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Seg, 30 Janeiro 2023 15:35

Entrevista Nota 10: Josimar Costa e a formação de gestores por excelência

Doutor em Administração de Empresas, o professor Josimar Costa fala sobre a carreira na gestão, explica o que faz um bom líder e conta detalhes sobre o novo cargo na Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração


Ele é coordenador dos cursos de Administração, Negócios, Gestão Financeira e Inteligência de Negócios da Unifor (Foto: Arquivo pessoal)
Ele é coordenador dos cursos de Administração, Negócios, Gestão Financeira e Inteligência de Negócios da Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

O que faz alguém ser um bom profissional na área de gestão? Segundo o administrador Josimar Souza Costa, é preciso ser um líder curioso, com desejo incondicional de buscar respostas e soluções onde ninguém acha. Para isso, é necessária a criação de repertório, “que você conheça muito sobre várias coisas e de várias situações diferentes, que consiga ler cenários”.

A definição foi seguida à risca por ele mesmo em sua trajetória: já passou pela logística do Exército, trabalhou como gerente de vendas em uma distribuidora de medicamentos veterinários enquanto cursava Administração na Universidade de Fortaleza — da Fundação Edson Queiroz —, do qual participou da reformulação curricular em 2015, e dedicou-se à pós-graduação. Curiosidade e repertório são pontos fortes no currículo.

Mestre em Administração e Controladoria e doutor em Administração de Empresas, Josimar hoje é coordenador não só da graduação onde se formou, mas também de outras três (Negócios, Gestão Financeira e Inteligência de Negócios) em sua alma mater. Possui MBA em Gestão Acadêmica e Universitária, além de ser docente do Mestrado Profissional em Administração (MPA) da Unifor e membro do grupo de pesquisa Estudos sobre Inovação Social, Empreendedorismo Social e Inovação Organizacional (InoS).

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ele fala sobre a carreira na gestão, explica o que faz um bom líder e conta detalhes sobre o novo cargo que assumiu na Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (Angrad).

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 – Professor, poderia compartilhar como suas trajetórias acadêmica e mercadológica se encontram e complementam sua experiência enquanto profissional, principalmente como gestor na área de educação?

Josimar Costa – Minha carreira profissional iniciou no Exército: fui oficial temporário por quase oito anos. Lá, meu trabalho foi nas áreas de logística, gestão de forma geral e, principalmente, treinamento de formação dos soldados ano a ano, e já era uma formação voltada para competências. Quando saí, fui contratado para ser coordenador pedagógico em uma empresa de cursos profissionalizantes. Nela, minha bagagem de competências foi relacionada a vendas e gestão geral, mas fiquei apenas três meses no cargo.

Nesse meio tempo, já estava nos bancos da Unifor como aluno de Administração. Então recebi uma proposta para trabalhar como gerente de vendas em uma distribuidora de medicamentos veterinários e rodei bastante por Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Maranhão. Aproveitei esse tempo para concluir minha graduação. A grande vantagem de ser profissional e ser acadêmico, estudante de universidade, é que eu conseguia enxergar dentro da sala de aula e das teorias aquilo que via no mercado de trabalho. E isso foi inspirador. Permitiu que eu visse bastante coisa que queria dentro do curso de Administração. 

No último semestre da graduação, sempre digo que fui “contaminado” pelo vírus da pesquisa e me apaixonei perdidamente por aquela sensação de enviar um artigo, de receber resposta para participar de evento, de apresentar aquele evento e, principalmente, de contribuir com a formação de conhecimento na área. Foi então que emendei a graduação com mestrado em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Depois voltei para minha casa, a Unifor, para cursar o doutorado em Administração. Junto com isso, a preocupação em entender como é que as graduações em administração funcionavam era algo que me incomodava.

Quando fui contratado como professor, tive o prazer de participar da reformulação do curso de Administração da Unifor e participar da equipe que estava trabalhando com essa modificação: de um curso que era focado no tecnicismo e conteúdo em um curso que se transformava voltado para o desenvolvimento de competências — que era basicamente aquilo que eu aprendi a fazer lá no Exército, no início da minha carreira profissional. Desenhamos um curso com olhar futurista, tanto que as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), que foram lançadas pelo Ministério da Educação nos últimos dois anos, nós praticamente já tínhamos implantado lá atrás, em 2015.

Tive o prazer de assumir a coordenação do curso e hoje posso dizer que estou coordenando uma graduação que tem essa visão de ensino por competências, da formação de um egresso que vai ser um tomador de decisão orientado a dados, mas com essa visão humana, que é o grande diferencial da Unifor. Entender que as organizações são feitas por pessoas e com pessoas.

Em resumo, essa perspectiva profissional permite que nós, como coordenadores e professores do curso de Administração, tenhamos em mente que o mercado tem que estar dentro da sala de aula e a Universidade tem que estar dentro das empresas. Porque temos a visão do conhecimento — temos as ferramentas para gerar inovação, para pensar diferente, fora da caixa — e o objetivo de gerar propósito, porque as empresas são geridas por propósito e valores. Isso traz para sala de aula a criação de experiências. O aluno hoje tem que estar em sala de aula experienciando e fazendo com desafios reais. Coisa que na Administração, em Negócios e em todos os cursos do eixo de gestão nós trazemos muito fortemente para a sala. Essa experiência profissional fez com que a gente entendesse que a academia precisa do mercado como o mercado precisa da academia.

Entrevista Nota 10 – Enquanto coordenador de cursos que conversam entre si de alguma forma (Administração, Negócios, Gestão Financeira e Inteligência de Negócios), é possível visualizar uma “linha-guia” que atravessa e une todos esses campos?

Josimar Costa – Adorei a pergunta porque esse “alinhavo” na integração entre os cursos acontece porque eles são complementares. Você tem a gestão como foco principal, como a amálgama dos cursos, mas principalmente aquele perfil que buscamos de egresso que se forma na Unifor, que é aquele perfil do tomador de decisão. Aquela pessoa que está que tem condições, a partir de informações do cenário mercadológico, de tomar uma decisão abalizada, que a gente chama hoje de gestão orientada a dados, mas com empatia. Temos então o eixo de gestão que une todos esses cursos.

O curso de Inteligência de Negócios permite que o executivo consiga entrar nesse mundo da transformação digital com mais facilidade e que tenha um letramento na área tecnológica, na área de programação. Assim ele vai ter condições de entender o mercado de análise de dados de forma mais profunda para que possa pedir a um desenvolvedor e que seja mais assertivo no desenvolvimento de modelo de dashboards. O principal objetivo do analista de dados é aprender a fazer as perguntas certas para que ele consiga resolver problemas de forma mais direta, mais rápida e mais assertiva, porque as organizações vivem em um processo de ebulição muito grande, então você tem pouca margem para o erro.

O curso de Gestão Financeira traz as principais ferramentas básicas do tomador de decisão — que bebem lá no curso de Administração — e que se unem às disciplinas que são satélites da graduação em Finanças. É um produto muito mais voltado para o mercado financeiro e que vai te dar condição de assumir qualquer função de executivo, tanto em nível operacional quanto tático e até estratégico na área de finanças. Isso aí é a verve do curso.

Há dois produtos que se integram muito bem, que são os cursos de Administração e de Negócios. Administração, que está completando 50 anos na Unifor em 2023, é um curso clássico. É a graduação que tem hoje o segundo maior número de ingressantes semestrais no Brasil. Você percebe que existe essa paixão pelo curso de administração no Brasil. E, sem esse meu romantismo, tenho que dizer que é uma formação muito focada hoje no desenvolvimento de competências. Tive o prazer de participar desse processo de construção, lá em 2015, aqui na Unifor. Ele deixou de ser um curso tecnicista e passou a ser dedicado a desenvolver competências e trabalhar com a habilidade dos alunos — tanto habilidades técnicas quanto, principalmente, habilidades socioemocionais —, onde ele vai, desde o primeiro semestre, ser desafiado a tomar decisões.

E o curso de Negócios tem a essência da gestão de Administração. O egresso de Negócios é formado nos três eixos do nosso curso de Administração, que são: Empreendedorismo, Pesquisa e Liderança. Essa graduação foi desenhada com duração de três anos, pensando nessa nova geração que é mais imediatista e com um processo de aceleração na formação de líderes, que está cravado no curso de Administração — esse “curso mãe” que é o grande sustentáculo desses outros cursos que falamos.

Entrevista Nota 10 – Seguindo essa lógica, o que faz alguém ser um bom profissional na área de gestão, independentemente do ramo que decida seguir?

Josimar Costa – Quando o curso de Administração foi redesenhado com essa aptidão para o desenvolvimento de competências, ele foi pensado em três: Empreendedorismo, Pesquisa e Liderança. E não tem como pensarmos em um bom profissional de gestão que não seja um líder, aquela pessoa que vai ter uma liderança com a sua equipe, que também vai se auto liderar, desenvolver habilidades socioemocionais de comunicação e relacionamento. Tudo isso é importante para a formação do líder. Entretanto, não se pode esquecer que isso tem que estar vinculado a um desejo incondicional de buscar respostas, de buscar soluções.

Então, o líder de excelência é aquele que busca soluções. E, para buscar soluções, ele tem que ser curioso, tem que aprender a pesquisar. Por isso que é um outro eixo do curso: para ser um bom profissional em gestão, você tem que ser um líder; para ser líder, você tem que buscar e ser curioso, tem que pesquisar, buscar soluções e respostas onde ninguém acha. Isso é criação de repertório. Que você conheça muito sobre várias coisas e de várias situações diferentes, que consiga ler cenários. 

O resumo seria isso: ser curioso. Porque, eu sempre digo, a curiosidade é a célula mater da criatividade, e a criatividade é a ferramenta do inovador. Não tem como pensarmos em líderes que não sejam pesquisadores e que não consigam inovar. Então, o bom profissional de gestão é um líder que pesquisa, que é curioso, que tem criatividade — porque criou repertório a partir dessa curiosidade — e que isso faz um empreendedor. Empreendedor é aquele que consegue quebrar ciclos da economia, é aquele que consegue inovar, que está disposto a fazer algo que todo mundo faz igual de uma forma diferente ou fazer algo totalmente diferente que faça igual a todo mundo. Isso é ser empreendedor.

Enfim, esses três elementos que compõem o curso de Administração como eixo, eles perpassam pela formação de todos os profissionais desenvolvendo essas habilidades técnicas e socioemocionais. O bom profissional de gestão hoje faz leitura de dados muito bem, mas, para isso, ele tem que ser curioso. Ele toma a decisão baseada nesses dados, mas não pode esquecer de um componente básico da liderança, que é entender de pessoas, ter empatia, entender que as organizações são feitas pessoas e as pessoas é que fazem as organizações. Creio que esses elementos que falei agora sejam os pontos essenciais do bom profissional de gestão.

Entrevista Nota 10 – Recentemente, você foi empossado na Diretoria de Marketing da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (Angrad), passando então a representar a Universidade de Fortaleza ao lado de grandes instituições de ensino na área. Como foi assumir essa posição e o que ela representa em sua carreira?

Josimar Costa – Eu me sinto honrado por ter sido convidado a participar da diretoria da Angrad. Quando recebi o convite do professor Edson Sadao, presidente da Angrad, para participar da chapa, logo me dispus a participar. Assim como lá em 2019, quando assumi a coordenação de Administração na Unifor, assumi com um desejo de trazer nova vida ao curso, algo que era um trabalho continuado que já vínhamos desde 2015 tentando a cada dia fazer com que o mercado entrasse mais em sala de aula conosco, que viessem mais desafios para que conseguíssemos ter essa tessitura. Quase como um processo de aprendizado contínuo, de como fazer e de aprender a fazer fazendo.

Vi nesse convite uma oportunidade de tentar contribuir com o curso de Administração não só aqui no Ceará, mas em todo o Brasil. Contribuir com a presidência, que vem aí com grande desafio nos próximos anos. Estamos em estado pós pandêmico, onde tivemos que tentar trazer a educação para o ambiente virtual. Sempre digo que é um metaverso, onde não nos víamos dentro dessa bolha, que foi a pandemia do ensino remoto. Ao mesmo tempo, foi uma oportunidade de transformação digital.

Temos hoje os cursos de Administração presencial e EAD com um nível de qualidade excepcional. Os cursos de Administração do Brasil, agora ditados por uma nova DCN — que foi um trabalho também a várias mãos, mas com um esforço muito grande da Angrad na participação, criação e desenvolvimento dessa nova Diretriz —, nos orientam e se alinham ao que já fazíamos aqui na Universidade de Fortaleza. Enfim, é uma oportunidade ímpar para eu aprender com todos esses nomes maravilhosos que compõem a Associação. E, principalmente, da Unifor ter a oportunidade de se aproximar ainda mais de todos os grandes centros para que tornemos nossos cursos de Administração ainda melhores.

Estamos agora passando por um processo de acreditação internacional da Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB), que é uma acreditadora de cursos no mundo todo e da qual já somos membros. Isso é uma validação de qualidade, uma marca forte. Esse processo de acreditação dos cursos de Administração, esse aumento da relação institucional entre as grandes universidades de todo o país, vai só potencializar nossas graduações. Além da honra de participar desse quadro, fica o desejo de poder contribuir com a melhoria contínua e o processo de transformação do curso de Administração no Brasil como um todo.

Entrevista Nota 10 – Qual a importância dessa oportunidade para a troca de aprendizado entre instituições?

Josimar Costa – É uma oportunidade ímpar de realmente utilizarmos toda a capilaridade da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração para reforçar ainda mais a imagem da nossa graduação — tanto presencial como o EAD —, que, junto com a Universidade de Fortaleza, completa 50 anos em 2023. Que tenhamos ainda mais 100 anos de melhoria daqui para frente. E que isso também sirva como uma forma de potencializar ainda mais esse orgulho de ser administrador e de ser egresso do curso de Administração da Unifor.