Entrevista Nota 10: Luciana Haddad e a conscientização sobre transplante de órgãos

seg, 29 janeiro 2024 16:50

Entrevista Nota 10: Luciana Haddad e a conscientização sobre transplante de órgãos

A mais nova presidente da ABTO fala sobre os avanços e desafios do transplante no Brasil e a importância de campanhas como a Doe de Coração


Luciana é médica, triatleta, influencer de saúde e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)
Luciana é médica, triatleta, influencer de saúde e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar de ter um destaque mais intenso no mês de setembro, o transplante de órgãos e tecidos é uma pauta que precisa ser discutida e divulgada cotidianamente. Movimentos como o Setembro Verde, promovido pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), e a Doe de Coração, realizada anualmente pela Fundação Edson Queiroz, fazem parte das ações que educam, conscientizam e sensibilizam a população sobre isso.

“Mas ainda temos que avançar porque temos um déficit de órgãos para a nossa necessidade. Então estamos sempre trabalhando com campanhas, com informação para que consigamos atender ao máximo a nossa demanda de pacientes em fila”, ressalta a médica Luciana Haddad, atual presidente da ABTO.

Ela, que é triatleta e fala sobre saúde e qualidade de vida no canal “Fala, Lu!”, recentemente assumiu a gestão da Associação, mas já era membro da casa. Em seu currículo, uma extensa experiência, tanto profissional quanto docente, reforça o compromisso com o transplante de órgãos no Brasil.

Graduada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Luciana é doutora em Cirurgia do Aparelho Digestivo e pós-doutora em Avaliação Econômica, ambos pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) — onde atua como livre docente há quase 15 anos. Por lá, ainda esteve à frente do Serviço de Transplantes de Órgãos Abdominais do Hospital das Clínicas.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, a médica fala sobre seu envolvimento com o assunto, os avanços e desafios do transplante no Brasil e a importância de campanhas como a Doe de Coração.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Poderia compartilhar como e quando decidiu que seu foco de atuação profissional seria no ramo dos transplantes de órgãos? O que te motivou a seguir por esse caminho? 

Luciana Haddad — Desde a faculdade, eu já tinha interesse pela área cirúrgica e participei da liga de transplantes — que foi algo importante, mas não era pensando em trabalhar com transplante, era mais como uma complementação acadêmica. Depois da residência em Cirurgia do Aparelho Digestivo, fui para a França fazer uma especialização em Cirurgia Hepatobiliopancreática, onde tive um contato direto com o transplante de fígado. Lá, trabalhei com transplante e tive formação na área.

Isso foi acontecendo de forma natural no meu retornou o Brasil, onde acabei prestando concurso para trabalhar na Divisão de Transplantes de Órgãos do Aparelho Digestivo, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), e é onde estou há quase quinze anos.

Entrevista Nota 10 — O ano de 2023 contou com números recordes de transplantes no Brasil, chegando a 6,7 mil procedimentos realizados entre janeiro e dezembro, além de um aumento de 17% no número de doadores em relação a 2022. Quais são os principais avanços e desafios quando falamos sobre transplantes no país? 

Luciana Haddad — Acho que o Brasil já avançou muito em relação aos transplantes nas últimas décadas. É um país referência no assunto, com o maior programa público de transplantes de órgãos do mundo. Mas ainda temos que avançar porque temos um déficit de órgãos para a nossa necessidade. Então estamos sempre trabalhando com campanhas, com informação para que consigamos atender ao máximo a nossa demanda de pacientes em fila.

Entrevista Nota 10 — Recentemente, você assumiu a presidência da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), da qual já era membro há um tempo. Como foi receber esse convite? Quais são suas metas agora à frente da instituição? 

Luciana Haddad — Na verdade, para a ABTO, não é feito um convite, mas sim uma eleição. Ela é realizada entre todos os sócios e essa chapa se formou ao longo da nossa gestão passada, na qual eu fui vice-presidente, e fui eleita para assumir essa gestão agora de 2024-2025. 

As metas são sempre fortalecer os transplantes no Brasil, ser um apoio a todos que trabalham com transplantes de órgãos no país, fazer uma parceria importante entre aqueles que trabalham com transplantes e o Sistema Nacional de Transplantes, buscando sempre excelência e aumentar o número de doações de órgãos no Brasil.

Entrevista Nota 10 — Você esteve na linha de frente no combate à Covid-19 junto a milhares de outros profissionais da saúde. Fazendo um comparativo entre os momentos antes, durante e depois da pandemia, como podemos avaliar as influências dessa emergência sanitária no âmbito dos transplantes de órgãos, especialmente no Brasil? 

Luciana Haddad — A pandemia trouxe um prejuízo nos números de transplantes porque, naquela fase, houve uma maior necessidade de deslocamento de esforços, de leitos, de atenção aos pacientes de Covid-19. Por isso, tivemos uma diminuição do número de doadores e de transplantes de órgãos. Então, de certa forma, atrasou um pouquinho a nossa perspectiva de crescimento dos transplantes no Brasil e a retomada, de fato, aconteceu só em 2023. Agora neste ano, esperamos ultrapassar os números que tínhamos pré-pandemia.

Entrevista Nota 10 — A campanha Doe de Coração, promovida desde 2003 pela Fundação Edson Queiroz, desenvolve ações para informar, conscientizar e mobilizar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos e tecidos. Qual o papel de movimentos como este na visibilidade e adesão da população à causa? Como a Doe tem ajudado nesse âmbito?

Luciana Haddad — As campanhas de doação de órgãos são fundamentais. Nós temos a campanha realizada pela ABTO, Setembro Verde, mas existem diversas outras campanhas ao longo do ano e em todo o Brasil — que são também muito importantes, porque elas, muitas vezes, conseguem trabalhar localmente e mais próximas da população. Essas campanhas ajudam muito a aumentar o número de doadores, conscientizar e educar a população a respeito dos transplantes. Então elas são muito, muito bem-vindas.

Entrevista Nota 10 — Tanto no seu perfil do Instagram quanto pelo canal “Fala, Lu!” no YouTube, você tem uma presença marcante com um conteúdo sobre medicina e qualidade de vida com base em dados científicos. A partir de sua experiência como influencer e comunicadora em saúde, poderia pontuar sugestões de como a Doe de Coração pode aperfeiçoar suas estratégias de conscientização e mobilização da sociedade sobre a doação de órgãos? 

Luciana Haddad — Acho que o nosso papel também é esse, de levar informação de qualidade, informação científica para o maior número de pessoas possíveis. E as redes sociais possibilitam isso, dá para fazer com qualidade. É o que eu faço no “Fala, Lu”, e acho que as campanhas têm que trabalhar dessa forma: tentar trazer informações sempre relevantes e de qualidade, mas de um jeito fácil e acessível, que consiga atingir o maior número de pessoas possíveis. Hoje utilizamos muito vídeo, a parte mais gráfica, toda tecnologia ao nosso favor. E é um jeito de estar mais próximo da população como um todo, dos jovens, então é um modelo bem interessante esse de usar a rede social nas campanhas.