Seg, 29 Janeiro 2024 15:11
Pesquisa Unifor: Estudo analisa uso de galato de n-propila em odontologia restauradora
A cirurgiã dentista Talita Arrais investigou a estabilidade de ligação das resinas compostas à estrutura dentária motivada pelo crescente uso destes materiais
A saúde odontológica é um campo que vem evoluindo cada vez mais nos últimos anos com o avanço de pesquisas e soluções inovadoras para a área. Dentro dessas descobertas, estão a produção de novos materiais, avanços em anestesia, surgimento de técnicas, entre outras.
Dentro desse contexto, a cirurgiã dentista Talita Arrais, professora do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, produziu o artigo “Chemical analysis of n-propyl gallate used as pre-treatment for resin-dentin bond strength: In vitro study” (“Análise química do galato de n-propila utilizado como pré-tratamento para resistência de união resina-dentina: Estudo in vitro”, em tradução livre).
O trabalho tem o propósito fundamental de avaliar o impacto do galato de n-propila como pré-tratamento na resistência de união resina-dentina. A meta é investigar se essa abordagem específica pode aprimorar tanto a aderência quanto a resistência das restaurações dentárias à estrutura do dente.
A substância galato de n-propila é um composto químico que pertence à família dos galatos, que são ésteres do ácido gálico — do qual é derivado e contém uma cadeia de propila. O ácido é encontrado naturalmente em algumas plantas e frutas, sendo conhecido por suas propriedades antioxidantes. Já a resina é um material utilizado nos procedimentos de restauração dentária, enquanto a dentina é a parte interna do dente.
Segundo Talita, autora do estudo, “o artigo é crucial para a sociedade, pois busca estratégias sustentáveis e não citotóxicas para os tecidos dentários”. Ele surge como uma importante ferramenta, dada a sua importância para garantir a durabilidade e estabilidade das restaurações ao longo do tempo.
Além disso, a importância da pesquisa reside no fato de ter sido pioneiro na avaliação química do desempenho do galato de propila em diferentes concentrações, sendo utilizado como agente de pré-tratamento dentinário.
“O objetivo é otimizar as restaurações, tornando-as duradouras para preservar a estrutura dentária. Isso é especialmente relevante para os serviços públicos de saúde, que enfrentam desafios com a constante substituição de restaurações. Essa prática resulta em custos adicionais, impactando tanto a saúde quanto a parte financeira da sociedade em geral.” — Talita Arrais, cirurgiã dentista e docente do curso de Odontologia da Unifor
No desenvolvimento do artigo, Talita contou com a colaboração de Samuel Chillavert e Maria Clara Ayres Estellita, ambos mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). O trabalho ainda recebeu contribuições do professor da Unifor, Marcelo Sidou Lemos, e dos docentes da UFC, Juliano Sartori e Sérgio Lima.
Métodos
Durante o desenvolvimento do trabalho, a equipe de pesquisadores utilizou diversas metodologias, sendo a principal a de resistência de união, em que foi feita uma secção em dentes que estavam hígidos — ou seja, livres de carne — e depois restauraram com um protocolo brevemente calibrado.
Depois disso, também foi realizado uma secção em amostras menores e levado para uma máquina até gerar uma fatura, que, uma vez gerada, um valor numérico também é produzido. Esse número informa o quanto essas amostras resistiram a determinada força de tração, chamada de microtração.
A microtração foi feita em dois períodos, o primeiro sendo imediatamente após a restauração e o outro após seis meses. Além disso, também foi realizada a metodologia do FTIR, um método que investiga o tipo de ligações químicas que o composto em questão gera com o colágeno dentário.
Resultados
Os pesquisadores obtiveram informações significativas sobre o uso de agentes bio modificadores semissintéticos na adesão à dentina. Assim, a aplicação do galato de propila em diferentes concentrações resultou em aumento imediato da resistência de união na dentina, com concentrações de 0,1% destacando-se pela capacidade de manter essa melhoria mesmo após 6 meses de armazenamento.
“Em relação aos resultados de resistência de união após 24 horas, todas as concentrações de propilgalato testadas demonstraram ser significativamente superiores à água destilada, que é o procedimento padrão do dia a dia. Esse tratamento imediato, após 24 horas da restauração, mostra-se bastante promissor”, pontua Talita.
A equipe de pesquisa constatou benefícios relevantes no uso da galato de n-propila (Foto: Getty Images)
Ela destaca ainda que, ao avaliar os resultados após seis meses de armazenamento, o grupo com propilgalato a 0,1% destacou-se ao manter estável o valor de resistência, indicando uma certa longevidade na interface de união e promovendo estabilidade ao longo do tempo.
Tal descoberta é pertinente à luz dos objetivos iniciais da investigação, que visava investigar a utilização deste composto como pré-tratamento dentinário. Para mais, os compostos, utilizados como primers ou agentes de reexpansão de colágeno/pré-tratamentos dentinários, podem ter o potencial de melhorar as propriedades mecânicas do colágeno dentinário, bem como modificar positivamente a atividade biológica deste substrato.
Publicação internacional
Dada a significância do trabalho para a sociedade, ele foi selecionado para publicação em janeiro deste ano na renomada revista internacional “European Journal of Oral Science”. Reconhecida por disseminar artigos de pesquisa originais em odontologia clínica, ela aborda assuntos relacionados à odontologia como: estrutura, química, biologia do desenvolvimento, fisiologia, patologia de tecidos relevantes, microbiologia, biomateriais e ciências comportamentais.
O periódico possui um CitScore de 3.6 e um fator de impacto de 1.9, reforçando ainda mais a credibilidade e o alcance significativo dessa publicação científica. Esses indicadores ressaltam a importância do estudo, evidenciando sua contribuição para o avanço do conhecimento na área odontológica.
