Relatos de salva-vidas: conheça os professores da Universidade de Fortaleza que estão na linha de frente da Covid-19

qui, 16 abril 2020 09:22

Relatos de salva-vidas: conheça os professores da Universidade de Fortaleza que estão na linha de frente da Covid-19

Professores da Universidade de Fortaleza dedicam seus dias arduamente ao combate da pandemia.


Profissionais da saúde, educadores da Unifor enfrentam os desafios lançados pela Covid-19 (Foto: Universidade de Fortaleza)
Profissionais da saúde, educadores da Unifor enfrentam os desafios lançados pela Covid-19 (Foto: Universidade de Fortaleza)

É com alguns dos heróis de branco, agora supermascarados, que arriscam suas próprias vidas para salvar outras tantas, que conversamos para entender melhor o que estão vivendo rotineiramente em seus respectivos ambientes de trabalho. A anestesiologista Josenília Gomes, a pneumologista Daniela Chiesa, o infectologista Keny Colares, o cirurgião-dentista Lucas Zogheib e a enfermeira Mônica Studart narram como estão enxergando e enfrentando a pandemia.

Detalhe: elas e eles são também professores e pesquisadores do quadro docente da Universidade de Fortaleza (Unifor) da Fundação Edson Queiroz. Portanto, como educadores, experimentam o desafio extra de ensinar sobre o que ainda pouco sabem ou conseguem projetar: o impacto do Covid-19 em mentes e corações que se veem obrigados a reinventar modos de ser e de estar ou de ensinar e aprender, no mundo.

Soldados da linha de frente

Incerteza. Eis a palavra de ordem que melhor expressa o cotidiano de trabalho da médica anestesiologista Josenília Gomes desde a confirmação dos três primeiros casos de Covid-19 no Ceará, em 15 de março de 2020. Sobretudo porque ela está à frente da Secretaria Executiva de Atenção à Saúde da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA), pasta responsável pela gestão de atenção à saúde e desenvolvimento regional. “A gestão de todos os equipamentos da rede SESA em Fortaleza e no interior está sob minha supervisão. Isso, no dia a dia, já é uma rotina bem dinâmica. E agora, em tempos de pandemia, intensa. Principalmente porque não dispomos de tempo. Planejamos, executamos e corrigimos tudo simultaneamente. Além disso, a pandemia, associada ao caos gerado pela incapacidade de suprir os recursos hospitalares, leva à necessidade de repensar antigos modelos de assistência”, assinala. 

Para Josenília, a necessidade de mudança do modelo mental associado ao medo é outro trabalho de caráter psicossomático que tem se apresentado como fundamental para a manutenção dos serviços funcionantes, o que significa manter as pessoas motivadas. “Ver colegas próximos adoecendo, alguns graves em UTI, outros morrendo, torna ainda mais desafiadora a necessidade de mantermos o equilíbrio. Por isso, perceber as pressões econômicas para o fim do isolamento social apavora quando temos números alarmantes que não são o que gostaríamos”, alerta. Daí porque defende a postura forte que o Governo do Estado vem tendo para manter o isolamento social como principal medida de combate ao coronavírus e estratégia certeira para dar tempo ao setor de saúde de se preparar para o pior, o que inclui instalação de estações de teste e ampliação da capacidade hospitalar.

E há de se lembrar que, em meio à pandemia, nem tudo são espinhos. “Na gestão, temos encontrado muito apoio da iniciativa privada. Vários empresários têm feito doação de respiradores e equipamentos de proteção individual. São muitas e diárias as mensagens de apoio. Cada vídeo que recebemos com pacientes que saem de alta em um dos hospitais do estado renova a força para seguir na luta e a esperança de que vai ficar tudo bem”, enfatiza a gestora. Sobre isso, o Ministério da Saúde informa: até esta terça-feira última, 14 de abril, contam-se 14.026 pessoas que já passaram pela infecção, o que representa 55% de todos os casos confirmados no país.

Josenília se dá outro consolo: como professora da Universidade de Fortaleza, aferra, vive dias bem menos apreensivos do que como gestora de saúde. “No curso de Medicina da Unifor transformamos tudo o que era teórico em atividade virtual. A parte prática que ocorria em Unidades Básicas de Saúde foi suspensa, embora permaneçam alguns estágios. Isso muda bastante a rotina e implica em produção de material e adaptação para formatos nunca antes praticados por alguns. Mas eu, particularmente, já utilizava o ambiente virtual das aulas e fazia provas on line. Para os que estão em casa de quarentena é uma ótima oportunidade para o aprimoramento de técnicas de ensino com tecnologia, o que não é o nosso caso, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas que são soldados nessa linha de frente da guerra contra o Covid-19. De qualquer forma, é um respiro”, observa.

“Não está sendo fácil, mas vamos superar”

São entre 12 e 13 horas de trabalho diárias, em várias frentes dentro de um mesmo complexo hospitalar. Como coordenadora das unidades clínicas de internação do Hospital Regional Unimed, a médica pneumologista Daniela Chiesa está irremediavelmente imersa na função gerencial que exerce desde o último dia 19 de março, abdicando inclusive dos finais de semana de descanso. A data, não à toa, coincide com o primeiro caso de Covid-19 confirmado no hospital e, a partir daí, a ordem foi acompanhar e avaliar indicadores, planejar escalas médicas, proceder com o gerenciamento de risco das unidades e, quando necessário, ainda encarar a função assistencial, levando em conta o fato de que alguns colegas médicos já precisaram se afastar do trabalho por estarem doentes ou pertencerem a grupos de risco.  

“Participo do nosso comitê de crise, aberto logo após ser identificado o primeiro caso no Brasil, em fevereiro. Venho, portanto, desde então gerenciando um trabalho de treinamento contínuo e acurado junto às equipes de enfermagem, tudo bem de perto, incentivando e orientando, pois são estes os profissionais de saúde que estão mais próximos dos pacientes. Foi preciso, portanto, alinhar procedimentos e desmistificar os medos, que apesar de compreensíveis, são muitas vezes superestimados”, observa Daniela 


Segundo ela, um hospital de campanha será aberto no Hospital Unimed, com 44 novos leitos. E algumas outras mudanças estruturais foram feitas. “Como as crianças pouco contraem Covid-19, mas continuam adoecendo por outras causas, transferimos a unidade pediátrica para um outro hospital, liberando para recebermos adultos. Também contratamos de forma temporária vários profissionais, em especial médicos, incluindo egressos da Unifor. E é muito bom ver gente que ajudamos a formar e confiamos como parceiros nesse front”, comemora a também assessora pedagógica do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza.

Segundo Daniela, todas as recomendações do Ministério da Saúde e da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará estão sendo cumpridas à risca no Hospital da Unimed. Um rigor protocolar que modificou sua rotina de trabalho e não cessa de mudar, já que é preciso revisar protocolos sistematicamente, estudando as evidências de tratamentos em teste ou já bem delineados. “Não se tem, por exemplo, recomendação oficial para uso ambulatorial ou preventivo da cloroquina em pacientes assintomáticos. Há de se ter muito critério no uso desse medicamento, porque além dos efeitos colaterais já comprovados, sobretudo no sistema cardíaco, a cloroquina não funciona sozinha, mas somente associada a um antibiótico. E ainda não existe antiviral já aprovado para combate ao coronavírus. O Tamiflu, usado para o tratamento da Influenza, é um paliativo ministrado em pacientes com suspeita de Covid-19, mas que na verdade podem estar com a H1N1. Se for a gripe Influenza, vai funcionar”, adverte.

Como assessora pedagógica da Unifor, Daniela vem apoiando grupos de professores que estão preparando e ministrando aulas a distância, colaborando, sobretudo, com o uso de estratégias para virtualizar os conteúdos. Há ainda um papel mais informativo a se cumprir junto aos alunos e alunas em relação ao Covid-19. “Aliás, temos um canal de comunicação direto com nossos discentes por whatsapp, que vem servindo não só para questões de aprendizagem como no âmbito pessoal mesmo, já que esse estado de isolamento traz muitas apreensões, abalos emocionais e demandas de apoio e cuidado. Uma aluna perdeu recentemente a avó para a Covid-19 e isso mobilizou toda uma atenção de nossa parte enquanto professores. Normal. Trata-se de uma doença que só apareceu em nossas vidas há quatro meses, então há muito pânico ainda no ar.  Estamos aprendendo a conviver de outras formas em tempos de isolamento, a utilizar alternativas de comunicação, a olhar mais para o coletivo, consumir menos. Meu mantra tem sido: não é fácil, mas vamos superar e certamente sair diferentes de tudo isto. Como sociedade. Vai dar certo!”, reforça.

Pesquisa científica não é luxo

Educação e pesquisa. Convocado pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA) para assumir uma espécie de consultoria junto ao Centro de Operações de Emergências (COE), o médico infectologista Keny Colares, do Hospital São José de Doenças Infecciosas, migrou da função assistencial para integrar um time de profissionais com atuações diversas na área da Saúde para auxiliar os gestores nas tomadas de decisões em relação ao combate do Covid-19, fornecendo subsídios científicos para a elaboração de diretrizes clínicas e outros protocolos de melhoria no cuidado da saúde. 

Junto à Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP), por exemplo, vem compartilhando conhecimentos com outros profissionais que estão na linha de frente do combate ao Covid-19 por meio da gravação de vídeoaulas, ferramenta de trabalho jamais experimentada. A primeira transmissão no formato ocorreu na semana passada e alcançou profissionais de saúde que atuam em todo o Estado. A live, segundo informa o próprio site da ESP, foi acompanhada por mais de 400 profissionais de 38 unidades de saúde, entidades e instituições de ensino, como o Conselho Regional de Enfermagem e Universidade Federal do Cariri (UFCA).

“Isso é de grande valia para médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais especialistas que atendem casos de Covid-19, já que veem aí a oportunidade de discutir a partir de casos clínicos e experiências práticas, relatando sintomas, tratamentos utilizados, diagnósticos. Além disso, tenho feito uma consultoria informal pelo whatsapp, orientando amigos e familiares de amigos que adoecem e acompanhando a distância casos graves de UTI, uma espécie de atendimento remoto, tudo para evitar que procurem sem necessidade o sistema de saúde”, relata o médico infectologista hoje a serviço de uma estratégia tão eficiente de combate ao coronavírus quanto o isolamento social: a informação de qualidade. 

Para Colares, é preciso olhar para a história e não só para a literatura médica para enfrentar a pandemia e projetar transformações sociais necessárias a partir dela. 

“Em 1918, vivenciamos a pandemia da Influenza, com muitos óbitos; depois veio a crise financeira de 1929 e em seguida a Segunda Guerra Mundial. E a partir daí todo um período de longínquo aprendizado. No Brasil, para nossa geração, ficou clara e cristalina, enfim, a importância do SUS, um patrimônio da sociedade como um todo. Muitos não tinham essa compreensão. E não daria para enfrentar um desafio desse tamanho para o sistema de saúde somente com a rede privada da saúde. Precisamos do SUS para fazer o gerenciamento como um todo e, efetivamente, salvar vidas, defende.


Em paralelo, o também professor da pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade de Fortaleza vê como incontestável a importância da pesquisa científica no mundo. “No Brasil, por falta de incentivos, não podemos desenvolver ao máximo nossas pesquisas e isso nos faz dependentes de outros países agora, até para a compra de máscaras ou kits de laboratório. Países desenvolvidos que fabricam os seus insumos e materiais vendem mais caro e agora, com o Covid-19, o que acontece é que temos dinheiro para comprar, mas não temos acesso, porque eles vão priorizar a saúde dos seus próprios países. Ou seja, pesquisa cientifica e de desenvolvimento tecnológico não é luxo. Significa soberania, não depender dos outros países em momentos cruciais. Para a virologia, o potencial destrutivo dessa pandemia já era previsível, dado o mundo em que vivemos, que é o da aglomeração de pessoas e das viagens planetárias. Então,precisamos desenvolver mecanismos para detectar e responder mais rápido a essas ameaças. Até porque não será a última. Isso eu estou discutindo inclusive nas disciplinas que estamos ministrando remotamente na Unifor e é algo que precisa se tornar bandeira e central dentro das universidades brasileiras”, conclui.

O receio da contaminação é real

Todo um protocolo padrão de proteção habitual, como o uso de avental, gorro, óculos e máscaras já era normalmente cumprido na UPA da Praia do Futuro. Mas hoje o rigor na proteção individual do profissional e do paciente tem sido inegável e explicitamente maior. É o que percebe o cirurgião-dentista Lucas Zogheib, confirmando a importância desse cuidado extremo em tempos de pandemia do Covid-19. “Especialmente na prática odontológica, comumente envolvida com procedimentos na cavidade bucal geradores de aerossol, que espalham microrganismos no ambiente, toda a área de operação e a equipe podem ser contaminadas, seja por meio do sangue ou saliva, tosse, espirro, fala ou dos perdigotos de secreções nasofaríngeas. Daí porque nossa tensão aumenta”, lembra Zogheib. 

Para minimizar riscos, condutas foram revistas. E todo um ritual de preparo para o trabalho adaptado. “A partir da Covid-19 nos protegemos com máscara N-95, coberta com máscara cirúrgica, óculos de proteção, ambos cobertos por máscara facial (facial shield) e ainda um avental impermeável e luva cirúrgica. Fora do consultório, nos ambientes internos da UPA, como na copa e repouso temos usado máscara o tempo todo e evitado ao máximo aglomerações. Ainda assim, o receio de contaminação é real, já que há a circulação de vários profissionais envolvidos no tratamento dos pacientes infectados não só na UPA, mas em outros hospitais de referência para a doença”, detalha o cirurgião-dentista.

Ir de casa para o trabalho ou do trabalho para casa também não é mais um simples ato de deslocamento. “Já vou mascarado e com uma roupa específica para esse trajeto. Chegando lá visto um pijama cirúrgico e ao final do plantão troco novamente de roupa para retornar à casa. O mesmo vale para o calçado: um par só para ser usado na UPA, outro só para os trajetos de ida e volta para casa. E em tudo vai o spray desinfetante”, revela. Mas o maior dos problemas detectados na nova rotina de trabalho por Zogheib é mesmo a contenção de uso dos EPIs, os Equipamentos de Proteção Individual. 

“Hoje, nós profissionais da odontologia, sabemos que, se seguirmos à risca o fluxograma de atendimento já criado para nossa proteção, irão faltar EPIs para médicos e enfermeiros que estão nas UTIs com maior demanda de pacientes graves, e, portanto, com risco iminente de contaminação nos procedimentos de entubação e ventilação artificial com geração de aerossol associada”, revela. 


Eis o dilema ou “A Escolha de Sofia” dos médicos que precisam escolher entre dar um ventilador mecânico para que um se salve enquanto o outro, deliberadamente, não terá acesso, algo que vem sendo relatado nos países onde o colapso do sistema de saúde já ocorreu. “No caso do cirurgião-dentista, guardada a devida proporção, acabamos decidindo entre quem devemos livrar imediatamente da dor de dente e quem podemos postergar o atendimento para um cenário mais favorável”, admite. Daí porque, para Zogheib, a odontologia que existia não existirá mais. “O profissional que não se protegia adequadamente de outras doenças, como hepatite e HIV, considerando o fato de que nossa profissão é altamente insalubre, vai ter que se proteger bem mais, porque nos deparamos com um vírus altamente traiçoeiro e que ainda pode sofrer mutações”, aferra.

Além disso, segundo Zogheib, o coronavírus escancarou a necessidade de maior rigor no controle de infecções cruzadas pelos profissionais envolvidos, o que trará mais consciência e vigilância dos próprios pacientes quanto aos cuidados que o profissional terá durante os atendimentos. “Nas UPAs, cada vez mais haverá limitação de materiais e instrumentais para atender a demanda com esse perfil. Mas não é só sobre a questão material que devemos pensar. A grande lição que o Covid-19 traz para o mundo todo é comportamental. Muitas países e cidades de primeiro mundo, numa falta de humildade, subestimaram o poder do vírus, negando as orientações da Organização Mundial da Saúde, e evitaram o isolamento social por razões econômicas. Agora pagam um preço alto pelo colapso dos sistemas de saúde e pelas vidas perdidas. Eu particularmente acredito que vá haver uma renovação ou reforço de valores humanos como a solidariedade, fraternidade, melhor gerenciamento do tempo e dos recursos do planeta”, vislumbra.

Em relação à prática docente, o coronavírus não pegou o professor da graduação e do mestrado profissional em Odontologia da Universidade de Fortaleza desprevenido. “A Unifor sempre nos estimulou a usar as ferramentas de ensino a distância, através do Unifor Online, para além do tempo de aula presencial. O desafio foi, praticamente de um dia para o outro, colocar tudo isso em prática. Penso que para a maioria dos alunos tenha sido mais desafiador. Sem o contato presencial, por mais que esta seja uma geração inexoravelmente ligada à tecnologia, percebo a dificuldade dos alunos em gerenciar o tempo e a quantidade de informações. Aí é que entra o docente: para delimitar o conteúdo de forma a ser melhor aproveitado”, observa o professor. 

Dias de confinamento

Tudo muito novo, diferente. Para a enfermeira Rita Mônica Borges Studart, do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), a paramentação virou um calvário e o turno de 12 horas de trabalho pesa muito mais do que o de costume. Por conta da escassez de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), enfermeiras da linha de frente da área daCovid-19 como ela preferem passar mais horas do que o protocolo recomenda para beber água ou fazer suas necessidades fisiológicas a correrem o risco de, numa retirada de roupas ou máscaras de proteção, se contaminarem. Daí porque sua reclamação principal no dia a dia não tem sido outra: exaustão física.

E nem todo o cuidado foi capaz de livrá-la dos sintomas do coronavírus. Mônica está afastada há 10 dias do hospital com suspeita de Covid-19. Sentiu dor de garganta e cefaléia, colheu exames e está me casa esperando o resultado, mas longe da família, cumprindo isolamento social no apartamento da mãe, que está temporariamente vazio e fica em frente ao seu, onde marido e filhos acompanham de longe seu estado de saúde.

“Amigas minhas, também enfermeiras, estão morando na casa de primos ou alugaram apartamentos para poder ficar longe de seus familiares e não correr o risco de contaminá-los. Mas e aquelas que não têm outra casa pra ir ou que fazem parte dos grupos de risco mas têm que trabalhar? Isso é rotineiro, sai uma, entra outra, ora com suspeita da doença, ora confirmando. Aí cumpre os 15 dias de afastamento e retorna ao trabalho. É nossa missão”, resigna-se.


Para Mônica, o mais triste mesmo é assistir a agonia de familiares que não podem visitar seus doentes. “Nós tivemos que assumir esse papel também de psicóloga quase né? Porque são as enfermeiras que usam o próprio celular para gravar vídeos para levar até um filho, filha, mãe ou pai que não pode acompanhar o seu parente de perto nesse momento. Então conversamos com que está doente e com quem espera notícias. E nossa maior felicidade, claro, é quando a gente vê o paciente se recuperando. O que também serve de consolo é perceber a equipe de enfermagem superunida, apesar do esgotamento físico visto ali, no olho da pessoa. Porque só dá para ver o olho, né? Muitas vezes a gente nem se reconhece em meio a tanto paramento e máscara uma por cima da outra. Parecemos um Robocop”, ri-se.

Ao driblar com humor o emocional que não pode se deixar abalar, Mônica também se apega ao ofício de docente na Universidade de Fortaleza. Em dias de confinamento, até ela saber se está ou não com o coronavírus, é na tela do computador que encontra estímulo para pesquisar mais fundo – e na companhia curiosa dos alunos e alunas - a doença que vem desestabilizando o mundo. Faz isso através de aulas virtuais e provas on line, se valendo de plataformas já antes disponibilizadas pela universidade que sempre viu com bons olhos o enlace entre ensino presencial e tecnologias interativas, mas também por meio de filmes e até quizz. “É preciso tratar temas pesados com alguma leveza e dinâmica. Os alunos pedem isso e quando acatamos aprendemos muito também. E percebemos que estamos juntos e unidos no combate à pandemia. Entendemos que podemos vencer isso juntos e que o melhor contágio sempre será o do afeto”, ensina.