null Luz, câmera, EXPANSÃO!

Ter, 20 Setembro 2022 11:06

Luz, câmera, EXPANSÃO!

Cinemas brasileiro e cearense fazem girar uma expressiva e multidisciplinar cadeia de negócios, abrindo espaços que estão sendo ocupados por novos profissionais da sétima arte


Segundo estimativa da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o mercado audiovisual gera cerca de 6,7 bilhões de reais por ano no Brasil (Ilustração: Getty Images)
Segundo estimativa da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o mercado audiovisual gera cerca de 6,7 bilhões de reais por ano no Brasil (Ilustração: Getty Images)

Eles estão em suas próprias produtoras audiovisuais, nas grandes plataformas de streaming, nas telas de cinema, nas grandes salas de roteiro do país. Enquanto os cinemas brasileiro e cearense fazem girar uma expressiva e multidisciplinar cadeia de negócios, abrem-se também inéditos campos de atuação para os novos profissionais da sétima arte.

Quem entra despretensiosamente numa sala de cinema para ver um filme – seja aquele tremendo sucesso de bilheteria ou uma produção independente que “salta aos olhos” – talvez não se dê conta do tamanho da roda econômica que está ajudando a girar. 

O audiovisual é a quinta atividade econômica mais relevante do país. Consideremos nesta conta os investimentos para a produção, que geram empregos diretamente relacionados à atividade e movimentam negócios de hotelaria, figurino e transporte. E a cadeia de rentabilidade, que segue mesmo após o filme ser concluído, cujo exemplo mais singelo é a famosa pipoca que nos acompanha na sala escura. 

O mercado audiovisual gera cerca de 6,7 bilhões de reais por ano no Brasil, já descontados os custos da produção, segundo estimativa da Agência Nacional de Cinema (Ancine). No Ceará, existem 3,1 mil empresas ativas ligadas de forma direta ou indireta ao cinema.

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Expansão econômica e novas oportunidades 

“O audiovisual invadiu nossa vida de forma muito contundente, nos diversos setores: Educação, saúde, esporte e diversão. Quem produz esse conteúdo são profissionais capacitados. Há, portanto, uma economia em expansão, com espaços a serem ocupados”, afirma Bete Jaguaribe, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz.

O cenário para o cinema cearense é favorável. Um dos mais produtivos estados brasileiros no campo do audiovisual, o Ceará tem revelado uma produção diversa e repleta do talento de nossos realizadores profissionais. 

Segundo Bete Jaguaribe, essas produções ainda revelam a maturidade profissional do setor. Para ela, as mais de três mil empresas relacionadas à área no Ceará indicam a potência de nosso mercado para quem sonha em seguir a profissão.


"O profissional de cinema e audiovisual ocupa o mercado criando suas próprias empresas produtoras, para o desenvolvimento de seus projetos autorais, ou engajando-se em outros projetos, a partir de contratação para prestar um serviço enquanto diretor, roteirista, fotógrafo e nas diversas funções que integram o processo de realização de conteúdo" – Bete Jaguaribe, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor

A sede de criar desde a universidade abre caminhos

De fato, os caminhos seguidos pelos egressos do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor são diversos e repletos de histórias de sucesso. É o caso de Sávio Fernandes, compositor de efeitos visuais na empresa Quanta Post

Ele entrou na Universidade de Fortaleza em 2015, em um momento no qual não tinha certeza da área que queria seguir. “Até que caí de paraquedas no curso de Cinema e, desde o primeiro semestre, eu criei um pertencimento com a área”, conta.


Sávio Fernandes é graduado em Cinema e Audiovisual pela Unifor e hoje trabalha como VFX compositor (Foto: Arquivo pessoal)

Sávio diz que consumia filmes e séries, mas antes de entrar no curso não tinha ideia de que poderia participar das grandes equipes que produzem esses conteúdos. Durante a faculdade, o egresso tentou experimentar todas as áreas possíveis e se dedicou a produzir um robusto portfólio para apresentar ao mercado. 

Agora, ele atua numa finalizadora de São Paulo que realiza pós-produção de vários produtos audiovisuais transmitidos em grandes plataformas de streaming como Netflix, HBO Max e Globoplay. “Estava vendo esses dias uma série que participei e é muito legal apontar a cena que passei uma semana inteira trabalhando nela”, celebra.

Sávio trabalha como compositor de efeitos visuais, uma espécie de "photoshop" em vídeo. "A gente manipula algumas questões da imagem, seja para tratar a pele do personagem, fazer o recorte de chroma key – a tela verde", explica.

Para Sávio, a estrutura da Unifor para a produção do portfólio e o contato com colegas e produtores com sede de realização fizeram toda a diferença para que ele alcançasse esse posto de trabalho.

De festivais de cinema à criação da própria produtora

A parceria criada nos bosques da Unifor levou o motion designer Lucas Santiago a se juntar com outros três colegas – Gabriel Goersch, Bruno Paes e Esaú Pereira – e criar sua própria produtora, chamada Zonzo Studio.

Era o segundo ano de pandemia. Os quatro trabalhavam remotamente no “Então eu Danço”, um curta-metragem que conta a história de um ciclope atormentado pelo tédio e a saudade durante a crise sanitária. A produção estará no Cine Ceará deste ano, integrando a antologia de animação “Todo Mundo já foi a Marte”, longa-metragem documental desenvolvido pela Tushe Produções que também está na programação do festival.

“Ver o filme no Cine Ceará, com vários outros animadores locais e compondo uma antologia, é um feito inédito. A cena cearense de animação, além de vasta, é única, lotada de referências sobre sobre nossas pessoas, folclores e vivências. Estar em um festival internacional nos projeta a um outro nível”, afirma Lucas Santiago.

Fascinado por tecnologia e pelo cinema desde criança, Lucas entrou no curso de Cinema e Audiovisual com o sonho de trabalhar com animação. Na graduação, experimentou de tudo: Da direção à finalização de produções. Foi no Laboratório de Mídias Digitais (Labomídia) da Unifor que ele diz ter desenvolvido habilidades para a área em que atua hoje.


“Acredito que o ponto mais decisivo na escolha de estudar Cinema e Audiovisual na Unifor é a estrutura ofertada pela instituição. Como é uma área de trabalho que exige uma constante atualização equipamentos, é um diferencial importante que o curso esteja sempre atualizado com o mercado”Lucas Santiago, egresso do curso de Cinema e Audiovisual da Unifor

O egresso diz que, apesar de nacionalmente o País viver um desmonte do cinema, o Ceará tem resistido com editais e incentivos que fomentam o setor. Além disso, ele celebra a possibilidade de realizar trabalhos de pós-produção para o mundo todo sem sair de casa.

Ingressar no mercado pelas salas de roteiro

Era 2018 quando Larissa Estevam decidiu cursar Cinema e Audiovisual na Unifor para contar histórias que as pessoas quisessem ouvir e assistir. “Eu queria ser reconhecida pela arte”, conta. Mas, durante o curso, trocou a tendência de fotografia e direção de arte, onde pensava que atuaria, pelo roteiro e pela direção.

Larissa ganhou prêmios produzindo um curta-metragem ainda na graduação, o que foi lhe abrindo portas no mercado. Começou a participar de festivais, como o Noia, e foi ganhando projeção. Formada no início do ano, ela agora trabalha em duas salas de roteiro, ambas fora do Ceará, como assistente de roteiro e no modelo home office

“É uma função muito boa para quem está iniciando como eu. Tem sido uma oportunidade incrível. Estou inserida no mercado”, conta. A egressa acredita que conquistou este espaço por ter se dedicado ao máximo nos projetos que participou no laboratório da universidade, citando projetos como “Cena 15” e “Ventana”.


“Participar das disciplinas e ter experiência nos laboratórios da Unifor foi importante e me abriu portas”Larissa Estevam, egressa de Cinema e Audiovisual da Unifor

Trajetórias de destaque

Outra egressa do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade de Fortaleza que tem conquistado importantes espaços no mercado brasileiro é a produtora cinematográfica Bárbara Cariry.

Aluna da primeira turma da Unifor nesta graduação pioneira no Ceará, ela queria estudar, de forma organizada e programática, as teorias, as estéticas e as práticas sobre cinema. Isso seria crucial para complementar sua própria experiência, segundo conta. 

“Meus pais trabalham com cinema, e eu convivi com os sets de filmagens desde muito pequena. A universidade me permitiu novos conhecimentos e a troca com meus colegas foi também muito importante”, rememora. Desde que começou a fazer o curso, se interessou por produção, direção e roteiro, áreas em que segue atuando.


“O curso da Unifor conta com professores experientes e competentes, além de muitas possibilidades de intercâmbios, o que faz com que os alunos tenham uma experiência acadêmica rica, além de dispor de equipamentos para exercícios práticos de realização e finalização dos seus primeiros filmes”Bárbara Cariry, produtora cinematográfica e egressa da Unifor

Bárbara Cariry presidiu recentemente a comissão da Academia Brasileira de Cinema que indicou o filme nacional “Marte Um” a uma vaga na categoria “Melhor Filme Estrangeiro/Internacional” no Oscar 2023.

“Estive junto com muitos outros colegas do cinema brasileiro – um júri bastante diversificado e representativo. Durante algumas semanas, foram vistos 28 filmes de longa-metragem pelos membros da comissão”, conta. Na reunião deliberativa, para definição dos seis pré-selecionados, foi realizada uma votação e análise dos filmes para definir um recorte significativo e representativo do cinema que vem sendo realizado no Brasil hoje.

Segundo ela, os filmes inscritos neste ano trouxeram muita qualidade técnica e estética, bem como uma grande diversidade temática, representando diversas regiões. “Na reunião final, realizamos um debate a partir do recorte dos seis filmes e elegemos ‘Marte Um’ como o representante do Brasil. Acho que fizemos uma boa escolha e o resultado foi uma repercussão muito positiva”, diz. 

O filme tem sido um sucesso de crítica pelo país. Vencedor de quatro prêmios no Festival de Cinema de Gramado, “Marte Um” mostra o personagem Deivid, caçula de uma família de classe média negra que quer ser astrofísico e participar da missão Marte Um, que promete colonizar o planeta vermelho em 2030. Mas a vida dele e de sua família é atravessada pelas tensões e pelos acontecimentos políticos e sociais do Brasil de 2018.

Um campo em constante transformação

As experiências dos egressos da Unifor na área mostram como o cinema é um campo em constante transformação. A coordenadora Bete Jaguaribe, que também dirige o Porto Iracema das Artes, diz que, nos últimos anos, o Ceará tem visto um expressivo amadurecimento profissional, cujos realizadores são formados no ambiente acadêmico, construindo, uma consciência do próprio lugar profissional.

“Os realizadores estão mais preparados porque têm a possibilidade de construir um maior repertório simbólico no diálogo com outras áreas acadêmicas. O audiovisual é também um campo gerador permanente de demanda, especialmente quando dialoga com outras áreas. Educação e saúde, por exemplo, saíram da pandemia da covid-19 com uma demanda extraordinária de conteúdo”, destaca.

E para formar alunos preparados para este cenário, a Unifor conta com professores mestres e doutores com fortes trajetórias profissional e acadêmica. Além disso, o curso tem uma relação muito próxima com o mercado. “Nesse momento, por exemplo, estamos construindo uma parceria com a produtora ORLA Filmes Ltda para viabilizar uma série de TV, em que os alunos participarão da equipe técnica”, conta a docente. 

A instituição ainda oferece estágios pela parceria com a TV Unifor, além dos dois laboratórios de desenvolvimento de projetos: o CineLab.DOC (conteúdos documentais) e o Cine Experiência LAB (conteúdos de ficção). “Estes laboratórios desenvolvem projetos em regime de imersão durante quatro semestres, nos quais os alunos criam, desenvolvem, executam e lançam no mercado cerca de 12 filmes por ano”, afirma Bete.

Mostra Unifor de Cinema, uma vitrine para as produções dos alunos


Alunos realizadores dos curtas que serão exibidos no 12º MUC (Foto: Alan Sousa)

Como vitrine para as produções da Universidade, a Mostra Unifor de Cinema (MUC) retoma seu formato presencial em 2022, após dois anos de pandemia. Na sua 12ª edição, ela vai apresentar 17 filmes realizados pelos alunos do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor durante os últimos dois anos. O evento ocorre de 21 a 23 de setembro, no Cinema do Dragão, sempre a partir das 19h30. A programação é gratuita e aberta ao público

“A mostra tem um papel fundamental, porque dá visibilidade aos filmes realizados, ao mesmo tempo que promove um debate crítico em torno das produções. É um momento de compartilhar com o público a obra do artista, o momento mais importante do processo criativo”, finaliza a coordenadora Bete Jaguaribe.