seg, 15 janeiro 2024 15:38
Como o estudo transforma a vida?
Da mudança social por meio da empregabilidade e da trabalhabilidade à ampliação da consciência, a educação e os estudos são ferramentas de transformação pessoal e coletiva
A cantora e influencer Jojo Maronttinni decidiu voltar a estudar. Mesmo com uma situação financeira confortável e o reconhecimento público que lhe rende mais de 28 milhões de seguidores no Instagram, ela ingressou no curso superior de direito. Quer se posicionar com embasamento e responsabilidade na internet, mas, principalmente, sabe que a educação pode ser transformadora em muitos sentidos. “Estude, porque com o estudo você chega a qualquer lugar que você quiser”, encorajou, ao participar de um programa de TV há alguns meses.
A educação é uma estrada capaz de conduzir a muitos lugares. Pode te levar, por exemplo, a uma mudança social por meio da trabalhabilidade. Buscar conhecimento é uma forma de crescer individualmente e coletivamente. Também é um caminho para ampliar a consciência e desenvolver novas habilidades cruciais tanto no aspecto profissional quanto pessoal. É ainda instrumento para perceber seu lugar no mundo. Por isso, as salas de aula agora se aproximam cada vez mais da realidade e contribuem para o desenvolvimento pessoal, social e humano.
“As pesquisas e o desenvolvimento humano não cessam, não chegam ao seu final como um estatuto pronto e acabado”, destaca Xênia Diógenes Benfatti, assessora de Gestão Docente da Vice-Reitoria de Ensino de Graduação e Pós-Graduação (VRE) da Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz.
Ela afirma que as formas como nós lidamos com o conhecimento têm mudado. “Portanto, não há como pensar no desenvolvimento social e humano senão pela educação, por caminhos que nos aproximam da escola, da universidade ou qualquer outro centro de formação”, complementa.
Os dados do mais recente Censo da Educação Superior, com informações de 2022 e divulgado em outubro do ano passado, dão pistas sobre o interesse do país que busca ampliar o conhecimento e mudar realidades. O número de matrículas em cursos de graduação se aproxima de 10 milhões, sendo o maior aumento desde 2015. Com mais de 7,3 milhões de alunos, a rede privada continua crescendo.
Milhões de estudantes buscam a educação como uma ferramenta de mudança, (Ilustração: Getty Images)
Também chama atenção a busca crescente pela modalidade de ensino à distância. Nos últimos quatro anos, o número de cursos EaD no Brasil cresceu 189,1%, passando de 3.177 em 2018 para 9.186 em 2022. Das quase 23 milhões de vagas ofertadas em 2022 no Ensino Superior, 17 milhões foram para cursos remotos. Além disso, no Brasil, a população de 18 a 29 anos estuda em média 11,1 anos.
Mas, afinal, por que estudar? Estudantes e egressos da Unifor contam, a seguir, como o conhecimento tem transformado suas vidas e refletem sobre a importância de seguir na jornada acadêmica não só em razão do crescimento profissional, mas também pessoal.
Estudar para sonhar grande
Foi por meio do acesso à educação que Arina Lopes descobriu que podia sonhar grande. Ela cresceu na comunidade do Dendê vendo as pessoas trabalharem duro quando conseguiu uma vaga na Escola de Aplicação Yolanda Queiroz.
Lá, teve acesso a uma educação de qualidade, depois continuada por meio de uma bolsa em uma escola particular da cidade. Agora, ela está no 9º semestre do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Unifor, também graças a uma bolsa do programa mantido pela Fundação Edson Queiroz (FEQ).
“Todas as oportunidades me foram dadas por meio dos estudos. Hoje em dia, eu trabalho na minha área, não ainda como analista ambiental ou engenheira, mas faço estágio na área de Gestão Ambiental da [empresa] Guanabara. Por meio desse estágio, consigo me sustentar”, conta.
Arina diz que o estudo lhe abriu portas para coisas que nunca tinha imaginado. “Como uma pessoa que cresce vendo as outras ao seu redor trabalharem com serviços mais gerais, eu cresci e vi que não queria permanecer nisso. Quero dar aula, ensinar e aprender mais”, reflete. A graduação, para ela, é só o início desta jornada pelo conhecimento.
“Estudo porque sei que isso vai me engrandecer como pessoa. Vai me permitir abrir meus olhos para novas perspectivas, novas ideias, novos pensamentos, ser mais criativa. O conhecimento realmente transforma e abre a mente, e eu quero continuar estudando e aprendendo.” — Arina Lopes, aluna do curso de Engenharia Ambiental
A estudante diz que a Unifor foi imprescindível na sua trajetória pelo conhecimento, já que foi graças à Universidade que ela conseguiu meios para acessar uma educação de qualidade desde o ensino básico. “Isso mudou completamente a minha vida”, resume Arina.
Conhecimento para contribuir com a sociedade
Hilda Freires acaba de concluir o curso de Psicologia na Unifor. Desde pequena, ela sempre gostou de estudar. Este era um tema valioso na família, que priorizou oferecer a ela a chance de ter um ensino de qualidade da educação básica à universidade.
O exemplo estava dentro de casa: sua mãe fez supletivo quando estava grávida dela. Anos depois, ingressou na universidade e hoje segue na pós-graduação. Graças à educação, a mãe de Hilda trocou o emprego de costureira pelo de gerente de produto dentro de uma empresa.
“Estudo porque entendo que nunca vamos aprender tudo que tem no mundo, mas sei que o conhecimento só tem a agregar. Quanto mais conhecimento eu tiver, mais vou poder contribuir dentro de uma empresa, dentro da minha família, dentro dos meus relacionamentos”, reflete a psicóloga.
Ela conta que escolheu a Unifor para seguir sua trilha do conhecimento por conta da matriz curricular e das oportunidades que vislumbrava na Universidade de Fortaleza. Da sala de aula aos projetos de extensão, ela foi desenvolvendo habilidades na vida pessoal para além do conhecimento técnico.
“Por exemplo, fui da empresa júnior e isso me ajudou muito, na conversa com o cliente, a entender mais sobre o negócio, classificação, enfim”, afirma. Também atuou ajudando pessoas a se recolocarem ou se inserirem no mercado de trabalho. “Ali eu pude ver o quanto a educação e aqueles cursos também mudavam positivamente a vida daquelas pessoas”, diz.
“O conhecimento que a gente adquire é a base para que a gente se forme enquanto pessoa. Ele que vai nos ajudar, inclusive, a chegar onde a gente quer chegar. [...] A Unifor me proporcionou experiências que me mostraram o que eu quero para minha vida profissional. Se eu não tivesse tido a oportunidade de experimentar várias áreas da psicologia, não saberia o que é que eu queria e não estaria segura como estou hoje, tomando as decisões.” — Hilda Freires, egressa do curso de Psicologia
A educação transforma para além dos lugares institucionalizados
Foi por meio da educação que Lucas Ranyere foi compreendendo seu lugar no mundo. Aluno do 8º semestre do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, ele conta que percebeu seu desejo de ser educador enquanto pesquisava para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), um podcast sobre racialização e escolas de cinema.
Jovem negro de classe média, ele recorda que não tinha exatamente uma relação muito positiva com os estudos durante a escola. Não se sentia acolhido. “As minhas memórias na escola não eram boas”, admite. Observar a baixa presença de pessoas negras ao longo da trajetória educacional o inquietava. Quando começou a estagiar no Espaço Cultural Unifor, a educação e as reflexões sobre racialização se uniram.
Parafraseando Gilberto Gil ao defender que a cultura precisa ser algo ordinário e estar no dia a dia, Lucas repete o pensamento sobre a transmissão de conhecimento. “Não podemos ver a educação simplesmente como o ambiente da escola ou da academia. Educação se faz em diversos contextos”, defende.
Grato pelos bons laços com professores da Universidade de Fortaleza e pelo aprendizado da sala de aula, ele destaca que tem aprendido muito em outros encontros, da cultura e do cinema. Decidiu então ser cineasta e educador, fascinado pela possibilidade de transmitir e trocar saberes com pessoas de diversos contextos pela experiência no Espaço Cultural. “É realmente uma sensação muito incrível ter a possibilidade de transmitir algum tipo de conhecimento, de transformar de alguma forma e acender algum desejo nessas pessoas”, explica.
“O estudo me trouxe uma questão de entendimento do meu lugar no mundo. Lembro daquela criança da escola que falava baixo, era tímida. Muitas vezes, alunos negros e racializados se sentem constrangidos de falar em sala de aula. [...] Quando chego na Unifor e no Espaço Cultural, eu me empodero. A educação me trouxe essa segurança.” — Lucas Ranyere, aluno do curso de Cinema e Audiovisual
O estudo muda realidades e traz confiança
Egresso do curso de Direito da Unifor, Pedro Queiroz diz que o estudo mudou sua realidade, melhorou seu vocabulário e até sua autoestima. “Hoje me sinto capaz de exercer minha profissão com autoridade. Me formei neste semestre, mas tive o prazer de passar na prova da OAB um ano antes de me formar”, celebra. Ele conta que foram as interações durante sua jornada em busca por conhecimento que trouxeram a confiança para se comunicar com todos os tipos de pessoas.
“Tenho muita gratidão pela Unifor. Vim no ano de 2020 transferido de outra instituição. Aumentou a responsabilidade e cobrança, ideal para quem deseja ter um boa formação, com os melhores professores do mercado.” — Pedro Queiroz, egresso do curso de Direito
Luís Guilherme Vidal concluiu a mesma graduação também neste ano. Para ele, o estudo abre um leque de oportunidades profissionais dentre as quais resultam em satisfação pessoal e profissional. “A minha maior motivação pelo estudo consiste no aprimoramento de conhecimentos técnicos e práticos ligados à minha profissão”, conta.
Ele lembra que a Unifor proporciona muitas formas de aprendizado, citando projetos de extensão que trazem impactos positivos na sociedade como um todo. Exemplos disso são os projetos voltados à assistência de idosos e assistência nos presídios femininos.
“A Universidade de Fortaleza, por meio do corpo docente, incentiva de forma integral a busca pelo aprofundamento no estudo de seus alunos, de modo a proporcionar um corpo de professores qualificados, estrutura física de excelência e sistema de apoio ao aluno.” — Luís Guilherme Vidal, egresso do curso de Direito
Conhecimento em constante transformação
“O conhecimento não é um legado posto e acabado. Ao contrário, o conhecimento está em transformação”, destaca a Assessora de Gestão Docente da VRE, Xênia Diógenes. Ela diz que acompanhar essas mudanças passa por buscar fontes, referências e espaços de aprendizagem que nos possibilitam enxergar possibilidades e lidar com a realidade de uma forma produtiva e promissora.
“A formação do aluno neste contexto de grandes mudanças, mudanças necessárias, é uma formação que, na minha visão, passa por levá-los a olhar para a realidade e tentarem perceber que aspectos dessa realidade podem ser transformados, podem ser mudados para o desenvolvimento humano e ambiental”, considera.
Para ela, a universidade precisa considerar que a realidade é muito diversa, múltipla e volátil e dar ao aluno uma visão crítica sobre a existência, de forma que ele possa buscar estratégias para enfrentar os problemas que hoje são os nossos grandes desafios locais e globais.
Nesta perspectiva, Xênia diz que a sala de aula hoje funciona como um radar das questões, dos dilemas e dos desafios sociais. “Para refletirmos criticamente sobre o que está acontecendo, sobre o nosso papel frente a essa realidade e sobre as possibilidades que dentro e fora da universidade nós vamos ter que encontrar para viver melhor, para que de fato esse desenvolvimento seja um desenvolvimento não só para uma minoria, mas que seja um conhecimento e uma produção mais democrática”, defende.
O conhecimento transforma pessoas, que podem transformar a realidade (Foto: Getty Images)
E qual o peso da educação e da constante busca por conhecimento para alcançar êxito na carreira profissional e no mercado de trabalho? A professora costuma dizer que há muitas formas de compreender a educação. Segundo ela, do ponto de vista lato sensu, é um fenômeno social.
“Então estou aqui nas redes sociais, e esse espaço pode ser um espaço educacional. Estou em um banco de praça, essa estrutura ou o diálogo que eu mantenho com esse lugar e com as pessoas também pode ser um momento que reflete, que nos traz a educação", explica.
Do ponto de vista mais stricto sensu, nós temos a educação formal encontrada nas escolas, dentro da universidade, como um espaço que ele foi preparado, tecido nessa estrutura da aprendizagem.
“Sob esse ponto de vista, o que hoje a universidade tem que pensar em termos de mercado de trabalho, de formação, é levar talvez o nosso aluno a olhar mais para fora da universidade do que propriamente para aquilo que ele tem que fazer ou desenvolver para ser aprovado”, defende. Xênia diz que a aprovação acontece de fato na forma como nós estamos lidando com a realidade e transformando as coisas e a sociedade.
“É impossível hoje pensarmos na formação dos nossos alunos, no trabalho dos nossos professores, se nós não nos convencermos que o conhecimento precisa de atualizações. Ele precisa sempre ser olhado como algo que se transforma à medida que as coisas, as pessoas e o planeta também se transformam. [...] Então, pensar nessa formação contínua é uma realidade.” — Xênia Diógenes, assessora de Gestão Docente da VRE