seg, 21 março 2022 11:18
Laboratório alia arte, ciência e tecnologia na criação de projetos; saiba como participar
Conhecido como “LIP”, o Laboratório de Inovação e Prototipagem da Universidade de Fortaleza é aberto a estudantes de todos os cursos

A Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, é referência quando se trata de tecnologia e inovação. Isso fica nítido em suas diversas iniciativas e projetos voltados para as áreas em ascensão, como o TEC Unifor, Parque Tecnológico localizado no campus da instituição, e o Laboratório de Inovação e Prototipagem (LIP).
Situado no Bloco I da Unifor, o LIP, em sua gênese, surgiu da ideia de criar um laboratório voltado para a fabricação digital e para o desenvolvimento de protótipos, e que atuasse como um hub integrador responsável por abrigar e facilitar a interação entre as mais distintas áreas do conhecimento, principalmente as que envolvem arte, ciência e tecnologia.
Clarissa Ribeiro, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da instituição e coordenadora do laboratório, afirma que o ideal responsável por nortear a criação do LIP ainda se mantém, "e a comunidade aglutinada em torno do laboratório, nacional e internacional, contribui para que os projetos desenvolvidos dentro desse ‘abrigo’, e as ideias e iniciativas estimuladas, se desdobrem em novas ideias e em novos projetos", pontua.
O espaço, aberto a todos os alunos do campus que se interessem por sua premissa de promover o diálogo e a colaboração entre engenheiros, artistas e cientistas, funciona como um espaço para atividades em grupo. Ele possui oito estações de trabalho, e abriga quatro alunos por mesa. Sua infraestrutura oferece equipamentos de última geração presentes, como impressora 3D, modeladoras CNC e máquina de corte a laser.
Um laboratório, mil utilidades
Além de ser uma estrutura de ponta dentro da Universidade, o LIP hospeda o Leonardo Art Science Evening Rendezvous, mais conhecido como LASER Talks, evento mensal ligado ao laboratório. Vinculado ao projeto Leonardo ISAST, a iniciativa foi criada em 2008 pelo presidente do LASER na Bay Area, Piero Scaruffi, e está em mais de 20 cidades nos Estados Unidos e na Europa.
Ribeiro explica que o laboratório contribuiu para a implantação do projeto LASER Talks na América Latina, e fez com que os gestores norte-americanos acreditassem na expansão e passassem a aceitar candidaturas de instituições fora do eixo Europa-Estados Unidos. Durante os períodos de isolamento social, os encontros eram realizados de forma remota, veiculados em um perfil no Instagram.
Nos dias 17 e 18 de março de 2022, foram realizadas reuniões com todos os responsáveis pelo evento a nível mundial, e a professora Clarissa revela que voltarão a ser organizados eventos presenciais no campus da Unifor a partir de abril. O evento será gratuito e aberto ao público, e os alunos da instituição receberão certificado de participação emitido pelo Centro de Ciências Tecnológicas (CCT) da Unifor.
Além de estar relacionado a esse importante evento para a comunidade artística e científica, o LIP serviu de espaço para o desenvolvimento de projetos que têm sido apresentados em eventos de extrema relevância internacional na área de arte e tecnologia computacional, como o Ars Electronica, Siggraph, China Vis e a Conferência Anual da College Arts Association (CAA), principal organização nos Estados Unidos na área de artes visuais.
"Alunos e egressos que trabalharam em projetos abrigados pelo LIP têm tido iniciativas contempladas pela Lei Aldir Blanc, Secretaria Especial da Cultura, e sido selecionados como mediadores do Espaço Cultura da Unifor, se tornado empreendedores e abrindo startups com foco em fabricação digital", Clarissa Ribeiro, coordenadora do Laboratório de Inovação e Prototipagem da Unifor.
Atualmente, o laboratório está responsável por um projeto que participará da nova exposição do Espaço Cultural na instituição, em celebração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. A iniciativa surgiu a partir de um convite feito pelos professores Randal Pompeu e Adriana Helena, da Vice-Reitoria de Extensão, após uma visita ao Louvre de Abu Dhabi, e tem como objetivo a reprodução de réplicas de algumas esculturas encontradas no museu.
Projeto desenvolvido para a nova exposição do Espaço Cultural Unifor (Imagem: Reprodução)
"Estarão na exposição, que abre na terça-feira, dia 22 de março, às 19 horas, com o objetivo de permitir a fruição por pessoas com limitações visuais, três esculturas que foram escaneadas por mim, receberam ajustes utilizando softwares 3D como Rhinoceros e Blender pelos alunos integrantes do CrossLab – grupo de estudos e coletivo artístico abrigado pelo LIP – Jefferson e João – e estão sendo impressas em PLA no laboratório, pelo técnico especialista em fabricação digital Erikson Queiroz", explica Clarissa.
De acordo com a coordenadora, o desejo é que essa iniciativa piloto se desdobre em um projeto de extensão, e que possa ter um impacto positivo na comunidade acadêmica local e na experiência dos visitantes da cidade, do Brasil e do mundo.
Caráter progressivo
O intuito do LIP era, acima de tudo, proporcionar aos alunos a oportunidade do contato direto com tecnologias atuais e projetos de inovação. Jefferson Albuquerque Castro, aluno do quarto semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo e participante do CrossLab, já teve duas experiências com o laboratório, tanto divertidas quanto desafiadoras.
Jefferson Albuquerque Castro, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor (Foto: Acervo pessoal)
O discente conheceu o espaço por meio da professora Clarissa, quando a coordenadora angariou voluntários para ajudar em um Trabalho de Conclusão de Curso de outra aluna. Ele explica que, de início, sua trajetória no LIP foi breve, mas que recentemente voltou a se conectar com o local. Como consequência, Castro afirma que passou a enxergar com mais clareza as oportunidades que o laboratório leva aos alunos.
Para Jefferson, o LIP torna-se diferente das outras estruturas oferecidas pela Unifor devido ao seu caráter "progressivo". "Nele [o laboratório], o usuário sente a possibilidade de ligar suas ideias à realidade, trazendo assim tecnologias que muitos nem sabem da existência, como impressão 3D ou fabricação CNC como uma ferramenta utilizável e com todo o apoio para tal", finaliza.
Descobertas
Assim como Jefferson, João Lustosa cursa o quarto período de Arquitetura e Urbanismo, e também é integrante do CrossLab. Ele conta que descobriu o LIP ainda em seu 1º semestre, quando foi tentar imprimir parte de uma maquete em 3D para o trabalho final da disciplina de Ateliê I.
"Após a experiência de tentar fazer uma impressão 3D no LIP, tive pouco contato direto com eles nos outros semestres. mas estou novamente utilizando o laboratório por estar participando de um projeto em grupo com a professora Clarissa, o CrossLab, que tem como proposta estimular a pesquisa envolvendo a extensão de discussões de sala de aula, assim como a mescla entre arte, ciência, arquitetura e o desenvolvimento tecnológico, sendo todos esses combinados por meio de ferramentas computacionais", relata João.
João Lustosa, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo (Foto: Acervo pessoal)
Para ele, o projeto que mais marcou sua experiência acadêmica envolvendo o LIP foi o que realizou em seu primeiro semestre, já que foi a partir dele que obteve contato com o laboratório. Lustosa conta que, após esse primeiro contato, passou a estudar sobre modelagem 3D, o que, ao longo do tempo, o levou a trabalhar como artista 3D e fundar sua empresa, que é um estúdio de renderização com foco em Archviz, abreviação de Architectural Visualization (Visualização Arquitetônica em português).
O futuro arquiteto vê o LIP como um espaço com ferramentas que proporcionam aos alunos expandirem os limites das discussões de sala de aula, podendo experimentar, testar e até criar projetos com focos específicos, incomuns e inovadores. "Ao meu ver, isso contribui na formação de profissionais que estarão alinhados com o constante desenvolvimento que o mercado de trabalho e o progresso em geral pedem. O que contribui também para a comunidade cearense, já que à medida que projetos maiores forem testados e validados no LIP, a população, consequentemente, poderá se beneficiar da aplicação deles", pondera.
De Fortaleza para o mundo
Recentemente, a professora Clarissa Ribeiro participou de uma sessão na 110 Conferência Anual da College Art Association of America (CAA). O evento oferece conteúdo crítico para o tempo atual sobre mudanças climáticas, respostas à pandemia, pedagogia e questões de justiça social, e, nessa edição, celebrou e promoveu o 50º aniversário do movimento artístico feminista.
Esculturas expostas no CAA este ano e também em Fortaleza (Foto: Divulgação)
A Conferência ofereceu uma seleção de sessões e programas sobre mulheres nas artes, enfatizando a diversidade, a inclusão e a acessibilidade. "A relevância da participação em sessão na 110 Conferência Anual da CAA é a de colocar a Unifor e o LIP no cenário internacional das discussões contemporâneas em artes visuais vinculadas ao pensamento acadêmico e à prática artística", pontua a coordenadora.
Ribeiro apresentou o trabalho "Geolocated Love: For More Humanitarian Classification And Use of Big Data", produzido no Laboratório de Inovação e Prototipagem da Unifor, na sessão intitulada "Materializing Global Concerns in Contemporary Art", mediada pela crítica e historiadora da arte Media Farzin, que fez uma leitura cuidadosa e crítica da composição.
"O trabalho usa dados brutos para a geração de esculturas-dados, esculpidas no LIP em madeira nas modeladoras. Ele é baseado em tweets de residentes de países no continente africano classificados pela International SOS como os mais perigosos do mundo para viajantes que têm negócios na região. As quatro esculturas ganham nomes de cada um dos países elencados – Líbia, Somália, Sudão do Sul e República Centro Africana", explica a docente.
O trabalho apresentado por Clarissa foi exibido anteriormente no encontro nacional da ABCIBER (Associação de Pesquisadores em Cibercultura), assim como participou da exposição no MAUC UFC no início de 2020, na exposição ‘Adjetivo feminino’ que reuniu 27 mulheres artistas plásticas atuantes em Fortaleza e teve a intenção de retratar o olhar feminino e seu fazer artístico.