seg, 1 novembro 2021 17:50
O céu é o limite para as startups
A Unifor é berço para o nascimento de novas empresas em um modelo que está dominando o mundo dos negócios
Nenhum sinal de sisudez empresarial ou da estrutura enrijecida das grandes corporações. Sim, as startups são negócios e empresas acima de tudo. Mas já nascem com um jeito original e inovador de criar e comercializar produtos ou serviços, primando por funcionarem de forma ágil, dinâmica, criativa e versátil a tal ponto que facilmente possam se adaptar às mudanças do mercado de trabalho. Tudo porque, majoritariamente, são pautadas em tecnologia, fazendo desse DNA digital o pulo do gato para baratear custos e aumentar rapidamente suas receitas.
“Costumo usar um exemplo: se você montar um curso de inglês físico, precisará do prédio, de equipamentos, mobília, lousa e para crescer terá que montar outro prédio inteiramente equipado. Se for um curso de inglês online você pode escalar, ter muitos mais alunos com menos investimento em infraestrutura e crescer de forma bem mais rápida”, ilustra o Vice-Reitor de Pesquisa da Universidade de Fortaleza, José Milton de Sousa Filho. Para ele, não é à toa, portanto, que as startups há muito fazem brilhar os olhos de quem é apaixonado por inovação no âmbito do Parque Tecnológico da Unifor e é justamente esse interesse, a um só tempo estratégico, que também justifica o fato de que tal modelo de negócio esteja no cerne da recente reestruturação do EDETEC (Espaço de Desenvolvimento de Empresas de Tecnologia).
“As empresas já consolidadas que hoje vêm nos procurar querem ter acesso ao conhecimento que a universidade gera, mas também buscam ter contato com startups e empreendedores do nosso ecossistema interno. Historicamente, geramos pesquisas muito práticas e voltadas às soluções de problemas nas mais diversas áreas, da tecnologia à saúde e gestão. E isso é um diferencial nos nossos currículos, seja em âmbito local ou nacional. Por isso, a ideia é casar cada vez mais educação e inovação com as demandas do mercado”, Milton Sousa, Vice-Reitor de Pesquisa da Unifor.
Quem explica o entusiasmo crescente em torno das startups é o coordenador do agora chamado EDETEC Hub, professor Leo Lacerda: “o EDETEC existe há mais de 10 anos e sempre foi um espaço de incubação de empresas. Em 2022, ele cresce, se transforma e passa a contar com espaço físico e aparato tecnológico capazes de abraçar tanto a aceleração de startups que já faturam e têm clientes, como os negócios em estágio de pré-incubação, ou seja, startups que querem criar e validar um produto. Lá também vão acontecer os bootcamps, voltados para as pessoas que têm desejo de empreender mas ainda não sabem exatamente como e em que área. Ou seja, vamos contemplar todos os níveis de empreendedorismo, envolvendo fortemente a comunidade acadêmica, com ênfase em alunos e egressos, mas também aprofundando a conexão com o mercado”.
Para ele, surfar na onda dos negócios escaláveis, repetíveis e com potencial para rapidamente gerarem lucros é a febre característica da nova ordem mundial. Daí o investimento da Unifor em todo um ecossistema de inovação.
“Para as startups, estar dentro de um Hub de inovação inserido em um parque tecnológico de uma universidade só traz vantagens e crescimento. As empresas mais inovadoras podem ter seus escritórios no próprio campus, parte da equipe de inovação pode trabalhar diretamente com nossos melhores alunos e professores-colaboradores, além de se valer dos nossos laboratórios de pesquisa e eventos internos. Via EDETEC Hub temos programas de Inovação Aberta. E aí é um ganha-ganha: ganham as empresas, o hub e sobretudo os estudantes, que, em conexão direta com empresas inovadoras, vão ter a chance de facilmente atrair para si vagas de trabalho qualificadas, além de poderem estagiar ou serem bolsistas do próprio EDETEC Hub”, Leo Lacerda, coordenador do EDETEC Hub e professor da Unifor.
Negócios à parte, o aluno Unifor continua sendo ator central no ambiente acadêmico inovador, assim como a pesquisa ganha centralidade. “Não é à toa que no começo do ano vamos povoar o Parque Tecnológico com startups que também poderão ser de alunos, ex-alunos ou professores. É uma questão estratégica para nós porque isso representa o futuro dos negócios e não podemos ficar de fora”, acrescenta o Vice-Reitor de Pesquisa, José Milton.
Um mercado pujante, diga-se de passagem. “Tem muitos fundos nacionais e internacionais investindo em startups, grandes grupos empresariais comprando startups, tudo porque se trata de um negócio inovador, criativo, dinâmico, capaz de apresentar algo novo para solucionar novos ou antigos problemas. Isso atrai gente criativa e comprometida com o desenvolvimento social. Geralmente, são pessoas que estão tentando resolver os problemas do mundo por meio da tecnologia, criando também startups sociais. Tudo isso torna as startups empolgantes. Você conseguir sair de uma empresa que vale zero pra uma que passa a valer 50 milhões em cinco anos é sem dúvida excitante. Já criei, já tive, já acelerei na vida empresarial mais de 30 startups, já participei de programa de aceleração corporativa, investi em startup e permaneço empolgado, porque é um mercado muito dinâmico, apesar de também serem negócios de risco”, conclui o coordenador do EDETEC Hub, Leo Lacerda.
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Uma ideia na cabeça, uma startup na mão
É dentro do VORTEX, laboratório vinculado à Coordenação de Formação e Inovação Tecnológica, que estudantes da área de Tecnologia da Unifor desenvolvem projetos de pesquisa aplicada e aprendem a buscar soluções inovadoras para problemas reais. “Daqui saem experimentos, protótipos e provas de conceito que embasam TCCs, dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de artigos científicos desenvolvidos por professores e estudantes das mais diversas áreas de conhecimento. Feita essa ponte, o networking vem junto e assim é que o ambiente interno pode favorecer parcerias entre os próprios docentes em torno de ideias com potencial para se tornar startups, como já aconteceu”, felicita-se o coordenador do VORTEX, Fernando Ferreira.
“Nosso foco é a produção científica, mas também emprestamos o know how para empresas interessadas em desenvolver projetos conosco. Essa parceria, que também gera estágios, bolsas ou vagas de trainee, contribui com a formação prática do aluno Unifor, ao mesmo tempo em que favorece sua entrada no mercado de trabalho e o encoraja a empreender”, Fernando Ferreira, coordenador do VORTEX.
Aconteceu com o programador e hoje empresário Aglalberto Silva, 27, que teve seu primeiro contato com startup ainda enquanto aluno de Cinema e Audiovisual da Unifor e estagiário do VORTEX. “Uma das primeiras tentativas de validar coletivamente uma ideia inovadora foi através do Desafio Renault 2017. Eram 1.100 startups do Brasil todo concorrendo e ficamos entre os 10 do Brasil. A ideia era criar uma van autônoma que ao mesmo tempo gerasse uma experiência lúdica para a criança no percurso de casa até a escola, algo como um transporte escolar inteligente”, compartilha o ainda cinéfilo que hoje trabalha com TI no setor de Marketing da própria Unifor.
”Não fomos financiados, mas ganhamos experiência e esse mesmo grupo de egressos do Programa de Formação e Inovação Tecnológica acabou se associando para montar um negócio no modelo de startup: a empresa PESSE Tecnologia em Logística nasce a partir da criação de um software capaz de monitorar com precisão toda a frota de uma transportadora. Ou seja, trata-se de um produto escalonável validado junto ao nosso primeiro cliente: a Cia. Siderúrgica do Pecém”, Aglalberto Silva, programador e empresário.
Como nascem as startups
“Sou filho do VORTEX”, adianta-se o egresso do curso de graduação em Ciência da Computação e mestre em Informática Aplicada pela Unifor, hoje professor da casa e também empresário, Matheus Mafra. Foi com os amigos-colaboradores com quem compartilhou o maquinário de ponta do laboratório diretamente responsável pela sua formação tecnológica que ele começou a buscar editais e programas de financiamento voltados à aceleração de ideias. Até que em 2020 passou pelo crivo do Programa Centelha da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), fazendo valer a criação de uma plataforma administrativa voltada às empresas de telefonia, cruzando informações para avaliar qualitativamente o uso do chat bot, programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com os clientes.
“A vontade de fazer algo junto com os colegas da Unifor veio da vibe de confiança e da veia empreendedora que nos foi despertada desde os primeiros semestres da graduação. Esse conhecimento técnico compartilhado gerou então o ímpeto de criar uma startup que acabou por gerar uma empresa, a Orla. Ou seja, nem foi uma grande ideia que nos lançou no mercado, mas o conhecimento e a percepção das oportunidades de negócio enquanto bolsistas ou estagiários do VORTEX. Contribuir com o desenvolvimento de projetos junto a grandes empresas ou instituições parceiras da Unifor, como Unimed e Prefeitura Municipal de Fortaleza, são aprendizados que instigam a nossa criatividade e nos levam a empreender com maior segurança e maturidade”, Matheus Mafra, analista de projetos da Unifor e sócio-administrador da Orla.
O ambiente criativo e caça-talentos do VORTEX também fez nascer a empresa Kimera Studio de Tecnologia, fruto da sociedade do professor e coordenador do laboratório, Fernando Ferreira, e dois egressos da Unifor: Felipe Maia e Victor Ferreira. História que começa quando os três trabalharam juntos, dentro do laboratório, no desenvolvimento tecnológico do projeto Iracema Digital, sob demanda da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Utilizando realidade virtual e aumentada, criaram um ícone cultural interativo que, quando acionado através de QR Code, fornecia informações sobre a personagem Iracema para pessoas em trânsito na avenida Beira Mar, local escolhido para a instalação do dispositivo.
“Com o passar do tempo, esse projeto foi versionado e ampliado aqui dentro da Unifor, dando origem a um outro chamado Ícones Culturais, onde o mesmo conceito foi utilizado para incluir mais personagens, como a rendeira, Dragão do Mar e o próprio José de Alencar. Ampliamos o escopo da pesquisa e enxergamos nele a oportunidade de exploração comercial. Foi quando surgiu o edital Centelha, da Funcap, e decidimos, como empreendedores individuais, nos unir para submeter a proposta que contemplaria mercados diversos. Fomos contemplados e, além de conseguir cinco bolsas para o nosso laboratório, acessamos o financiamento que possibilitou a melhorar a tecnologia e criar uma versão comerciável dessa solução. Esse foi o início da empresa que nasceu internamente no modelo de uma startup”, credencia Fernando.
Direito digital e das startups
Teoria geral das startups. Tributação na era digital e para startups. Contratos típicos para startups. Propriedade intelectual e startups. Compliance para startups. Inovação jurídica e modelos de startups. Complementares entre si, eis algumas das disciplinas específicas que constam na matriz curricular da Especialização em Direito Digital e das Startups criada pela Universidade de Fortaleza. Sob coordenação da professora Gabriela Lima, a pós-graduação atrai não só advogados interessados em atualizar conhecimentos acerca da inserção das tecnologias no fazer jurídico, mas também egressos dos cursos de Ciências da Computação, Comunicação, Engenharia da Computação, Tecnologias da Informação e áreas afins, todas elas também atravessadas por mercados que demandam esses serviços.
“Nosso objetivo primeiro é capacitar advogados para trabalharem junto às startups e em demandas que envolvam as relações humanas virtualizadas. Mas esse olhar se estende para outras questões contemporâneas, como as novas relações de trabalho e o teletrabalho ou trabalho remoto, assim como relações de consumo na internet e cibercrimes”, Gabriela Lima, coordenadora da Especialização em Direito Digital e das Startups da Unifor.
Tudo o hoje atravessa o ambiente corporativo e atinge a startup, empresa que tem características diferenciadas, está no centro das atenções. Portanto, o advogado especializado vai atuar não só na parte jurídica de criação das startups como prestar consultoria e estar em parceria, acompanhando rodadas de investimentos, contratos societários, internacionalização das empresas. É o olhar específico do Direito Empresarial mas voltado a esse tipo de empresa cada vez mais presente no mundo”, detalha Gabriela, chamando atenção ainda para a pós-graduação em Proteção de Dados e Governança Digital da Unifor, que se debruça sobre a implementação e garantia da Lei Geral de Proteção de Dados.