qua, 29 maio 2019 16:16
Curso de Contabilidade é só número?
Fatores como proatividade, liderança e bom relacionamento também despontam como essenciais para quem se forma na área
O bom relacionamento com números não é o único fator que faz de um bacharel em Ciências Contábeis um profissional de destaque. Um contador de renome precisa estar alinhado a uma série de conhecimentos que dialogam com áreas como Direito, Economia e Administração, por exemplo. Habilidades de liderança e comunicação também são bem-vindas e colaboram com a distinção que esses profissionais tanto buscam.
Quem nos ajuda a entender mais sobre o universo das Ciências Contábeis é o coordenador do curso na Unifor, professor Welington Lima. Confira a entrevista que ele concedeu sobre as características da graduação e o mercado de trabalho na área.
Entrevista
UNIFOR: Quem se forma em Ciências Contábeis é “contador” ou “contabilista”?
WELLINGTON LIMA: Quem se forma em Ciências Contábeis é “Bacharel em Ciências Contábeis”. Depois que o estudante se registra no Conselho Regional de Contabilidade, ele passa a ser “contador”. A nomenclatura “contabilista” diz respeito à atividade desenvolvida, à contabilidade executada em empresas e órgãos públicos. Ele passa a ser contabilista como uma característica da profissão.
UNIFOR: Durante a graduação há muitas disciplinas de cálculo?
WELLINGTON LIMA: É claro que o contador vai precisar entender de matemática, mas é algo muito mais voltado ao raciocínio lógico, um entendimento de como funciona o registro das operações de uma empresa. Durante o curso, não há uma grande exigência de cálculos matemáticos extremamente relevantes. Há disciplinas de matemática tradicional e estatística (que ajudarão a fazer cálculos prospectivos), que vão fomentar decisões contábeis da empresa onde o contador atuará. Você terá que analisar dados para gerar informações.
UNIFOR: Então, se eu não gosto de matemática, devo fazer o curso mesmo assim?
WELLINGTON LIMA: Não se preocupe com essa conotação. O viés do curso não é a matemática, que apenas serve de apoio, suporte. Você vai lidar com operações básicas, cálculos estatísticos.
UNIFOR: Qual é a diferença entre a graduação em Ciências Contábeis e o curso técnico na área?
WELLINGTON LIMA: Não existe mais curso técnico. Era algo que desvalorizava a profissão, pois não se exigia nível superior para o exercício da contabilidade. É uma questão superada. Hoje, você precisa de uma graduação para ter a possibilidade do exercício da profissão, que passa por exame de suficiência, tal qual como acontece no Direito. Ao se graduar, o bacharel passa por uma creditação, uma validação do seu estudo aplicada semestralmente pelo Conselho Federal de Contabilidade, órgão regulador que exige uma qualificação técnica muito importante.
UNIFOR: O aprendizado em Ciências Contábeis envolve quais áreas do saber?
WELLINGTON LIMA: A graduação é muito abrangente, envolve interface com outros cursos, como Direito, cujas sub-áreas serão estudadas, como Direito do Trabalho, Tributário, Constitucional, Empresarial e Administrativo. O curso também tem um link forte com a Economia e áreas como Auditoria e Perícia. O viés da gestão, comum na Administração, também é trabalhado no curso de Ciências Contábeis. É uma formação holística, de sinergia forte com outras ciências. Isso é necessário, pois a contabilidade está presente no dia a dia das pessoas, quando calculam gastos, gerenciam investimentos, como movimentam conta bancária. Você só investe em algo se isso trará retorno. Empresas e pessoas físicas trabalham diariamente com contabilidade.
UNIFOR: Quais são as áreas de atuação de quem se forma em Ciências Contábeis?
WELLINGTON LIMA: Caso você queira empreender, ao concluir o curso, é possível se unir a um colega e abrir uma empresa de consultoria em contabilidade. Vocês vão gerar informações contábeis, fiscais e tributárias que contribuem para a tomada de decisão de clientes e empresas de pequeno e grande porte, agregando valor às decisões finais. Caso não queira empreender, é possível atuar como profissional de contabilidade em diversas empresas e instituições financeiras, como bancos. Também é possível atuar como auditor de empresas, para entender, por meio dos números, inconsistências e propor diagnósticos para que essas instituições tenham melhores resultados. É possível atuar, em uma empresa, em áreas de Controladoria, Finanças, Logística. O leque é muito aberto.
UNIFOR: O cargo ocupado pelo bacharel em Ciências Contábeis é de muita responsabilidade?
WELLINGTON LIMA: Sem dúvida. O contador tem que ter um perfil de liderança, de empreendedorismo, bem como proatividade e habilidades para a resolução de problemas. Esse profissional vai sempre ocupar posições estratégicas, de geração de informações para contribuir com tomadas de decisões. Ele interpreta números, e números são formas de detalhar como a empresa está se comportando em diversos segmentos. Como está a carga tributária, como estão os custos de produção, os investimentos, o retorno dos ativos? Está acontecendo dentro da expectativa de investidores e acionistas? Dos stakeholders da companhia? O profissional tem que estar ligado às inovações da tecnologia para gerar essas informações. Sem resistência às mudanças e convergências de mercado.
UNIFOR: Como está o mercado na atualidade?
WELLINGTON LIMA: Está necessitando de pessoas com essas habilidades, esse conhecimento, essa capacidade de agregar valor aos resultados. O mercado seleciona, busca profissionais que tenham excelência, formação sólida e confiável. Talentos que tenham condições de gerar resultados. Um fator positivo em relação a isso é que a linguagem contábil é convergente, internacional. Segue os mesmos princípios de países europeus e norte-americanos, por exemplo.
UNIFOR: Os salários são bons?
WELLINGTON LIMA: Os salários são bons, você consegue ter alta empregabilidade, você consegue saber exatamente onde atuar. Um balanço patrimonial, uma auditoria, uma perícia, são atividades que têm a prerrogativa da profissão contábil.
UNIFOR: O contador lida apenas com números. Mito ou verdade?
WELLINGTON LIMA: Mito! Lida também com comportamento de pessoas, atitudes e habilidades. Além de interpretar saldos e demais aspectos financeiros de uma empresa, ele lida com aspectos comportamentais. Não pode ser resistente às mudanças, deve estar alinhado às tecnologias e manter comportamentos de empreendedorismo, inovação e liderança. O trabalho em equipe exige comunicação eficiente, pois a transmissão precisa ser clara e transparente.