Entrevista Nota 10: Manuel Mendes e o cenário promissor de hidrogênio verde no Ceará

seg, 22 julho 2024 11:45

Entrevista Nota 10: Manuel Mendes e o cenário promissor de hidrogênio verde no Ceará

Sócio global do IXL Center fala sobre panorama do hidrogênio verde no Ceará e no mundo, além de comentar a aproximação da Unifor ao debate sobre a temática


Egresso da Unifor, Manuel é cofundador e diretor global do Boston Innovation Gateway, membro do conselho do Global Innovation Management Institute e da Harvard Association for Entrepreneurship and Real Estate (Foto: Ares Soares)
Egresso da Unifor, Manuel é cofundador e diretor global do Boston Innovation Gateway, membro do conselho do Global Innovation Management Institute e da Harvard Association for Entrepreneurship and Real Estate (Foto: Ares Soares)

A transição energética tem sido um dos assuntos mais urgentes discutidos nos dias atuais, principalmente em razão dos efeitos da mudança climática cada vez mais evidentes. Em meio ao debate, o hidrogênio verde (H2V) surge como uma possibilidade energética eficaz e sustentável para um futuro mais saudável do planeta.

O Estado do Ceará, por exemplo, vem investindo nesse cenário promissor a nível global, com diversos memorandos nacionais e internacionais já assinados para a produção de H2V no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Instalado em uma área de mais de 19 mil hectares, o Complexo conta com uma localização geográfica privilegiada e destaca-se por abrigar os primeiros projetos do setor de hidrogênio verde no Brasil.

Nesse momento, o mercado e o governo precisam de toda ajuda possível para alavancar a área. A IXL Center tem o perfil necessário para isso, conforme explica o administrador cearense Manuel Mendes, sócio global da instituição, cofundador e diretor global do Boston Innovation Gateway (BIG) e professor nas áreas de estratégia, inovação e internacionalização de empresas em nível global.

“O IXL Center pode contribuir para a construção da cadeia de valor do H2V no Ceará enquanto empresa de referência mundial em inovação, que realiza conexões entre governos, universidades e iniciativa privada em nível global, para o desenvolvimento de novas competências e capacidades da tríplice hélice do ecossistema”, pontua.

Egresso do curso de Administração da Universidade de Fortaleza, Manuel voltou ao campus junto a Hitendra Patel, CEO da IXL Center, para aproximar a Unifor da discussão sobre a temática do hidrogênio verde. Eles foram convidados para o momento por Igor Queiroz Vidal, presidente do Conselho de Administração no Grupo Edson Queiroz, após a participação da empresa na apresentação das oportunidades para o Estado na cadeia de valor do hidrogênio verde, evento realizado na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).

Manuel é membro do conselho do Global Innovation Management Institute e da Harvard Association for Entrepreneurship and Real Estate, sendo pós-graduado em Gestão de Varejo e Gerência de Projetos, mestre em Administração de Empresas pela Hult IBS e especializado em Estratégia pela Universidade de Harvard. Como consultor, liderou centenas de projetos para empresas, associações e governos, envolvendo internacionalização, conexões e transferência de know-how e inovação.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele fala sobre o panorama do hidrogênio verde no Ceará e no mundo, além de comentar a aproximação da Unifor ao debate sobre a temática do setor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — O Ceará conta com o Hub de Hidrogênio Verde (H2V) no Complexo do Pecém para transformar o estado em um grande fornecedor mundial desse combustível sustentável. Quais fatores socioeconômicos e ambientais abrem oportunidades para o investimento nesse setor energético? E em relação ao mercado global, como somos vistos?

Manuel Mendes — O Ceará tem vantagens para a geração de energias renováveis, solar e eólica prioritariamente, que são matérias primas para a produção do H2V. Possui geografia estratégica (proximidade com a Europa, provável comprador prioritário) e infraestrutura (porto, ZPE, rodovias, linhas de transmissão, entre outros). Tem consumidores instalados (indústrias de aço, cimento e data centers) e parcerias estratégicas pré-existentes, como o porto de Roterdã, além de centros acadêmicos e pesquisadores de referência na área. Por essas razões, o estado é considerado um forte player por investidores internacionais.

Entrevista Nota 10 — No fim de junho, você e o Hitendra Patel, CEO da IXL Center, estiveram na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) para a apresentação das “Oportunidades para o Ceará na Cadeia de Valor do Hidrogênio Verde”. De que forma a IXL Center pôde contribuir com a discussão? O que é mais importante e urgente para nos atentarmos durante o desenvolvimento desse tipo mercado? 

Manuel Mendes — Em resumo, liderados pelo presidente Ricardo Cavalcante, da FIEC, e o governador Elmano de Freitas, nós conectamos o Ceará com o mundo para entendermos o que está se passando em outras regiões com potencial para a produção do H2V e identificamos o tamanho da oportunidade, além do impacto no crescimento dos principais setores da cadeia de valor e o “dever de casa” a ser feito para que o estado possa sair na frente e atrair investimentos globalmente.

Nesse momento, é importante que se confirme a legislação federal que irá regulamentar o setor e a criação do ambiente empresarial adequado para que os investidores internacionais possam aportar no Ceará. Em paralelo, deve-se estruturar a cadeia de valor do H2V no estado, que foi desenhada através do Master Plan apresentado aos líderes do ecossistema na FIEC, em junho deste ano. Além disso, deve-se perseguir a atração de off-takers/consumidores, porque sem mercado comprador não existe cadeia produtiva.

Entrevista Nota 10 — No mesmo período, você e o Hitendra Patel estiveram na Unifor para apresentar o que foi discutido pela IXL Center durante o evento da FIEC. Como surgiu o convite? Qual é a importância de estreitar laços entre a IXL Center e a academia para o desenvolvimento de um cenário cearense promissor no âmbito do hidrogênio verde?

Manuel Mendes — Fomos convidados pelo sr. Igor Queiroz (membro do conselho do Grupo Edson Queiroz), que ficou surpreso com o que viu e ouviu no evento de apresentação do Master Plan do H2V na FIEC. Ele entendeu que essa oportunidade pode mudar o rumo do estado se as coisas forem feitas da maneira correta. Ele também entendeu que a academia tem um papel fundamental na construção dessa cadeia de valor. 

O IXL Center pode contribuir para a construção da cadeia de valor do H2V no Ceará enquanto empresa de referência mundial em inovação, que realiza conexões entre governos, universidades e iniciativa privada em nível global, para o desenvolvimento de novas competências e capacidades da tríplice hélice do ecossistema.

Entrevista Nota 10 — De que forma a Universidade de Fortaleza pode colaborar com a cadeia de valor do hidrogênio verde aqui no Ceará? Como a IXL Center pode dar suporte ou orientação à instituição no que diz respeito às pesquisas e estudos para impulsionar essa questão aqui? 

Manuel Mendes — Para além dos novos cursos que surgirão, também haverá muito investimento em pesquisa e desenvolvimento. A Unifor tem o tamanho, a competência e a liberdade de ação, para agir com velocidade e se tornar uma liderança nacional e global nesse novo cenário, enquanto centro acadêmico para formação e pesquisa.

Tal qual a corrida do homem à lua, o MIT (principal escola de engenharia no mundo) não tinha todas as respostas para o desafio lançado em 1961 pelo presidente Kennedy. O nome do jogo, naquela época e agora, chama-se “colaboração”. O IXL Center tem a condição de alinhar e engajar os stakeholders da cadeia de valor, criando o ambiente necessário para colaboração na busca das respostas de maneira mais rápida, barata e robusta. 

Entrevista Nota 10 — Você deu os passos iniciais da sua carreira aqui na Universidade de Fortaleza, onde se graduou no curso de Administração. Qual foi o papel da Unifor na construção do seu perfil profissional e da sua história? Que diferenciais da instituição te ajudaram a se destacar no mercado de trabalho?

Manuel Mendes — Primeiro, o próprio fundador da universidade, o empresário Edson Queiroz, é uma fonte de inspiração para qualquer empreendedor. Depois, tive professores que me inspiraram em diferentes áreas da minha formação e com os quais mantenho relações até os dias de hoje, como o economista Lauro Chaves Neto, que foi meu orientador de TCC e agora está indo fazer o seu pós-doutorado em Boston por intermédio da nossa conexão com universidades americanas, como Harvard, MIT e a Universidade de Massachusetts.

Entrevista Nota 10 — E como foi regressar ao campus depois de todos esses anos? Estar aqui como sócio global do IXL Center traz uma nova perspectiva sobre sua trajetória das salas de aula até agora? 

Manuel Mendes — Foi muito bom ver a Universidade ainda maior, tão bem cuidada e desenvolvida. A minha atuação como professor nas áreas de estratégia, inovação e internacionalização de empresas em nível global e de “construtor de pontes” entre a academia, empresas e o governo foi fundamental para a expansão da minha visão global, com um pé na realidade e especificidades do plano local.