas, o compartilhamento de conhecimento desses docentes, mais do que auxiliar, mais do que ensinar, também inspira. Eu acho que isso também vai ser essencial para os alunos.
Sem falar que, dentro dos cursos de escrita, sempre buscamos criar networking mesmo para os alunos, com os estudantes dentro de seus grupos e suas turmas, e eles também vão poder acessar essas pessoas, vão poder conversar com elas durante as aulas. Eu acho que isso se torna um momento muito importante também.
Entrevista Nota 10 — Além de coordenador, você é docente dos cursos de escrita da Pós-Unifor, onde compartilha sua robusta experiência com publicações de antologias e romance e ministrando oficinas de escrita criativa. Quais conselhos você daria para quem está começando no romance de entretenimento, especialmente ao navegar no mercado editorial e criar oportunidades de carreira a longo prazo?
Mateus Lins — Acho que o primeiro conselho é ler. Ler bastante narrativas do universo do qual você, aluno, está escrevendo. Então, se alguém quer se aventurar na escrita de romance de entretenimento e de repente está querendo escrever fantasia, é importante ler muita fantasia, ler os principais nomes da literatura fantástica, ler a literatura fantástica contemporânea, saber o que está sendo produzido no Brasil, não apenas para poder compreender como que as histórias funcionam, mas compreender como que aquelas autoras e aqueles autores que nós admiramos criam seus personagens, desenvolvem seus enredos, ambientam suas histórias. Eu acredito que esse seria o primeiro passo.
E, principalmente, entender como que eu analiso um livro de maneira, digamos, profissional. Como que eu consigo captar esses elementos dentro de uma narrativa que eu estou lendo. Para depois entender como que eu utilizo os elementos essenciais da narrativa, como que eu utilizo de estilo literário, como que eu encontro o meu estilo, a minha voz na literatura para começar a produzir e escrever as minhas histórias a partir de toda a minha bagagem literária enquanto leitor.
A partir disso, ter essa bagagem literária enquanto leitor, conhecendo os caminhos de produção de escrita de uma obra, como utilizar os elementos e, principalmente, como discutir assuntos que são essenciais para a nossa sociedade por meio da literatura de entretenimento - isso, é claro, com muito esforço, com trabalho duro, muitas vezes bastante tempo -, vai auxiliar na produção de um livro que vai ter qualidade literária. Então, com uma obra que possui qualidade literária, é [preciso] saber como acessar os caminhos, como acessar as pessoas, como acessar agentes literários, como acessar editoras e editores sérios, para poder criar oportunidades de carreira a longo prazo.
É importante salientar que o caminho dentro da escrita, dentro da literatura, não é fácil, não existe uma fórmula pronta, mas o que nós estamos objetivando com o curso é entregar as ferramentas para que este caminho seja mais leve. E que os alunos possam compreender como construir romances de qualidade, romances de entretenimento de qualidade e, principalmente, qual é o passo a passo que eles precisam seguir para poder vir a submeter o livro a uma editora, vir a entregar o livro para um agente literário e, a partir disso, experimentar as possibilidades que a carreira literária também pode entregar.