Pesquisa Unifor: Artigo analisa possível superestimação da dengue em relação a outros quadros febris na infância

seg, 12 agosto 2024 19:39

Pesquisa Unifor: Artigo analisa possível superestimação da dengue em relação a outros quadros febris na infância

A febre é uma das causas mais comuns de consultas médicas em serviços de emergência pediátrica


Os pesquisadores concluíram que a dengue continua sendo um desafio diagnóstico em Fortaleza (Foto: Getty Images)
Os pesquisadores concluíram que a dengue continua sendo um desafio diagnóstico em Fortaleza (Foto: Getty Images)

A dengue, doença viral transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, é uma das enfermidades mais comuns no Brasil que afetam pessoas de todas as idades, inclusive crianças. No entanto, outras síndromes febris agudas, como leptospirose e leishmaniose, acabam também atingindo pessoas de 3 a 10 anos. Por isso, torna-se fundamental analisar adequadamente os sintomas dessas condições para um diagnóstico preciso e correto.

Nesse contexto, Sônia Maria Cavalcante da Rocha, egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Universidade de Fortaleza – instituição da Fundação Edson Queiroz –, produziu o artigo “Is there an overestimation of dengue compared with that of other acute febrile syndromes in childhood?”. A investigação contou ainda com pesquisadores do PPGCM e foi orientada pela professora Danielle Malta

O trabalho (“Há uma superestimação da dengue em comparação com outros síndromes febris agudos na infância?”, em tradução livre) busca investigar um grupo de crianças da região de Fortaleza com suspeita clínica de dengue, visando estabelecer o diagnóstico laboratorial específico para dengue, leptospirose e leishmaniose visceral.

A pesquisa ocorreu devido ao fato da febre ser uma das causas mais comuns de consultas médicas em serviços de emergência pediátrica e por ser acompanhada de sintomas inespecíficos, dificultando o diagnóstico e tratamento. Os agentes infecciosos, sejam virais ou bacterianos, são os principais responsáveis pelo desenvolvimento desses sintomas, complicando o diagnóstico precoce e preciso.


“A dengue, a leptospirose e a leishmaniose são doenças febris com elevada morbimortalidade, especialmente na infância, sendo relevantes problemas de saúde pública. A realização de exames laboratoriais específicos e sensíveis na fase precoce é essencial para evitar formas graves dessas doenças e, consequentemente, minimizar as taxas de letalidade. Embora a maioria dos casos de dengue esteja associada a sintomas leves, alguns casos podem levar a complicações, mantendo-a como uma patologia frequente”Danielle Malta, professora do PPGCM e orientadora do artigo

Métodos 

Para desenvolver o estudo, os pesquisadores passaram pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Infantil Albert Sabin e envolveram a participação voluntária de crianças e adolescentes, cujos pais ou responsáveis assinaram os termos de consentimento.

Entre setembro de 2015 e março de 2016, 86 participantes foram incluídos na pesquisa, atendendo aos critérios de crianças (0 a 12 anos) e adolescentes (até 18 anos) com febre entre 24 horas e 10 dias, acompanhada de sintomas como dor de cabeça, dor retro orbitária, dores articulares e musculares, erupção cutânea e prostração. Foram excluídas crianças com comorbidades ou sintomas que sugerissem outras doenças.

Os dados clínicos foram coletados por questionários e amostras de sangue. As amostras foram usadas para testes hematológicos, bioquímicos e diagnósticos específicos de dengue, incluindo testes imunocromatográficos, sorológicos e moleculares. Amostras negativas para dengue foram testadas para Leptospira e Leishmania por PCR.

Os dados foram analisados usando ANOVA não paramétrica com teste post-hoc de Tukey para variáveis contínuas e testes qui-quadrado ou exato de Fisher para variáveis categóricas, considerando um nível de significância de 95% (p < 0,05).

Resultados e conclusões 

Com a aplicação dos métodos, os pesquisadores concluíram que a dengue continua sendo um desafio diagnóstico em Fortaleza, onde é endêmica desde 1986. O quadro apresenta sintomas inespecíficos que podem ser confundidos com outras doenças febris. O estudo confirmou uma alta incidência de dengue, com 45% dos pacientes testando positivo, enquanto 49% apresentaram outras síndromes febris agudas, inicialmente diagnosticadas como dengue.

Todos os testes imunocromatográficos NS1Ag STRIP resultaram negativos, o que pode ser atribuído à baixa viremia ou infecções anteriores. A pesquisa sugere que a introdução de métodos moleculares mais acessíveis nas unidades de saúde pública poderia melhorar o diagnóstico precoce de doenças graves, como a meningococcemia.

Além disso, o estudo destaca a superestimação da dengue em regiões endêmicas, onde outras patologias são subestimadas devido à ampla gama de sintomas da dengue e à natureza benigna de muitas doenças comuns na infância.

Publicação internacional 

O trabalho foi publicado na revista internacional PLOS Neglected Tropical Diseases, que se dedica à pesquisa que aborda os negligenciados, os esquecidos e os com poucos recursos, a fim de melhorar a saúde e a prosperidade de todas as pessoas do mundo. Ela trabalha ao lado de pesquisadores que abrangem todos os continentes e que estão profundamente enraizados em comunidades com poucos recursos. 

A revista científica ainda publica pesquisas focadas na patologia, epidemiologia, prevenção, tratamento e controle de doenças tropicais negligenciadas (DTNs), além de abordar temas de saúde pública e políticas relevantes.