Entrevista Nota 10: Aline Nogueira e a necessidade de uma formação aprofundada em psicologia

seg, 24 junho 2024 20:27

Entrevista Nota 10: Aline Nogueira e a necessidade de uma formação aprofundada em psicologia

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia fala sobre o mercado de psicologia, assim como a importância de uma formação constante e aprofundada para o psicólogo


Doutora e mestre em Psicologia, Aline também coordena o Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: Casais, Famílias e Comunidade (Lesplexos) na Unifor (Foto: Arquivo pessoal)
Doutora e mestre em Psicologia, Aline também coordena o Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: Casais, Famílias e Comunidade (Lesplexos) na Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

A discussão sobre saúde mental tem sido uma tendência crescente ao longo das últimas décadas, mas a chegada da pandemia de Covid-19 acelerou e intensificou a demanda por ajuda profissional na área. Os psicólogos, principais responsáveis por esse acompanhamento, têm sido cada vez mais buscados pela população, o que expande o mercado de trabalho, mas também exige uma capacitação diferenciada.

Uma das principais opções para quem pretende conquistar destaque no ramo é a realização de uma formação acadêmica aprofundada, para além da graduação. É o que explica a psicoterapeuta Aline Nogueira de Lira, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza.

“Seguir se capacitando academicamente faz uma grande diferença na carreira profissional do psicólogo, não só pela ampliação das possibilidades de atuação, mas também pelo impacto positivo que pode ter na sociedade através de uma prática mais informada, reflexiva e socialmente engajada”, ressalta a docente.

Mestre e doutora em Psicologia pela Unifor, ela também coordena o Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: Casais, Famílias e Comunidade (Lesplexos) na instituição, onde desenvolve pesquisas relacionadas às famílias constituídas por casais do mesmo sexo e resiliência. Segundo ela, essa é uma das áreas que tem crescido muito e demandado profissionais especializados, por exemplo.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, Aline fala sobre como anda o mercado de psicologia e a importância de uma formação constante e aprofundada para o psicólogo, além de ressaltar os diferenciais do PPGP.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Apesar de haver um aumento constante ao longo da última década, a demanda por psicólogos cresceu de forma intensa da pandemia de Covid-19, em 2020, para cá. Como anda hoje o mercado para profissionais de psicologia? Ele segue aquecido na previsão para os próximos anos?

Aline Nogueira — O mercado para profissionais de psicologia continua aquecido e, na verdade, estamos vendo cada vez mais um reconhecimento da importância de cuidarmos da saúde mental. A pandemia de Covid-19 impactou significativamente a vida das pessoas em comunidades em todo o mundo, e suas consequências ainda estão em curso. Pesquisas recentes evidenciam taxas elevadas de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes, como depressão e ansiedade.

Além disso, muitos conflitos conjugais e familiares surgiram ou se intensificaram durante a pandemia, e esses desafios continuam a demandar atenção e intervenção profissional. A cascata de desafios socioeconômicos ocasionados pela pandemia também contribui para o aumento da demanda por serviços de psicologia, à medida que as pessoas lutam com questões de desemprego, insegurança financeira e mudanças nas dinâmicas familiares.

Nos próximos anos, espera-se que essa demanda permaneça elevada. A conscientização crescente sobre a importância de cuidar da saúde mental, aliada às consequências da pandemia, indica que os profissionais de psicologia continuarão a desempenhar um papel crucial na sociedade. A expansão dos serviços de saúde mental, tanto no âmbito público quanto privado, reforça essa previsão, sinalizando um mercado em constante crescimento e evolução.

Entrevista Nota 10 — Com uma concorrência ampla e possibilidades de atuação cada vez mais específicas em diversas áreas, por que é importante fazer mestrado e doutorado em Psicologia? Seguir se capacitando academicamente faz uma grande diferença na carreira profissional do psicólogo? 

Aline Nogueira — Fazer mestrado e doutorado em Psicologia amplia e aprimora significativamente as possibilidades de atuação do profissional. Esse avanço acadêmico não só qualifica o psicólogo para a prática psicológica, mas também para a docência e pesquisa, permitindo que atue em Instituições de Ensino Superior (IES) e outras instituições de ensino e pesquisa.

Esses níveis avançados de formação proporcionam uma profundidade de conhecimento e habilidades que são essenciais para enfrentar os desafios complexos da prática psicológica contemporânea. Além disso, o desenvolvimento de habilidades de pesquisa permite que os psicólogos contribuam para o avanço da ciência psicológica e de novas intervenções e abordagens baseadas em evidências.

De uma perspectiva mais ampla, mestrados e doutorados têm como objetivos promover a inserção social e o intercâmbio com a sociedade. Isso se reflete no aprimoramento da reflexão acadêmica em diálogo com questões sociais pertinentes, o que é fundamental para a relevância e impacto da psicologia na sociedade contemporânea. A capacitação acadêmica contínua permite que os profissionais estejam melhor preparados para responder às demandas sociais emergentes e contribuir de maneira significativa para o bem-estar coletivo.

Em resumo, seguir se capacitando academicamente faz uma grande diferença na carreira profissional do psicólogo, não só pela ampliação das possibilidades de atuação, mas também pelo impacto positivo que pode ter na sociedade através de uma prática mais informada, reflexiva e socialmente engajada.

Entrevista Nota 10 — Quais são as áreas da psicologia que mais buscam um profissional com formação mais robusta e específica? Poderia pontuar que campos de atuação mais têm crescido e nos quais o(a) psicólogo(a) pode investir em uma capacitação direcionada e diferenciada?

Aline Nogueira — Diante da crise de saúde pública e dos desafios psicossociais que temos vivenciado, algumas áreas da psicologia se destacam pela busca de profissionais com formação mais robusta e específica. Investir em capacitação direcionada e diferenciada nessas áreas pode abrir muitas oportunidades para o(a) psicólogo(a). Entre as áreas mais promissoras, podemos destacar:

  1. Psicologia da Saúde: Com a pandemia de Covid-19, a importância da saúde mental foi amplamente reconhecida, aumentando a demanda por psicólogos especializados na interface entre saúde física e mental. Psicólogos da saúde trabalham em hospitais, clínicas, programas de saúde pública e outras instituições, oferecendo apoio psicológico a pacientes com doenças crônicas, participando de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças, e ajudando a lidar com o estresse e o trauma associados a problemas de saúde.
  2. Psicologia Clínica: Essa é uma área tradicionalmente forte, mas que viu um aumento significativo na demanda devido aos efeitos da pandemia. Psicólogos clínicos trabalham com a avaliação, diagnóstico e tratamento de transtornos mentais, emocionais e comportamentais. Eles podem trabalhar em consultórios particulares, clínicas, hospitais e centros de saúde mental, oferecendo terapia individual, de casal e de família, bem como grupos de apoio e intervenções em crises.
  3. Psicologia Jurídica: Esta área vem ganhando destaque com o aumento das questões legais e sociais que demandam a expertise dos psicólogos. Psicólogos jurídicos podem atuar em tribunais, prisões, instituições de reabilitação, serviços de proteção à criança e adolescente, e outras áreas do sistema de justiça. Eles realizam avaliações psicológicas para processos judiciais, trabalham na reintegração social de presos e vítimas de crimes, e oferecem suporte a famílias envolvidas em litígios.
  4. Psicologia e Diversidade (Grupos Minoritários): O crescente reconhecimento das questões de diversidade e inclusão tem impulsionado a demanda por psicólogos especializados em trabalhar com grupos minoritários. Esses profissionais atuam com populações LGBTQ+, grupos étnicos e raciais minoritários, pessoas com deficiência e outras comunidades marginalizadas, oferecendo apoio psicológico, promovendo a resiliência e desenvolvendo programas de inclusão e conscientização.
  5. Docência e Pós-Graduação: Com a expansão das instituições de ensino superior e a crescente demanda por formação acadêmica de qualidade, a docência e a pesquisa em psicologia também são áreas em crescimento. Psicólogos com mestrado e doutorado são altamente valorizados para ensinar nas universidades e conduzir pesquisas que contribuem para o avanço do conhecimento na área.
  6. Área do trabalho: Investir em uma capacitação direcionada e diferenciada nessas áreas pode proporcionar uma carreira diversificada e promissora, com oportunidades de impacto significativo na saúde mental e bem-estar da sociedade.

Entrevista Nota 10 — Para quem busca se capacitar no ramo, a Unifor disponibiliza o Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Quais os principais diferenciais do PPGP? Com o que o profissional da psicologia pode contar ao chegar aqui para uma formação de excelência?

Aline Nogueira — O PPGP da Unifor é pioneiro no Ceará e se destaca por diversos diferenciais que garantem uma formação de excelência para os profissionais de psicologia. Avaliado com nota 5 pela CAPES, o Programa possui uma trajetória consolidada e já formou em torno de 500 mestres e 90 doutores em Psicologia. Esses profissionais se destacam principalmente na docência em universidades estaduais, federais e privadas no Ceará e em outros estados, além de atuarem em áreas como clínica, saúde e educação.

Alguns dos principais diferenciais do PPGP incluem:

  • Excelência Acadêmica: O programa é reconhecido pela sua alta qualidade acadêmica, evidenciada pela avaliação positiva da CAPES. Isso reflete o compromisso com a formação de profissionais altamente capacitados e com uma sólida base teórica e prática.
  • Perfil Plural e Multidisciplinar: O PPGP atrai não apenas estudantes de Psicologia, mas também de áreas como Administração, Pedagogia, Arquitetura, Turismo e Comunicação Social, entre outras. Isso contribui para um ambiente acadêmico diversificado e enriquecedor, onde diferentes perspectivas e abordagens teóricas são valorizadas.
  • Corpo Docente Qualificado: O programa conta com 12 docentes permanentes, distribuídos em três linhas de pesquisa e oito laboratórios. Esses professores são altamente qualificados e atuam em áreas diversas da psicologia, proporcionando uma formação abrangente e especializada.
  • Laboratórios e Grupos de Estudo: Os laboratórios do PPGP reúnem docentes e estudantes da graduação e pós-graduação, oferecendo grupos de estudos que contribuem para a formação contínua dos estudantes e o aprofundamento de temáticas específicas. Esses grupos são fundamentais para o desenvolvimento da iniciação científica, do mestrado e do doutorado.
  • Formação de Docentes e Pesquisadores: O principal objetivo do PPGP é a formação de docentes e pesquisadores nos conhecimentos e práticas psicológicas relacionadas aos processos de subjetivação contemporâneos. O programa foca no estudo do sofrimento psíquico e suas repercussões no sujeito, na sociedade e na cultura, preparando profissionais para lidar com questões complexas e atuais.
  • Inserção Social e Intercâmbio com a Sociedade: O PPGP promove a inserção social e o intercâmbio com a sociedade, direcionando-se para o aprimoramento da reflexão acadêmica em diálogo com questões sociais pertinentes. Isso reforça o compromisso do programa com a relevância social da psicologia.

Ao escolher o PPGP da Unifor, o profissional de psicologia pode contar com uma formação de excelência, que combina rigor acadêmico, diversificação temática e um forte compromisso com a responsabilidade social.

Entrevista Nota 10 — Você é egressa dos cursos de Mestrado e Doutorado em Psicologia da Pós-Unifor. Poderia compartilhar um pouco da sua experiência com o Programa enquanto aluna? O que te fez escolher a Unifor para trilhar novos caminhos na capacitação acadêmica e profissional?

Aline Nogueira — Escolhi a Universidade de Fortaleza por essa trajetória já consolidada, pela qualidade dos professores, pela diversidade das linhas de pesquisa, e por uma coerência entre a minha prática clínica e uma das linhas do PPGP. Fiz o meu mestrado no Laboratório de Psicopatologia e Clínica Humanista Fenomenológica (Apheto) da Unifor, e que já foi um percurso de mestrado que consolidou também a minha prática clínica, mas, sobretudo, me trouxe a perspectiva da docência. Foi onde eu me apaixonei pela docência, mas também me fez vislumbrar o lugar de pesquisadora.

Logo que terminei o mestrado, que inclusive fiz com uma bolsa FUNCAP — que é um outro destaque da Unifor, o de captar muitos recursos para financiar a pós-graduação dos alunos —, já entrei no doutorado e fui para um outro laboratório, o Laboratório de Estudos dos Sistemas Complexos: casais, família e comunidade (Lesplexos).

Foi uma trajetória belíssima, de muito acompanhamento por parte da minha orientadora, que abriu muitas portas para parcerias nacionais e internacionais. Fiz o doutorado sanduíche na Universidade do Porto, onde até hoje tenho vínculos. [Fiz] parcerias com profissionais de São Paulo, da Universidade Federal de São Carlos, da Universidade Federal de Aracaju, da UFRGS. Então foi um lugar de uma trajetória muito fértil.

Inclusive, logo que terminei o doutorado, abriu uma vaga na graduação [em Psicologia] na área de famílias, que era justamente o meu principal eixo de pesquisa. Assumi durante cinco anos esse projeto, trabalhando ativamente na graduação. Logo em seguida, abriu uma seleção para a pós-graduação no Lesplexos, laboratório do qual eu fazia parte, e foi muito interessante porque eu concorri com pessoas do Brasil todo. E ainda assim, pelo caminho que eu tinha trilhado no mestrado e no doutorado com o apoio dos professores, eu consegui tirar o primeiro lugar nessa seleção. Hoje faço parte, há dois anos e meio, do PPGP, onde eu fui construir meu percurso, por isso eu acredito tanto nesse lugar [a Unifor].

Essa trajetória eu considero realmente de muita qualidade. Seja pela instituição, por todo o apoio institucional com as bolsas de pesquisa — também fiz o doutorado com bolsa FUNCAP —, seja por toda a estrutura, seja pelos laboratórios de pesquisa do Programa. Tudo isso trouxe muita qualidade para minha formação, o que me facilitou, de certa forma, trilhar um caminho de sucesso dentro daquilo que eu esperava: sendo psicóloga clínica e, também hoje, docente pesquisadora e coordenadora do PPGP.

Entrevista Nota 10 — Este ano você assumiu a coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor. Como é estar hoje à frente do PPGP? E quais são os desafios e as perspectivas atuais e futuras para o Programa no âmbito da formação de profissionais de excelência? 

Aline Nogueira — Eu assumi há seis meses a coordenação do PPGP, substituindo a antiga coordenadora, Luciana Maia, que está fazendo doutorado sanduíche na Universidade de Lisboa. Tem sido uma experiência muito desafiadora, mas, ao mesmo tempo, muito gratificante. Tenho essa responsabilidade de garantir a continuidade da excelência acadêmica e da relevância social do Programa. Isso me traz um desafio de cumprir com as funções do gestor da pós-graduação, de uma gestão acadêmica, uma gestão administrativa, além de promover essa integração entre docentes, discentes e a própria sociedade.

Dentre os desafios e as perspectivas que eu vejo nesse papel, uma delas é manter a manter qualidade acadêmica, aprimorar a qualidade do Programa. Isso vai envolver a atualização constante do currículo, de incorporação de novas metodologias de ensino e pesquisa, de incentivo à produção científica, de fomento à pesquisa e à inovação. É fundamental estimularmos essa pesquisa inovadora e interdisciplinar, e isso inclui buscar financiamentos externos, estabelecer parcerias com outras instituições, promover eventos científicos e troca de conhecimento. 

Uma outra área que tem sido [visada] é a integração e a inserção social, que a Unifor tem estado muito atenta. Inclusive, as próprias preocupações do MEC são de trabalhar com os projetos de extensão. Então o PPG tem tentado promover essa inserção social e intercâmbio com a sociedade. Isso se traduz muito na realização dos projetos de extensão, na participação bem ativa das discussões de políticas públicas de saúde mental, na oferta de serviços que atendam as necessidades da comunidade. Temos, por exemplo, um projeto de extensão ligado ao acolhimento de vítimas de violência contra a mulher, de formação de professores.

Um outro lugar que é muito importante na nossa gestão é o apoio ao corpo docente, um desafio apoiar o desenvolvimento contínuo desses professores. Temos incentivado bastante o programa de capacitação, incentivo à produção científica e, sobretudo, a construção de um ambiente mais colaborativo que favoreça a integração à inovação. É uma gestão também de muito afeto, de muita abertura para entender o lugar do outro, mas de muito estímulo a compreender o que cada um daqueles que compõem o grupo dos docentes do nosso Programa tem de melhor para oferecer ao PPGP de um modo geral. 

Estar à frente do PPGP é um desafio imenso, pois envolve a gestão de muitos aspectos do programa. Não falei também da própria gestão dos alunos em si, que é também um desafio colaborar com a formação deles. Continuamos nesse objetivo de formar profissionais de excelência. E as perspectivas futuras são bem promissoras! 

Enfim, estou feliz de estar nessa tarefa desafiadora, que tem me desafiado pessoalmente e profissionalmente, mas que tem me trazido também uma gratificação grande ao ocupar esse lugar de muito prestígio. Fiquei muito feliz de ter sido indicada pelo colegiado, uma professora que está há tão pouco tempo no Programa, mas que já foi indicada para ser a coordenadora substituta da minha colega Luciana.