seg, 16 maio 2022 12:20
Ócio e tempo livre são temas de Jornada de Estudos da Pós-Unifor
Evento traz convidados de diversos âmbitos dos saberes psicológicos para debaterem sobre o tema e suas ramificações
A pandemia de Covid-19 despertou questões acerca do funcionamento da sociedade contemporânea, que atualmente vive uma realidade baseada no desempenho e na produtividade. Esse estilo de vida, ao mesmo tempo em que exige dos indivíduos um rendimento mais frutífero em seus cotidianos, menospreza aspectos fundamentais para a existência e manutenção dessa produtividade, como o ócio e o tempo livre.
O ócio, ao contrário do que diz o senso comum, nada mais é do que reservar um tempo para atender às próprias necessidades criativas e reflexivas por meio do descanso e de atividades voltadas para o desenvolvimento humano. Já o tempo livre visa evitar o esgotamento mental. Ambos são experiências emocionais e subjetivas que se opõem ao modelo industrial de produção desenfreada.
O isolamento expôs ainda mais a necessidade da presença constante desses dois aspectos para uma sociedade mais saudável e equilibrada. É a partir desse contexto, e com foco nas (re)configurações do cenário pós-pandêmico, que o Grupo de Estudos OTIUM, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz, promove a mais nova edição da Jornada de Estudos sobre Ócio e Tempo Livre.
Sobre a Jornada
Com o tema “Reconfigurações da vida no pós-isolamento”, o evento acontece no dia 18 de maio, a partir das 8h30, na sala B49, e marca o retorno do grupo às atividades presenciais após dois anos de encontros remotos. A Jornada visa proporcionar um espaço rico em debates entre pesquisadores, docentes, discentes e interessados das mais diversas áreas relacionadas aos fenômenos do ócio, dos tempos livres e do trabalho no âmbito das culturas contemporâneas.
De acordo com José Clerton Martins, coordenador do OTIUM e professor-titular do curso de Psicologia da Unifor, esta edição apresenta a diversidade que o tema convoca, levando em consideração seus limites e potências de amparo. “São estudos que vão desde entender a espiritualidade, no contemporâneo digital e materialista, à contemplação como necessidade de um autoencontro, onde podemos nos amparar inteiros em nós mesmos”, explica o docente.
Martins esclarece que o intuito do encontro é trazer à tona o que o esperado “novo normal” convoca no indivíduo, e pontua que essa realidade empurra a um convite para prestar atenção aos processos de individuação, às necessidades essenciais e no que se expressa como atividade no tempo central de viver, além de convidar para uma reflexão acerca da diferença entre “viver” e “apenas existir”.
Ademais, nesta edição, a Jornada levanta o debate quanto ao real significado do trabalho em um mundo regido por aplicativos, e o que seria, de fato, o tempo livre. Também estará em pauta a contribuição dos estudos do ócio, enquanto experiência criadora e potencializadora da vida, para o campo das psicologias, assim como a reflexão acerca do fenômeno à luz do saber e do fazer psicológico na contemporaneidade, em tempos de vida uberizada e no pós-isolamento.
Renan Cavalcante, graduando em Publicidade e Propaganda da Unifor e integrante do OTIUM, considera que o tema abordado no evento trata de algo essencial para a saúde mental dos indivíduos. “Durante a pandemia, a gente percebeu um sofrimento muito grande das pessoas em quererem ser produtivas, e, quando não conseguiam, ficavam se sentindo mal por conta disso. Mas, de fato, o que é ser produtivo? O que é a produtividade?”, questiona o estudante.
Para ele, o momento em que o indivíduo entender que pode ficar apenas sozinho consigo mesmo, sem “fazer nada”, e conseguir ter um olhar interno para se entender melhor como pessoa, será um momento no qual ela estará produzindo muito mais para sua vida se comparado a uma situação em que estivesse em uma sala de aula fazendo um exercício ou trabalhando.
Renan Cavalcante é integrante do OTIUM e pretende fazer o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o ócio e hiperconectividade (Foto: Acervo Pessoal)
“Muita gente vem sofrendo ao longo dos anos, principalmente com essa correria desenfreada do capitalismo de ter que estar produzindo o tempo todo. Mas, eu acho que [a importância do tema] vem muito do fato de você se entender melhor como ser humano dentro desse universo capitalista, e o que você pode fazer para tentar se manter estável da melhor forma possível”, reflete.
A Jornada de Estudos sobre Ócio e Tempo Livre conta com a presença de profissionais pesquisadores de diversos âmbitos dos saberes psicológicos e de áreas transversais, que situam o sujeito e suas experiências recriadoras em contextos investigativos diversos. As inscrições podem ser realizadas através do preenchimento de um formulário, disponível no link da bio do Instagram do laboratório @laboratoriootium, ou clicando aqui.
Conheça o OTIUM
O OTIUM é um Grupo de Estudos Multidisciplinares sobre Ócio e Tempo Livre vinculado ao PPGP. De acordo com José Clerton, ele é composto majoritariamente por doutorandos e mestrandos em seus processos de investigação nas temáticas de interesse da linha de Processos de Trabalho e Saúde. Nos encontros, os participantes discutem assuntos relativos ao projeto guarda-chuva atual, que leva o tema “Reconfigurações da velhice no pós-pandemia”, se voltando para as temáticas e suas transversalidades sobre esse grande campo.
Dentro do próprio grupo, existem dois subgrupos de pesquisas que, a partir das temáticas desenvolvidas, o integram: são eles o “Ócio, psicologia e cultura”, no qual os integrantes estudam questões relativas ao ócio e sua atualidade na cultura contemporânea, e o “AION”, caracterizado por tratar de estudos sobre arte, cultura e símbolo sob a perspectiva da psicologia de Carl Gustav Jung. Ambos são abertos para qualquer pessoa que deseje participar, seja ela estudante da graduação ou da pós-graduação.
O Grupo atua desde 2005 e é parceiro da Associação Ibero-Americana de Estudos de Ócio. Para o coordenador, o tema do ócio é de suma importância para a sociedade, já que o assunto se trata de uma questão de saúde, pois a sociedade industrial gerou um homem sem tempo para si mesmo.
“Nesse âmbito, tal como aponta o filósofo Byung-Chul-Han, que delimitou nossa sociedade como a sociedade do cansaço, é necessário refletirmos sobre contrapontos para a existência menos tediosa e mais criativa. Para isso, refletir sobre reconfigurações da vida, cremos, nos aponta novos sentidos para os tempos que virão”, finaliza ele.
Serviço
Jornada de Estudos sobre Ócio e Tempo Livre
Data: 18 de maio de 2022
Horário: a partir de 8h30
Local: B49