Conheça as infraestruturas verdes e seus benefícios

seg, 1 novembro 2021 11:04

Conheça as infraestruturas verdes e seus benefícios

As infraestruturas verdes surgem com o objetivo de alcançar o desenvolvimento urbano de forma sustentável


As infraestruturas verdes contribuem para a diminuição dos impactos causados pela urbanização (Foto: Getty Images)
As infraestruturas verdes contribuem para a diminuição dos impactos causados pela urbanização (Foto: Getty Images)

As cidades devem ser entendidas como ecossistemas. Elas contém componentes bióticos, como as plantas e os animais, e abióticos, como a água, o ar e o solo. Porém, as cidades são ecossistemas urbanos, os quais têm o ser humano como parte integrante e, de certa forma, principal. Ao longo dos anos, o rápido desenvolvimento desses centros acarretou na modificação de diversos processos ecológicos em virtude de atividades humanas e tecnológicas. 

Dessa forma, as cidades, que por natureza sempre foram vulneráveis a eventos climáticos, se tornaram ainda mais suscetíveis a desastres naturais. A atuação do homem potencializou esse fator com a intensa expansão urbana, que teve como consequência, e continua a ter, uma expressiva construção de infraestruturas cinzas (ou convencionais). Hoje, esse modelo de infraestrutura já é intrínseco à maioria dos centros urbanos, especialmente às metrópoles e grandes cidades.

De acordo com Fernanda Rocha, arquiteta e urbanista e professora da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, a infraestrutura convencional, que engloba ruas, vias e estacionamentos, possui capacidade limitada para suportar os desafios da urbanização contemporânea em massa. Assim, por mais que sejam construídas visando um progresso tecnológico, elas tendem a ocasionar grandes e recorrentes impactos para os centros urbanos, como o aumento do congestionamento de automóveis, aumento no consumo de energia e uma poluição generalizada.  

Fernanda Rocha, professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor (Foto: Acervo pessoal) 

O conceito de Infraestrutura Verde (IEV) surge como forma de se opor a essa realidade e garantir um desenvolvimento mais sustentável para as cidades. O termo foi cunhado pela primeira vez na década de 90, no estado da Flórida, nos Estados Unidos, em um relatório da Comissão de Greenways, que tratava de estratégias de conservação do meio ambiente e visava apontar a importância dos sistemas naturais para o desenvolvimento das cidades. 

Porém, a concepção por trás das IEVs só foi realmente disseminada e internacionalmente difundida no início dos anos 2000, mais precisamente em 2006, após Mark Benedict e Edward MacMahon lançarem o livro "Green Infrastructure - Linking landscapes and communities" (Infraestrutura Verde - Ligando paisagens e comunidades, em tradução livre), obra responsável por reunir organizar o conhecimento acerca do assunto e evidenciar as potencialidades dessa forma de intervenção.

"Portanto, embora não seja novidade, a IEV vem se popularizando e trazendo uma atualização da abordagem de infraestrutura corrente na Engenharia Civil, com foco em eficiência e controle, para agregar componentes de diversidade (biológica, estética, social) e complexidade. Assim, ela oferece alternativas que incorporam princípios “ecológicos de adaptação, resiliência e perturbação”, como aponta o Prof. Brian Davis, da Universidade de Cornell", explica Rocha.

O que é uma infraestrutura verde?

De início, o termo "Infraestrutura Verde" pode parecer um tanto quanto confuso para as pessoas fora do meio arquitetônico ou da engenharia. Porém, o conceito é mais simples do que parece: as IEVs consistem em redes multifuncionais e interconectadas de áreas verdes naturais e demais espaços abertos. Elas visam manter as funções ecológicas desses espaços, que são, em sua grande maioria, vegetados e/ou arborizados, assim como os aspectos naturais e culturais da vida urbana.

Essas intervenções urbanas são de baixo impacto e alto desempenho. Além disso, são adaptáveis às necessidades humanas e ecológicas presentes e futuras, em contraste com as infraestruturas cinzas. Elas se constituem como espaços multifuncionais e flexíveis, com o objetivo de estimular uma maior sustentabilidade nas cidades e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes

Funções e planejamento 

Segundo a docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor, "podemos sintetizar as funções da IEV como uma contribuição ao planejamento otimizado e à conservação da qualidade de vida dos cidadãos, garantindo a preservação de ecossistemas naturais, da vida selvagem, da qualidade da água e do ar". Assim, esses espaços promovem a biodiversidade nas cidades, servindo de habitat para diversas espécies, e contribuem significativamente na infiltração das águas das chuvas e na captura de gases de efeito estufa, por exemplo.

Essas intervenções inserem o verde nos centros urbanos, porém, não se limitam apenas a esse aspecto "Embora o verde presente no termo sugira a presença e valorização da vegetação, não se restringe a ela, compondo-se de um grande mosaico paisagístico, que se volta à justiça social, à geração e consumo de energia e água, à destinação de resíduos, entre outros aspectos, em diferentes escalas, buscando adaptar-se a circunstâncias e ritmos variáveis", afirma a professora.

Sobre o planejamento e implantação dessas infraestruturas, é importante mencionar que ambos são interdisciplinares, e requerem a atuação de diversos segmentos. "Esse processo necessita ser feito a partir da análise criteriosa de cada situação/contexto, mensurando e avaliando seus objetivos e funcionalidades, voltando esforços e soluções para melhores práticas administrativas e de recursos de baixo impacto, considerando o maior número de variáveis possíveis, que vão desde a base biofísica até a cultura da população local", esclarece a arquiteta.

Benefícios e importância 

As IEVs funcionam a longo prazo, e as vantagens de tê-las nas cidades impactam diretamente em diversos âmbitos, desde o ambiental ao socioeconômico. Assim, elas são grandes geradoras de empregos, especialmente na área ambiental, e criam mais oportunidades de recreação, retirando as pessoas dos shoppings e edifícios fechados e as inserindo em espaços que irão permitir um maior contato com a natureza. 

É importante que essas infraestruturas sejam monitoradas com frequência, para garantir um funcionamento bom e duradoura. Eles também devem ser multifuncionais, e de fácil e amplo acesso, para garantir que todos os cidadãos possam usufruí-los. Dessa forma, as infraestruturas verdes poderão funcionar como suporte para a recuperação das cidades, e para o seu contínuo desenvolvimento e crescimento sustentável

Em resumo, as infraestruturas verdes têm a capacidade de propiciar grandes mudanças nos centros urbanos. A professora Fernanda Rocha menciona dois exemplos de IEVs em Fortaleza: o Projeto do Campus Fiocruz-CE, no Eusébio, localizado na Região Metropolitana da capital cearense, e o projeto do edifício de apartamentos Teraluz Residence, no bairro Serrinha. 

O primeiro tem a autoria do escritório Architectus S/S, com certificação AQUA-HQE. Nesse empreendimento, as soluções foram pensadas em conjunto para os espaços livres e construídos, incorporando soluções que vão desde o controle de temperatura e iluminação nos espaços internos, à utilização de jardins filtrantes e pisos-drenantes na área externa, como explica a docente. 

"E o projeto do edifício de apartamentos possui a Arquitetura de Bárbara Delphino, profissional do Rio Grande do Norte, e Paisagismo dos Arquitetos e Urbanistas cearenses Newton Becker, Eugênio Moreira e Leonardo Ribeiro. Neste empreendimento, a compensação de espécies vegetais foi feita com plantas nativas nos próprios jardins do condomínio, destinando parte do recuo ao lazer da população do entorno, junto à calçada, com implantação de espaços lúdicos e de convívio além dos seus limites", finaliza Rocha.

Live Pós-Unifor

A Especialização em Paisagismo da Universidade de Fortaleza realiza, no dia 10 de novembro, às 19h, mais uma Live da Pós-Unifor. Essa edição traz o tema "Infraestrutura Verde como ação na Paisagem da Cidade", e conta com o Arquiteto e Urbanista André Graziano como palestrante, e a professora do curso Fernanda Rocha, também Arquiteta e Urbanista, como moderadora. Para se inscrever no evento, basta acessar o link AQUI.