Cyberbullying: como identificar, impactos e consequências

seg, 30 agosto 2021 16:39

Cyberbullying: como identificar, impactos e consequências

Prática violenta pode afetar o desenvolvimento pessoal e social de suas vítimas


Lei Federal nº 13.185 objetiva a prevenção e o combate à intimidação sistemática (Foto: Getty Images)
Lei Federal nº 13.185 objetiva a prevenção e o combate à intimidação sistemática (Foto: Getty Images)

Você certamente já ouviu histórias sobre alunos que mudaram de escola devido a episódios de exclusão e zombaria por parte de seus colegas. Ou, até mesmo, já viu séries e filmes que retratam essas situações ou circunstâncias similares. Essas ações de perseguir, agredir ou ridicularizar pessoas têm nome: bullying. A palavra vem do inglês, e caracteriza a prática de agressão física, verbal e/ou psicológica sistemática e repetitiva contra uma ou mais pessoas. 
 
O bullying é mais identificado entre crianças e adolescentes em fase escolar. Mas, com o advento das redes sociais e sua disseminação na sociedade, essa prática, antes limitada a ambientes físicos, se estendeu para o plano virtual e ganhou outra denominação: cyberbullying, palavra também de origem inglesa que junta o universo cibernético aos atos de violência. 
 
Fica claro, então, que o cyberbullying é a modalidade virtual do bullying "presencial", e segue as mesmas premissas que o último. Porém, a violência é praticada com a ajuda da internet em diversos ambientes virtuais, como as redes sociais, aplicativos de mensagem, e, até mesmo, plataformas de jogos online.  
 
Seja presencial ou virtual, essas duas práticas de intimidação e perseguição andam lado a lado. Uma não exclui a outra, e, atualmente, ambas podem acontecer ao mesmo tempo. Entretanto, o cyberbullying não tem hora marcada para acontecer. Ele ultrapassa qualquer fronteira física, e a vítima não precisa sair de casa para sofrer os ataques. 
 
A psicóloga Louise Macedo, graduada pela Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, explica a distinção entre bullying e cyberbullying: "a principal diferença está em quem pratica. Nas redes sociais, as pessoas se sentem protegidas por uma grande massa e acabam sendo ainda mais cruéis do que ao vivo." 

Como identificar 

Em 2015 foi publicada a Lei Federal nº 13.185, a qual institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), que objetiva a prevenção e o combate à intimidação sistemática, como o próprio nome diz, e busca, através de mecanismos e instrumentos alternativos, não punir de forma severa os agressores, mas sim efetivamente responsabilizá-los e mudar seus hábitos violentos. 
 
A legislação define, de forma clara, a prática de cyberbullying como "intimidação sistemática na rede mundial de computadores" realizada através de "instrumentos que lhe são próprios para depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial". 

É importante destacar que os agressores geralmente focam na aparência ou no comportamento de suas vítimas, que muitas vezes não se encaixam no padrão heteronormativo estabelecido pela sociedade ou no padrão presente no ambiente escolar. Então, de acordo com a lei, montagens constrangedoras e divulgação de fotos íntimas podem ser consideradas cyberbullying. 
 
Porém, o problema vai muito além da exposição de fotografias, e, devido às diversas plataformas disponíveis ao alcance da mão hoje, o grau de intimidação pode variar muito no virtual. Dessa forma, o cyberbullying pode ser identificado desde comentários maldosos em vídeos até a utilização de figurinhas em aplicativos de trocas de mensagem com o rosto da pessoa com o intuito de zombar de sua aparência. 

Impacto e consequências 

A pandemia provocou um aumento exponencial do uso das redes sociais e da internet no geral, o que dificulta ainda mais a diminuição da violência virtual. Assim, com a rápida disseminação dos conteúdos na internet, o cyberbullying deixa um rastro digital e tem seus efeitos ampliados, resultando em sérias consequências para as vítimas, em especial crianças e adolescentes, que são os mais presentes no mundo virtual hoje.

“Tanto na internet quanto no bullying (presencial), a pessoa se sente acuada, humilhada e intimidada no relacionamento com as pessoas. [As vítimas] podem apresentar sintomas físicos e psicológicos, mas nem sempre esses sintomas são expostos", Louise Macedo, psicóloga graduada pela Unifor.  

Às vezes, porém, o indivíduo mostra indícios de que está sofrendo com essas práticas violentas. Alguns sinais, de acordo com a psicóloga, são: aspectos como problemas interpessoais, humor deprimido e autoestima negativa, além de sintomas relacionados à baixa autoestima, solidão, tristeza e até mesmo pensamentos de cunho suicida. 

Na visão da profissional, o impacto da modalidade virtual do bullying é maior, já que consegue atingir mais pessoas ao mesmo tempo. “O cyberbullying acaba sendo pior, pois é mais constante. Um cyberbully consegue atingir a sua vítima 24h por dia com milhares de espectadores, podendo ainda manter o seu anonimato”, conclui Macedo.

Prevenção e combate 

Ao longo dos anos, as discussões acerca do bullying ganharam as redes e os espaços escolares. Para mostrar a importância da temática, o Governo Federal designou, em 2016, o dia 7 de abril como o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola. Porém, é importante que a sociedade como um todo saiba como combater essas práticas violentas, tanto físicas quanto virtuais. 

A psicóloga Louise Macedo traz algumas dicas de como pais, responsáveis e adultos em geral podem auxiliar na prevenção e no combate do cyberbullying: participar ativamente na vida escolar dos filhos, manter-se atento aos sinais de alerta, como mudança de comportamento e de humor; conhecer e utilizar as tecnologias, sobretudo as aplicações que os jovens mais utilizam e incentivar as crianças e jovens a pensar antes de publicar.  

"O cyberbullying é muito preocupante, porque ele pode acontecer vinte e quatro horas por dia, e os jovens, por utilizarem muito as redes sociais, principalmente nesse período de pandemia, acabam não diferindo o que é o mundo "ao vivo", o que é a vida real e o que é a vida online", reflete a profissional.

Caso a vítima não tenha um bom suporte familiar, e para aqueles que necessitam de ajuda psicológica, o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende 24 horas durante todos os dias da semana. Disque 188 ou acesse o site da instituição (cvv.org.br).