ter, 5 novembro 2024 10:05
Agora é oficial: egresso da Unifor será o primeiro brasileiro a comandar a Interpol
Valdecy Urquiza, graduado em Direito pela Universidade de Fortaleza, foi chancelado como secretário-geral pelos países-membros na Assembleia Geral da Interpol na manhã desta terça-feira (5), em Glasgow, Escócia
O delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza, egresso do curso de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor), da Fundação Edson Queiroz, foi confirmado secretário-geral da Interpol, durante Assembleia Geral da organização realizada na manhã desta terça-feira, 5 de novembro, em Glasgow, Escócia. A decisão torna o maranhense Urquiza o primeiro cidadão de um país em desenvolvimento a ocupar o cargo mais alto da Interpol, a maior e a mais importante organização de combate ao crime do mundo. Ao longo de seus 101 anos de história, a instituição teve oito secretários-gerais: um austríaco, quatro franceses, um britânico, um alemão e um norte-americano.
Desde o início do ano, Valdecy Urquiza já era considerado potencial candidato ao cargo. Em junho, o nome dele foi indicado pelo comitê executivo da Interpol e agora ele foi escolhido por 145 países-membros da organização para ocupar o cargo, que assumirá no final da próxima semana, quando terminará a Assembleia Geral. O mandato é de cinco anos, podendo ser renovado por mais cinco. Ele irá se mudar com a família para Lyon, na França, onde fica a sede da instituição. Em discurso logo após a sua confirmação, Urquiza elencou as principais metas à frente da Interpol.
Em agosto passado, Valdecy Urquiza, até então diretor de Cooperação Internacional da Polícia Federal e vice-presidente para as Américas do Comitê Executivo da Interpol, concedeu entrevista exclusiva ao jornal Unifor Notícias. Na oportunidade, Urquiza falou sobre os atuais desafios da Interpol no combate a crimes transnacionais e as metas para seu mandato à frente da organização e comentou sobre a importância da Unifor em sua formação acadêmica e profissional.
Confira abaixo alguns depoimentos do novo secretário-geral da Interpol e neste link a íntegra da entrevista.
O papel da Interpol no mundo atual
“(…) hoje a Interpol passa a facilitar a troca de informação não só mais de fugitivos, trata de uma gama de outras ameaças, desde os crimes cibernéticos até o terrorismo e a exploração de comunidades vulneráveis. E isso agregando novos serviços e novas atividades à sua atuação. Passa, cada vez mais, a adotar novas tecnologias em sua atividade. Aquilo que, no início, era um arquivo de papel, evoluiu para comunicações via rádio e depois para uma rede criptografada segura para troca de informações em tempo real”.
Plano de trabalho à frente da Interpol
“Eu tenho pela frente um plano de trabalho que está sendo construído, que vai focar muito no fortalecimento da gestão estratégica da Organização, na adoção de novas tecnologias para o desenvolvimento do trabalho da Interpol e que terá também, evidentemente, como foco fortalecer o apoio aos próprios países em desenvolvimento. Queremos que todas as polícias do mundo alcancem um patamar através do qual elas estejam capacitadas tecnicamente para combater essas ameaças de forma autônoma, sempre com o apoio da Interpol quando necessário, mas que elas possam realmente ter os instrumentos necessários para o combate à criminalidade”.
Reconhecimento ao trabalho da Polícia Federal
“Ter sido indicado pelo Comitê Executivo para essa função muito me alegra e me traz também a felicidade de ver o reconhecimento à Polícia Federal do Brasil, o reconhecimento ao Estado brasileiro como um país que tem profissionais com as habilidades necessárias para assumir um desafio como esse. Acredito que o trabalho que a Polícia Federal tem desenvolvido na área de cooperação internacional nos últimos anos tem sido também uma referência mundial e, por isso, acredito que é um reconhecimento não só a mim, o indivíduo, mas à instituição a qual pertenço por essa trajetória da cooperação internacional”.
Sobre a importância da Unifor na formação profissional
“[De 1999 a 2003], eu cursei o bacharelado em Direito na Unifor, uma universidade que acredito que agregou muito para mim em termos de conhecimentos acadêmicos, da minha formação acadêmica. Um período também de formação de laços muito fortes com os profissionais que ali trabalham, com os alunos da instituição, com toda a comunidade acadêmica.
[...] Tomei a decisão à época de seguir a jornada acadêmica na Universidade de Fortaleza, porque eu reconheci ali como um centro de excelência na formação acadêmica, um centro de referência no curso da trajetória que eu resolvi trilhar e só posso dizer que tenho ainda um sentimento de muita gratidão e alegria pela Universidade, pelos colegas que conheci aí e que guardo até hoje e por toda a comunidade de profissionais, de servidores e de professores da Unifor”.
Sobre a relevância do estudo universitário
“Acredito que o estudo acadêmico é a base para tudo, independente da profissão que se resolva abraçar. O estudo acadêmico é o início da jornada. No tempo que estive na Universidade, tive a oportunidade de participar muito de atividades de pesquisa, também proporcionadas pela Unifor. Acredito que isso agregou muito também na minha experiência acadêmica. E acho que a sugestão que posso dar é isso: que aproveitem o momento acadêmico para se aprofundar nos temas, para ouvir daqueles que têm um pouco mais de experiência e, a partir daí, construir a sua trajetória profissional”.
ÍNTEGRA DO DISCURSO DE VALDECY URQUIZA
Íntegra do discurso de Valdecy Urquiza, após a sua confirmação à frente da Secretaria-geral da Interpol
Excelências,
Senhor Presidente, Senhor Secretário-Geral, distintos membros do Comitê Executivo, Honoráveis Ministros, Chefes de Polícia, Chefes dos NCBs, meus estimados colegas,
Antes de começarmos, quero agradecer aos nossos anfitriões, o Reino Unido, por nos receberem com tanta cordialidade e generosidade. Este belo local e a hospitalidade estendida a cada um de nós refletem não apenas sua gentileza, mas também seu firme compromisso com a missão e os valores da INTERPOL.
Também quero aproveitar este momento para reconhecer e expressar minha gratidão ao Secretário-Geral Jürgen Stock. Sob sua liderança, a INTERPOL enfrentou e superou alguns dos desafios mais complexos da história recente. A dedicação, visão e integridade do Secretário-Geral Stock fortaleceram a organização, deixando um legado duradouro que nos guiará adiante.
Senhoras e Senhores,
Estou profundamente honrado em estar diante de vocês hoje. Ao olhar para esta reunião, sou lembrado do papel vital que a INTERPOL desempenha em nosso mundo.
Nosso trabalho compartilhado, nossa unidade de propósito—isso importa. As ameaças que enfrentamos não estão contidas dentro de fronteiras; elas se estendem por continentes e evoluem constantemente. O crime transnacional tornou-se mais sofisticado, mais complexo, mais evasivo. E, em resposta, a INTERPOL também precisa se adaptar, tornando-se mais ágil, mais inovadora, mais inclusiva.
Enquanto nos reunimos aqui hoje, refletimos sobre os sucessos que nos enchem de orgulho. Mas também sabemos que a jornada está longe de terminar. O caminho à frente é desafiador, e exigirá nossa dedicação, resiliência e compromisso com uma missão que nos une a todos: um mundo mais seguro e mais pacífico. Honramos nossas conquistas passadas construindo uma organização que está pronta para enfrentar os desafios de amanhã.
Ao refletir sobre meus anos de serviço na Polícia Federal Brasileira e meu compromisso de uma década com a INTERPOL, estou cheio de um profundo senso de propósito e uma visão clara para o futuro desta organização vital. Servir ao lado de alguns dos profissionais de aplicação da lei mais dedicados do mundo no Secretariado Geral e no Comitê Executivo tem sido uma experiência humilde e reforçou meu compromisso com os valores que a INTERPOL representa.
Com esse senso de dever e propósito, estou diante de vocês com uma visão para a INTERPOL—uma que seja diversa, transparente, neutra e pronta para o futuro. Se tiver a honra de servir como próximo Secretário-Geral da INTERPOL, estou comprometido com uma visão que aumente nossa eficácia, impulsione a inovação e construa capacidade em nossos Países Membros.
Essa visão se baseia em três pilares.
Primeiro, no mundo de hoje, a tecnologia não é um luxo—é uma necessidade. Para acompanhar as ameaças que enfrentamos, a INTERPOL deve ser proativa, integrando novas tecnologias que avancem nossa missão. Inteligência artificial, big data, análises preditivas—essas ferramentas não são apenas palavras da moda; são essenciais para tornar nosso trabalho mais eficaz. Precisamos fornecer às forças policiais em todo o mundo os recursos, as estruturas e o suporte para gerenciar e analisar dados, compartilhar informações rapidamente e se manter à frente das tendências criminosas.
Segundo, para ser eficaz, a aplicação da lei precisa ser inclusiva. A INTERPOL tem a obrigação de representar todas as vozes, de todos os cantos do mundo. Devemos promover a diversidade, empoderar vozes sub-representadas e trazer todos os Países Membros para a mesa.
Uma INTERPOL forte é aquela que inclui todos. Quando respeitamos e elevamos perspectivas diversas, obtemos uma abordagem mais clara e abrangente para a segurança global. E juntos, estaremos melhor preparados para enfrentar os desafios de hoje de frente.
Terceiro, para que a INTERPOL prospere, ela deve se manter nos mais altos padrões de integridade e responsabilidade. A transparência constrói confiança, e a confiança constrói força. Precisamos de sistemas robustos para garantir que os canais da INTERPOL nunca sejam mal utilizados, que nossas ações reflitam nossos valores e que protegemos nossos dados com vigilância. Ao reforçar nosso compromisso com a transparência e a segurança dos dados, salvaguardamos a integridade e a credibilidade da INTERPOL. Somos responsáveis perante nossos Países Membros e nossas comunidades, e devemos agir de maneiras que reflitam essa responsabilidade.
Finalmente, ao abraçarmos essa missão, também devemos pausar para reconhecer e renovar nosso compromisso com aqueles que a sustentam—os homens e mulheres da INTERPOL, que dão tudo de si para proteger nossas comunidades e salvaguardar nossos valores. Esses indivíduos não trabalham apenas para a INTERPOL; eles são a INTERPOL. Sua dedicação, seu sacrifício, sua coragem são os pilares sobre os quais nosso sucesso se sustenta. É por isso que estou determinado a expandir nosso investimento em treinamento, suporte e desenvolvimento. Seu sacrifício, seu serviço e sua segurança serão valorizados em cada passo do caminho.
Senhoras e Senhores, Caros colegas,
O caminho à frente é desafiador, mas também está cheio de um tremendo potencial. Enquanto olhamos para o futuro e a tarefa de nomear nosso próximo Secretário-Geral, estou diante de vocês pronto para servir, pronto para liderar e pronto para construir uma INTERPOL mais forte.
Se eu tiver a honra de contar com sua confiança para liderar esta organização, serei um Secretário-Geral para todos—africanos, americanos, árabes, asiáticos e europeus. Para cada um de nossos países membros. Porque, no final das contas, estamos nisso juntos, unidos como um só, e é através de nossa unidade que encontramos nossa força.
Meu compromisso é moldar uma INTERPOL que não apenas atenda às demandas de hoje, mas que antecipe e se prepare para os desafios de amanhã.
Juntos, podemos construir uma INTERPOL que sirva como um farol de esperança e segurança, ombro a ombro com cada força policial, em cada país, para criar um mundo mais seguro para todos.
Obrigado, merci, gracias, shukram.