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Sex, 8 Março 2024 14:35

A Universidade é das mulheres

Em celebração ao Dia Internacional da Mulher, confira o que pensam e como trabalham as colaboradoras da Universidade de Fortaleza, que representam 47% dos funcionários


Presença feminina na pesquisa, saúde, segurança e manutenção da Unifor (Fotos: Ares Soares / Júlia Donato)
Presença feminina na pesquisa, saúde, segurança e manutenção da Unifor (Fotos: Ares Soares / Júlia Donato)

Comemorar as conquistas, lutar pela igualdade, unir forças, ter o direito a ser cuidada: essas e outras impressões foram levantadas por um grupo de colaboradoras da Universidade da Fortaleza, instituição ligada à Fundação Edson Queiroz, sobre a importância da celebração do Dia Internacional da Mulher - lembrado no dia 8 de março. Na Unifor, as mulheres representam 47% dos funcionários, sendo 41% em cargos técnico-administrativos, 57% no corpo docente e 56% em cargos de gestão em nível gerencial, de acordo com dados da Divisão de Recursos Humanos da universidade.

Números assim mostram que a Unifor tem se firmado como espaço de reconhecimento feminino, destacando o trabalho que colaboradoras como Herbênia Gomes (auxiliar de eletricista), Julietty Barreto Moraes (coordenadora do curso de Engenharia Mecânica), Francisca Lidiane dos Santos (vigilante) e Mônica Rios (coordenadora dos Ambulatórios e Serviços de Saúde do Núcleo de Assistência Médica Integrada - NAMI) têm realizado dia a dia da universidade.


Herbênia Gomes (Foto: Júlia Donato)

Trabalho feminino

A auxiliar de Eletricista Herbênia Gomes trabalha na Divisão de Manutenção Elétrica da Unifor como colaboradora desde 2019 e permanece sendo a única mulher da equipe. Entretanto, foi seu bom trabalho, ainda como terceirizada dois anos antes, que garantiu sua contratação a convite do supervisor Roberto Silva. Técnica em eletrotécnica, com superior incompleto (ainda) em Desenvolvimento de Sistemas e cursos em BT/MT (baixa e média tensão), realiza na Unifor serviços de elétrica predial, como troca de lâmpadas, fiação elétrica, troca de tomadas, instalação e troca de ventiladores.  

“A área elétrica, onde trabalho, ainda não é feminina, definitivamente. Gosto do que faço, mas em muitos locais onde trabalhei anos atrás, em canteiro de obras de shoppings, por exemplo, sempre fui a única mulher na equipe operacional. Às vezes, não havia nem banheiro feminino devido a ausência de trabalhadoras. Felizmente hoje muitas construtoras já estão contratando mulheres para serviços considerados masculinos, como carpintaria, e os canteiros contam com outras profissionais, como engenheiras”, avalia Herbênia.

Para ela, o mercado de trabalho já vê que as mulheres são mais detalhistas e têm um zelo maior pela organização dos espaços onde atuam. “Acredito que toda data comemorativa é importante e celebrar a mulher e suas conquistas também o são. Tenho a fama de ‘braba’ entre meus colegas, mas trabalhar com uma maioria masculina é diferente, principalmente se você é uma pessoa mais na sua”, diz. 


Julietty Moraes (Foto: Ares Soares)

Inclusão e desafios

A coordenadora do curso de Engenharia Mecânica da Unifor, Julietty Moraes (34), também tem uma trajetória profissional marcante quando o assunto é a presença feminina em áreas anteriormente masculinas, principalmente quando se tem apoio e incentivo: em 2006, ainda estudante de aprendizagem industrial, foi a primeira mulher no Ceará a obter o 1° lugar na Olimpíada do Conhecimento do SENAI, representando nacionalmente o estado na modalidade de ferramentaria de estampas

Hoje doutoranda em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais/ Conformação mecânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Julietty trabalhou em indústrias locais e nacionais tanto na área mecânica quanto comercial antes de se dedicar 100% à área docente, área que realmente ama. Tornou-se professora da Unifor em 2020. Diante da experiência que também tinha na área de gestão, foi convidada a assumir a assessoria do curso de Engenharia da Produção. Em seguida, veio a oportunidade de processo seletivo para assumir a coordenação da Engenharia Mecânica, onde apenas 10% dos alunos matriculados são mulheres.

“A inclusão e as conquistas de mulheres em áreas tecnológicas está acontecendo, mas ainda não é suficiente. Muito mudou em relação há 20 anos, quando comecei a estudar: as posturas são outras, mas acredito que ainda falta incentivo para que as meninas prossigam em áreas como a Engenharia, a Mecatrônica e tantas outras”, avalia, complementando: “comemorar o Dia Internacional da Mulher é extremamente importante, porque a luta feminina garantiu coisas consideradas básicas hoje, como votar, fazer faculdade, sair dessa realidade de ser só dona de casa e poder ter uma profissão. É preciso ter um marco porque a gente ainda tem muito a conquistar e é preciso ficar cada vez mais unidas a fim de garantir a igualdade de espaços na sociedade”, diz Julietty.


Lidiane dos Santos (Foto: Ares Soares)

Cuidado com as pessoas

Francisca Lidiane dos Santos (44) é vigilante desde 2013, atualmente lotada no curso de Veterinária, e é uma das seis mulheres que atualmente fazem parte da equipe 3 da Divisão de Segurança e Vigilância da Unifor. Como colaboradora, entretanto, ela presta serviços para a universidade desde 2010, quando era auxiliar de serviços gerais. 

“Acreditavam que eu tinha o perfil para a área de Segurança. Quando surgiu a oportunidade de mudar, fiz o curso de Vigilância para poder me capacitar. O incentivo dos meus colegas de farda foi muito importante. Sempre temos cursos de reciclagem a cada dois anos e aprendemos como fazer abordagem, a legislação, como lidar com armamento (apesar de sermos uma segurança desarmada). Felizmente nunca passamos por situações perigosas, graças a Deus. E amo meu trabalho, porque ele envolve o cuidado com as pessoas do campus”, confessa.

Com uma filha de 21 anos (que já foi estudante de Estética na Unifor, com curso a ser retomado), Lidiane considera desafiador trabalhar numa área com poucas mulheres executando o mesmo trabalho. “Principalmente para você se fazer respeitada e mostrar que é capaz. O Dia Internacional da Mulher, pra mim, sempre é uma data especial”, diz Lidiane.


Mônica Rios (Foto: Ares Soares)

Cuidar de si mesma

No próximo dia 16/3, um mutirão de rastreamento do câncer do colo do útero para 30 mulheres do residencial Yolanda Queiroz, próximo da Comunidade do Dendê, vai marcar a comemoração do Dia Internacional da Mulher para a coordenadora dos Ambulatórios e Serviços do Núcleo de Assistência Médica Integrada (NAMI), Mônica Rios. 

A iniciativa será realizada no próprio NAMI, com apoio das coordenações da Enfermagem, da Medicina e da direção do Núcleo, visando prestar um serviço de saúde para mulheres de 20 a 60 anos com vida sexual e que não tenham feito o exame de papanicolau há mais de dois anos, com dificuldades de acesso a serviços básicos de saúde.

“Infelizmente não podemos abrir mais vagas por ser um trabalho voluntário, com duas médicas ginecologistas para fazer a prevenção e colher o material para o laboratório. Aí você me pergunta: o Dia Internacional da Mulher é importante? É um dia necessário. A maneira como ele é abordado pela sociedade é que precisa mudar o foco: a mulher precisa ser respeitada, é um ser humano. Ações como essa permitem que a paciente possa ao menos se cuidar, visto que nem o básico essas mulheres têm, que é o direito de se tratar”, opina a coordenadora. 

Mestre em Tecnologia e Inovação em Enfermagem pela Unifor, Mônica se tornou colaboradora da Unifor a partir de 2012, ainda como responsável técnica pela Enfermagem no NAMI. Hoje coordena uma equipe de 25 funcionários, além de prestar plantões na UTI do Hospital Leonardo da Vinci, cuidar das duas filhas, do cão Zic e do marido.

“A Enfermagem é uma profissão predominantemente feminina, talvez sejamos 80% de mulheres e 20% de homens. Parece clichê, mas o enfermeiro está presente tanto no início quanto no fim da vida do paciente. Gosto da minha profissão, mas acho que ainda não é valorizada do jeito justo, nem mesmo depois de uma pandemia como tivemos há pouco. Tenho esperança de que um dia isso mude, visto que é uma profissão muito importante e, sem ela, tudo para”, avalia.