Pesquisa Unifor: Estudo avalia aceitação de alunos de Medicina sobre doação de órgãos

seg, 9 outubro 2023 17:45

Pesquisa Unifor: Estudo avalia aceitação de alunos de Medicina sobre doação de órgãos

Trabalho de Ingrid Sarmento, estudante de Medicina da Universidade de Fortaleza, foi apresentado no I Congresso Norte-Nordeste de Nefrologia


O estudo é voltado para a conscientização sobre a doação de órgãos (Foto: Getty Images)
O estudo é voltado para a conscientização sobre a doação de órgãos (Foto: Getty Images)

A doação de órgãos é um ato de solidariedade que salva milhares vidas e desempenha um papel crucial no sistema de saúde brasileiro. De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Brasil chegou, em 2023, a 19 doadores por milhão de habitantes, o maior número já registrado. 

Mesmo diante deste cenário positivo, o tema ainda é cercado por muitos tabus, dúvidas e desinformações. Assim, o trabalho de conscientização se torna fundamental, especialmente por parte dos profissionais da área de saúde. 

Partindo desse entendimento, Ingrid Sarmento, estudante de Medicina da Universidade de Fortaleza — instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz —, realizou um estudo para avaliar os conhecimentos e a aceitação de alunos de Medicina sobre a doação de órgãos. 

Sobre a pesquisa

De acordo com Ingrid, a proposta da pesquisa surgiu após observar que poucos acadêmicos de Medicina tinham domínio sobre a temática. “Vimos que seria necessário questioná-los sobre, para que houvesse uma inquietação com o intuito de fazê-los entender e se interessar sobre o assunto”, afirma.  

A estudante ressalta que o estudo também tem o intuito de introduzir a importância da orientação às famílias sobre a doação de órgãos. Esse se torna um tópico fundamental, visto que, até junho de 2022, a negativa familiar dos pacientes equivalia a 44% das não doações de órgãos no Brasil, de acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes (RTB).


O objetivo não se pauta apenas em expor a necessidade de introduzir na classe médica o assunto ‘doação de órgãos’, mas também orientar quanto a importância dos profissionais da área da saúde na decisão das famílias na doação” — Ingrid Sarmento, aluna do curso de Medicina da Unifor

Dessa forma, Ingrid, em conjunto com outras estudantes e com orientação da professora Silvia Fernandes,  aplicou um questionário — por meio da plataforma Google Forms — em alunos do 1º ao 8º semestre da Unifor e de outra universidade particular de Fortaleza. No total, foram 404 estudantes avaliados

Em junho, a pesquisa foi apresentada no I Congresso Norte-Nordeste de Nefrologia, gerando discussões interessantes e envolvimento sobre o assunto. 

Resultados 

Segundo Ingrid, apesar da alta aceitação, importantes conceitos sobre doação de órgãos ainda são desconhecidos pelos discentes. “Faz-se necessária a inclusão do tema no currículo dos cursos de Medicina, assim com as campanhas informativas devem ser intensificadas”, destaca. 


Ingrid Sarmento e Silvia Fernandes na apresentação do trabalho no 1º Congresso Norte-Nordeste de Nefrologia (Foto: Arquivo pessoal)

Dos 404 alunos avaliados, 42,3% eram do ciclo básico (21,8±4,5 anos) e 52,7% do clínico (24,3±5,7 anos). A maioria (99,8%) dos alunos dos dois ciclos é favorável à doação de órgãos, mas 35,9% deles ainda não tinham conversado com a família

A lei dos transplantes era desconhecida por 59,7% dos alunos e, após conhecê-la, 61,6% gostaria que sua decisão de ser doador em vida fosse respeitada, sem interferência familiar. 

A maioria (95,5%) dos alunos afirmou que seus órgãos poderiam ser doados se estivessem em morte encefálica (ME), mas 43,1% deles ainda não tinham comunicado a família e 20,8% acreditavam que a família não doaria. 

Não houve diferença no conhecimento sobre doação em função dos ciclos (p=0,8723). A maioria (98,3%) conhecia o conceito de ME, mas 10,6% não aceitavam esta definição e 22% desconheciam que um indivíduo somente é considerado potencial doador após a ME. 

A maioria (84,9%) ainda não tinha conversado com algum professor sobre a doação de órgãos (p=0,0000) e 77,7% ainda não tinham assistido aulas sobre o tema.