Entrevista Nota 10: Cláudio Sena e a pesquisa em comunicação como visão analítica da sociedade

seg, 30 setembro 2024 11:47

Entrevista Nota 10: Cláudio Sena e a pesquisa em comunicação como visão analítica da sociedade

Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Unifor fala sobre artigo publicado em revista Qualis A e possibilidades de pesquisa no âmbito da comunicação


Mestre em Ciências da Comunicação e doutor em Sociologia, Cláudio possui especialização em Teoria da Comunicação e da Imagem (Foto: Jari Vieira)
Mestre em Ciências da Comunicação e doutor em Sociologia, Cláudio possui especialização em Teoria da Comunicação e da Imagem (Foto: Jari Vieira)

Para Cláudio Sena, egresso e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza, o publicitário deve ser hoje um pesquisador, um observador atento das realidades sociais distintas e dos processos comunicativos de mediação da mensagem. Isso exige interesse e conhecimento de áreas diversas, diz o comunicólogo, e a busca por repertório passa a ser decisiva não só para aqueles que trabalham diretamente com criação.

“Como encontrar formatos e modos de construir a mensagem efetiva e persuasiva numa sociedade que muda constantemente e cada vez mais rápido com a influência da cultura digital e das novas tecnologias da comunicação? É essa a pergunta-desafio que penso guiar essa profissão atualmente”, declara Cláudio.

Por isso, a comunicação e a sociologia, bem como a antropologia e a filosofia, são áreas complementares, explica o pesquisador. Ele vê o aspecto da interdisciplinaridade como fundamental para análises mais profundas de fenômenos sociais. Sua produção científica utiliza dessa abordagem para chegar a resultados complexos e notáveis, como é o caso do estudo “Lutar com o risco. A prática do Mixed Martial Arts (MMA) como ordálio moderno”.

Em agosto, Cláudio teve o artigo publicado na Revista Latinoamericana de Estudios sobre Cuerpos, Emociones y Sociedad, periódico internacional com Qualis A4. O trabalho é fruto de sua pesquisa de doutorado em Sociologia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e que, em breve, sairá em formato de livro pela EdUece, editora da instituição.

Especialista em Teoria da Comunicação e da Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Cláudio é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto, em Portugal. Seu doutorado em Sociologia pela Uece contou com um estágio na Université Lumière Lyon 2, na França.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, o docente fala sobre o artigo publicado e as possibilidades de pesquisa no âmbito da comunicação, além de pontuar o atual cenário da publicidade e os diferenciais da graduação na Unifor.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — Em agosto deste ano, você teve um artigo publicado na Revista Latinoamericana de Estudios sobre Cuerpos, Emociones y Sociedad, um periódico Qualis A. Como surgiu essa oportunidade? E o que significou para você ter alcançado essa conquista? 

Cláudio Sena — Durante minha pesquisa de doutorado, entre 2017 a 2021, produzi alguns artigos que, ao longo dos últimos quatro anos, venho publicando em eventos científicos e periódicos nacionais e internacionais. Além de “Lutar com o risco. A prática do Mixed Martial Arts MMA como ordálio moderno”, veiculado na publicação argentina Revista Latinoamericana de Estudios sobre Cuerpo, Emociones y Sociedad, cito também o “Sous-traitées”, publicado na Parcours Anthropologiques, uma importante revista francesa; [assim como] “Grupo Social, uma categoria recorrente: interlocuções epistemológicas entre Durkheim, Simmel e Weber”, na Revista Alamedas, e “Quando o pesquisador adentra o tatame. Um relato sobre a observação participante realizada entre lutadores de MMA”, nos anais do 44º Encontro Anual da ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais 2020. Ou seja, a pesquisa científica faz parte de meu trajeto acadêmico e profissional.

O caso deste artigo mencionado na sua pergunta significa mais uma materialização de um percurso de pesquisa em campo intenso. Escrito há mais de dois anos, o texto foi submetido a diversas análises e ajustes. Portanto, trata-se de um trabalho fruto de esforço contínuo e compromisso com o conhecimento científico. A propósito, o livro com a pesquisa final da minha tese de doutorado sairá em breve pela Editora da Universidade do Ceará (EdUece). 

Entrevista Nota 10 — Tanto no mestrado quanto no doutorado, você se debruçou sobre pesquisas que tangenciam as artes marciais, como o jiu-jitsu na dissertação e o MMA na tese. Como o estudo de comunicação e sociologia nos permite compreender melhor movimentos e realidades diversas, como a cultura das lutas, para além do olhar mais tradicional do conhecimento? 

Cláudio Sena — Eu compreendo a comunicação e a sociologia, bem como a antropologia e a filosofia, como áreas complementares. Para análises mais profundas de fenômenos sociais, o aspecto da interdisciplinaridade faz-se fundamental. Ainda mais em casos de objetos complexos, onde o indivíduo e o ambiente social encontram-se imbricados. Mesmo publicitário e comunicólogo, procurei respostas (e penso que venho encontrando-as) em demais campos científicos. A imersão na sociologia já se deu no mestrado em Comunicação, como uma necessidade.

No doutorado, este sim em Sociologia, pude não só apreender novos conhecimentos que me serviam para a Comunicação, como ganhar arcabouço teórico e formativo de excelência tanto na Universidade Estadual do Ceará quanto na Universidade de Lyon 2, no período de doutorado sanduíche da CAPES. As lutas e as artes marciais são objetos de estudo multiculturais encontrados em todo o mundo. Me propus a seguir nesta perspectiva.

Entrevista Nota 10 — De que forma a área de comunicação possibilita um campo fértil de pesquisa para quem se interessa pelo mundo acadêmico? Qual a importância dos comunicadores, principalmente os que ainda estão se formando, se dedicarem à produção científica? 

Cláudio Sena — A comunicação é uma área na qual a pesquisa não é somente importante, mas necessária. Se buscamos a construção de uma sociedade mais justa e harmônica, os impactos das tecnologias nos processos comunicativos devem ser colocados à luz da análise científica. Formar comunicadores hoje também nos obriga a pensar de modo ético e humano em relação às mensagens e aos canais de comunicação que se apresentam extremamente dinâmicos e mutáveis. Por isso, indico grupos de pesquisa como maneira de organizar o pensamento e refletir de modo crítico sobre os fenômenos da comunicação.

Entrevista Nota 10 — Como você, enquanto publicitário e pesquisador, percebe o cenário da publicidade hoje? O que tem sido exigido dos profissionais atualmente para lidar com os novos desafios do mercado criativo? 

Cláudio Sena — O publicitário de hoje deve ser naturalmente um pesquisador, um observador atento das realidades sociais distintas e dos processos comunicativos de mediação da mensagem. Isso exige deste profissional o interesse e conhecimento de áreas diversas. A busca por referência e ampliação dos repertórios passa a ser decisiva não só para aqueles que trabalham diretamente com a criação. Como encontrar formatos e modos de construir a mensagem efetiva e persuasiva numa sociedade que muda constantemente e cada vez mais rápido com a influência da cultura digital e das novas tecnologias da comunicação? É essa a pergunta-desafio que penso guiar essa profissão atualmente.

Entrevista Nota 10 — E para a Unifor, como tem sido pensar e pôr em prática uma formação que atenda a essas novas configurações e exigências do mercado publicitário? A pesquisa acadêmica em publicidade é uma vertente relevante para essa capacitação? 

Cláudio Sena — O curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda da Unifor vem, há mais de 27 anos, garantindo uma formação de excelência para profissionais do Brasil e do mundo. Hoje nossos ex-alunos atuam de modo admirável em mercados globais. Da nossa parte enquanto curso e coordenação, buscamos garantir a qualidade da formação, com ótimos espaços de prática, quadro de professores altamente qualificados e uma matriz curricular completa e atualizada, com disciplinas distribuídas em três eixos: Pesquisa, Metodologia e Teorias da Comunicação; Planejamento, Marketing e Comunicação Integrada; Processual Criativo. 

Entrevista Nota 10 — O curso de Publicidade e Propaganda da Unifor carrega uma longa e frutífera história na produção científica, que tem sido reconhecida em congressos, competições e eventos acadêmicos ao longo dos anos. Como a graduação promove e incentiva essa atividade junto aos alunos? E como essa dedicação se reflete na formação de comunicadores e cientistas?

Cláudio Sena — O eixo da Pesquisa, Metodologia e Teorias da Comunicação tem uma trilha formativa extremamente influenciada pela necessidade da pesquisa acadêmica e da compreensão de fenômenos sociais. As disciplinas de Comunicação e Consumo, Comunicação e Cultura e Estudos de Comunicação e Mídia, por exemplo, seguem essa vertente. Além disso, incentivamos permanentemente os alunos para a participação em congressos como o Intercom e a integração em grupos de pesquisa, como o Laboratório de Tecnologias da Comunicação e do Humano (LABTECH), que está sob a minha coordenação. A ideia é justamente dar cada vez mais ênfase a esse eixo.