ter, 26 março 2024 11:33
Atenção integrada à saúde
Com 300 mil procedimentos em 2023, Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Unifor é referência no Norte e Nordeste
Transformar vidas requer um trabalho árduo de excelência, realizado dia após dia. É assim cotidianamente nos corredores, salas e laboratórios do prédio de cinco andares onde funciona o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz.
Ao longo de 47 anos de existência do núcleo, inúmeros pacientes encontraram nele a assistência necessária para sua reabilitação física e mental. Ali, pessoas das mais diversas faixas etárias – de crianças a idosos – desenvolvem novas habilidades, conquistam independência, restabelecem a saúde e melhoram seu bem-estar.
Esses resultados são possíveis por meio de serviços de medicina, farmácia, fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e nutrição, além de exames laboratoriais e de imagem.
O financiamento vem principalmente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), mas conta também com tarifa social nos atendimentos particulares, que contribuem para manter o lugar e ampliar as especialidades. É uma roda que gira com o propósito de prestar serviços de excelência para a sociedade cearense, e tem dado valiosos frutos.
Em quase cinco décadas, o NAMI cresceu exponencialmente, a ponto de se tornar indispensável para Fortaleza e o estado do Ceará. Tornou-se referência no Norte e Nordeste, contribuindo tanto para transformar vidas quanto para formar profissionais de saúde. E os números não mentem: apenas em 2023, foram realizados 303.225 procedimentos.
“À medida que se expande e se modifica, o NAMI busca integrar o que há de mais atual em termos de assistência à saúde às principais demandas da sociedade cearense”, explica a diretora do espaço, Aline Veras Brilhante.
O núcleo ampliou o horário de atendimento em setores com grande busca por serviços em horários alternativos, como é o caso da fisioterapia. Também abraçou serviços de nutrição, incorporando, por exemplo, a nutrição esportiva. Um ambulatório de gênero foi criado para prestar assistência a pessoas trans.
O trabalho realizado no NAMI é cotidiano e feito com excelência com o intuito de transformar vidas. Quem percorre aqueles corredores diariamente como profissional diz testemunhar grandes e pequenas conquistas todos os dias. Vamos conhecer melhor como esse trabalho é feito na prática?
Reabilitação que virou referência
A terapeuta ocupacional Ísis Falcão trabalha em um dos setores mais antigos do NAMI: o de reabilitação, criado desde a inauguração do equipamento, há quase meio século. Chegou como estagiária e, depois de dois anos aprendendo sobre a área no Programa de Saúde Físico Funcional, sentiu que havia conquistado bagagem robusta para uma atuação prática relevante.
Não é para menos. Ísis conta que atuar ali é presenciar grandes e pequenas transformações todos os dias. Após se graduar, trabalhou em outros equipamentos de saúde, mas voltou em 2016 para seguir sua história com o núcleo. Ela diz que não tem como não se emocionar quando recebe algum vídeo de um jovem com TEA conseguindo fazer suas tarefas cotidianas, ou das famílias que, após oficinas realizadas no espaço, conseguem voltar a ir ao cinema com seus filhos.
O caso mais marcante que ela recorda expressa bem a grandeza dos serviços prestados no NAMI. Um adolescente de 14 anos, diagnosticado com Síndrome de Guillain-Barré devido a um quadro infeccioso, chegou em uma cadeira de rodas ao Programa de Reabilitação Neurofuncional. Ele não conseguia realizar atividades da vida diária, como se alimentar ou se vestir, e havia interrompido os estudos porque não podia segurar um lápis.
O NAMI o auxiliou com um trabalho que envolveu neuropediatria, terapia ocupacional, nutrição e serviço social. Depois de três anos de tratamento e acompanhamento, ele recebeu alta andando e executando todas as ações fundamentais do dia a dia.
Com uma equipe de abordagem interdisciplinar, o setor de Reabilitação conta com protocolos de atendimento voltados para seis programas, que envolvem, por exemplo, estimulação precoce, reabilitação neurofuncional e neurocognitiva. Eles atendem, em média, 360 pessoas com 4.500 procedimentos mensais nas especialidades de Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Psicologia, Educação Física e Fonoaudiologia, abrangendo os diversos ciclos de vida.
NAMI oferece serviço em diversas áreas, como fisioterapia, medicina, nutrição e terapia ocupacional (Foto: Divulgação)
Nos últimos anos, o setor passou por diversas mudanças estruturais e aquisições de novos equipamentos. “Nosso setor sempre foi referência de atendimento pelo potencial técnico dos nossos profissionais, mas era necessário ir além. Tornou-se fundamental modificarmos os espaços, inovar os equipamentos e adequar-se às novas demandas surgidas na área da reabilitação”, conta Ísis.
Foi assim que a reabilitação ganhou uma sala nova com equipamento de integração sensorial, salas temáticas para atendimento infantil e salas para atendimento a adolescentes. Os serviços também cresceram. Com a identificação de uma maior demanda de tratamento para pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), no ano passado, o NAMI criou o Programa Preparando para a Vida.
A iniciativa assiste jovens de 10 a 16 anos com TEA, indo além do espaço físico do NAMI. O paciente precisa aprender habilidades sociais que incluam fazer compras em um supermercado ou perder o receio de andar de ônibus, por exemplo? A equipe de terapeutas prepara atividades em ambiente simulado e depois em ambiente real.
Os resultados alcançados renderam um convite para a equipe da reabilitação capacitar profissionais das Policlínicas e Atenção Primária à Saúde (APS) sobre o modelo de Oficinas Parentais, na implantação da linha de cuidado da criança com TEA pela Secretaria da Saúde de Fortaleza.
“O setor de Reabilitação do NAMI é um dos poucos serviços interdisciplinares que atende ao público do SUS em Fortaleza. Devido à nossa abordagem e estrutura, o paciente usufrui de diversos serviços também oferecidos pela comunidade acadêmica. Por exemplo, implantamos o ambulatório de pediatria em parceria com o curso de Medicina, e nossas crianças agora têm atendimento médico nessa área.” – Ísis Falcão, responsável técnica pelo setor de Reabilitação
Fisioterapia que une profissionais e acadêmicos
No setor de Fisioterapia do NAMI, as conquistas também vêm paulatinamente, dia após dia. Responsável técnica pelo setor, a fisioterapeuta Danielle Hortencio lembra com carinho de pelo menos dois casos marcantes de transformação, uma pequena seleção dentre tantos que presenciou durante sua trajetória no núcleo.
Um paciente de 16 anos sofreu lesão medular por arma de fogo e, desafiando o prognóstico médico, conseguiu andar com o auxílio de bengala e retornar ao trabalho após meses de fisioterapia. O segundo caso foi o do senhor que treinava para uma prova de bicicleta e se acidentou, tendo fraturas múltiplas nos braços. Graças à fisioterapia, conseguiu retomar suas atividades normais.
Essas histórias são possíveis graças ao serviço que funciona como clínica escola, recebendo acadêmicos para vivências nas disciplinas práticas, além de uma equipe que atende nas diversas áreas da fisioterapia. Os atendimentos são realizados principalmente pelo SUS, por meio de agendamentos feitos pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Fortaleza. Mas também há a possibilidade dos convênios e da tarifa social.
“O NAMI é referência no estado do Ceará por desenvolver ações de saúde no nível secundário, atuando na promoção da saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento e reabilitação não só na área de fisioterapia, mas também na medicina, farmácia, fonoaudiologia, nutrição, psicologia, serviço social e reabilitação.” – Danielle Hortencio, responsável técnica pelo setor de Fisioterapia
Um setor de nutrição com estrutura mais ampla e mais serviços
Mais de 5.000 atendimentos foram realizados pelo setor de Nutrição do NAMI em 2023. São especialmente pacientes vindos pelo SUS, de todas as faixas etárias e com patologias diversas.
O setor atende, por exemplo, crianças com alergia à proteína do leite de vaca (APLV), graças a um programa em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza. Também atende pacientes com transtornos alimentares e obesidade por meio do Programa Interdisciplinar de Nutrição aos Transtornos Alimentares e Obesidade (Pronutra), iniciativa de extensão do curso de Nutrição da Unifor.
À demanda vinda do SUS, incorporou-se também os atendimentos por meio da tarifa social. Os serviços puderam ser expandidos também com as abordagens da Nutrição Esportiva, Nutrição Funcional e Estética e da Nutrição Comportamental.
Nos últimos anos, o setor passou por melhorias para proporcionar serviços modernos e de excelência, além de garantir mais benefícios à população fortalezense. Uma reforma em 2018 ampliou o número de consultórios para 17 e garantiu duas salas de antropometria, sendo uma adulta e uma pediátrica. Além disso, a estrutura conta com sala de reuniões para atendimentos coletivos e três salas de monitoramento para uso dos professores em observação aos atendimentos.
A responsável técnica pelo setor, Ana Paula Oliveira de Queirós, conta com orgulho sobre cada mudança e melhoria no serviço que ela conhece desde os tempos de estudante na Unifor. Em abril de 2013, ela voltou à casa como nutricionista contratada. “Foi um grande privilégio”, diz.
“Em 2019, fui convidada para ser responsável técnica do setor, cargo que me permitiu dedicar ainda mais atenção ao ambulatório de Nutrição, buscando cada vez mais oferecer a melhor experiência para nossos alunos e pacientes”, explica.
Ao longo da jornada, Ana Paula viu o resultado do trabalho do setor repercutir positivamente na vida de muita gente. “Conseguimos perceber mudanças no estilo de vida e bem-estar gerado por meio de serviços, como atendimentos no grupo ‘Para além do peso’, do Programa de APLV e muitos outros”, conta a nutricionista.
“O NAMI oferece atendimentos mais humanizados e interprofissionais, unindo ensino, pesquisa, extensão e serviços. [O núcleo] tem um papel social enorme, pois é um equipamento de saúde reconhecido pela Secretaria Municipal de Saúde, que integra e fortalece a rede de assistência à saúde pública.” – Ana Paula Oliveira de Queirós, responsável técnica pelo setor de Nutrição
Ana Paula destaca que, no NAMI, os serviços são prestados em ambiente adequado e acolhedor, com instalações e equipamentos necessários para as melhores avaliações e condutas terapêuticas. “Buscamos proporcionar a melhor experiência para nossos pacientes, alunos, docentes e colaboradores, sempre analisando e buscando atender às necessidades, proporcionando bem-estar e qualidade de vida para essas pessoas”, completa.
Laboratório com certificado de excelência? Temos!
Entre tantos serviços de excelência, o Núcleo de Atenção Médica Integrada dispõe ainda de um laboratório de análises clínicas com certificado de excelência emitido pelo Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ), patrocinado pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC).
Farmacêutico bioquímico e responsável técnico do Laboratório de Análises Clínicas do NAMI, Walter Breno de Souza Freire lembra que a certificação é concedida há 17 anos consecutivos e é fruto da estrutura de ponta e da qualidade dos serviços realizados no local.
O laboratório oferece mais de 300 tipos diferentes de exames, abrangendo desde análises clínicas básicas (exames de sangue de rotina) até testes moleculares avançados. Esses exames cobrem diversas especialidades médicas, incluindo hematologia, bioquímica, microbiologia, endocrinologia, nefrologia, infectologia, genética, entre outras. São, ao total, 80 mil exames realizados anualmente.
“O advento da tarifa social possibilitou maior acesso ao público, acarretando em um relevante incremento no número de atendimentos. Isso possibilita uma melhora na qualidade e robustez do estágio supervisionado em análises clínicas realizado pelos graduandos do curso de Farmácia, pois cria uma proximidade da academia com o mercado de trabalho. A ampliação dos atendimentos contribui de forma significativa para a sustentabilidade dos serviços prestados.” – Walter Breno, responsável técnico do Laboratório de Análises Clínicas
Walter atua no setor desde abril de 2013, e assumiu a posição de responsável técnico pelo setor em 2015. “Sou privilegiado por testemunhar diariamente a fascinante interseção entre o mercado e a academia em meu trabalho. Esta posição me oferece uma perspectiva única, onde a pesquisa e a prática se entrelaçam para beneficiar diretamente os pacientes, os graduandos e a comunidade em geral”, afirma.
Ele diz que a abordagem do NAMI permite que esteja continuamente engajado em projetos de pesquisa e desenvolvimento nas áreas de nutrição, em colaboração com o curso de Nutrição da Unifor e, mais recentemente, em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“Também colaboramos com projeto de pesquisa na área de infectologia, com o curso de Enfermagem, buscando novas técnicas e tecnologias para aprimorar nossos serviços e oferecer diagnósticos mais precisos e eficazes. Essas colaborações nos permitem estar na vanguarda da inovação e incorporar rapidamente avanços científicos em nossa rotina laboratorial”, destaca.
Para Walter, ao oferecer serviços de saúde de qualidade em um único local, o NAMI pode ajudar a reduzir as desigualdades em saúde na sociedade cearense. “Isso é especialmente importante para grupos vulneráveis, como pessoas de baixa renda, idosos e indivíduos com condições médicas crônicas, que podem enfrentar dificuldades adicionais no acesso aos cuidados de saúde”, conclui.
Um equipamento com atendimento cada vez mais humanizado
Idealizado há 47 anos, o NAMI nasceu com o objetivo de prestar serviços na área de saúde aos moradores das comunidades no entorno da Unifor, além de ser campo de prática para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação.
Com o passar do tempo, ampliou seu campo de atuação, vinculando-se ao Sistema Único de Saúde (SUS) e prestando assistência à população de Fortaleza, incorporado à Rede de Assistência à Saúde do Município e do Estado.
A diretora Aline Veras explica que, atualmente, o SUS é responsável por cerca de 80% da atividade assistencial do NAMI, reconhecido como um Centro Especializado em Reabilitação e como prestador de Atendimento de nível Secundário Especializado, com oferta de diversas especialidades.
“O NAMI fortalece a rede de saúde de Fortaleza e do Ceará, contribuindo de forma sustentada com toda a sociedade cearense. O núcleo também é cenário de atividades de extensão e de desenvolvimento de pesquisas clínicas. Deste modo, articula-se com outros equipamentos que possibilitam o reconhecimento da Unifor como promotora do conhecimento científico.” – Aline Veras, diretora do NAMI
O núcleo também passou a prestar atendimentos via Saúde Suplementar e particulares. A maior parte dos atendimentos particulares é realizada por meio da tarifa social. A criação dessa tarifa visa possibilitar a realização de procedimentos e atendimentos de difícil acesso pelo SUS com valores significativamente reduzidos.
“Por meio dessa tarifa, conseguimos possibilitar o acesso de uma parcela da população a serviços específicos, que de outra forma dificilmente seriam alcançados, como o acompanhamento multidisciplinar a pessoas com transtornos alimentares ou serviço multiprofissional de assistência às pessoas transgênero”, explica Aline.
O NAMI não tem o objetivo de gerar lucro para si, e a renda gerada pelas consultas visa a sustentabilidade dos serviços, sendo investida na melhoria dos atendimentos e da estrutura, para que se preste a melhor assistência possível à população e aos alunos da Universidade. É uma roda que gira para garantir a excelência.
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