Relatos de salva-vidas: conheça outros professores da Unifor que estão na linha de frente da Covid-19
seg, 20 abril 2020 10:33
Relatos de salva-vidas: conheça outros professores da Unifor que estão na linha de frente da Covid-19
Professores da Universidade de Fortaleza dedicam seus dias arduamente ao combate da pandemia.
É com alguns dos heróis de branco, agora supermascarados, que arriscam suas próprias vidas para salvar outras tantas, que conversamos para entender melhor o que estão vivendo rotineiramente em seus respectivos ambientes de trabalho.
A enfermeira Vládia Teles Moreira, o economista Allisson Martins, a farmacêutica Cristina Moreira, a fisioterapeuta Mary Landy Vasconcelos, a estilista Fernanda Moriconi e a pediatra Olívia Bessa narram como estão enxergando e enfrentando a pandemia.
Confira a seguir a segunda matéria da série sobre alguns dos professores e pesquisadores da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, que, também como educadores, experimentam o desafio extra de ensinar sobre o que ainda pouco sabem ou conseguem projetar: o impacto da Covid-19 em mentes e corações que se veem obrigados a reinventar modos de ser e de estar ou de ensinar e aprender, no mundo.
É preciso cuidar de quem cuida
“Sou intensivista”. Em tempos de enfretamento à Covid-19, essa forma de apresentação soa aos ouvidos como um atestado corajoso de doação ao outro. Como enfermeira do Instituto José Frota (IJF) há 27 anos, Vládia Teles Moreira está mais do que habituada a vivenciar situações de risco ou insalubridade no ambiente de trabalho, mas nunca o controle da situação lhe pareceu tão frágil quanto após o aparecimento do novo coronavírus no Brasil e no mundo. Ainda assim, vaticinou: “estamos vivendo um dia após o outro. A UTI em que eu trabalho é porta de entrada para a Covid-19, porque recebemos pacientes com agravos de toda a ordem sem saber se estão ou não infectados. Portanto, a ordem agora de procedimento é tratar todos e todas como contactantes e sintomáticos”, esclarece.
No IJF, algum alívio para os profissionais de saúde vem do fato de que ainda existe uma reserva de EPIs em estoque, o que, para eles significa proteção garantida. Ainda assim, há estresse e desconforto visíveis entre os corredores. “Passo 12 horas do meu plantão com uma máscara N-95 no rosto. No final, a face e o nariz estão marcados, em carne viva, mas é o que nos salva, além de todo o cuidado na hora da desinfecção de roupas e sapatos ao entrar e sair do hospital. Desde a chegada da pandemia, portanto, saímos e voltamos com pelo menos duas horas de antecedência, só por conta do tempo de paramentalização. Mas ninguém reclama, o que queremos mesmo é a plena garantia de nossas condições de trabalho, o que, no mundo todo, tem sido uma das maiores dificuldades. É preciso cuidar de quem cuida”, sublinha.
O lugar de fala de Vládia ao exigir direitos é o de uma profissional que testou positivo para a Covid-19 ainda em março último, quando do aparecimento dos primeiros casos oficiais de coronavírus no Ceará. Por isso, ela está há duas semanas afastada do trabalho. “Achei que estava gripada e continuei trabalhando. Até que comecei a sentir muito cansaço e perdi o olfato. Fui então encaminhada para o Hospital São José e lá colhi o exame. O profissional de saúde faz o PCR e não teste rápido, que em 30% dos casos pode dar um falso negativo, segundo pesquisas. A partir daí já me isolei em casa. Depois soube que foram sete casos confirmados numa só equipe, mas todos desenvolveram a doença de forma leve, o que para nós é uma alegria dupla, porque queremos voltar para cuidar de quem mais precisa. Essa é a missão que médicos e enfermeiras não se furtam a enfrentar”, resigna-se.
A enfermeira vocacionada também é, há 26 anos, professora da graduação e pós-graduação em Terapia Intensiva do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza. E, mais do que nunca, em tempos de isolamento social, o que ela traz para a sala de aula virtual é uma vivência na prática daquilo que a teoria científica vem correndo atrás de dar conta no mundo. “O que temos de mais relevante hoje para pensar e repensar os protocolos em curso é a experiência de quem passou pela doença ou foi levado a atuar na ponta, entubando e reanimando pacientes da Covid-19. Ao final dessa pandemia – e ela há de passar logo – eu terei experimentado os dois lados. E quando relato isso para os alunos o interesse deles pelo assunto dobra, porque o conhecimento ligado ao cotidiano de cada um é sempre melhor transmitido e assimilado. Então, é curioso, mas me sinto mais próxima dos formandos, apesar da distância física. Porque acho que o emocional, nesse momento, está mais aflorado mesmo”, observa a docente, elogiando a plenos pulmões o conhecimento sensível.
Cair para levantar
Contemos os dias e contenhamos os gastos. Não se sabe quanto tempo o novo coronavírus e seus efeitos restritivos irão durar. Caso o período seja mais longo do que o esperado, ou caso haja novas ondas de disseminação da doença, os impactos sobre a economia no mundo podem ser duradouros. Em 2020, o comércio internacional já deve ser fortemente abalado pela Convid-19, com as economias pelo mundo desaquecidas e frente às restrições de transporte entre países, o que faz crescerem os obstáculos para que empresas de diferentes lugares comprem e vendam bens entre si.
Em meio a um cenário econômico complexo e adverso, um estudo inédito realizado pelo Núcleo de Pesquisas Econômicas do curso de Economia da Unifor se deteve sobre fatores de alta volatilidade que podem interferir nos rumos das economias brasileira e cearense durante e após a crise causada pela pandemia, projetando cenários para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 e 2021. Segundo o economista e coordenador do curso, Allisson Martins, em um cenário provável o Brasil terá uma queda de 2,9% no PIB ao fim do trimestre, enquanto que no Ceará esse impacto negativo será da ordem de 2,1%, o que significa, em termos reais, um tombo que deve custar algo em torno de R$ 7 bilhões e meio. “Numa projeção pessimista, previmos que a queda do PIB no Brasil poderá atingir 5,8% enquanto que no Ceará chegará a 4,2%, representando uma perda de R$ 11 bilhões”, detalha o professor.
Noves fora, nem tudo está perdido. Os números preocupantes saídos da pesquisa realizada com base em modelos econométricos na Universidade de Fortaleza não roubaram o ânimo e muito menos a confiança de quem esteve à frente dela. “Acreditamos na capacidade de superação de nossa sociedade em breve e queremos, a partir dessa pesquisa, que leva em conta as bases de dados do Instituto de Pesquisa de Estratégias Econômicas do Ceará (Ipece), mas também do FMI, do IBGE e do Banco Central, apresentar sugestões para políticas econômicas vindouras, como também devemos continuar investigando as causas e conseqüências da crise causada pelo coronavírus em nossas vidas. Espero que uma nova economia possa vir daí, fazendo surgir novas e mais equilibradas relações econômicas, a fim de combater inclusive tanta desigualdade social no mundo”, observou Allisson.
O desejo é quem também olhou mais adiante e não se assustou tanto com o que viu. “Pós-pandemia, em todos os cenários, é possível observar que a economia cearense estará bem melhor do que a nacional, com tendência clara de ganhar velocidade para se recuperar. O impacto econômico negativo, portanto, se concentra mesmo no segundo trimestre de 2020, ainda que, claro, a queda já tenha início agora. Mas no Ceará e no Brasil haverá uma volta gradual de bons resultados econômicos a partir do terceiro e quarto trimestres de 2020, ainda que sem compensações de perdas. E a partir de 2021, em todos os cenários que a gente simulou, é que a economia cearense poderá apresentar resultados positivos no que se refere a consumo, produção e renda”, enfatiza.
Os estudos do Núcleo de Pesquisas Econômicas da Universidade de Fortaleza já vêm repercutindo em salas de aulas virtuais entre professores e alunos em dias de isolamento. E o coordenador acredita que, a partir dela, muitos materiais didáticos possam ser atualizados, assim como já se começa a pensar em desdobramentos reflexivos futuros. Como coordenador do Curso de Economia e professor de Economia e Finanças, Alisson que agora usar todas as ferramentas tecnológicas disponíveis, como vídeos, slides e planilhas, para difundir ainda mais as informações coletadas. “Acho que ao olhar para esse estudo inédito realizado dentro da Unifor poderemos começar a criar internamente uma nova forma de refletir sobre a economia mundial. Essa será uma construção coletiva: a de um novo pensamento econômico que virá. Como professor apaixonado que sou, gostaria de fazer parte desse novo momento, estimulando meus alunos a fazer o mesmo. Então o momento é bem desafiador mas também gratificante, porque estamos no olho do furacão da história e teremos a oportunidade de primar ainda mais pela qualidade do conteúdo, visando, como de praxe, um ensino da mais alta performance”, conclui.
A captura do novo coronavírus
Testar, testar e testar. Eis a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para enfrentar a disseminação do novo coronavírus, causador da Covid-19. Tudo porque não há mais dúvidas: a realização em larga escala de exames, combinada com o isolamento social, é o caminho ideal para proteger a população da pandemia. No Brasil, diante do número limitado de testes disponíveis, a estratégia adotada pelo governo federal inicialmente foi destinar os kits de diagnósticos apenas para pessoas em estado grave. Com o avanço da pandemia, o leque deve se abrir ao máximo, já que a ordem é identificar os infectados para isolá-los, a fim de evitar transmissão e ‘achatar’ a curva de disseminação do vírus no país.
Não à toa, entre diversas ações desenvolvidas na Universidade de Fortaleza para contribuir com o combate ao novo coronavírus, uma, em particular, vem gerando ansiedade e alegria a um só tempo: a implantação de um laboratório para diagnóstico molecular da Covid-19. Tudo porque as análises feitas no Laboratório de Bioagentes Patogênicos do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Unifor vão contribuir sensivelmente com o aumento da capacidade de diagnóstico precoce da doença e para o controle da transmissão do vírus no Ceará.
Professora do curso de graduação em Farmácia e diretora do Nubex, a farmacêutica Cristina Moreira vibra com o iminente funcionamento do novo espaço que ela e sua equipe, formada pelas professoras Adriana Rolim e Danielle Malta e os professores Caio Tavares e Ângelo Roncali, conseguiram estruturar em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) e apoio financeiro da Funcap. “Numa primeira visita técnica, o Lacen apontou as adequações necessárias ao laboratório, tanto quanto à estrutura do prédio como em relação à calibração dos equipamentos. Já estamos com a infraestrutura laboratorial exigida e recebemos enfim a certificação do Lacen. Para começar a funcionar, só faltam chegar os insumos e os kits de diagnósticos, que incluem os reagentes, item em falta no mundo todo e cobiçadíssimo. A Unifor fez essa compra e a previsão é que tudo chegue nesta semana e o laboratório comece a funcionar em seguida”, comemora Cristina.
Coreografia afinada. Enquanto o Lacen se encarregará da coleta de amostras de sangue nas unidades básicas de saúde, a Universidade de Fortaleza mobilizará 24 profissionais com experiência em extração de RNA e RT-PCR, dentre eles alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas. Na equipe, será possível contar ainda com a colaboração de farmacêuticos e técnicos do Laboratório de Análises Clínicas do Núcleo de Assistência Médica Integrada (NAMI), da Unifor. Segundo a também professora do Mestrado em Ciências Médicas e do doutorado em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), o espaço funcionará 24 horas por dia e 7 dias por semana. E a expectativa é de realização de 3.000 testes/mês e ampliação para 6.000 testes/mês, sendo o resultado emitido em um prazo de 24 a 48 horas.
Na Universidade de Fortaleza, todos os requisitos exigidos de biossegurança para assegurar a proteção das equipes de trabalho já estão sendo observados. “Que comece a funcionar o mais rápido possível. Na Unifor, apesar do receio, angústia e tristeza, uma força maior nos move: a vontade de ajudar ao próximo e minimizar os danos causados pelo coronavírus. Sabemos que o diagnóstico precoce é uma arma fundamental, já que identificando os contaminados as medidas de contenção serão bem mais eficazes. Já temos um laboratório de pesquisa modelo na área de virologia, com ênfase nas arboviroses: dengue, zika e chikungunya. Agora temos ainda o coronavírus e a ordem é seguir com as pesquisas na perspectiva de tratamento das doenças, testando a patogenicidade da Covid-19 e outros vírus em seus vários aspectos”, assegura Cristina.
Em tempo: o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) são responsáveis pelo desenvolvimento e fornecimento dos kits para diagnóstico da Covid-19 utilizados em pacientes internados na rede hospitalar do Sistema Único de Saúde (SUS). Os exames são realizados pelos laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) e de referência nacional – Instituto Adolfo Lutz (IAL), em São Paulo, Fiocruz, no Rio de Janeiro, e Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Até o fim de março, segundo o Ministério da Saúde, mais de 54 mil testes haviam sido distribuídos.
Um por todos. Todos por um.
Pausa forçada para a quarentena. A fisioterapeuta Mary Landy Vasconcelos, professora do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza, parou temporariamente de cumprir os plantões 24h de praxe a cada final de semana no Instituto José Frota (IJF). Isso desde que entrou para as estatísticas dos casos suspeitos de coronavírus entre profissionais de saúde no Ceará, que já chegam a mais de uma centena. Antes de ser afastada, nem mesmo a experiência de 23 anos trabalhando na UTI do IJF livrou a fisioterapeuta da necessária revisão de conteúdo referente ao novo coronavírus. “Tive que parar tudo para me atualizar em relação aos novos protocolos que envolvem a doença. Então, fui ler artigos, buscar informações junto aos órgãos oficiais da saúde e saber como acessar os treinamentos e capacitações on line, até para não errar em procedimentos básicos, como o manuseio dos EPIs”, conta.
Fisioterapeuta há 34 anos, Mary Landy sabe bem de seu papel central no enfrentamento ao novo coronavírus. Está nas mãos de profissionais como ela a motorização do aparelho de respiração mecânica, o desmame desse ventilador ao longo do processo de tratamento e os exercícios adequados a posteriori para o pulmão voltar a funcionar plenamente. “O fisioterapeuta é essencial na equipe multidisciplinar para que o paciente possa se recuperar o mais rápido possível. Por isso, pelo menos no âmbito do IJF, temos tido treinamentos diários, capacitação para uso correto dos EPIs e protocolos atualizados para esse enfrentamento da Covid-19. O esforço da gestão, somado ao trabalho colaborativo que vem sendo implantado, me faz crer que um novo profissional de saúde, muito mais consciente de seu papel no coletivo, sairá daí. Percebo que ninguém mais desconhece a importância de cada um e cada uma no ambiente hospitalar. A Covid-19 igualou toda a equipe e percebemos que quem faz a limpeza é tão essencial quanto quem opera ou é capaz de decidir o melhor procedimento”, ilustra.
Para ela, agora é um por todos e todos por um. Competição ficou para trás e colaboração é a nova palavra de ordem. No trabalho e também em casa. “Tenho duas filhas, uma médica e uma advogada. E agora estamos toda a família em home office. Quer dizer, dividimos um mesmo espaço para diferentes demandas, o que requer respeito às especificidades de cada uma. Se a gente não encontrar uma zona de equilíbrio para conviver ninguém tem cabeça para trabalhar e não haverá bom rendimento. Outra coisa: estamos bem mais conscientes do valor das coisas. E do quanto há de desperdício no mundo. Então passamos a valorizar cada par de luvas, cada insumo, cada máscara ainda disponível. E a cobrar de nós mesmos um comportamento que não vá prejudicar a vida do outro. Sei que isso é gradual e ainda não está bem introjectado pela maioria da população. Mas terá que ser. Será assim ou realmente perderemos muitas vidas. Por pura falta de consciência de que somos parte de um todo e nada mais”, observa a fisioterapeuta.
Mascarados, venceremos!
Não se proteger contra o coronavírus virou algo completamente fora de moda – e cafona até, além de perigoso e irresponsável. Por isso, não é à toa que a Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF) veio firmar parceria com a Universidade de Fortaleza para a concepção e execução massiva de máscaras de proteção caseiras que possam ser distribuídas gratuitamente entre as comunidades periféricas locais. Abraçando a ideia com capricho e rigor científico, a psicóloga, estilista e professora de modelagem tridimensional Fernanda Moriconi se apressou em recorrer à literatura disponibilizada pelo Ministério da Saúde para, junto às também professoras do curso de Design de Moda da Unifor Goreth Cabral, Germana Fontenele e Priscila Medeiros, desenvolver o mais eficiente protótipo.
“A princípio, começamos a pensar internamente em máscaras fashion. Daí foi quando a Prefeitura nos fez essa proposta de parceria, para desenvolvimento em larga escala de máscaras de fácil montagem, já que a execução caberia a costureiras contratadas pelo poder público para tal. Uma forma de gerar renda e ao mesmo tempo levar proteção às comunidades periféricas. A partir de estudos já referendados pelo Ministério da Saúde, chegamos a alguns modelos, sempre visando funcionalidade e proteção, porque não se tratava apenas de uma barreira visual, mas uma barreira capaz de efetivamente barrar o vírus. E veio então o protótipo que reuniu essas qualidades, feito com tecido tricolini 100% algodão e filtro de proteção duplo, usando o TNT 40, o perlon de média espessura ou ainda o tecido duramax da marca scott. São eles os capazes de barrar as gotículas de saliva se a pessoa espirrar ou tossir”, garante Fernanda.
Todo o passo a passo para a confecção das máscaras em larga escala também foi disponibilizado através de um vídeo tutorial e de uma ficha ténica elaborada minuciosamente pelas professoras da Unifor envolvidas no projeto. “Nessa espécie de roteiro explicativo demonstramos desde o corte dos retângulos para a modelagem, até o tamanho do elástico e a sequência de montagem. Tudo para que a produção das costureiras siga um padrão comum”, ilustra Fernanda. Para ela, fazer parte do projeto é como colocar um ponto no bordado feito a muitas mãos e em todo o planeta para salvar vidas em meio à pandemia do coronavírus.
Assim é que, formal ou informalmente, a pesquisa continua, em busca de técnicas cada vez mais eficazes e econômicas de proteção através de máscaras. Fernanda não cansa de dar dicas a quem busca sua opinião sobre o assunto em redes sociais ou salas de aula virtuais. Nova, a expertise criada através da parceria entre Unifor e Prefeitura deve se incorporar a partir de agora às antigas atribuições docentes. “Minhas aulas sempre foram práticas, de laboratório, voltadas, por exemplo, à modelagem no manequim. Tudo muito mano a mano, explicar e demonstrar a um tempo, para então verificar de perto se o corte do tecido foi feito da maneira correta. Tudo para, ao final, produzir um desfile com criações conceituais. Mas, com a pandemia, isso tudo fica para quando voltarmos às aulas presenciais. Por enquanto, temos a teoria interdisciplinar: História da Arte, Desenho, Fundamentos do Design, Fios e Tecidos. Toda a discussão conceitual vem sendo feita virtualmente”, detalha.
Do virtual para o real não há de tardar tanto. Segundo Fernanda, o tema do projeto de pesquisa em andamento no curso de Design de Moda gira esse ano em torno da literatura de cordel. Mas a poesia contida no gesto de desenvolver barreiras de proteção contra o coronavírus deve contagiar a turma de discentes que ora tem aulas on line. “A Cordelteca da Unifor foi o nosso lócus de pesquisa e o acervo fez brotar muitas ideias criativas. Mas agora penso em uma forma de implicar os alunos com essas ações de comprometimento político movidas pela solidariedade. Então, quem sabe não poderemos desenvolver máscaras com o tema do cordel? Penso que a máscara será como uma peça íntima pós-pandemia. Devemos fazer dela uma constante, para continuar nos protegendo. A moda, portanto, deve estar antenada com seu tempo. E, na Unifor, sempre esteve, já que a sustentabilidade do planeta é tema recorrente e virou prática o reaproveitamento de sobras da indústria têxtil e o desenvolvimento de pesquisas utilizando materiais recicláveis. Isso se intensifica a partir de agora”, acredita Fernanda.
Em tempo: o Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria estadual da Saúde (Sesa), também lançou, na última quarta-feira, 15, um edital de chamamento público para a confecção de cinco milhões de máscaras de tecido reutilizável por parte de empresas cearenses do setor têxtil. O material deverá ser fabricado em caráter emergencial, adquirido pela Sesa e distribuído para uso da população cearense com o objetivo de diminuir o contágio da Covid-19.
Educação e comunicação contagiantes
De um dia para o outro, o desconhecido novo coronavírus virou matéria obrigatória na literatura médica. Além disso, a Covid-19 exigiu dos profissionais de saúde que aprendessem sobre ela ao mesmo tempo em que a combatessem na prática. Diretora de pós-graduação em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), a pediatra Olívia Bessa vem fazendo de seu trabalho na instituição uma ponte aérea supersônica entre conhecimento e imediata aplicabilidade.
A ela e sua equipe, cabe o desafio premente de desenvolver projetos e ações de formação e capacitação junto aos que estão no front de guerra do combate à pandemia. Mas também produzir e difundir informações de qualidade para a população em geral. Assim, remotamente, protocolos e fluxogramas multimídias são disponibilizados de forma a alcançar o máximo de profissionais de saúde em todo o estado, cercando dúvidas e demandas referentes ao manejo clínico do paciente com Covid-19. Como se paramentalizar, usar EPIs adequadamene, lidar com as reações adversas de medicamentos, notificar casos suspeitos? Para cada estágio de atendimento, foi montado um passo a passo, contemplando procedimentos específicos.
Junto à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), a Escola de Saúde Pública também voltou esforços para a elaboração de materiais institucionais confiáveis e acessíveis não só aos profissionais de saúde como aos mais diversos cidadãos. “Atentamos para a necessidade de comunicação direta com a população para tirar dúvidas e sugerir encaminhamentos. Foi aí que pensamos em formar equipes de enfermeiros e médicos para se colocar à disposição, remotamente, seja através de um chat no site ou de um simples telefonema ou mensagem pelo whatsapp. É o Plantão Coronavírus, que veio ajudar a detectar sintomas e informar sobre redes de serviço, isolamento domiciliar, medidas de proteção e conduta, além do tratamento para cada caso, de modo a evitar ao máximo a superlotação de hospitais”, sintetiza Olívia.
A gestora informa: o Plantão Coronavírus é 24h e pode ser acessado através do número (85) 9 8439.0647 ou dos sites do Governo do Ceará e da Secretaria da Saúde além do hotsite www.coronavirus.ceara.gov.br. Há ainda a possibilidade de comunicação junto ao Telesaúde (0800.275.147). Para os profissionais de saúde que desejem esclarecer dúvidas sobre a Covid-19, o recém-criado Telemedicina também tem seu canal próprio de atendimento: (85) 98439.0220. “Trata-se de uma equipe de experts que poderá auxiliar os médicos no estado como um todo, sobretudo aqueles que acompanham pacientes em UTIs e têm dúvidas quanto a procedimentos ou medicamentos, já que se trata de uma doença sobre a qual ainda pouco sabemos e por isso vem exigindo de nós ajustes sistemáticos de protocolos”, informa Olívia.
Para ela, ao passo que o coronavírus preocupa e entristece, além de demandar formação contínua, é preciso valorizar a solidariedade que ora enseja. Segundo Olívia, o enfrentamento à Covid-19 no Ceará conta com o apoio de voluntários como os residentes multiprofissionais, os médicos residentes e os integrantes do Programa Médico da Família. Ao todo, são 191 pessoas trabalhando em pelo menos cinco projetos realizados pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), por meio da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE).
Além de gestora da ESP-CE, Olívia Bessa é professora do curso de Medicina e da pós-graduação em Ciências Medicas da Universidade de Fortaleza. Assim, sua jornada dupla, acredita, se complementa e dialoga entre si, já que encara a educação com a mesma responsabilidade ética que a fez optar pela Medicina. “Estou trabalhando de domingo a domingo. Como docente, vibro com as aulas on line, mesmo que agora, independente da disciplina, elas acabem girando em torno do mesmo assunto: coronavírus. É muito boa a sensação de que estou ajudando a formar profissionais que daqui a pouco vão assumir a linha de frente do enfretamento dessa e de outras doenças. Pelo que tenho observado a partir dessa interação, minha aposta é que teremos profissionais bem mais implicados com o coletivo no futuro”, opina a professora.