Profissionais multifacetados: o fenômeno da geração slash

seg, 23 setembro 2024 12:31

Profissionais multifacetados: o fenômeno da geração slash

Alunos e egressos contam como se tornaram profissionais multitarefas, combinando habilidades acadêmicas, paixões pessoais e uma gama de competências que desenvolveram por meio de uma experiência completa na Unifor


A geração slash combina várias áreas do conhecimento para atuar em diversas frentes e explorar ao máximo suas capacidades (Imagem: Divulgação)
A geração slash combina várias áreas do conhecimento para atuar em diversas frentes e explorar ao máximo suas capacidades (Imagem: Divulgação)

Não é nenhuma novidade que as transformações econômicas e sociais estão redefinindo as relações de trabalho. Com o mercado aberto para carreiras cada vez mais diversas, um número expressivo de profissionais aposta no perfil multifacetado e transita por diferentes áreas para explorar todo o seu potencial.

Eles integram a chamada geração slash: um grupo de pessoas que combina várias áreas do conhecimento para atuar em diversas frentes e explorar ao máximo suas habilidades. Unindo formação acadêmica e paixão por hobbies, estes profissionais versáteis são cada vez mais disputados no mercado de trabalho.

Mas vamos entender tudo pelo começo. Slash, em inglês, significa “barra”. Estamos falando daquele sinal gráfico (/) usado para separar os números que formam as datas e – agora – para elencar as múltiplas funções de um profissional ou as atuações diferentes em sua carreira.

“O profissional slash é aquele que exerce mais de uma atividade profissional, [se dedica a] atividades diversas, e aí fica: ele é médico/cantor/escritor. Em todas essas atividades profissionais, ele é remunerado e entende como o trabalho que é responsável pela sustentação dele”, explica a professora de graduação e pós-graduação em Psicologia da Unifor, Patrícia Passos.

Conectada às transformações laborais, a Universidade de Fortaleza (Unifor), vinculada à Fundação Edson Queiroz, tem todas as ferramentas para ajudar a preparar estes profissionais multi-talentos. Além de programas para dupla e tripla-titulação, a instituição oferece trilhas de formação que colocam o aluno como protagonista e apresenta uma série de caminhos para desenvolver habilidades múltiplas, do estágio à pesquisa, ensino e extensão.

Multiprofissionais que se sentem mais realizados  

Andreza Vasconcelos faz parte da geração slash. A administradora/bailarina conta que a formação acadêmica e a experiência na dança lhe tornaram uma profissional mais disciplinada e habilidosa para trabalhar em equipe. “A dança me ajudou a internalizar questões como ter disciplina, saber trabalhar em equipe e aprender todos os dias, assim como outras habilidades, moldando a profissional que sou hoje”, explica.

Ter uma carreira múltipla trouxe à egressa do curso de Administração da Unifor maior equilíbrio entre a jornada profissional e a vida pessoal, ajudando a aguçar a criatividade e a aprimorar constantemente suas diferentes habilidades.

“Atuar como um profissional slash é também mostrar ao mercado o olhar amplo que um profissional pode ter. Sou administradora/dançarina e espero ainda poder ter tempo na agenda para atuar como pesquisadora”, diz. Para ela, uma atuação diversificada alinhada com os seus próprios interesses pode levar a uma maior sensação de realização e satisfação pessoal.


“As oportunidades surgem com o desenvolvimento de habilidades em diferentes campos, sem deixar de falar que pode ser também uma outra fonte de renda. A Unifor tem desempenhado um papel significativo no estímulo à arte, cultura e esporte, possuindo um leque de opções para os estudantes poderem se aventurar além da sala de aula. [Isso oportuniza] a descoberta destes em novos saberes e habilidades”Andreza Vasconcelos, egressa do curso de Administração da Unifor e bailarina

Ampliar horizontes e renda com uma carreira múltipla

Quem ainda não concluiu a graduação também vê vantagens na vida slash. O estudante de Marketing Jan Moreira está finalizando o curso enquanto trabalha como ator, tendo representado o Ceará em Cannes com o filme “Motel Destino”.

Comunicativo e curioso, os interesses de Jan passeiam pela comunicação, a arte e a cultura desde criança. Mergulhou na atuação em 2019, mas decidiu depois ampliar suas aptidões na graduação em Marketing, que tem ajudado a desenvolver um olhar estratégico e até mesmo a traçar um planejamento de carreira mais coeso. “Venho desenvolvendo muitas skills, me favorecendo enquanto profissional slash”, diz.

Atualmente, é estagiário da Vice-Reitoria de Pesquisa (VRP) como designer e vem se envolvendo também com inovação e tecnologia. “Além disso, estou em processo criativo de um espetáculo teatral com linha de pesquisa afrofuturista, com estreia prevista para novembro”, celebra. 

Para Jan, todas essas habilidades podem ser fortes aliadas no mercado de trabalho. “É como se fosse uma grande interseção onde alguns elementos podem se encontrar para favorecer alguém no mercado”, explica. Mas ser slash, para ele, também é sobre renda. Quando sua atuação no teatro está em baixa, é o marketing que segura as pontas.


“A carreira múltipla amplia os nossos horizontes. Com ela, podemos traçar novos percursos e entender que somos indivíduos com diversas vontades. Só porque eu gosto muito de algo, não significa que tenho que trabalhar somente nisso. O mundo é diverso, e nós também”Jan Moreira, ator e aluno do curso de Marketing da Unifor

Jan pondera que não é fácil ser um profissional slash, já que muita gente pensa que não é possível fazer um bom trabalho quando você se divide em diversas áreas. “Mas acredito que esse é o segredo para nos destacar no mercado. O profissional slash, geralmente, é muito mais esforçado nas suas frentes de trabalho”, diz.

O contexto socioeconômico estimula profissionais multifacetados

Na prática, o profissional slash acumula e realiza diferentes atividades profissionais, muitas vezes em busca de soluções para suas questões financeiras e para as próprias habilidades profissionais.

Há uma geração dedicada em diversas frentes, às vezes até sem nenhuma relação entre uma atividade profissional e outra, aponta a professora da graduação em Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Unifor, Tereza Glaucia Rocha Matos.

Vivemos num cenário socioeconômico que leva as pessoas a se multifacetarem”, explica ela, que alerta para o cuidado de não romantizar a geração slash. “É muito mais complexo do que isso. Eu tenho as habilidades, mas também vou em busca de algo que é cobrado no mundo em que vivemos. Preciso sobreviver profissionalmente. E aí nem todas as atividades profissionais remuneram ou são valorizadas da mesma forma”, reflete.

Ela dá como exemplo de profissional slash um psicólogo que também é professor e tem uma banda com a qual trabalha nos fins de semana. “Ele vai viver da música? Não. Ele é professor de psicologia e atua, também, na perspectiva mais clínica da psicologia. Ele se desdobra, tem habilidades e as desenvolve nesse cenário”, diz.

Tereza aponta que o conceito não é novo, mas já existe há cerca de 12 anos. “Pesquisas feitas na China, em 2016, já mostram que jovens entre 18 e 35 anos seguem esse caminho”, pontua. Existe, há muito tempo, o profissional que atua orientado e conectado às questões do mundo do trabalho.

Para a docente, a Unifor ajuda muito os futuros profissionais que desejam seguir este caminho, com oportunidades de cursos, eventos, atividades planejadas, orientação de carreiras e vivências na Universidade que vão além da formação básica.


“Vivemos num cenário socioeconômico que leva as pessoas a se multifacetarem”, diz Tereza (Foto: Ares Soares)

“Se você me pergunta se esse perfil profissional pode ser mais interessante para solucionar problemas, em tese, sim”, aponta Tereza. No entanto, ela pondera que a prática é mais complexa e menos “mágica”.  

Seja como for, o que ela percebe é que a geração slash vê o mundo por mais ângulos do que uma pessoa que só tem uma formação. O mercado até estimula e busca profissionais multifacetados, mas nesta mudança, é preciso atentar para combater a precarização.

“Esse fazer tudo tem uma perspectiva de que você é mais produtivo, você dá resultados, você tem um conhecimento muito bom. Mas isso pode ser usado no sentido da precarização”, alerta. Ela diz não ter as respostas, mas defende a importância de estarmos sempre nos fazendo estas perguntas.

Achar convergências em áreas diferentes para crescer

Márcia Nogueira concluiu o curso de Psicologia da Unifor em 2012. Desde então, a egressa foi ampliando sua atividade profissional. Ela atua como psicoterapeuta e é responsável técnica pela Humanittas - Clínica de Cuidados Psicológicos. Mas também se dedica ao empreendedorismo em duas frentes totalmente diferentes: com o aluguel de salas da clínica para outros profissionais e uma boleria.

“Empreender na clínica, para além de ser psicoterapeuta, é desafiador, mas ao mesmo tempo é muito prazeroso”, conta. Já a boleria é um negócio familiar, um projeto sonhado pelo marido. A ideia era ampliar as perspectivas para promover o bem-estar da filha do casal. “O negócio foi dando muito certo”, conta. Uma viagem a trabalho afastou o marido do empreendimento, e coube a Márcia mergulhar de cabeça nele.

“Fui realmente para frente da empresa nos seis meses que ele iria ficar viajando. Esse processo, para mim, foi muito tranquilo, porque eu tenho uma veia empreendedora desde sempre”, diz.

Organizada, Márcia pensa muito no que o empreendimento precisa, pesquisa e busca conhecimento frequentemente. “A boleria aparece nesse lugar de uma empresa familiar, que eu acabo me integrando por ser da família”, diz. O marido retorna para cuidar do negócio, que foi ampliado, e Márcia volta a se dedicar mais à psicologia.

Para ela, as vantagens de possuir uma carreira múltipla é ter frentes de faturamento. “Empreender é você ter essa multiplicidade de papéis. É enriquecedor em aspectos pessoais e profissionais. Você ganha uma experiência absurda de vida, e eu falo isso do meu lugar de empreender em várias áreas”, afirma.


“É muito importante você ter uma carreira múltipla que converse e dialogue. Não que você não possa ter uma carreira múltipla trabalhando em questões completamente divergentes, mas o quesito é encontrarmos qual o ponto de convergência porque é aí onde vamos aprender e crescer”Márcia Nogueira, egressa de Nutrição e Psicologia pela Unifor e empreendedora

Para Márcia, o profissional slash precisa saber onde está e qual é o seu propósito para aproveitar as oportunidades que vão surgindo. Essa ampliação de lugares e ocupações, acredita, precisa fazer sentido para que o profissional slash não se perca ou sofra pela quantidade de demandas.

“Você tem que estar muito organizado dentro desse processo, não só com a organização burocrática, formal, mas uma organização pessoal, de autoconhecimento”, aconselha a psicóloga.

Ela destaca que o profissional multifacetado não é bombeiro para “apagar incêndio” ou preencher um gap, mas é alguém capacitado para atuar em papéis diversos. “Isso não é um arranjo ou remendo, isso é o perfil dele. Esse profissional tem que ser reconhecido e valorizado como tal”, defende.

Oportunidades se abrem com nova configuração de trabalho

Feitos os alertas, as novas configurações de trabalho trazem com elas novas oportunidades. Desenvolver habilidades dinâmicas tem potencial para tornar futuros profissionais mais competitivos. A Unifor é este lugar que prepara o aluno para as diversas possibilidades: do mercado formal ao empreendedorismo, da carreira focada em uma área à multifacetada.

Tasso Rossyne Silva Moreira é analista de Finanças Corporativas e sente isso na pele. Ele conta que, certa vez, escutou a seguinte frase: “Quem só sabe Direito, nem Direito sabe”. Egresso do curso de Direito, muitas vezes ele tinha uma leitura de vários institutos jurídicos ou decisões judiciais que careciam muito de razoabilidade econômica.

“No Direito, eu já tinha livros de economia e gostava muito de estudá-los em meu tempo livre. Sempre tive um apreço pela área e descobri que tinha essa vontade de me tornar um economista. Quando vi a oportunidade e os benefícios que a Unifor me proporcionaria caso fizesse minha segunda graduação em Ciências Econômicas, não pensei duas vezes em realizar minha matrícula”, conta.

Tasso diz que o mercado em si passou a exigir conhecimentos transversais e profissionais multifacetados. Ele sempre teve uma grande curiosidade intelectual e muita vontade de aprender. Buscou estar perto dos melhores professores e colegas. Aprendeu com as atividades da Liga Unifinance, que recomenda fortemente àqueles que desejam desenvolver seus conhecimentos e habilidades para o mercado.

Paralelamente, o esporte o ensinava sobre perseverança, dedicação, abdicação, vontade de vitória e de aprender principalmente com os erros. Tasso é atleta, graduado em Direito e está cursando Economia. Une todos esses conhecimentos no objetivo de atuar no mercado financeiro.

Poder entender e conectar diversas áreas, assuntos e setores com certeza é uma grande vantagem”, diz. Mas o principal está em poder unir o investimento à formação e à paixão. “Tanto oportuniza ao profissional que utilize seus conhecimentos em múltiplas áreas, em que cada uma sirva de complemento à outra, como também possibilita que profissionais já atuantes consigam investir em paixões que estavam ali latentes durante sua primeira formação”, aponta.

Esta característica multifacetada, acredita, o ajudou nos últimos empregos. Para ele, os setores das empresas estão cada vez mais conectados e contando com equipes multidisciplinares, o que acaba por conferir um destaque ao profissional slash.


“Creio que todos achamos nossos caminhos singulares durante essa jornada. As portas vão se abrindo naturalmente, e o próprio mercado começa a demandar e valorizar múltiplas habilidades. (...) A Unifor sempre incentivou todo aluno que deseja desenvolver suas habilidades. Tive e tenho a oportunidade de participar de vários projetos de extensão que continuam a evoluir tanto meu lado profissional como pessoal”Tasso Rossyne, analista de Finanças Corporativas, atleta e aluno de Ciências Econômicas na Unifor

Multitarefas com realização pessoal

Patrícia Passos, docente de Psicologia da Unifor, afirma que, em geral, as pessoas que desenvolvem várias atividades têm habilidades e interesses diferenciados. Ela conta o caso de uma médica de São Paulo, que lhe relatou ser plantonista, integrar uma banda e escrever poesias.

“Quando ela teve a oportunidade de conciliar medicina e arte e viu que elas não eram excludentes, isso deu muito prazer a ela, no sentido de se sentir realizada”, conta. A docente diz que, na prática, cada um vai vendo o seu arranjo para conciliar várias coisas. Uma outra possibilidade de você ser slash é a necessidade. 

Seja como for, desenvolver novas e distintas habilidades é uma demanda forte do mercado. A popularização da internet e o acesso a mais informações trouxeram novas demandas aos profissionais, que agora precisam também se familiarizar com aplicativos e inteligência artificial (IA).

Esta adaptação da forma de trabalhar faz parte da história dos trabalhadores. Dedicar-se a aprender constantemente é fundamental na contemporaneidade. No caso da IA, por exemplo, precisamos aprender a fazer as perguntas certas e utilizá-las, até para podermos focar em outras ações que precisam de mais humanidade.

“Se nós dispomos de tecnologia e formação para o desenvolvimento de várias habilidades, realmente nos diferenciamos no mercado, porque acesso a conhecimento todo mundo tem, então, o saber fazer e ter atitudes no trabalho é o que está fazendo diferença”, diz. “Temos que usar a tecnologia a nosso favor. Como é que eu posso me utilizar da IA para ganhar tempo?”, questiona. 

Enquanto o mercado demanda cada vez mais profissionais multifacetados, cabe a eles entender como usar as tecnologias a seu favor e se manter vigilantes para não cair na exaustão ao desenvolver multitarefas.


“Precisamos ter cuidado. É muito bom para a organização ter profissionais multifacetados, multi-tarefas, desde que ela tenha cuidado também com a saúde desse trabalhador”Patrícia Passos, docente de Psicologia da Unifor

Com responsabilidade e consciência, vale experimentar as oportunidades que se multiplicam no mercado para a geração slash. É uma forma de desbravar e descobrir novos caminhos profissionais.