Entrevista Nota 10: Isadora Osterno e a pesquisa econômica como ferramenta de desenvolvimento do Nordeste
seg, 28 outubro 2024 12:41
Entrevista Nota 10: Isadora Osterno e a pesquisa econômica como ferramenta de desenvolvimento do Nordeste
Economista fala sobre o panorama socioeconômico do Nordeste e a função dos estudos no desenvolvimento regional, além de comentar sua experiência como pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE)
A economia do Nordeste faz parte de uma longa e notável trajetória no desenvolvimento do Brasil, contando hoje com o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) da nação. No entanto, quando se analisa o PIB per capita, a região apresenta o menor nível do país, de acordo com dados do IBGE.
Tais particularidades regionais exigem atenção especial para serem compreendidas e investigadas, o que possibilita aos governos criar soluções de crescimento. O acesso a esse conhecimento especializado, que fornece subsídios para o surgimento de políticas públicas e privadas que promovam o desenvolvimento econômico, é possível por meio da pesquisa.
Foi com esse intuito que o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) criou, em 2023, o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste. A iniciativa tem como missão promover estudos, pesquisas, assessorias técnicas, palestras e seminários focados no âmbito socioeconômico da região.
“Ao focar nas especificidades regionais, o Centro busca identificar gargalos e potencialidades que muitas vezes passam despercebidos em análises macroeconômicas nacionais. A criação desse braço voltado para o Nordeste é essencial porque a região tem características únicas que exigem estratégias personalizadas, tanto em termos de políticas de investimento quanto de combate às desigualdades”, explica Isadora Osterno, pesquisadora do FGV/Ibre.
A economista faz parte do corpo técnico do Centro, tendo sido convidada por suas pesquisas em economia regional e experiências em análise da conjuntura econômica para o Governo do Estado do Ceará. Já ocupou cargos na Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag-CE) e hoje também atua como conselheira suplente do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE).
Doutora e mestra em Economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Isadora ficou em 1º lugar no Prêmio Corecon-CE de Monografias com seu Trabalho de Conclusão de Curso do bacharelado em Economia — o qual concluiu com distinção Magna Cum Laude pela UFC. Atualmente, ela é professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Fortaleza.
Na Entrevista Nota 10 desta semana, a economista fala sobre o panorama socioeconômico do Nordeste e a função dos estudos no desenvolvimento regional, além de comentar sua experiência como pesquisadora do FGV/Ibre.
Confira na íntegra a seguir.
Entrevista Nota 10 — O Boletim Macro Regional - Nordeste do Ibre, divulgado em setembro, mostra que o Índice de Atividade Econômica Regional do Nordeste cresceu 3,1% no primeiro semestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse crescimento é destaque mesmo com a queda da indústria e a nossa taxa de desemprego sendo maior que a média nacional hoje? Quais desafios precisamos enfrentar e que pontos fortes podemos reforçar para melhorar esse panorama?
Isadora Osterno — O crescimento de 3,1% no primeiro semestre de 2024 é um ponto relevante, mas devemos observar com cuidado as dinâmicas que estão por trás desse resultado. A indústria do Nordeste, por exemplo, tem enfrentado uma queda em sua produção física desde a pandemia, mas o que chama mais atenção é a redução do valor agregado da indústria na participação do Produto Interno Bruto (PIB) da região ao longo dos anos. Esse é um ponto crítico que precisa ser abordado. Além disso, a taxa de desemprego maior no Nordeste em relação à média nacional é uma questão histórica, muito associada à alta informalidade e ao baixo capital humano na região.
Para melhorar esse cenário, acredito que a saída mais sustentável é um investimento massivo em educação de qualidade, aliado a uma estratégia robusta de desenvolvimento regional. Isso criaria um ambiente mais favorável aos grandes investimentos, incentivando o crescimento econômico e o desenvolvimento de longo prazo. Focar em educação e em um ambiente econômico favorável e inovador é o que pode transformar a estrutura produtiva da região, gerando mais valor agregado e oportunidades de emprego formal, aumentando a renda da população e gerando bem-estar.
Entrevista Nota 10 — Em 2023, o FGV/Ibre inaugurou o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste. Qual a função e as ações do Centro para estimular e apoiar nosso desenvolvimento regional? Por que criar um braço com atuação e foco no Nordeste?
Isadora Osterno — O Centro foi criado com o objetivo de gerar conhecimento especializado sobre a realidade econômica da região Nordeste para fornecer subsídios para políticas públicas e privadas que promovam o desenvolvimento econômico do Nordeste. Ao focar nas especificidades regionais, o Centro busca identificar gargalos e potencialidades que muitas vezes passam despercebidos em análises macroeconômicas nacionais. A criação desse braço voltado para o Nordeste é essencial porque a região tem características únicas que exigem estratégias personalizadas, tanto em termos de políticas de investimento quanto de combate às desigualdades.
Entrevista Nota 10 — Neste ano, você passou a integrar o corpo técnico do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste. Como surgiu esse convite e o que ele significa para você, tanto pessoal quanto profissionalmente? Poderia contar como é a experiência de ser pesquisadora do Ibre?
Isadora Osterno — O convite para integrar o corpo técnico do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste surgiu a partir das minhas pesquisas em economia regional e das experiências profissionais que tive analisando a conjuntura econômica, principalmente pela minha atuação de quase seis anos no Governo do Estado. Como nordestina, é uma grande honra poder contribuir diretamente para o desenvolvimento da minha região, utilizando o meu conhecimento e as ferramentas que adquiri ao longo da minha trajetória.
Pessoal e profissionalmente, ser parte de uma instituição como o FGV Ibre, que tem uma longa tradição na construção de políticas econômicas nacionais, é extremamente gratificante. Além disso, poder representar o Nordeste em um espaço tão influente na conjuntura nacional é uma oportunidade de dar visibilidade às necessidades e ao potencial da nossa região, reforçando a importância de estratégias econômicas que atendam às nossas especificidades.
Entrevista Nota 10 — Há alguns meses, você esteve com o economista Mauro Benevides Filho, ex-secretário da Fazenda do Ceará, e o professor Flávio Ataliba numa ocasião onde apresentaram um estudo para Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Sobre o que trata essa pesquisa? Poderia contar como foi a apresentação e qual a importância desse momento?
Isadora Osterno — Esse dia que fui ao Banco Central foi marcante na minha vida, realmente eu não esperava o convite e nem que meu trabalho fosse chegar tão longe! Basicamente, o estudo apresentado ao Presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi parte da minha tese de doutorado, na qual, em um dos capítulos, eu repliquei o SAMBA, um modelo econométrico que é usado pelo próprio BC como subsídio para a determinação da taxa básica de juros no Brasil. A apresentação teve como objetivo discutir os resultados da aplicação desse modelo e alguns pontos técnicos de sua construção. Foi uma oportunidade única para debater diretamente com o presidente do Banco Central sobre a minha tese e um falar de tema tão importante que é política monetária.
Entrevista Nota 10 — Qual o papel do economista hoje na sociedade? Como uma formação dinâmica, moderna e contínua influencia na carreira e na atuação desse profissional?
Isadora Osterno — O economista tem um papel fundamental na sociedade de hoje, não só na análise de cenários econômicos, mas também na proposição de soluções para os desafios do desenvolvimento econômico, do combate às desigualdades e da eficiência na alocação de recursos. Uma formação dinâmica, moderna e contínua é essencial para que o economista possa se adaptar às constantes mudanças do cenário global, podendo usar de maneira inteligente as novas ferramentas tecnológicas e dados de forma eficiente. O aprendizado contínuo, ao meu ver, é o que permite ao economista ser um agente de transformação, em qualquer esfera de atuação.
Entrevista Nota 10 — O curso de Ciências Econômicas da Unifor, onde você é docente, já conta com meio século de tradição inovadora na formação de novos economistas. Por que escolher a Unifor para estudar economia? Qual diferencial o curso oferece para auxiliar os egressos a se destacarem no mercado de trabalho?
Isadora Osterno — A Unifor tem uma trajetória sólida e inovadora na formação de economistas, com um corpo docente altamente qualificado, do qual tenho muito orgulho de fazer parte, e uma estrutura incrível que promove a integração entre teoria e prática. O grande diferencial é o foco na aplicação prática dos conhecimentos, aliado ao incentivo à pesquisa e à análise crítica das realidades econômicas. Além disso, o curso de Ciências Econômicas oferece uma ampla gama de oportunidades, como parcerias com o mercado, programas de intercâmbio e estágios que preparam os alunos para um mercado de trabalho cada vez mais exigente. Estudar na Unifor significa estar preparado para atuar em diferentes áreas da economia com uma base sólida e vivências práticas.