null Amor pelo conhecimento e capacidade inata levaram Pedro Boaventura, do CCT, à docência

Seg, 18 Outubro 2021 10:23

Amor pelo conhecimento e capacidade inata levaram Pedro Boaventura, do CCT, à docência

O arquiteto e urbanista que dá aulas há quase três décadas gosta de desenhar, fazer maquetes e objetos, cuidar das plantas e dedilhar no teclado


Pedro Boaventura, professor de Arquitetura e Urbanismo, troca dicas de músicas com os alunos e fica feliz por conseguir estabelecer cumplicidade com eles (Foto: Ares Soares) 
Pedro Boaventura, professor de Arquitetura e Urbanismo, troca dicas de músicas com os alunos e fica feliz por conseguir estabelecer cumplicidade com eles (Foto: Ares Soares) 

"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo"
Paulo Freire
 

 “Ver um mundo num grão de areia, 
E um céu numa flor do campo,
Capturar o infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora”.

William Blake (Augúrios da Inocência, 1863)
 
Os versos escritos pelo poeta britânico William Blake no século XIX estão entre os favoritos do professor do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza, Pedro Boaventura. A complexidade da criação e a relativização do tempo imbuídas no poema também estão na essência do fazer da docência, profissão abraçada pelo arquiteto e urbanista desde 1992. Pedro ama ser ponte para o aprendizado e possibilitar que os alunos caminhem em direção à descoberta de talentos e à consolidação de saberes.

Quando está fora da sala de aula, gosta de continuar aprendendo e tem muitos hobbies, como viajar e descobrir a cidade. Aprecia “andar pelas ruas, de metrô, olhar as pedras e sentir a força humana que erigiu aquilo”. É um admirador da natureza e também pratica jardinagem.  Atividades físicas são outro hábito. “Gosto demais de estar com meu corpo em forma”, ressalta. Os amigos já nem se surpreendem quando ele fica em casa fazendo maquetes num sábado à noite. Aprender e se divertir andam lado a lado para o docente.

A música, por exemplo, tornou-se uma forma de construir e estreitar relações com os alunos. “A gente escuta música e troca informação porque ainda é importante a música pra mim. Eu fui jovem e eu me lembro”, explica. Além de lecionar, Pedro Ventura também atua como arquiteto e designer e está sempre muito ocupado. Especialista em iluminação e luminotécnica, obteve o título de mestre com louvor pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Aceitou dar entrevista num intervalo entre tantas ocupações diferentes que preenchem seu dia para conseguir contar ao Unifor.br como é equilibrar o cotidiano de quem está sempre ensinando e aprendendo. O docente é o sexto entrevistado da série Gente que muda o mundo, realizada  em virtude do Dia do Professor.

"Sic transit gloria mundi" 
(Toda glória do mundo é transitória)
Frase em latim que o professor tem tatuada 

O que o inspirou a se tornar professor? 
Acho que a minha capacidade de ensinar é inata. Tenho um amigo de infância que conheço desde os oito anos e ainda hoje ele fala que nunca entendia as aulas de química, nem de  desenho, mas, quando eu explicava, ele entendia. Até hoje ele lembra disso. Quanto ao ensino, comecei em 1992 e já fui direto para o ensino superior.  porque um amigo meu arquiteto estava ensinando no recém-formado curso de Estilismo e Moda da Universidade Federal do Ceará. Ele não quis mais ficar com a disciplina e me chamou para substituí-lo. Carecia de professores formados na área, (moda) não é? Era uma disciplina de desenho de modelo vivo., E me dei muito bem. Eu me encontrei como professor. Em questão de poucas semanas me entrosei muito bem com os alunos, descobri que eu tenho uma capacidade inata de me expressar, de facilitar as questões para o outro, de usar boas metáforas,   de construir um entendimento que empodera porque a própria pessoa o encontra. É mais fácil fazer que explicar rsrsrs ,  E foi uma descoberta. Achei que ia passar pouco tempo lá, acabei passando quatro anos na Universidade Federal. Ajudei no projeto acadêmico do curso,  Criei ementas de várias disciplinas ligadas a desenho, forma e cor. Fiz estudos e pesquisas que ainda hoje me servem Foi uma descoberta a partir daí então. Desde então eu fui chamado sucessivamente para trabalhar. Atuei na Faculdade Marista de Fortaleza, também no curso de Moda, onde fiquei dez anos. Depois, na Fanor, por curto período, onde fui chamado por uma aluna minha do curso de moda do Marista, e depois na Unifor. Levei o meu currículo, falei com o então vice-reitor de Graduação e fui aprovado, em período probatório,  para ensinar no curso de Arquitetura e Urbanismo. Desde então tenho me dado muito bem com o ensino porque, como lhe falei, é uma das minhas naturezas... 
 

 
Em casa, Pedro gosta de se dedicar às plantas e “entender como elas crescem” (Foto: acervo pessoal) 

 
 O que mais gosta de fazer no cotidiano fora da sala de aula e como isso se relaciona com o seu trabalho de educador?
Sou um sujeito que gosto demais de aprender. Sou muito curioso e tenho interesse sobre os mais diferentes assuntos. Então mesmo o meu lazer é assistir a documentários de arte, de história, assuntos de cultura geral, de cinema, de tecnologia, de comportamento, de tudo. Então eu não consigo ficar muito tempo naquele lazer imobilizante de passar horas tomando cerveja, bebendo numa rede, eu não consigo. Então eu preciso estar absorvendo algum conteúdo, nem que seja olhando para plantas, que é um hobby que tenho pra entender como elas crescem, suas estratégias e formas, quanto de água precisam e tal. Essa minha característica de sempre querer estar me informando é muito útil para a minha profissão, porque a toda hora eu coleto fontes complementares de informação e consigo linkar todos os assuntos uns nos outros, inclusive  transhistoricamente  É uma das características que já ouvi inúmeras vezes durante a minha vida profissional como professor de como eu consigo atualizar as questões históricas e políticas e sociais e consigo trazê-las para exemplos presentes e relacioná-las com outras questões através de metáforas e comparações que a pessoa sente que entendeu,....
 
Por favor, conte para a gente sobre uma aula diferente e empolgante para a turma, na qual trouxe um pouco das suas vivências/ saberes para abordar o conteúdo de forma inovadora.
Olha, o que consigo lembrar agora não é uma aula específica, mas várias vezes fui surpreendido por depoimentos espontâneos de pessoas quase sempre dizendo que não gostavam, não tinham habilidade para aquele conteúdo e que hoje isso é parte das coisas das quais elas gostam, que admiram e que até mesmo fazem parte da formação profissional delas. Isso aconteceu em várias aulas, de maneira espontânea, com muita frequência com pessoas já maduras, alunos que já tinham passado da juventude e que portanto não teriam porque me bajular, nem eram facilmente impressionáveis
Recentemente, pelo Instagram, recebi depoimentos de pessoas que foram meus alunos há vinte anos atrás dizendo: “Professor, o senhor mudou minha vida. Quando o senhor falou do meu desenho que era ruim, nesse sentido, mas mostrou que era bom naquele outro, entendi muito bem. A partir de então, eu vivo do desenho, algo que eu não gostava”. Então essa transformação na vida das pessoas aconteceu em muitas salas de aula ao longo da minha vida. As aulas práticas quando viajo com alunos para ver capitais históricas e relacionar urbanismo, arquitetura, história, comportamento, política e as aulas se fazem in loco, nos ambientes, também  são muito empolgantes. isso é muito interessante O aprendizado é imediato, interconectado, dinâmico, se vê nos rostos, se mistura com informalidade....sem burocracia acadêmica rsrs
 
O que mais gosta na sua profissão?
Reencontrar alunos em novos momentos de suas vidas, mais maduros, muitos deles com empresas montadas, com vidas profissionais estabelecidas e que, mesmo depois de anos, ainda voltam, ou por contatos superficiais de redes sociais, para ratificar a gratidão e recolocar uma espécie de dívida para comigo por terem chegado onde chegaram. Como também voltam para me escutar, né? Tem pessoas que foram meus alunos em cursos de graduação há dez, quinze anos e agora vêm em outras instituições assistir a palestras minhas, pagam por aulas particulares para se submeter a exames de mestrado. Então isso também é muito satisfatório. É o reconhecimento, enfim, né?
 
Como atuar na educação dialoga com seu desejo de contribuir para um mundo melhor?
Eu sempre tive a sorte de ensinar aquilo que realmente gosto, de coisas que me dão tesão. À medida que ensino, mostro para eles o meu ponto de vista e mostro com energia, com vontade, verdadeiro. Isso muda, altera molda as pessoas. As pessoas passam a ter outros pontos de vista, passam a ter informações críticas que não tinham antes, se alertam para as questões que às vezes nem conheciam e assim vou conseguindo com um trabalho de formiguinha, mas muito persistente, mudando mentalidades, moldando mentalidades que, por sua vez, vão mudar outras num efeito dominó.
 
Qual é seu maior sonho em relação ao seu trabalho?
Bom, primeiro aquilo que eu acho que todo profissional espera da profissão: reconhecimento. Algum tipo de reconhecimento. O fato de eu estar gravando estes áudios para este evento é uma forma de reconhecimento. Ser chamado para opinar sobre questões da minha área em entrevistas, reportagens, também é.  Ontem, por exemplo, numa turma de profissionais liberais, pessoas maduras que estudam arte comigo recebi um feedback maravilhoso das pessoas. Fiquei emocionado porque foi de uma sinceridade muito grande. Então, acho que meu sonho atual é esse, é um sonho bem modesto como professor, nada de mais, né? Como  arquiteto e designer tenho outros sonhos, mas são parecidos rs  Nunca sonhei com muito dinheiro, mas sempre tive trabalho e dinheiro que deram uma vida tranquila, no geral...  
 
Conte-me sobre uma aula inesquecível (pode ser do ponto de vista de professor ou de você como aluno que viria a se tornar professor).
Bom, como professor, isso que eu já falei, pessoas, espontaneamente, reiterando o agradecimento de  como suas vidas mudaram, como elas se definiram por uma profissão e se fortaleceram a partir de pontos de vista que eu revelei dentro delas. Como aluno, me lembro muito de professores indiferentes que jogavam a matéria e você tinha que se virar. Professores de projetos que expunham alunos grosseiramente na frente de outros, quando você é um jovem estudante, você é muito tímido com suas ideias. Eu era um cara tímido. Então, aquilo me machucava, me deixava ainda mais retraído, me bloqueou por muito tempo. Então, eu olhava e dizia para mim: “Poxa, eu tenho capacidade, desenho desde garoto, sei de arte, tenho interesse, mas esses professores não veem, só estão cumprindo o trabalho deles...eu não vou ser assim ". Sofri muito na faculdade por causa dessa indiferença, dessa limitação. Sabe aquele profissional que faz só o que a profissão manda? Aquele que faz tudo burocraticamente, mas não consegue ver pessoas? A não ser no último semestre, conheci um cara espetacular chamado Roberto Castelo, grande arquiteto a quem eu devo muito. Ele olhou para dentro, olhava na alma das pessoas. No último semestre foi a primeira vez que vi isso na minha vida como aluno, ainda hoje falo com emoção do Roberto . 
Porque ele olhava a pessoa, não o aluno. Ele tirava tudo que você tinha de bom. Ele fazia com naturalidade, porque era um humanista e não só um técnico.   Ele conseguia extrair o talento da pessoa. Na época, isso me modificou muito e depois entendi melhor. Não é ensinar conteúdos á alunos, é se relacionar com pessoas e transmitir a elas o tesão e deslumbre que vc mesmo tem com os assuntos. Sabe quando vc fala com uns amigos da serie do net flix que vc assistiu? Não é sobre a série, é sobre querer que seu amigo veja também e se deslumbre, criando seu seu próprio ponto de vista com sua ajuda...
 
Que professor, autor, personalidade o inspira? Por quê?
Não  sei te dizer, eu me inspiro com quase tudo e todos que têm uma mensagem coerente, inspiradora... Na atividade de professor eu lembro de uma frase, não me lembro exatamente de quem (que mico para um professor, rsrs) mas com a qual me reconheci muito, era mais ou menos assim: mais eficaz que transmitir o conhecimento é instigar no outro o mesmo  prazer que vc sente com o assunto. E também Paulo Freire. O pouco que conheci falou muito fundo em mim 
 
Há alguma frase, verso, música ou citação que tem muito significado para você? Qual?
Tem tantas e elas mudam em cada época da sua vida, mas tem uma que inclusive eu tenho tatuada. É uma inscrição em latim, própria da Filosofia Estóica da qual sou um estudioso: Sic transit gloria mundi (Toda glória do mundo é transitória). As glórias do mundo passam, as vaidades, os desejos de poder, as situações de glória, todas elas são instáveis. Existe algo que é maior e estável que não está nesse burburinho de rede social, nestes espetáculos de sucesso imediato. Tudo tem de ser conquistado com muito cuidado. Então essa frase que tenho tatuada é um dos meus motes.
Música popular tenho Ouro de Tolo, do Maluco Beleza (Raul Seixas), que de maluco não tinha nada né? é a minha personalidade colocada em música. Também tem o William Blake. Leituras que fiz na adolescência, que é um poeta visionário, artista plástico também. Era um religioso, mas construiu uma visão alternativa para a relação entre e bem  e mal bem diferente da tradicional e muito mais libertadora. Desde que conheci, com uns 18 anos, vem baseando minha vida...
 
Como se imagina quando não estiver mais dando aulas?
Então...Eu acho que sempre vou fazer tudo que eu faço agora, arquitetura, design, arte e ensino, mas de outra forma. Não penso em simplesmente parar,  mas penso em diminuir, alterar.  No futuro breve, eu me vejo ministrando mais aulas livres, com grupos variados que querem desenvolver conhecimento sobre assuntos que eu gosto de estudar, arte, arquitetura, moda, comportamento, história, política, antropologia, cosmologia...Como já faço. E no ensino acadêmico oficial, ter menos turmas, menos trabalho logístico para desenvolver mais relações e instigar o conhecimento como eu acho e me sinto melhor. 

Gente que muda o mundo - diversidade de aprendizados e saberes



 Daniel Camurça, historiador e professor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ). Urbano, ele adora andar pelas ruas, praças e cidades. É fã de séries e animações da cultura pop. Nas horas vagas gosta de cuidar de plantas e animais de estimação. Veja a entrevista completa e o vídeo aqui.

Daniela Araújo Costa (CCT) é graduada em Engenharia Civil e mestre em Administração de Empresas. Começou na docência ministrando aulas de inglês para crianças e preparando adultos para certificações internacionais como testes da Universidade de Cambridge. Desde 2003 atua no ensino superior. Daniela se considera muito comunicativa e “alto astral”. Ler e ver filmes estão entre os principais passatempos. Leia a entrevista na íntegra e veja o vídeo aqui.



O professor do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão da Universidade de Fortaleza, Landsberg Costa, destaca “o poder transformador que a educação tem na vida das pessoas e como os professores podem ter o efeito catalisador dessa transformação”. Ele é o terceiro docente da série de entrevistas Gente que muda o mundo. Graduado em Administração de Empresas, Landsberg vibra ao ver os alunos demonstrando desenvoltura e aprendizado durante momentos do cotidiano, como em uma aula de campo.  Veja toda a entrevista aqui.



Os movimentos ágeis das agulhas de crochê e os procedimentos delicados da Fisioterapia Dermatofuncional são comandados pelas mesmas mãos, as da docente do Centro de Ciências da Saúde, Cristina Santiago. Graduada em Fisioterapia e mestre em Saúde Coletiva, Cristina tem colorido a vida com as linhas utilizadas em trabalhos manuais.  Leia a entrevista na íntegra e assista ao vídeo aqui.



A banda Inimputáveis traz no vocal um advogado criminalista. Seja ao cantar as letras de bandas como Charlie Brown Jr,  participar do Tribunal de Júri ou lecionar, o professor Armando da Costa Júnior atua com intensidade. “Por causa dos meus dois metros, as pessoas costumam me chamar de Armandão. Além de professor, sou advogado criminalista. São duas profissões que exerço com enorme paixão”, conta. Veja a entrevista inteira aqui.



O arquiteto e urbanista Pedro Boaventura dá aulas há quase três décadas. Também gosta de desenhar, fazer maquetes e objetos, cuidar das plantas e dedilhar no teclado. Pedro ama ser ponte para o aprendizado e possibilitar que os alunos caminhem em direção à descoberta de talentos e à consolidação de saberes. Leia mais aqui.



As palavras e as imagens perpassam o fazer da professora Mariana Fontenele, do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG), dentro e fora da sala de aula. Com os alunos das graduações em Jornalismo e em Publicidade e Propaganda, a literatura e o cinema também são inspirações para o processo ensino-aprendizagem. Os livros também são uma “paixão” quando Mariana está fora da Universidade de Fortaleza.  Leia toda a entrevista e veja o vídeo aqui.



O olhar atento para a Saúde e para a Educação requer que acolhimento e empatia acompanhem a técnica. É dessa forma que ser enfermeira e ser professora são linhas que se cruzam na trajetória da docente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza, Lívia Andrade. Além de atuar na graduação de Enfermagem, na orientação na Liga de Estudos sobre Violências e Acidentes e na coordenação da Pós-graduação (Lato Sensu), ela também gosta de atividades físicas e de viajar. A entrevista completa está disponível aqui.