null O código delas: por que precisamos de mais mulheres na computação?

Ter, 14 Junho 2022 10:58

O código delas: por que precisamos de mais mulheres na computação?

Com a tecnologia presente em todas as áreas, o mundo tech absorve diferentes perfis, de quem é criativo a quem ama escrever códigos. Egressas e professoras da Unifor destacam as vantagens de uma formação que estimula experimentar a inovação desde cedo


As mulheres correspondem a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação. Com a tecnologia dominando o cotidiano, há projeções de que essa realidade mude nos próximos anos  (Foto: Getty Images)
As mulheres correspondem a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação. Com a tecnologia dominando o cotidiano, há projeções de que essa realidade mude nos próximos anos (Foto: Getty Images)

A tecnologia também é lugar de mulher. Com as salas de aula de cursos como computação ainda ocupadas majoritariamente por homens em todo o mundo, há quem considere a área pouco convidativa para as mulheres. Mas a verdade é que elas sempre participaram da construção das inovações tecnológicas e, com as ferramentas digitais agora presentes em todas as áreas, o espaço só aumenta para os mais diferentes perfis: das mais criativas a quem ama escrever códigos.

Você sabia que foi uma mulher que desenvolveu o primeiro algoritmo computacional da história? Era 1843, mas a americana Ada Lovelace não tinha o maquinário necessário para comprovar seus estudos. Essas provas de que seu sistema estava correto só vieram anos depois de sua morte. 

Muitas décadas depois, vemos nossa história cotidiana escrita em linhas de código. A tecnologia está em todo lugar: no aplicativo que usamos para ler notícias, no sistema do consultório médico ou mesmo naquela ferramenta para ver qual caminho até o trabalho terá menos trânsito. E as mulheres, cuja participação principal nos últimos anos estava focada no uso de aplicativos e dispositivos digitais, começam a voltar à computação - e a criar. 

O caminho para quebrar este teto de vidro tecnológico, porém, ainda é longo. As mulheres correspondem a apenas 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação, segundo dados do Censo da Educação Superior 2019, presentes no estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, do IBGE.

Neste mundo cada vez mais tecnológico em que vivemos, as formações na área são promissoras. O Banco Mundial estima que cerca de 420 mil novas vagas serão criadas na área até 2024. Já não se trata de falar em profissões do futuro: o mundo tech acontece agora. É neste contexto que o abrangente curso de Ciência da Computação da Unifor, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, prepara seus alunos para atuar nestas “profissões do presente” e os ajuda a desenvolver competências, tudo com o plus de vivenciar a prática e experimentar a inovação tecnológica desde cedo. 

Com um mercado tão amplo, as linguagens da computação podem — e devem — ser abraçadas por todos, independente de gênero. Há espaço para os mais diferentes perfis: de quem esbanja criatividade a quem se identifica com uma pegada mais artística, tem paixão em resolver problemas por meio de cálculos, gosta de escrever códigos ou ama trabalhar com dados. No mercado, o espectro de possibilidades de atuação é imenso.

“Não temos limites para atuar. Somos fim na nossa área de formação, mas somos meio em todas as outras áreas”, resume a coordenadora do curso de Ciência da Computação da Unifor, professora Liádina Camargo. Ela lembra que, hoje, as competências desenvolvidas na graduação podem ser aplicadas em negócios e serviços nas áreas da saúde, do agronegócio, da educação, do entretenimento e mesmo no segmento econômico e financeiro. “A sociedade usa a tecnologia como suporte de várias decisões na sua vida privada, e isso leva as empresas a automatizarem todos os procedimentos”, contextualiza.

O sonho de participar da inovação


“Quero ajudar para que a nossa ciência evolua”, conta a discente Cecília Silvestre, do curso de Doutorado em Informática Aplicada (Foto: Lucas Plutarcho)

Desde criança, a estudante Cecília Silvestre Carvalho gosta de usar tecnologia. Mas, à medida que foi crescendo, percebeu que tinha também o desejo de participar da inovação, por isso, decidiu cursar computação na Unifor.  “Minha experiência na Unifor foi espetacular. Estudei com professores maravilhosos, que têm senso crítico, ensinam o aluno a pensar, instigam o raciocínio lógico e que apoiam o desenvolvimento do aluno”, conta a discente.

Na Universidade, Cecília teve a oportunidade de estagiar e de se aproximar do mercado, mas se apaixonou mesmo foi pela área acadêmica. Optou por manter a relação com os projetos de pesquisa e criar coisas novas que extrapolam a sala de aula, lugar para onde ela espera voltar no futuro, como professora.

“Quero ajudar para que a nossa ciência evolua”, ela diz, citando a possibilidade de melhorar tecnologias através da pesquisa. Foi por isso que concluiu o mestrado também na Unifor e agora cursa Doutorado em Informática Aplicada, que estimula a pesquisa de novas metodologias para desenvolver sistemas de computação e solucionar problemas atuais da sociedade. 

Para Cecília, não existe um perfil determinado de quem pode ter sucesso na área, pois o campo de atuação é amplo e é possível desenvolver inúmeras habilidades. “Há quem tenha uma pegada mais artística, quem queira mexer com dados, quem curte mais lógica. Há espaço para todos, inclusive para todas as idades”, diz, animada, a egressa. 

Agentes da inovação

O curso de graduação em Ciência da Computação da Unifor reconhece a importância do pensamento computacional na vida cotidiana e faz uma análise periódica de sua grade curricular para oferecer aos alunos uma formação sempre modernizada. Um exemplo disso foi a alteração da grade feita em 2019, quando a Universidade passou a trabalhar sob a perspectiva de uma organização por competência e não mais por conteúdo.

“Estamos sempre trabalhando o conceito, a técnica e a aplicação. Isso é desenvolver competência”, explica a professora Liádina. O aluno agora sai da Unifor como agente co-responsável pela inovação, com atitude e conhecimento para criar e contribuir com a evolução tecnológica. 


A coordenadora Liádina Camargo destaca que o mercado na área é amplo e aquecido (Foto: Ares Soares)

O curso é pensado a partir de quatro eixos de formação, que são estradas que os alunos precisam percorrer para desenvolver suas competências: resolução de problemas, desenvolvimento de sistemas e de projetos, implantação de sistemas e desenvolvimento pessoal e profissional. 

Dentro desses eixos, há ainda outras trilhas mais específicas, como por exemplo inteligência artificial, ciência de dados e desenvolvimento de software. “Os eixos são as avenidas e as trilhas são as ruas que cortam essa avenida”, compara a coordenadora Liádina. Todos esses caminhos levam o estudante a concluir a graduação preparado para atuar numa área em constante transformação.

Da experiência prática, um portfólio para empreender

Em todo o processo de formação, um importante diferencial da Unifor é abrir portas para experimentar, de fato, a tecnologia. O curso oferece disciplinas para que o aluno possa desenvolver aplicativos, utilizando na prática os conceitos e o modelo computacional aprendidos em sala de aula.

Na Universidade, não faltam espaços para que o aluno desenvolva o seu portfólio e se apresente ao mercado desde cedo. Parcerias com grandes empresas e um parque tecnológico integram o combo para que ele tenha, já na graduação, uma experiência prática relevante. “Quando conclui o ciclo acadêmico, o aluno tem a possibilidade de já estar com vários aplicativos e, se optar por ser um empreendedor por exemplo, no meio da sua trajetória acadêmica, ele já pode abrir a sua startup”, acrescenta Liádina.

Um jogo de computador a favor da saúde 


Samantha Rodrigues desenvolveu, na Unifor, um jogo para prevenir a LER (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem usufruiu muito bem deste leque de oportunidades foi a egressa Samantha Rodrigues. Quando cursava computação na Unifor, ela foi estimulada pela professora Andreia Formico a trabalhar em um aplicativo para evitar lesões por esforço repetitivo, a chamada “LER”. Ela, que ingressou na graduação porque amava jogos de RPG, ajudou a desenvolver um jogo de computador que poderia virar um aliado para a saúde.

Com o apoio da professora Andreia, Samantha dialogou com o curso de Fisioterapia para entender quais movimentos contra a LER poderia incorporar no jogo, que estimula o alongamento ao indicar posturas ao usuário e quanto tempo permanecer nelas. A então estudante usou no jogo um dispositivo chamado Leap Motion, uma espécie de sensor que reconhecia estes movimentos. “Dava 10 minutos de alongamentos, juntando tudo, o que dá um resultado preventivo. Era o tempo necessário para evitar a LER”, conta Samantha.

Hoje, a egressa trabalha como arquiteta de soluções no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nos Estados Unidos. Lá, está aprofundando seus conhecimentos na área de desenvolvimento de sistemas, sempre pensando em soluções tecnológicas para o cotidiano do banco — o que pode ir de um projeto para notificar quem esteve próximo a uma pessoa com Covid-19 na empresa até um aplicativo para fazer uma pesquisa importante para um novo empreendimento.

“A Unifor foi a base de tudo o que eu aprendi na área, foi lá que me apaixonei pelo desenvolvimento de sistemas, onde tive minha primeira experiência de trabalho. Eu amo escrever códigos e, no mercado, é muito bom ordenar o pensamento do cliente e criar um sistema para isso”, celebra Samantha. Do fio da memória, ela conta que foi um choque entrar na graduação e ver que a maioria dos colegas eram homens, mas o gênero não lhe gerou dificuldade. “Os colegas me acolheram muito bem”, diz.

Mercado aquecido dentro e fora do país

São muitos os egressos do curso da Unifor que, como Samantha, agora atuam em outros países, como Canadá, Nova Zelândia e Finlândia. Mas o mercado é fértil sem precisar sair do Ceará também, tanto pela absorção desta mão de obra pelas empresas locais quanto pelas possibilidades crescentes de vagas remotas em empresas nacionais e internacionais. 

A Universidade forma o aluno para encarar todos estes desafios. “O curso de Ciência da Computação está em constante evolução de acordo com o perfil esperado pelo mercado e as novas tecnologias disponíveis, como promove várias atividades de extensão e de estágio juntamente às empresas incubadas no parque tecnológico da Unifor”, destaca a professora Daniela Cavalcanti, que ensina a disciplina de Raciocínio Lógico Algorítmico nesta graduação.

Espaço para uma perspectiva humano-tecnológica

Também professora da graduação e da pós-graduação na Unifor, Elizabeth Furtado revisita a memória e conta que decidiu cursar computação motivada pela possibilidade de desenvolver soluções computacionais que agregariam valor à vida das pessoas. “A ideia de criar e inovar com a criação sempre me atraiu. Ela se reflete também nas minhas atividades docentes. Sou atraída pela inovação de práticas pedagógicas em ambientes educacionais variados”, diz.

Na Universidade, Elizabeth leciona tópicos básicos e avançados de Interação Humano-Computador, uma área baseada tanto no conhecimento da máquina quanto no lado humano. Para a professora, a atuação nas perspectivas humanas-tecnológicas corresponde a um dos focos do curso, que é a de formação de um aluno com responsabilidade social.

Uma experiência inovadora no ensino, na qual a professora usava o Espaço Cultural Unifor como uma metáfora de um sistema, foi premiada no Simpósio Brasileiro de Educação em Computação, em abril deste ano. Na experiência proposta por ela, os alunos interagiam entre si, com as informações e com as obras de arte como se navegassem por uma página web


Elizabeth Furtado é professora da graduação em Ciência da Computação na Unifor (Foto: Arquivo Pessoal)

Em outras palavras, o Espaço Cultural servia como uma metáfora para o estudo de aspectos da Interação Humano-Computador, onde a experiência do usuário acontece no espaço e usando o design desse espaço. “Essa experiência mostra como é possível ensinar Interação Humano-Computador de forma desplugada, visando o uso de sistemas de software e de computadores invisíveis aos seus usuários”, destaca Elizabeth. 

Ao longo dos quatro anos de graduação, os estudantes têm acesso a um ensino inovador, tecnologias de ponta e laboratórios muito bem equipados. Além disso, a abrangente grade curricular oferece a possibilidade de contato com muitas áreas para que o aluno vá percebendo melhor seus interesses e desenvolvendo suas habilidades. “A área da computação é uma área aberta para todos. É um meio de resolução de problemas de todas as outras áreas, então é um campo vasto, aberto e permanentemente aquecido”, resume a coordenadora Liádina Camargo.