Entrevista Nota 10: Karisia Mota e a expansão do mercado de trabalho em design de interiores

seg, 21 outubro 2024 12:00

Entrevista Nota 10: Karisia Mota e a expansão do mercado de trabalho em design de interiores

Diretora da Associação Brasileira de Design de Interiores - Regional Ceará fala sobre o perfil do profissional de interiores, o mercado de trabalho no estado e a importância da graduação recém lançada pela Unifor para a evolução da área


Karisia é designer de interiores e proprietária do Studio Villa, tendo participado de mostras de design com suas criações (Foto: LC Moreira)
Karisia é designer de interiores e proprietária do Studio Villa, tendo participado de mostras de design com suas criações (Foto: LC Moreira)

Se você procura um ambiente funcional, bonito, cheio de personalidade e acolhedor, o designer de interiores é o profissional certo para transformar seu sonho em realidade. Responsáveis por uma experiência imersiva de conexão com os espaços, esses especialistas têm encontrado um campo de atuação cada vez mais vasto e aquecido.

Para se ter uma ideia, só em 2024, o mercado mundial de serviços em design de interiores foi estimado em US$ 137,93 bilhões, com previsão de crescimento para US$ 177,13 bilhões até 2029, de acordo com a Mordor Intelligence. O setor de casa e decoração, por exemplo, aumentou 300% entre 2019 e 2021, segundo pesquisa da Nuvemshop.

“Com o aumento de grandes obras na construção civil em todo o Ceará, o designer de interiores ganha espaço no mercado em vários segmentos, visto que há um aumento tanto na procura por projetos de interiores quanto dos cursos [da área] em universidades”, contextualiza Karisia Mota, diretora da Associação Brasileira de Design de Interiores - Regional Ceará (ABD/CE) e proprietária do Studio Villa.

De olho nesse cenário, a Universidade de Fortaleza, mantida pela Fundação Edson Queiroz, anunciou o lançamento do novo curso de Design de Interiores. Com foco nas demandas de inovação e sustentabilidade, a graduação tecnológica chega para atender à crescente demanda do mercado por profissionais criativos e qualificados.

“A Unifor irá nos ajudar capacitando nossos futuros profissionais para atuarem nesse segmento que está em ascensão no estado, formando profissionais com excelência e valorizando o design de interiores cearense e nordestino”, afirma Karisia, que atua em áreas residenciais, comerciais e projetos efêmeros. Além de designer de interiores, ela também é egressa do curso de Direito da Unifor e arquiteta em formação.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, a diretora da ABD/CE fala sobre o perfil do profissional de interiores, como anda o mercado de trabalho no Ceará e a importância da graduação recém lançada pela Unifor para a evolução da área.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Qual é o perfil do designer de interiores hoje? Que habilidades e competências esse profissional precisa ter ou desenvolver para se destacar? 

Karisia Mota — O design de interiores hoje atua de forma mais humanizada, trazendo funcionalidade, estética, conforto, equilíbrio e ergonomia. Aborda também questões de inclusão, diversidade, acessibilidade e sustentabilidade, trazendo para os projetos uma experiência imersiva de conexão com os espaços. Com relação às habilidades e competências, o designer de interiores necessita ter:

  • boa comunicação com seus clientes e profissionais parceiros, habilidades técnicas com programas como AutoCAD e SketchUp, entre outros;
  • conhecimento artístico;
  • conhecimento da história em geral e história do mobiliário;
  • atenção às tendências de mercado;
  • criatividade enraizada no seu DNA;
  • sensibilidade para compreender e identificar o estilo do seu cliente;
  • organização no processo de evolução do projeto;
  • técnicas de iluminação, paisagismo e decoração;
  • conhecimento de todas as etapas de um projeto.

É necessário também que o design de interiores seja formado, vinculado à Associação Brasileira de Design de Interiores (ABD) e registrado em um Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

Entrevista Nota 10 — Como anda o mercado de trabalho em design de interiores no Ceará? Quais são as principais demandas hoje? Que tendências têm crescido e/ou são esperadas para os próximos anos?

Karisia Mota — Com o aumento de grandes obras na construção civil em todo o estado do Ceará, o designer de interiores ganha espaço no mercado em vários segmentos, visto que há um aumento tanto na procura por projetos de interiores quanto dos cursos [da área] em universidades. Reformas, consultorias, eventos efêmeros, escritórios, indústrias e grandes empresas de hotelaria procuram por esses profissionais para atenderem a demanda do estado, que aumenta de forma satisfatória, esquentando o mercado e trazendo o design de interiores para um momento de ascensão que se conecta com o crescimento de novas tendências revolucionárias, como a inteligência artificial, a integração dos espaços com a tecnologia, o design biófilo, a sustentabilidade, os espaços multifuncionais, entre outros.

Entrevista Nota 10 — Em 2022, a empresa Modsy lançou um design de renovação inédito em 3D, onde os clientes podem visualizar e percorrer virtualmente cada detalhe do projeto. Como a tecnologia tem influenciado o mercado e os serviços de design de interiores? E como isso afeta a atuação profissional na área? 

Karisia Mota — Estamos passando por um momento de revolução no mundo da tecnologia, que me lembra muito o período da revolução industrial, onde a criação aflorou e nos trouxe para uma nova era. 

Nessa nova era atual — que fala da relação da tecnologia e o design, sua alta performance digital que ajuda o profissional no processo de criação e realização de projetos, seu desempenho nas formas mais complexas de design, em sua realidade aumentada na relação com o mundo físico —, o design de interiores tem como grande desafio não deixar que o digital se torne peça principal nos projetos. É necessário entender que a habilidade de sentir os espaços projetados é uma qualidade humana insubstituível. Sentir os materiais, a luz, as formas... São percepções sensoriais e emocionais que a tecnologia não sente.

Entrevista Nota 10 — Você é diretora da Associação Brasileira de Design de Interiores, Regional Ceará (ABD/CE). Qual o papel da ABD para o desenvolvimento e o fazer profissional da área? Como as regionais trabalham para unificar ou dar suporte aos designers de interiores? 

Karisia Mota — A ABD, há 44 anos, tem como papel principal a valorização da profissão de design de interiores, trazendo representatividade em todo o país, promovendo ações de formação, colaboração, inspiração, inovação e respaldando nossos profissionais no exercício legal da profissão (como na Lei 13.369/2016, que dispõe sobre a garantia do exercício da profissão de designer de interiores e de ambientes).

A Associação também beneficia os associados com consultorias jurídicas, cursos de capacitação, congressos, network, [acesso a] aplicativo de tabela de honorários, planos de reforma para adequação de projetos e plataforma digital para divulgação do profissional associado em suas regionais — que contribuem também com essas ações e parcerias direcionadas ao setor de design de interiores trazendo essa unidade de suporte em todo o território nacional.

Entrevista Nota 10 — O Projeto de Lei 2.375/2022, que exige diploma e registro nos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Crea) para o exercício da profissão de design de interiores e ambientes, foi encaminhado para análise da Câmara dos Deputados. Qual o papel desse PL na formação e atuação dos profissionais da área, caso seja aprovado? Como o mercado de trabalho e as associações de classe enxergam essa definição? 

Karisia Mota — Será uma grande vitória para nós, pois com a aprovação do PL 1.271/2023 e do seu apensado, o PL 2.375/2022, que já foi aprovado pelo Senado, a Lei nº 13.369/2016 passará a exigir formação e habilitação para o exercício da profissão de designer de interiores e ambientes. Ou seja, só poderão usar o título e exercer as atividades os portadores de diploma de curso superior (tecnológico ou bacharelado) ou de certificado de curso técnico com registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) ou no Conselho Regional de Técnicos Industriais (CRT). É importante frisar que, atualmente, os técnicos em design de interiores já podem se registrar no CRT e os tecnólogos no CREA.

Os projetos de lei, além de equalizar as prerrogativas de toda a classe [profissional], garantirão maior segurança para a sociedade. Ambos PLs estão aguardando relatoria na Comissão de Trabalho (CTRAB) da Câmara dos Deputados.

Entrevista Nota 10 — Neste semestre, Unifor realizou o lançamento da nova graduação tecnológica em Design de Interiores. Qual a importância desse curso para a formação de profissionais de excelência? Como ele pode contribuir para a evolução do mercado de design de interiores, especialmente no Ceará?

Karisia Mota — É necessária a formação no curso de Design de Interiores para que o profissional possa atuar de forma legal, com respaldo em nossa lei e assim também poder se registrar no CREA, trazendo mais segurança em sua atuação no mercado de trabalho. 

A Universidade de Fortaleza irá nos ajudar capacitando nossos futuros profissionais para atuarem nesse segmento que está em ascensão no estado do Ceará, formando profissionais com excelência e valorizando o design de interiores cearense e nordestino.