qua, 3 fevereiro 2021 09:53
Entrevista Nota 10: Soraia Pinto e a Nutrição que transforma vidas
Doutoranda em Saúde Pública e professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza destaca o papel de uma dieta alimentar rica para a saúde dos brasileiros
Cozinha é lugar de todos. Para a professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza, Soraia Pinto, uma rotina alimentar de qualidade está associada ao ato de partilhar hábitos saudáveis, com preparações naturais e valor afetivo destinado àquilo que se come.
Doutoranda em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Soraia também estimula em seus alunos a afinidade com a produção científica, por meio do módulo “Pesquisa em Nutrição”, coordenado por ela, e que possibilita o aprofundamento em diversos temas ligados à área.
Com exclusividade ao Entrevista Nota 10, a professora e nutricionista fala sobre a importância da riqueza alimentar na dieta dos brasileiros e as mudanças no consumo de alimentos desencadeadas pela pandemia. Confira na íntegra.
Entrevista Nota 10 - Professora, falando sobre a produção científica na área da Nutrição: como os estudantes da Unifor são estimulados a desenvolver afinidade com a pesquisa ao longo do curso?
Soraia Pinto - O curso de Nutrição e a Universidade de Fortaleza oferecem diversas oportunidades para pesquisa desde os primeiros semestres, não apenas nos Trabalhos de Conclusão de Curso. No módulo que coordeno, intitulado Pesquisa em Nutrição, os alunos têm a possibilidade de idealizar um projeto de pesquisa na área de nutrição de seu interesse, e dessa forma conteúdos específicos podem ser aprofundados acessando artigos e pesquisas mais atuais sobre a temática. Nesse sentido contamos com a colaboração da Biblioteca da Unifor que propicia acesso às revistas e jornais das diferentes áreas do conhecimento aos nossos alunos. Essa estratégia propicia maior engajamento do discente com a sua futura área de atuação profissional.
Outra oportunidade em relação a pesquisa diz respeito às ligas acadêmicas, assim como os grupos de estudo que a universidade disponibiliza. Existe uma lista de ligas e grupos de estudo disponíveis no Núcleo de Pesquisa do CCS. Destaco a ação da LEPP (Liga de Estudo e Pesquisa em Perinatologia) que visa discutir e elucidar temas sobre pré-natal, parto e puerpério, na perspectiva multidisciplinar, atualmente a liga conta com alunos e professores dos cursos de Nutrição, Enfermagem, Medicina, Odontologia, Fisioterapia e Psicologia. A liga realiza ações de pesquisa bem como ações práticas de acompanhamento a gestantes, puérperas e recém-nascidos no posto de coleta de leite materno do NAMI. Assim os alunos podem ter a experiência em uma área importante da nutrição que é a área da nutrição materno infantil. Caso os alunos se interessem podem acessar o Instagram @liga.lepp para maiores informações.
Entrevista Nota 10 - Como a saúde pública do Brasil lida com as questões nutricionais da sua população? São muitos os desafios?
Soraia Pinto - As questões nutricionais precisam ser encaradas de forma individual e coletiva, pois nos referimos a uma ação do nosso dia a dia, mas que engloba diferentes setores da sociedade e repercute na saúde de todos. Exatamente devido a complexidade do tema se faz necessário uma articulação intersetorial para que consigamos alcançar nossos objetivos. Dessa forma um documento importante é a Política Nacional de Alimentação e Nutrição que embasa todas as ações governamentais, além do Guia Alimentar para a População Brasileira, uma das primeiras publicações a majorar o olhar sistêmico e sustentável para a alimentação, a culinária doméstica e foi reconhecido internacionalmente como o melhor guia alimentar do mundo, servindo de inspiração para outros países, inclusive o Canadá. Essas publicações estão disponíveis a todos os brasileiros através do site do Governo Federal.
Os problemas nutricionais no Brasil se sobrepõe pois por se tratar de um país continental e muito heterogêneo, nos deparamos com quadros nutricionais de obesidade, desnutrição e carências nutricionais em um mesmo ambiente, além de carências nutricionais específicas por grupos como gestantes, crianças, idosos. Os desafios são notáveis pois apesar da alimentação ser um direito universal e garantido no 6º artigo da Constituição Federal o seu pleno cumprimento perpassa por diferentes áreas e aspectos, quais sejam os da produção, distribuição, acesso, cultura e consumo.
Entrevista Nota 10 - Durante a pandemia, sabemos que muita gente alterou sua alimentação diária, principalmente no confinamento, com a ingestão de mais carboidratos e açúcares, por exemplo. Quais os possíveis reflexos dessas mudanças para a saúde do corpo?
Soraia Pinto - O cenário atual da pandemia tem trazido a tona problemas relacionados ao acesso e consumo de alimentos a uma parcela da população mais vulnerável, por um lado, e ao mesmo tempo o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, alimentos industrializados, como preparações prontas, bebidas açucaradas e fast food com baixa qualidade nutricional estão substituindo comidas caseiras mais nutritivas nas dietas das famílias e esses alimentos ricos em gorduras e doces que já vinha em um quadro crescente e que apresentou aumento ainda maior devido às circunstâncias de confinamento. Possivelmente a longo prazo esse consumo como muito enfatizado em pesquisas nacionais e internacionais contribuirá para aumento dos fatores de risco como excesso de peso e obesidade e na carga de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares para citar apenas as mais recorrentes.
Entrevista Nota 10 - Por outro lado, muitas pessoas também se aproximaram da cozinha como “hobby” e estão mais atentas à sua alimentação. Que possibilidades essa afinidade com a comida traz para uma vida mais saudável e equilibrada?
Soraia Pinto - Como citei anteriormente, o Guia Alimentar tenta valorizar as práticas alimentares com alimentação de verdade, uso de alimentos e temperos naturais, com retorno às comidas e preparações caseiras e nutritivas realizadas com alimentos de verdade, além de pensar de forma mais sustentável. Essa afinidade pode propiciar maior equilíbrio na ingestão de nutrientes e consequentemente reduzindo a ingestão de produtos com baixo valor nutritivo e valorizando preparações mais naturais ricas em nutrientes que contribuem para promoção da saúde e prevenção de doenças, em especial das doenças crônicas não transmissíveis. Nesse ponto vale a pena também ressaltar a necessidade da divisão de tarefas em casa, reconfigurando a produção dos alimentos, todos devemos ser co-participantes das preparações e planejamentos alimentares em casa e não unicamente a mulher.
Entrevista Nota 10 - Você também tem experiência na área de nutrição materno infantil. Poderia nos falar um pouco sobre a importância dela para as mães e para os bebês?
Soraia Pinto - Em todas as etapas da vida a alimentação desempenha um papel fundamental, em especial na área de Nutrição materno infantil, que cada vez mais tem recebido enorme destaque e valorização. O profissional que se especializa nessa área precisa articular uma série de competências e habilidades a fim orientar a alimentação adequada e saudável a esse grupo.
O período da gestação e pós-parto levam a inúmeras alterações metabólicas, fisiológicas e emocionais na vida da mulher e dessa forma é válido um acompanhamento individualizado buscando contribuir para o adequado estado nutricional e de saúde deste grupo tão singular. Esse período tão singular também envolve a necessidade de acompanhar e monitorar as mulheres que desenvolvem enfermidades durante a gestação e assim contribuir para o adequado tratamento.
O profissional também irá avaliar o estado nutricional e realizar orientações acerca da alimentação da criança a fim de promover seu crescimento e desenvolvimento saudável, desde o aleitamento materno até a introdução correta dos alimentos no período adequado.
Entrevista Nota 10 - Professora, para finalizar, podemos destacar alguns estudos realizados por você, atualmente?
Soraia Pinto - Atualmente realizo o doutorado em saúde coletiva da Universidade Federal do Ceará (UFC), participando de um projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) “Perspectivas e desafios do aprimoramento do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional: uma abordagem de métodos mistos” sob co-orientação do professor Augusto Carioca, também discente da UNIFOR e do professor Ricardo José Soares Pontes da UFC.
Recentemente orientei estudos de trabalho de conclusão de curso do curso de graduação de Nutrição da Unifor e da Residência Multiprofissional em Saúde - Escola de Saúde Pública /CE.