Entrevista Nota 10: Michelli Barboza e a prevenção aos acidentes com queimaduras

seg, 26 junho 2023 11:48

Entrevista Nota 10: Michelli Barboza e a prevenção aos acidentes com queimaduras

Doutora em Ciências da Reabilitação, ela fala sobre a campanha Junho Laranja na luta contra queimaduras, dá orientações sobre primeiros socorros às vítimas e fala sobre a parceria com o Centro de Tratamento de Queimados do IJF


Michelli é professora no curso de Fisioterapia da Unifor, além de mestra em Saúde Coletiva pela instituição (Foto: Arquivo pessoal)
Michelli é professora no curso de Fisioterapia da Unifor, além de mestra em Saúde Coletiva pela instituição (Foto: Arquivo pessoal)

Além das celebrações e pratos típicos, a chegada das festas juninas com suas fogueiras e fogos de artifícios traz também preocupação entre autoridades de segurança e saúde: o possível aumento de acidentes com queimaduras. Por isso, campanhas como o Junho Laranja buscam promover medidas de prevenção e combater casos deste tipo.

Mesmo fora deste mês, os números ainda alarmam. Nas estimativas do Ministério da Saúde, mais de 100 mil pessoas são vítimas de acidentes envolvendo queimaduras no Brasil por ano, com 80% dos casos acontecendo em ambientes domésticos.

Para a fisioterapeuta Michelli Barboza, professora do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza — mantida pela Fundação Edson Queiroz —, “as campanhas de prevenção são de extrema importância quando pensamos em queimaduras. A maioria dos acidentes acontece em casa, e, com medidas simples, podemos evitar grandes tragédias”.

Junto à docente Cristina Santiago, ela coordena o Grupo de Estudos em Fisioterapia Dermatofuncional (GEFIDEF) da Unifor. Além de assuntos como angiologia e cirurgias plásticas e bariátricas, os encontros mensais do grupo também atuam na área de conhecimento sobre queimados.

Com doutorado em Ciências da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestrado em Saúde Coletiva pela Unifor, Michelli é especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Graduou-se pelo Centro Universitário de Araraquara (UNIARA) e possui aperfeiçoamento em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo Hospital de Messejana.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, a fisioterapeuta explica a importância da campanha Junho Laranja na luta contra queimaduras, dá orientações sobre primeiros socorros às vítimas queimadas e fala sobre a parceria da Unifor com o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ).

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 – Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), cerca de 150 mil internações acontecem em razão de acidentes envolvendo pessoas queimadas todo ano, sendo que 80% dos casos costumam ocorrer em ambiente doméstico. Nesse cenário, qual é a importância de movimentos como a campanha Junho Laranja e o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras (6 de junho)?

Michelli Barboza – As campanhas de prevenção são de extrema importância quando pensamos em queimaduras. A maioria dos acidentes acontece em casa, e, com medidas simples, podemos evitar grandes tragédias. Para esse ano de 2023, a Sociedade Brasileira de Queimaduras escolheu a eletricidade como tema principal para a campanha Junho Laranja e o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras, trazendo importantes alertas e orientações sobre as queimaduras elétricas.

É importante ressaltar que a eletricidade faz parte do dia a dia das pessoas, o que aumenta as chances de choque elétrico e, consequentemente, de uma queimadura.  Dados atuais do Ministério da Saúde apontam que as queimaduras elétricas foram responsáveis por 9.117 óbitos entre os anos de 2015 a 2020.

Dentro dessa temática, gostaria de chamar a atenção dos alunos para não utilizarem o celular conectado ao carregador e não dormirem com o celular carregando embaixo do travesseiro, principalmente se os carregadores não são originais.

Entrevista Nota 10 – O atendimento rápido em casos de queimaduras sérias faz diferença na recuperação das vítimas? O que podemos fazer para auxiliar quem está sofrendo com queimaduras?

Michelli Barboza – A primeira e mais importante recomendação é: Não coloque nada sobre a queimadura! Todos nós já ouvimos falar sobre diversas receitas caseiras para passar sobre uma queimadura, como pasta de dente, manteiga etc. Mas a única coisa que podemos fazer é aplicar água corrente por 15 minutos, cobrir a área com um pano limpo e encaminhar para atendimento especializado.

No caso das queimaduras elétricas, é muito importante não tocar na pessoa para não ser atingido também. Devemos desligar a fonte de energia e, em seguida, resfriar a área queimada até a chegada do serviço de emergência.

Entrevista Nota 10 – Como a Fisioterapia atua no atendimento e na recuperação de pacientes queimados? Por que é importante o acompanhamento de fisioterapeutas nesses casos?

Michelli Barboza – A Fisioterapia atua desde a fase inicial da queimadura e até depois de todo o processo de cicatrização. Enquanto o organismo se recupera, é muito importante trabalhar a funcionalidade dos pacientes evitando complicações como, por exemplo, as contraturas cicatriciais.

A Fisioterapia é de fundamental importância desde a fase de internação hospitalar até a alta e durante toda a fase ambulatorial até a recuperação funcional e reinserção social desses pacientes.  

Entrevista Nota 10 – O Centro de Tratamento de Queimados do Instituto Dr. José Frota (IJF-CTQ) é uma das referências nacionais, e até internacionais, no atendimento de pessoas queimadas, inclusive no tratamento pioneiro com pele de tilápia. Em parceria com o hospital, os alunos do curso de Fisioterapia da Unifor acompanham todas as fases de recuperação funcional desses pacientes. Poderia contar como funciona essa colaboração entre a Universidade e o IJF?

Michelli Barboza – O primeiro contato do aluno com o paciente queimado acontece no sétimo semestre da graduação na disciplina de “Fisioterapia na Saúde da Mulher e do Homem I”. A parte prática do módulo acontece no Centro de Tratamento de Queimaduras (CTQ), e essa parceria entre a Universidade de Fortaleza e o Instituto Dr. José Frota é fundamental para otimizar o aprendizado e a capacitação do aluno para o atendimento ao paciente queimado durante a fase de internação hospitalar. 

Entrevista Nota 10 – O Setor de Terapia Dermatofuncional do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) também é um espaço de aprendizagem da graduação em Fisioterapia da Unifor, chegando ainda a fazer parte da iniciativa junto ao IJF-CTQ. De que maneira a Universidade de Fortaleza prepara profissionais de excelência para atuar no mercado de saúde? Essas parcerias influenciam na formação dos alunos?

Michelli Barboza – Como dito anteriormente, a parceria entre a Universidade e o IJF é fundamental para otimizar o aprendizado e a capacitação do aluno para o atendimento ao paciente queimado. A área de queimadura faz parte da especialidade em Fisioterapia Dermatofuncional, e o aluno do curso de Fisioterapia da Unifor sai preparado para trabalhar nesse ramo — que é tão específico — desde a fase hospitalar no CTQ até a fase ambulatorial, realizada no Núcleo de Atenção Médica Integrada.