seg, 15 abril 2024 10:38
Histórias que inspiram: Com a palavra, os profissionais da Tecnologia
Nesta edição, uma arquiteta e urbanista, um empresário e desenvolvedor de sistemas, uma engenheira atuante em toda a cadeia das energias e um empresário industrial compartilham suas jornadas inspiradoras no mundo das tecnologias
Um homem ávido por desenvolver sistemas construiu uma empresa tão próspera que a lançou ao mercado internacional. Uma mulher enfrentou o mundo masculinizado do mercado de energias e encontrou o sucesso ao equilibrar vida pessoal e profissional. Uma arquiteta e urbanista movida pelo compromisso da escuta é agente de soluções para trazer bem-estar às pessoas e à sociedade. Um amante de carros seguiu seu sonho e tornou-se diretor de uma empresa de autopeças que atua diretamente com as montadoras.
Estas são algumas histórias de egressos do Centro de Ciências Tecnológicas (CCT) da Universidade de Fortaleza, vinculada à Fundação Edson Queiroz, que mostram como o sucesso é singular e está presente dos pequenos aos grandes feitos. Contamos, a seguir, as trajetórias destes profissionais oriundos dos mais diversos cursos da área — da ciência da computação à arquitetura e às engenharias.
Diretamente da labuta, eles dividem seus louros na segunda reportagem de uma série especial do Unifor Notícias Mobile, publicada no segundo domingo de cada mês, com histórias profissionais notáveis nas mais diversas áreas do conhecimento. Na primeira edição, mostramos o universo jurídico de profissionais inspiradores. Agora, vamos mergulhar no diverso mundo das tecnologias?
O desenvolvedor que criou uma empresa para lançá-la ao mundo
Edgy Paiva criou uma empresa de informática para descobrir que também faz parte do êxito aprender a desapegar, deixá-la ganhar o mundo e vendê-la a um grupo internacional. Esta é uma história que começa na sua juventude, em tempos de computadores caros e pouco acessíveis. Foi preciso comprar o PC junto com um tio para que pudesse dar vazão à curiosidade que tinha pela máquina.
Do gosto que tinha de usar e descobrir o equipamento quando passava férias na casa da avó, decidiu fazer graduação em Informática (hoje, Ciência da Computação) na Unifor. “Sou da terceira turma”, diz, orgulhoso.
Ainda nos tempos universitários, conseguiu uma das duas disputadas vagas para estagiar na IBM. Paralelamente, montou com colegas da Universidade uma empresa para desenvolver sistemas de contabilidade para prefeituras. Foi lá que ficou quando concluiu o tempo máximo de dois anos de estágio. O empreendimento ia bem, mas um novo convite para trabalhar como profissional na IBM o fez mudar a rota.
“Eu queria ter um aprendizado maior e achava que, se eu ficasse na IBM, iria aprender e acelerar a minha formação prática”, explica. Nos dois anos seguintes, atuou em grandes projetos da empresa: implantou um sofisticado banco de dados para o Banco do Nordeste; atuou em companhias energéticas e secretarias de governos do Nordeste; fez treinamentos em São Paulo. Com toda esta bagagem acumulada, resolveu novamente empreender e apostar na internet.
Montou então um provedor, o Infovia, numa época em que ter internet acessível nos celulares não era comum. E começou a trazer clientes corporativos para o provedor. Foi lá que criou, para o antigo Banco do Estado do Ceará (BEC), o segundo Internet Banking do Brasil. Só o Bradesco tinha um sistema assim. “Foi realmente algo revolucionário. Como é que a gente conseguiu fazer isso? Pelo conhecimento que eu tinha da plataforma do IBM”, lembra. O projeto ganhou prêmios internacionais.
Mas chegam os anos 2000 e as techs avançam no mercado. Edgy decide vender o provedor e montar uma empresa exclusivamente de serviços, a Ivia. “Começou bem pequena, juntamente com o provedor. Nós tínhamos quatro, cinco pessoas”, conta. Com ela, atuou desenvolvendo projetos de fiscalização fazendária para governos do Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco. Passou a atuar com bancos e grandes grupos econômicos do Nordeste, levando soluções com sistemas de informática.
“Foi um momento só de crescer”, celebra ele. O negócio também foi reconhecido como uma das 50 Melhores Empresas para Trabalhar na América Latina em 2019, segundo o Instituto Great Place to Work, ao lado de gigantes como Google e Microsoft.
Mas durante a pandemia, em 2020, Edgy sentiu que era o momento de desapegar. “Ficamos nessa empresa por 25 anos e há três anos fizemos uma operação de venda do empreendimento para um grupo indiano chamado Wipro”, conta.
Edgy participou da transição até o fim do ano passado e agora investe em empresas de internet das coisas (IoT), inteligência artificial e assessorias esportivas. Está empenhado em desenvolver soluções tecnológicas para a segurança viária com a empresa Queonetics, por exemplo.
Com uma situação financeira confortável, segue olhando para o futuro tecnológico, mas também decidiu deixar aflorar seu lado maratonista e atleta. Orgulha-se de ter participado das seis maiores maratonas do planeta. Já correu em Tóquio, Londres, Berlim, Boston, Chicago, Nova York e África do Sul.
Conciliar a paixão pelo esporte ao trabalho hoje é uma de suas receitas para o sucesso. Vender a empresa a um grupo indiano, para ele, é também uma amostra do êxito de sua jornada. “É um filho que você cria, e depois você tem que se desapegar dele”, declara.
A empresa foi construída sobre quatro pilares que ele enumera como uma receita para crescer: promover o sucesso dos colaboradores, ter alto índice de satisfação dos clientes, dar resultados aos acionistas e realizar ações de responsabilidade social.
“Qualquer negócio que você faça tem dificuldades. O que me move são os desafios, e hoje sei como é importante você ser resiliente. Por exemplo, no quilômetro 36 de uma maratona de 42, você começa a ter dor e a achar que está ruim e complicado. Nos negócios, é isso mesmo. Nem tudo acontece do jeito que você espera, mas a resiliência é importante para o êxito” — Edgy Paiva, egresso do curso de Informática e empresário
Para o egresso, a Universidade de Fortaleza deu todas as ferramentas para que ele pudesse ter uma jornada de sucesso. “A Unifor, para mim, foi fundamental, com excelentes professores de mercado, infraestrutura e os melhores laboratórios”, diz.
Lugar de mulher é na cadeia energética, sim!
Aos 49 anos, Leonarda Cajuaz é movida por desafios diários. Está o tempo todo empenhada em buscar melhorias como pessoa e profissional enquanto cria formas para quem orbita em seu entorno também aprenda e cresça. Talvez por isso costume se animar em compartilhar detalhes da jornada de uma mulher que enfrentou o ambiente ainda masculinizado do setor energético para alcançar o seu sucesso: um equilíbrio entre família e trabalho.
Essa história começa quando a técnica em telecomunicações pela antiga Escola Técnica Federal decide entrar na universidade. Leonarda se matriculou no curso de Engenharia Eletrônica da Unifor em busca de mais conhecimento. Queria crescer e sonhava em trabalhar com energia.
Atuou de técnica em telecomunicações do Sistema Verdes Mares a engenheira de automação na antiga Coelce (hoje Enel). Enquanto construía no ramo energético um know-how extraordinário de experiência de campo, assumiu com o marido o desafio de tentar encontrar soluções para equipamentos da empresa de energia que não estavam funcionando.
Foi assim que nasceu a Control Engenharia, diretamente do que ela chama de “quarto do Harry Potter”, um cômodo embaixo da escada de casa onde o casal passava horas e horas da noite trabalhando. Era basicamente uma empresa de manutenção eletrônica especializada no setor elétrico, que, ano após ano, foi ampliando seu portfólio. Depois, passou a atuar também com automação e controle de subestação e com proteção e construção de subestação.
Hoje, a Control Engenharia é um grupo de três empresas, muito próximo de toda a estrutura da área elétrica — desde a geração até a transmissão e distribuição de energia. Leonarda o fundou junto com o marido e o compadre, ambos colegas de graduação.
“Essa questão de trabalharmos em toda a cadeia produtiva do setor é o que mais faz brilhar os meus olhos. Trabalhamos de tudo, desde a concepção do projeto até a resposta de uma análise de uma ocorrência junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico”, diz.
Leonarda sabe que, no negócio que ajudou a fundar, não tem tempo de calmaria nem de tédio. Ela se orgulha desta história que já passou dos 20 anos e, junto com o mestrado e o doutorado, lhe dá ferramentas para ser uma boa docente. Na Unifor, ela participou da criação do curso tecnólogo de Energias Renováveis e contribui com a pós-graduação.
“Acredito que eu alcancei o sucesso profissional, que para mim é você fazer o que gosta. Acho que esta história de felicidade, de que você só tem sucesso se for feliz, não existe. A vida é um percurso de altos e baixos. Mas eu sempre quis fazer engenharia e fiz (...) Meu sucesso profissional está muito associado ao meu sucesso quanto pessoa, na minha família” — Leonarda Cajuaz, egressa de Engenharia Eletrônica e sócia-fundadora da Control Engenharia
Mas o caminho até lá foi sinuoso. Mulher num meio predominantemente masculino, ela viajou pelo Ceará e mostrou competência. “Tem o desafio da gente se autoafirmar como profissional qualificada, independentemente de gênero. Isso é uma coisa que ainda existe e que precisamos demarcar e mostrar nosso território, nosso potencial”, lembra.
Neste meio termo, a demanda da empresa cresceu. A Control começou a trabalhar nos primeiros parques eólicos, em 2009, com engenharia de proprietário e comissionamento da parte de automação e controle. Depois disso, abraçou também a área de termoelétrica. Atualmente, tem mais de 30 funcionários. É uma empresa pequena de grandes projetos.
“Hoje podemos dizer que se considera uma empresa de referência nesse tipo de solução para parques de geração eólica, solar, termoelétrica”, afirma Leonarda. “Nossa expertise é de média para alta tensão. Um dos nossos principais clientes são as empresas de geração e distribuição energética, o mercado livre de comercialização de energia”, acrescenta.
O desafio de empreender no setor de energias, ela diz, é constante e rotineiro. Mas Leonarda celebra ter tido na Universidade de Fortaleza todas as ferramentas para superar as adversidades e encontrar caminhos.
“A Unifor ajudou com a formação, me ajudou com a abertura de portas através dos professores que sempre foram professores de mercado, gente que sabia o que era que o mercado precisava e que transcendia essa questão da formação técnica e nos aconselhava”, conclui.
A arquiteta que projeta o bem-estar das pessoas
Liana Feingold tinha cinco anos quando desenhou a primeira planta baixa em um papel manteiga. Filha de pai arquiteto, cresceu estimulada a desenhar e imaginar. Não gerou surpresa quando decidiu fazer a graduação em Arquitetura e Urbanismo na Unifor.
O que se sobressaiu a partir daí foi o seu perfil realizador. A egressa atua dos interiores às ruas da cidade preocupada em projetar o bem-estar. “O bem-estar do outro é meu bem-estar também. Se é bom pra ele, também é bom para mim como cidadã e como pessoa”, diz.
Foi neste propósito que foi construído o ateliê Estar Urbano, criado por Liana e a amiga arquiteta Laura Rios. Uma forma que ambas encontraram de mudar o mundo à sua maneira, trata-se de uma empresa que valoriza as tecnologias socioambientais em projetos residenciais, comerciais e urbanísticos. É assim que elas caminham pela cidade cuidando dos indivíduos e do coletivo. “Sou uma arquiteta inquieta com várias situações sociais”, reconhece Liana.
Ainda nos tempos de faculdade, ela teve a chance de adentrar no mercado convencional, trabalhando em uma loja de decoração da mãe. Viajou pelo país em busca de peças e manteve ali contato com muitos arquitetos. Depois de formada, abraçou este ramo. “Sempre estive num mercado convencional de arquitetura residencial e comercial, com oito premiações de CasaCor, mas também sempre tive a minha inquietação para o lado social”, diz.
Tais interesses a levaram a fazer pós-graduação em Neuroarquitetura, que abrange todo e qualquer ambiente, seja ele mais elitizado ou não, e Urbanismo Social. Estudou com economistas e urbanistas do país inteiro e do exterior. Queria buscar um conhecimento que pudesse desembocar em cidades mais democráticas e acessíveis.
Em todas as suas experiências, fortaleceu seu compromisso com cada projeto, buscando justificativas sustentáveis para as escolhas e formas para preservar culturas. “Não existe um projeto aleatório só por uma questão estética”, ensina. A autorresponsabilidade é algo que a acompanha desde o mercado até a academia, onde agora dá aulas.
E faz parte deste pensamento o ateliê fundado com a sócia Laura. A premiação na Casa Cor de 2009 foi peça chave para abrir o escritório, com projetos individuais e coletivos. No momento, o Estar Urbano está desenvolvendo uma tecnologia social para ser replicada em diversos estados na área de habitação de interesse social. É o projeto DiverCidade.
Na arquitetura, no urbanismo e na vida, Liana gosta de sonhar, mas mais ainda de realizar. Para ela, a pauta do sucesso é fazer algo que possa de fato contribuir com a sociedade.
“O meu compromisso é social e humano; um compromisso no qual uso a arquitetura e o urbanismo como ferramentas para melhorias e transformações sociais. Sucesso é poder perceber isso com clareza. Ter esse compromisso de assumir e de usar um ofício, um conhecimento técnico e científico, a serviço da população. E, sem dúvida, monetizar isso porque é justo” — Liana Feingold, egressa da Arquitetura e Urbanismo e co-fundadora do Estar Urbano
Na busca por soluções para problemas latentes do Brasil, Liana co-fundou a Rede Brasileira de Urbanismo Social. “É podermos alinhar o diálogo entre iniciativa privada, poder público, academia, sociedade civil, comunidades vulnerabilizadas, colocar todos juntos para poder tratar de soluções com essa pauta no urbanismo social”, defende.
Para ela, toda essa trajetória tem forte influência dos tempos de estudante na Unifor. “Tive a sorte de ter um corpo docente que realmente me fez despertar para muitos desses caminhos, trazendo essa responsabilidade, mas também trazendo muito conhecimento de lugares diferentes do mundo, onde a gente pudesse ter boas discussões em sala de aula”, afirma.
Na labuta há anos, Liana diz ter aprendido que ninguém se transforma sozinho e que nós nos transformamos no encontro. Uma dica que dá para quem está começando na profissão é manter-se aberto a aprender e exercitar a escuta ativa para encontrar soluções fora da caixa e inovadoras.
O sucesso em apropriar-se do mundo que muda em alta velocidade
Aos 39 anos, o diretor industrial Victor Praça sabe que o sucesso também está em apropriar-se do mundo que muda em alta velocidade. Quem trabalha com tecnologia, há de ficar atento para incorporar as novidades que surgem com rapidez. Foi de olho no futuro que o egresso do curso de Engenharia Mecânica da Unifor passeou por várias áreas até tornar-se diretor industrial da empresa Durametal, uma fabricante de autopeças.
Filho de engenheiro mecânico, Victor cresceu no chão de fábrica de autopeças. Apaixonado por automóveis desde sempre, não imaginou outro caminho possível para a fase adulta. “Sempre me identifiquei com o que meu pai fazia. Frequentava a fábrica, e isso despertava muito a minha curiosidade”, lembra. A facilidade com as disciplinas de exatas concretaram a escolha.
Ingressou na graduação e começou a estagiar na Durametal, empresa cujo pai era sócio. Mas foi subindo degrau por degrau. Começou na área de engenharia e qualidade, onde usou bastante seus conhecimentos em metalurgia e materiais. Foi lá que atendeu clientes como Mercedes, Scania e Volkswagen.
Fez algumas formações na área de engenharia de produção e mergulhou em um MBA de Gestão de Negócios na Unifor que o ajudou a chegar aos cargos de gerente de produção e, depois, à direção da empresa. “O MBA me deu uma base muito boa para poder atuar como gerente e depois, obviamente, como diretor industrial”, conta.
“O que me fascina é buscar melhorar cada vez mais a questão da satisfação dos nossos clientes e a eficiência da empresa. A gente vem aqui todo dia trabalhar com a missão de tornar o que fazemos melhor, mais produtivo e mais eficiente” — Victor Praça, egresso da Engenharia Mecânica e diretor industrial
Desde a Universidade, Victor conta ter aprendido a buscar a excelência em tudo o que faz. Ver o mundo tecnológico avançar e mudar com velocidade não o assusta, mas lhe abre novas oportunidades. “Temos a chance de implementá-las e tornar o que já fazemos de bom em melhor ainda”, defende. Ele cita como exemplo quando a empresa passou a usar robôs e mecanismos de automação nos processos produtivos.
“É um novo mundo. Entramos e, no começo, temos dificuldades. Mas investimos muito na formação do nosso pessoal também porque não conseguimos fazer nada sem ter pessoas capacitadas”, diz. Os frutos estão sendo colhidos com mão de obra qualificada dentro de casa e não mais importada do Sudeste.
Para ele, uma formação de qualidade é fundamental para histórias profissionais exitosas. O próprio Victor reconhece que sua trajetória profissional foi facilitada pela formação em uma universidade de qualidade.
“Na Unifor, tive professores qualificados que foram, de certa forma, instigando o nosso conhecimento, provocando e sempre incentivando a ir buscar mais conhecimento. (...) A Unifor, sem dúvida, é uma parte muito importante dessa jornada que eu vivi até agora profissionalmente”, finaliza.