Pesquisa Unifor: Projeto visa dar espaço a mulheres pretas, idosas, nordestinas e periféricas

seg, 6 maio 2024 14:50

Pesquisa Unifor: Projeto visa dar espaço a mulheres pretas, idosas, nordestinas e periféricas

Realizada por docentes e alunas da Universidade de Fortaleza, a iniciativa ocorre em parceria com o Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento e Longeviver


O projeto promove a conscientização e o reconhecimento das realidades dessas mulheres, contribuindo para sua visibilidade e a luta contra o racismo e o etarismo (Foto: Getty Images)
O projeto promove a conscientização e o reconhecimento das realidades dessas mulheres, contribuindo para sua visibilidade e a luta contra o racismo e o etarismo (Foto: Getty Images)

Muitas pessoas que costumam ser marginalizadas na sociedade desempenham papéis essenciais para o progresso do bem-estar social, mesmo que suas contribuições sejam frequentemente negligenciadas devido aos estigmas associados às suas condições de existência. O serviço de dar voz às minorias não apenas enriquece suas vidas, mas também a comunidade como um todo.

Diante disso, Thiago Daniele, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) e do curso de Educação Física da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, iniciou o desenvolvimento do projeto “O Corpo da Mulher Preta, Idosa, Nordestina e Periférica: as marcas invisíveis de um mercado de trabalho excludente”.

Em sua proposta de análise, a iniciativa adota a estratégia da universidade, utilizando o que a academia oferta para a comunidade a fim de entender de forma mais profunda a realidade dessas mulheres. Ou seja, aplicar recursos acadêmicos para trazer à tona os desafios e experiências enfrentados por elas, gerando visibilidade sobre o tema tanto para a comunidade científica quanto para a sociedade como um todo.

Assim, o estudo busca promover a conscientização e o reconhecimento das realidades dessas mulheres, contribuindo para sua visibilidade e, consequentemente, para a luta contra o racismo e o etarismo na sociedade. A iniciativa foi contemplada no Edital Acadêmico de Pesquisa “Envelhecer com Futuro”.

O projeto é desenvolvido com mulheres da Comunidade do Dendê, situada ao lado da Unifor e que já dispõe da assistência de vários serviços da Universidade — como os atendimentos médicos do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) e as formações ofertadas pelo Centro de Formação Profissional (CFP)

Thiago conta que a ideia surgiu a partir de sua entrada na área das ciências sociais, especificamente no PPGSC da Unifor, assim como por seu interesse inicial em estudos sobre envelhecimento. “Conforme avançava nesse processo e me aprofundava nas teorias feministas, percebia a necessidade urgente de dar visibilidade às mulheres idosas, em particular aquelas que são negras e vivem em comunidades periféricas”, relata.


“Utilizei todo o meu conhecimento científico para adotar uma abordagem não apenas não-racista, mas antirracista, com o objetivo de promover a visibilidade dessas mulheres e das marcas invisíveis que carregam. Esta motivação surgiu também de minha experiência pessoal, que consegui transformar em um impulso científico”Thiago Daniele, professor e pesquisador da Unifor

O docente lidera o desenvolvimento do projeto em colaboração com uma equipe diversificada e experiente: Mirna Frota, coordenadora do PPGSC; Luara da Costa, professora do curso de Psicologia da Unifor; e Evania Maria Oliveira, aluna de pós-doutorado do PPGSC. Além disso, conta com a participação ativa das alunas do curso de Educação Física Larissa Oliveira, Letticia Moura e Ianny Celly da Silva.

Essa colaboração multidisciplinar é fundamental para abordar de forma abrangente e eficaz os desafios enfrentados pelas mulheres idosas, pretas, nordestinas e periféricas na sociedade. Essa iniciativa ainda é realizada em parceria com o Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento e Longeviver, fortalecendo ainda mais o alcance e impacto do projeto.

Desenvolvimento do projeto 

Para trabalhar na ressignificação das marcas e dos símbolos de resistência desse grupo de mulheres, a pesquisa realizou entrevistas e grupos focais. Esse é um método de análise qualitativa, onde as mulheres convidadas vão se expressar e as pesquisadoras, treinadas e preparadas, irão ouvir e buscar a maneira adequada de apresentar esses dados colhidos para a sociedade.

Dessa forma, será possível trazer os símbolos de força e os obstáculos que essas mulheres conseguiram vencer para chegar onde chegaram, levando os relatos para meninas pretas das novas gerações, como destaca Thiago Daniele.

“Queremos proporcionar às meninas pretas e aos jovens a oportunidade de reconhecer a força e a resiliência dessas mulheres, compreender as adversidades que elas superaram e perceber que têm a capacidade de serem quem desejam ser. É garantir que tenham oportunidades que seus avós e ancestrais não tiveram. Essa é a nossa responsabilidade como pesquisadores sociais”, pontua o docente.


Um dos objetivos do projeto é levar os relatos de mulheres negras idosas para as novas gerações de meninas pretas (Foto: Getty Images)

Dessa forma, o projeto não apenas resgata e valoriza a trajetória das mulheres negras e idosas de periferia, mas também cria um ciclo de aprendizado e inspiração que beneficia toda a comunidade.

Desafios enfrentados 

A equipe ainda não coletou todos os dados para ter uma resposta direta sobre os desafios enfrentados por essas mulheres, mas Thiago conclui que as adversidades, normalmente, são a falta de respeito e a exclusão social. Muitas dessas pessoas atuam em subempregos, são empregadas domésticas, algumas analfabetas que não tiveram oportunidade de ter educação formal.

“Nossa equipe busca compreender a origem e a significância desses símbolos de resistência, como essas mulheres conseguiram lidar com uma realidade tão adversa. Imagine chegar aos 70 anos sem saber ler, após décadas trabalhando em casas de família, muitas delas oriundas do interior e sujeitas a condições que beiravam a escravidão, incluindo dormir no próprio local de trabalho”, exemplifica o pesquisador.

Para Thiago, é fundamental entendermos esses contextos para poder oferecer uma análise mais profunda e precisa. “Nossos dados ainda estão em processo de análise, mas esperamos trazer à luz essas histórias tão marcantes e inspiradoras”, destaca. 

Formas de divulgação

O projeto terá uma ampla divulgação ao utilizar diferentes meios para alcançar diversos públicos. Serão produzidos capítulos de livros e artigos científicos que detalharão os resultados e as reflexões geradas pela pesquisa, visando compartilhar conhecimento e promover o debate acadêmico sobre temas como racismo e etarismo. 

Além disso, está prevista a criação de vídeos que abordarão de forma impactante o combate a essas formas de discriminação, com o intuito de sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre sua existência e repercussão.

Esses produtos destacam a importância de enfrentar tais desafios, especialmente para as meninas pretas das novas gerações. A iniciativa busca não apenas disseminar os resultados da pesquisa, mas também inspirar ações concretas e transformadoras na luta pela equidade e inclusão.

Um destaque especial será dado a um evento internacional, o I Congresso Internacional Envelhecer com Futuro, a ser realizado dentro da Longevidade Expo Fórum, em São Paulo, nos dias 30 de setembro e 1º de outubro, onde serão apresentados os resultados do estudo. A participação dos pesquisadores será fundamental para divulgar os achados para a comunidade científica e para a sociedade em geral. 

Parcerias que rendem frutos

O Portal do Envelhecimento e Longeviver faz parte do grupo de curadores do Longevidade Expo Fórum desde a sua criação. Ele surgiu da necessidade de disseminar conhecimento relevante sobre o envelhecimento humano para a sociedade em geral, reconhecendo a importância desse papel em uma sociedade que muitas vezes marginaliza a velhice.

Seu compromisso é promover a diversidade de vozes das pessoas idosas e daqueles que trabalham com elas, utilizando uma linguagem inclusiva que não reforce estereótipos e discriminações, além de apoiar uma pesquisa interseccional e considerar diferentes perspectivas.

De acordo com Beltrina Côrte, CEO do Portal, o projeto “O Corpo da Mulher Preta, Idosa, Nordestina e Periférica: as marcas invisíveis de um mercado de trabalho excludente” investiga a opressão - e sua percepção - contra as mulheres no mercado de trabalho, focando no grupo de maior vulnerabilidade a partir de pontos de interseccionalidade.


“Acreditamos que seu maior impacto seja na construção de conhecimento crítico que ‘joga luz’ sobre a configuração das desigualdades no contexto do envelhecimento feminino preto. E, consequentemente, impacta também na direção da elaboração de políticas públicas para este público-alvo”Beltrina Côrte, CEO do Portal do Envelhecimento e Longeviver

A parceria com o Itaú Viver Mais também desempenhou um papel fundamental no financiamento e na viabilização prática da pesquisa. Além de emprestar seu prestígio ao nome do projeto, o Itaú Social forneceu o suporte financeiro necessário para a produção dos materiais, incluindo os vídeos.

Esse apoio financeiro foi essencial para ampliar a visibilidade do projeto na comunidade acadêmica, fornecendo recursos para a produção de materiais de qualidade e garantindo a realização do projeto ao longo de um ano. 

Além disso, o auxílio permitirá a participação de Thiago no evento internacional, onde os dados coletados no Ceará poderão ser apresentados e debatidos em nível global. O apoio do Itaú Viver Mais será crucial para levar essas discussões para o mundo, enriquecendo o debate e fortalecendo as ações de combate à discriminação e à desigualdade.