seg, 19 setembro 2022 10:16
Entrevista Nota 10: Dora Andrade e o poder da dança como transformação social
Idealizadora da Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes (EDISCA), a coreógrafa Dora Andrade fala à Entrevista Nota 10 sobre a carreira e a atuação no empreendedorismo social por meio da dança
Da sapatilha à ponta do lápis. É assim que crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social são acolhidos por Dora Andrade na Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes (EDISCA). A premiada coreógrafa é idealizadora e coordenadora geral da instituição, que promove transformação social e educação por meio de seu principal condutor: a paixão pelo corpo em movimento.
Dora iniciou sua formação na dança ainda na infância, tendo sido pupila do saudoso Hugo Bianchi, bailarino pioneiro do Ceará. Em sua juventude, participou de outras escolas no Brasil, como o Teatro Guairá, em Curitiba, e o Teatro Nacional de Brasília. As fronteiras nacionais, no entanto, tinham se tornado pequenas para a bailarina: Foi estudar na American School of Russian Classical Ballet e no Minnesota Dance and Jazz Musical Comedy, ambas nos Estados Unidos, assim como na École de Danse Peter Goss, em Paris (França).
Mesmo com um extenso currículo e experiência internacional na dança, Dora entregou-se de corpo e alma para a missão social e humana na EDISCA, onde já atua há mais de 30 anos. Mudando a vida de centenas de meninos e meninas desde 1991, a coreógrafa é também membro permanente do Fórum Nacional de Líderes Sociais, fellow da Ashoka Empreendedores Sociais e líder social da Fundação Avina.
À Entrevista Nota 10 desta semana, Dora Andrade conta um pouco sobre sua trajetória profissional e trabalho social com a EDISCA. Ainda comenta sobre o retorno às salas de aula como aluna do MBA em Empreendedorismo Social e Gestão do 3º Setor, aqui na Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz.
Confira na íntegra a seguir.
Entrevista Nota 10 – Poderia nos contar brevemente sobre como surgiu seu interesse pela dança e como se deu a sua trajetória profissional no mundo da sexta arte?
Dora Andrade – Iniciei os meus estudos de dança aos 10 anos, em Fortaleza, com o maître Hugo Bianchi, posteriormente estudando com Goretti Quintela e Helena Coeli. Aos 16 anos, tive minha primeira escola de dança em Quixadá. Foi uma experiência maravilhosa. Por volta dos 17 anos, senti necessidade de ampliar meus conhecimentos e ter contato com outras linguagens da dança. Daí passei a ir todos os anos para Brasília, onde Giselle Santoro organizava cursos de férias com professores de toda parte do mundo.
Posteriormente fui estudar dança clássica em Curitiba, na escola do Teatro Guaíra; com Eva Shoo, dança contemporânea. Foi lá que fiz audição para ter em minha carteira de trabalho a profissão de bailarina.
Enfim, tive o privilégio de estudar nos Estados Unidos, na França e na Espanha. Tive por nove anos uma escola de dança em Sobral e sempre mantive escola em Fortaleza, como também, por cinco anos, tive o Grupo de Dança Dora Andrade. Com esse grupo, ganhamos alguns prêmios nacionais e um internacional, que oportunizou uma tournée em Portugal (fizemos Porto, Lisboa e Tondela). Até que surgiu a EDISCA.
Entrevista Nota 10 – Mesmo contando com um extenso currículo no tablado e reconhecimento na área, por que você decidiu investir em um projeto social como a Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes (EDISCA)?
Dora Andrade – Certamente por conta de minha mãe, que é a mulher mais generosa que conheci nessa vida. Tive contato com a dor do outro, trabalhei com idosos, crianças órfãs, favelas etc. Acredito que essas experiências criaram em mim, talvez, um espírito inconformado com as injustiças e desigualdades.
Entrevista Nota 10 – Há três décadas você lidera a EDISCA, tendo ajudado a promover, com muita eficiência, o desenvolvimento humano, social e artístico de diversas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade na cidade de Fortaleza. Apesar de todos esses anos de experiência, o que te motivou a voltar a ser estudante no MBA em Empreendedorismo Social e Gestão do 3º Setor, aqui na Unifor?
Dora Andrade – Sou absolutamente convencida de que a educação é o maior patrimônio que se pode ter, e a educação continuada é o único caminho de permanecermos ativos, informados e capazes de lidar com as mudanças que são absolutamente velozes. Além de que é também um lugar para construir amizades, relacionamentos e até parcerias, dado que quase todo o grupo está envolvido com a causa social.
Entrevista Nota 10 – O que você espera conseguir conquistar e/ou aplicar com o que tem absorvido no curso? Esse aprendizado pode ajudar a continuar transformando a vida de diversas pessoas e a fazer a diferença no contexto atual em que vivemos?
Dora Andrade – Estamos na última disciplina do curso. Aprendi muito, tive excelentes professores. Tudo o que se aprende é útil para nossa vida. Imagina para mim, um curso de empreendedorismo social e gestão do terceiro setor? Foi fantástico!
Entrevista Nota 10 – Para encerrar, gostaria de saber: o que a dança significa para você enquanto pessoa, artista e cidadã?
Dora Andrade – As maiores e melhores emoções que tive na vida aconteceram através da dança. A arte é fundamental para o ser humano, é uma via privilegiada para educar. Não consigo entender uma educação de qualidade quando não é contemplada uma vivência consequente em arte.