Pesquisa Unifor: Estudos analisam impacto da hiperestimulação ovariana na saúde reprodutiva

seg, 1 julho 2024 20:32

Pesquisa Unifor: Estudos analisam impacto da hiperestimulação ovariana na saúde reprodutiva

Os estudos são produtos do edital de apoio a pesquisa da Fundação Edson Queiroz número 60/2022


Os resultados dos trabalhos são cruciais para promover o bem-estar de mulheres que estão com dificuldades para engravidar (Foto: Getty Images)
Os resultados dos trabalhos são cruciais para promover o bem-estar de mulheres que estão com dificuldades para engravidar (Foto: Getty Images)

A hiperestimulação ovariana tem sido um processo fundamental no apoio de casais inférteis que visam conceber um bebê. Procedimento médico utilizado principalmente em tratamentos de reprodução assistida, esse método envolve o uso de medicamentos hormonais para estimular os ovários a produzirem um número maior de folículos, aumentando assim a quantidade de óvulos disponíveis para a coleta e fertilização.

Dentro desse contexto, a equipe de pesquisadores do Edital de Apoio a Pesquisa da Fundação Edson Queiroz, financiado pela Vice-Reitoria de Pesquisa (VRP) da Universidade de Fortaleza, produziram dois artigos com temas semelhantes e que buscam compreender a questão da hiperestimulação ovariana. São eles: 

Os trabalhos fazem parte de um projeto que estuda o impacto da estimulação ovariana repetida na saúde reprodutiva e mental. Essas obras têm como objetivo central compreender os efeitos colaterais e propor medidas que possam amenizar tais complicações.

Os pesquisadores responsáveis pelo primeiro artigo são: Olga Goiana, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Unifor; Sacha Aubrey, doutoranda do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex); Marina de Barros, pós-doutoranda do Nubex; Larissa Brandão, aluna de Iniciação Científica do curso de Medicina da Unifor; Adriana Rolim, professora do PPGCM; e Marcelo Borges Cavalcante, docente do PPGCM e coordenador do Programa de apoio à pesquisa da FEQ Edital 60/2022. 

Para o segundo artigo, a equipe foi complementada por Augusto Schneider, professor da Universidade Federal de Pelotas (colaborador nacional), e Michal Masternak, professor da University of Central Florida (colaborador internacional).


Parte da equipe do estudo sobre hiperestimulação ovariana (Foto: Arquivo pessoal)

Os estudos ainda serão utilizados para gerar a dissertação de mestrado de Olga Goiana, que destaca a importância do constante questionamento científico e da necessidade de aprofundar o conhecimento sobre o tema.

“O aumento no número de casos de infertilidade e de preservação da fertilidade tornam a questão da saúde reprodutiva e dos tratamentos de reprodução assistida cada vez mais relevantes. Por outro lado, uma boa parte desses conhecimentos é relativamente nova e precisa ser constantemente reavaliada e aprofundada”, salienta a mestranda. 


“Estou tendo a felicidade de ser orientada pelo professor Dr. Marcelo Cavalcante, que tem uma grande experiência na prática médica e na pesquisa em Fertilidade e que, assim como os demais colaboradores envolvidos no projeto, nutre um grande interesse e curiosidade sobre o tema, de forma que, desde o início, o objetivo do grupo era ousado e amplo: avaliar várias faces das repercussões do tratamento, como impacto no comportamento, no envelhecimento e danos ao tecido ovariano, na microbiota intestinal, entre outras repercussões que pretendemos continuar estudando e investigando”Olga Goiana, médica ginecologista e mestranda do PPGCM

Métodos e conclusões 

O trabalho “Impact of repeated ovarian hyperstimulation on the reproductive function” foi uma revisão da literatura sobre o estado atual do conhecimento acerca do impacto da estimulação ovariana repetida na saúde reprodutiva feminina. 

Essa pesquisa analisou estudos em modelos animais e humanos, que ainda não definem claramente as complicações associadas a este procedimento, indicando a necessidade de novas investigações. No entanto, os pesquisadores observaram que a utilização de agentes antioxidantes durante a estimulação ovariana pode proteger as pacientes de possíveis efeitos colaterais.

Já o segundo estudo, “Repeated ovarian hyperstimulation promotes depression-like behavior in female mice”, foi realizado em modelo animal. Camundongos fêmeas foram submetidas a hiperestimulação ovariana repetida durante 10 semanas e passaram por testes comportamentais antes e depois da intervenção.

Os resultados indicaram que a hiperestimulação ovariana repetida alterou o comportamento dos camundongos fêmeas, especialmente induzindo uma atitude semelhante à depressão.


“Frequentemente, observamos mulheres em tratamento para engravidar apresentando alterações no comportamento. É crucial estar atentos aos sintomas e saber como controlá-los por meio de intervenções preventivas, medicamentosas e psicológicas. Os resultados observados em animais devem ser investigados em humanos, e testarmos alternativas de estimulação ovariana que tenham um menor impacto na saúde mental e reprodutiva das mulheres inférteis.”Marcelo Cavalcante, professor do PPGCM e coordenador do projeto

Importância social do tema 

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a infertilidade atinge cerca de 20% dos casais que tentam engravidar, fazendo com que muitos se submetam a tratamentos com estimulação ovariana. Dessa forma, torna-se necessário investigar o impacto social em torno desse tópico causado pelos efeitos colaterais.

Com a descoberta e compreensão dos pontos negativos que tal procedimento pode gerar, como a alteração comportamental, os resultados desses estudos tornam-se cruciais para o bem-estar de mulheres que estão com dificuldades para engravidar

Dessa forma, a adoção de políticas públicas é uma medida necessária para que esses casais recebam mais atenção, pois representam uma parcela importante da população. “Estudos mostram que estamos passando por uma crise reprodutiva global. Estima-se que a população mundial pode cair pela metade até o ano de 2100”, pontua Marcelo.

Assim, a medicina reprodutiva desponta como um aliado estratégico no enfrentamento da crise demográfica. Diante do envelhecimento populacional e da queda nas taxas de natalidade, as políticas públicas servem para assegurar o acesso abrangente e igualitário à saúde reprodutiva em suas diversas especificidades.

A mestranda Olga Goiana pontua a importância de divulgar o debate sobre esse tema em diversas mídias, enriquecendo as discussões e gerando novas colaborações. De acordo com ela, revistas e eventos da área, além de espaços dentro da universidade ajudam a divulgar essas informações ao público.

“Também queremos levar a discussão às redes sociais para conscientizar sobre a importância dos conhecimentos em saúde reprodutiva. É importante destacar que dados de modelos animais são valiosos como indicadores, mas não fornece respostas definitivas”, comenta a médica.

Publicação internacional 

Cada um dos artigos será publicado em revistas científicas internacionais em agosto deste ano. A pesquisa “Repeated ovarian hyperstimulation promotes depression-like behavior in female mice” estará disponível na Hormones and Behavior, que publica artigos de pesquisa originais, revisões, comentários, perspectivas e edições especiais relacionadas às relações entre hormônios, cérebro e comportamento, de forma ampla. A revista possui um CiteScore de 6.7 e um fator de impacto de 2.5.

Já o trabalho “Impact of repeated ovarian hyperstimulation on the reproductive function” será publicado na Journal of Reproductive Immunology, que promove um fórum crítico para a disseminação de resultados de pesquisas de alta qualidade em todos os aspectos da imunobiologia reprodutiva experimental, animal e clínica. Este periódico conta com um CiteScore de 6.3 e um fator de impacto de 2.9.