Artistas nordestinos visitam exposições em cartaz no Espaço Cultural Unifor

ter, 29 junho 2021 16:36

Artistas nordestinos visitam exposições em cartaz no Espaço Cultural Unifor

As mostras “Águas de Março” e “50 Duetos” receberam nomes ilustres da cena artística cearense. Confira os relatos da visita a seguir.


Na imagem, o artista visual Cadeh Juaçaba contempla obra de Sérgio Helle na exposição
Na imagem, o artista visual Cadeh Juaçaba contempla obra de Sérgio Helle na exposição "Águas de Março". (Foto: Ares Soares)

Desde sua reabertura presencial, o Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, contou com a passagem de diversos artistas que visitaram as exposições “Águas de Março” e “50 Duetos”. Dentre os nomes ilustres estavam Cadeh Juaçaba, Marco Ribeiro, Sérgio Gurgel ‒ que foram acompanhados pessoalmente por Sérgio Helle, autor da mostra “Águas de Março” ‒, e Francisco de Almeida.

Helle, Cadeh, Marco e Gurgel fazem parte do grupo de pesquisa em arte contemporânea na galeria Multiarte, estudando sobre o tema e dividindo experiências com outros artistas que também fazem parte da iniciativa. Helle conta que o grupo costumava fazer reuniões semanais, mas que haviam sido suspendidas por conta da pandemia. “Nada mais bacana que a gente retomar os encontros aqui [na exposição], apresentando meu trabalho para a gente compartilhar isso e o resultado do meu trabalho com eles”, ressalta o artista.

Victor Perlingeiro, administrador da Multiarte e responsável pelos projetos especiais da galeria, também acompanhou a visitação guiada e comemora a reabertura do Espaço Cultural para visitas presenciais: “Poder voltar a trabalhar com artistas locais é voltar a trabalhar com uma carência que Fortaleza tem devido a diversos fatores, e que mostra mais uma responsabilidade que a Unifor tem com a sua cidade, né? Então é super importante’.

Serviço

Espaço Cultural Unifor
Horário de funcionamento: De terça a sexta-feira, das 9h às 18h; e aos sábados e domingos, das 10h às 18h
Local: Av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz
Contato: (85) 3477-3319

Confira depoimentos dos artistas sobre a visita


Cadeh Juaçaba posa ao lado da obra de sua tia-avó Heloísa Juaçaba na exposição "50 Duetos". (Foto: Ares Soares)

O artista visual Cadeh Juaçaba possui intimidade com o ambiente artístico desde sempre. A sua família, tanto materna quanto paterna, ostenta muitos nomes importantes como o da artista Heloísa Juaçaba, sua tia-avó. Essa proximidade com as artes faz Cadeh ver seu colega Sérgio Helle de forma cirúrgica: "Uma palavra para definir o Sérgio é profissionalismo. A profissão dele é artista visual. Isso desmistifica um pouco essa imagem romântica que se tem do artista. [...] Acho que esse profissionalismo dele, esse comprometimento com o trabalho, é de um operário da arte. Ele trabalha diuturnamente com o que faz. Eu acho que é essencial”.

Cadeh pontua os louros da curadoria realizada por Izabel Gurgel no conceito montado para tornar a exposição interativa com suas instalações, em especial ao público infantil. “É uma exposição muito bacana para vir com a família, para tirar também esse estigma das artes visuais e contemporâneas de que são sempre coisas muito pesadas. No trabalho do Sérgio, ele fala sobre morte, fala sobre vida, fala sobre a ressurgência e a resiliência também nesse período difícil que a gente está vivendo, mas ele trata isso de uma maneira muito lúdica”, explica.


Francisco de Almeida posa ao lado de sua obra (à direita) na exposição "50 Duetos". (Foto: Ares Soares)

O xilogravurista Francisco de Almeida revisitou o Espaço Cultural depois de sua participação na 20ª Unifor Plástica, em 2019, para conhecer as novas exposições que estão em cartaz. Com uma de suas obras expostas na “50 Duetos”, o artista faz par com um dos quadros de Tarsila do Amaral, evocando uma conversa sobre o tema religioso que permeia as duas obras.

“Emociona o olhar enigmático da curadoria, em especial da Denise [Mattar, curadora da 50 Duetos]. Parabéns, mais uma vez! Os diálogos existentes entre as obras são de uma minuciosidade e preciosidade de olhar fantástico nas obras. Esse perfil da curadoria enobrece muito a riqueza de todas as artes”, declara Almeida.


Marco Ribeiro já teve obras expostas em duas edições da Unifor Plástica. (Foto: Ares Soares)

O artista visual Marco Ribeiro destaca o diálogo entre a vida e a morte presente nas obras de Sérgio Helle e no espaço expográfico da mostra “Águas de Março”. Sendo a primeira exposição que visita presencialmente desde o início da pandemia em 2020, Marco vê a experiência como um “respiro de vida, de que ainda temos esperança e pela arte, que é uma coisa que a gente sempre procura se agarrar para ter esperança. E o trabalho dele [Sérgio] fala muito disso, não só de morte. A morte é um ciclo da vida. A gente nunca tá preparado, mas ele traz essa questão da morte como uma coisa bonita”.

Como artista de grafismos e paletas monocromáticas, Marco ressalta o trabalho de Helle principalmente pelo seu empenho com as diversas cores e a organicidade dos seus temas. “Ele trabalhar com a natureza também é muito importante porque é uma questão política no Brasil que tá muito forte hoje em dia. [...] A gente mora numa grande metrópole e a gente não vê a cidade, não vê vegetação. Tem um parque maravilhoso, que é o Cocó, e a gente passa por ali, sabe que existe, mas não vive aquilo. Para mim, isso é muito interessante. É um respiro ver coisas assim”, conclui.


O artista visual Sérgio Gurgel na exposição "50 Duetos". (Foto: Ares Soares)

Sérgio Gurgel é um artista visual que trabalha temas como o envelhecimento humano, a pele e as rugas do tempo e que, por isso, sentiu-se profundamente tocado com a decomposição apresentada na mostra “Águas de Março”: “Fiquei bastante mexido com essas curiosidades por causa das veias das plantas e, ao mesmo tempo, essa dualidade da vida e da morte. Algo que nem está vivo nem está morto e, de repente, pode renascer. Eu achei bem contente essa parte da exposição que mostra os caules, as cascas e as partes de desgastes e, ao mesmo tempo, de força que é a própria raiz”.

Tendo sido aluno da Universidade de Fortaleza, Sérgio conta que na época da sua graduação em Comunicação Social não existia o Espaço Cultural Unifor. Ele diz ter vindo com seus dois filhos, um de doze e outro de nove anos, conhecer o local em outro momento e que adquiriu um apreço pelo ambiente. “Infelizmente nosso estado é um pouco carente desses espaços. Não no sentido de luxo, mas no sentido de apreço pelo trabalho de iluminação, de climatização, de presença de pessoas para acompanhar a visita. Eu adorei a experiência”, revela.