Entrevista Nota 10: Mateus Costa-Ribeiro e o Direito como vocação

sex, 2 julho 2021 16:50

Entrevista Nota 10: Mateus Costa-Ribeiro e o Direito como vocação

Aos 21 anos, advogado brasileiro é mestre em Harvard e, apesar da pouca idade, é exemplo por sua dedicação profissional.


No próximo dia 15 de julho, Mateus participará de masterclass nas redes sociais da Universidade de Fortaleza. (Foto: Acervo Pessoal/Divulgação)
No próximo dia 15 de julho, Mateus participará de masterclass nas redes sociais da Universidade de Fortaleza. (Foto: Acervo Pessoal/Divulgação)

Há quem diga que a vocação profissional vem do berço. Mesmo que ainda não existam comprovações para tal teoria, a trajetória do brasiliense Mateus Costa-Ribeiro certamente pode ser utilizada como exemplo para fortalecê-la. Aos 14 anos, o jovem foi aprovado no vestibular para a Universidade Federal de Brasília (UnB), onde graduou-se como bacharel em Direito, tornando-se o brasileiro mais jovem da história aprovado no exame da OAB. 

Como se não bastasse o recorde, Mateus voou alto e partiu para um mestrado na Harvard Law School, Universidade que figura no topo das melhores do mundo. Hoje, aos 21 anos, é um dos mais jovens advogados com autorização para exercer o ofício nos Estados Unidos da América.

Para falar sobre as vantagens de ingressar na área do Direito, Costa-Ribeiro participará de masterclass gratuita realizada pela Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, no próximo dia 12 de agosto, às 19h. Em antecipação ao encontro, o Entrevista Nota 10 conversou com Mateus sobre sua exemplar trajetória na área jurídica e as diferenças entre a educação brasileira e a estadunidense. Leia na íntegra a seguir.   

Entrevista Nota 10 – Mateus, sabemos que o Direito faz parte de sua vida desde muito cedo – alguns veículos contam que a aptidão para advocacia já era evidente na sua infância. Com um pai advogado, esse interesse pela área partiu exclusivamente do contato com a profissão por meio dele? Você consegue recordar de algum momento em que percebeu que o jurídico era o seu “chamado” profissional?

Mateus Costa-Ribeiro – A maior responsável pela paixão precoce [que tenho] pelo Direito é minha mãe, professora de Ensino Fundamental da rede pública do Distrito Federal. Ela despertou minha vontade de ler livros cada vez maiores e me dedicar na escola. A educação sempre foi prioridade “número 1, 2 e 3” para ela. Mais tarde, fui introduzido naturalmente ao mundo do Direito, a partir de conversas dentro de casa e fazendo um “habeas corpus” para poder deixar um castigo e conseguir ver um jogo do Corinthians, um apelo ao coração do meu pai advogado.

Entrevista Nota 10 – Algumas pessoas demoram anos – até mesmo décadas – para decidir qual área profissional seguir. Há quem defenda que a média etária usual de ingresso à Universidade (17 a 19 anos, após a conclusão do Ensino Médio) ainda não é a indicada em termos de maturidade intelectual. Você, por outro lado, foi aprovado no vestibular aos 14 anos e tornou-se bacharel aos 18, concluindo o curso de Direito antes do esperado. Em algum momento chegou a sentir-se inseguro ou pressionado pelo ingresso precoce ao Ensino Superior? Que dicas você daria para alguém que ainda está indeciso?

Mateus Costa-Ribeiro – Eu acredito fielmente que cada pessoa tem seu tempo. Alguns precisam de décadas para se encontrar em uma área em razão do seu contexto familiar ou por terem várias habilidades diferentes e hesitarem na hora de escolher uma profissão “para o resto da vida”.

Nunca me senti pressionado, porque fiz um Ensino Médio muito bem feito, com vários cursos extracurriculares de matemática, inglês e português na Universidade Johns Hopkins e pelo Método Kumon. Amadureci rápido através do convívio com pessoas mais velhas e, a partir do segundo semestre, já me considerava um aluno como qualquer outro. Eu estava decidido a entrar no curso e não me sentia inferior a nenhum dos meus colegas por ser mais jovem. Queria apenas provar que idade não é documento de imaturidade – e que estava à altura do desafio de cursar a faculdade aos 14. Minhas notas e amigos que fiz sugerem que foi um experimento bem-sucedido.

Entrevista Nota 10 – Em 2019, você foi aprovado para um mestrado na Universidade Harvard, que figura na lista de melhores instituições de ensino do mundo. Que diferenças cruciais você apontaria entre a educação brasileira e a estadunidense?

Mateus Costa-Ribeiro – A educação estadunidense tipicamente coloca o aluno como centro, na sala de aula. Cada professor leciona incluindo, em algum grau, perguntas aos alunos para que eles possam dar sua opinião e construir ideias socraticamente. Isso exige que, antes da aula, todos se preparem lendo os textos e artigos indicados pelos professores.

Além disso, os professores de Harvard reservam um horário em sua agenda semanal para conversar com os alunos, o que é preciosíssimo. Reuni-me com ídolos como Cass Sunstein e Noah Feldman, que mais tarde se tornaram meus orientadores. Esse contato professor-aluno é exacerbado no campus.

Entrevista Nota 10 – Após ser o mais jovem bacharel aprovado no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), aos 18 anos, você tornou-se também o mais jovem advogado a qualificar-se para atuar nos EUA, aos 21 anos, chegando a prestar juramento na Corte Suprema de Nova York no último mês de abril. A jornada para atuar no jurídico estrangeiro te trouxe quais desafios?

Mateus Costa-Ribeiro – Passar na prova do BAR [exame de qualificação para tornar-se advogado nos Estados Unidos] de Nova Iorque foi meu maior desafio acadêmico até aqui. Precisei aprender todos os ramos do Direito – contratos, penal, civil, família, etc – de acordo com a regulação estadunidense. Ao mesmo tempo, elaborar peças processuais em inglês não foi intuitivo no começo, já que os Estados Unidos vêm de uma tradição jurídica diferente da brasileira, do common law (direito comum). 

O desafio, então, é se dedicar por meses para reaprender Direito e poder se habilitar para atuar fora do Brasil. Para mim, foi um passo essencial para atuar no mercado financeiro americano representando companhias brasileiras em operações de mercado de capitais e fusões e aquisições, envolvendo bancos e outras companhias listadas nos EUA. É um investimento de tempo, de recursos. Trata-se de um verdadeiro projeto de vida.

Entrevista Nota 10 – Atualmente, você trabalha em um escritório que presta apoio jurídico a empresas brasileiras que fazem operações internacionais. Você pretende retornar para a academia algum dia? Prestar doutorado?

Mateus Costa-Ribeiro – Trabalho no Milbank LLP, escritório fundado pelo lendário jurista Albert Milbank. O escritório tem uma parceria com a Harvard Law School e recruta muitos estudantes de lá. Me apaixonei pela cultura e passei por várias baterias de entrevistas em Nova York para receber uma proposta. Hoje meu foco é 100% profissional, mas pretendo continuar pensando o Direito – e a academia me ajudará a fazer isso mais cedo ou mais tarde. Um doutorado, entretanto, ainda está sem previsão.