null Visitantes da exposição “Centelhas em Movimento” poderão interagir com a obra de Portinari, “Cabeça de Mulato”

Ter, 12 Março 2024 11:44

Visitantes da exposição “Centelhas em Movimento” poderão interagir com a obra de Portinari, “Cabeça de Mulato”

Projeto foi desenvolvido pela equipe do Laboratório Vortex, da Diretoria de Tecnologia (DTec) da Unifor, com o uso de inteligência artificial para que o “mulato” converse com os usuários


A obra, que faz parte da Coleção Igor Queiroz Barroso, está emprestada para a 60ª edição da Bienal de Veneza, na Itália (Imagem: Divulgação)
A obra, que faz parte da Coleção Igor Queiroz Barroso, está emprestada para a 60ª edição da Bienal de Veneza, na Itália (Imagem: Divulgação)

A Diretoria de Tecnologia (DTec) da Universidade de Fortaleza - instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz -, por meio do Laboratório Vortex, e da Vice-Reitoria de Extensão (Virex) se uniram novamente e desenvolveram um recurso interativo para a exposição Centelhas em Movimento - Coleção Igor Queiroz Barroso. Os visitantes da mostra, que apresenta cerca de 190 obras de autoria de mais de 55 artistas, poderão interagir com a icônica obra de Candido Portinari, “Cabeça de Mulato”, por meio de conversa direta com o personagem retratado, cuja peça original, que faz parte do acervo do colecionador, encontra-se emprestada para a 60ª Bienal de Veneza, na Itália.

A parceria com o Vortex, de acordo com a Vice-reitora de Extensão e Comunidade Universitária, professora Adriana Helena, tem gerado bons experimentos no campo das artes nos projetos desenvolvidos pela Virex, devido a sua expertise em tecnologias digitais aplicadas às artes, como realidade virtual, realidade aumentada, mídia interativa, entre outras. “É importante destacar que parcerias como essa demonstram o potencial transformador da interseção entre arte e tecnologia, criando oportunidades para a criação de obras inovadoras e significativas que ampliam nossa compreensão do mundo ao nosso redor.

Segundo o Coordenador de Inovação da DTec, Fernando Ferreira, que idealizou o sistema, o objetivo da parceria é o enriquecimento da experiência artística e a atração de um espectro mais amplo e diversificado de pessoas, oferecendo elementos tecnológicos que permitam maior inovação e interação com as exposições do Espaço Cultural Unifor. “A Coordenação de Inovação da DTec tem o compromisso e a responsabilidade de promover a inovação do negócio da universidade. Diante das experiências e projetos exitosos no passado, a Virex nos buscou novamente para o desenvolvimento de uma nova ideia para sua próxima exposição”, relata. 

A ideia do projeto surgiu a partir do projeto de pesquisa de mestrado de Fernando, que explora a utilização de assistentes virtuais inteligentes para ampliar a experiência de pessoas em ambientes virtuais. O recurso interativo disponibilizado na exposição, possui uma arquitetura diferente, em que foi removido o componente de realidade virtual, porém, foi preservado o foco na ampliação da interação e experiência dos visitantes.

“O homem presente na obra foi modelado em 3D, animado e empoderado com inteligência artificial para conversar sobre si, a exposição da qual faz parte, e seu artista criador. A interação ocorre por meio de um microfone que, conectado a um computador, realiza o processamento de linguagem natural, analisa qual a resposta mais adequada em uma extensa base de dados. Em seguida, exibe a resposta em tempo real por meio de um monitor de TV localizado dentro do espaço expositivo”, destaca Yuri Nekan, líder de projeto do Vortex.

Além de Fernando e Nekan, a equipe de desenvolvimento do projeto consiste em alunos dos cursos de Ciência da Computação, Engenharia da Computação e do Mestrado em Informática Aplicada da Unifor, uma vez que um dos objetivos estratégicos do laboratório é a promoção da formação prática de estudantes, contribuindo para seu sucesso profissional. Edson Urano, aluno do 5º semestre de Ciência da Computação, afirma que trabalhar neste projeto para criar uma experiência interativa, imersiva e inovadora foi desafiador, mas culminou com um resultado extremamente gratificante.


“Acredito que a minha participação desde o início do desenvolvimento contribuiu significativamente para minha formação, tanto em termos técnicos quanto pessoais, pois, com o apoio dos meus colegas de equipe, aprendi e utilizei tecnologias que nunca havia aplicado antes. O desenvolvimento do projeto 3D baseado na obra "Cabeça de Mulato", além de me proporcionar uma oportunidade única de explorar a intersecção entre arte e tecnologia, possibilitou um entendimento melhor de como o trabalho em equipe e um planejamento adequado são importantes para o sucesso de uma aplicação” - Edson Urano, aluno do curso de Ciência da Computação

Responsável pela modelagem 3D do “Mulato”, Daniel Ribeiro, aluno do 6º semestre do curso de Engenharia da Computação, também celebrou a participação no projeto. “Foi uma excelente experiência, pois, mesmo estando focado no desenvolvimento 3D, pude aprofundar meus conhecimentos na área de desenvolvimento web. Agradeço demais às pessoas que trabalharam arduamente comigo para tornar este projeto uma realidade”, reforça.

Participou do desenvolvimento do projeto também Daniel Colares, aluno do 2º semestre do Mestrado em Informática Aplicada. Aluno do 6º semestre de Ciência da Computação, João Mateus Matos, atuou como designer de experiência e interface de usuário, tendo auxiliado na elaboração de uma aplicação intuitiva e atraente.

Tecnologias utilizadas

Para alcançar o resultado final, o projeto passou por diversas etapas, iniciando pelo levantamento dos requisitos e em sequência, partindo para a pesquisa de tecnologias que poderiam ser utilizadas. Como resultado dessa pesquisa, Edson Urano revela que foram utilizadas no desenvolvimento do sistema, tecnologias de vanguarda, como React.js, Node.js, Three.js, Blender e APIs da OpenAI e Microsoft Azure.


Estudantes e colaboradores da Unifor testaram o recurso interativo no I Congresso das Civilistas, realizado na Unifor no dia 6 de março (Foto: Ares Soares)

Em seguida, teve início a criação do design do sistema. Nessa fase, o designer João Mateus levou em consideração as características principais da obra "Cabeça de Mulato" para criar as telas do programa, garantindo uma boa usabilidade aos usuários. A etapa seguinte foi o desenvolvimento, cujo processo durou cerca de dois meses. 

“Nessa fase, trabalhei em conjunto com Daniel Colares, desenvolvedor do Vortex. Criamos o processo de geração de resposta do personagem 3D, os movimentos da boca para o LipSync do modelo e programamos a interface criada por João Mateus. Enquanto isso, Daniel Ribeiro, modelador 3D, criou diversas versões da Cabeça de Mulato em 3D para colocar na aplicação. Além disso, para garantir a produtividade de todos os participantes, Yuri Nekan, líder técnico do projeto, realizou sprints para organizar as entregas e remover impedimentos, se alguém estivesse necessitando de ajuda para continuar o desenvolvimento”, descreve Edson.

Para Daniel Ribeiro, responsável pela modelagem, o processo de criação da releitura da obra "Cabeça de Mulato" em 3D foi desafiador, pois o objetivo era tornar o modelo 3D o mais fiel possível à obra. Ele conta que todo o processo durou aproximadamente um mês, e durante esse tempo, o modelo tridimensional do “Mulato” foi descartado algumas vezes até chegar no resultado final, totalizando cerca de 75 versões. 


“Para fazer a modelagem utilizei o software ZBrush, e para otimizações e animações, o Blender. O modelo atual possui aproximadamente 40 animações diferentes para a boca, cabeça e rosto, proporcionando um aspecto mais natural. As cores e texturas do modelo foram retiradas diretamente da obra original para garantir a máxima fidelidade” - Daniel Ribeiro, aluno do curso de Engenharia da Computação

Após a conclusão do projeto, foram aplicados testes do sistema com estudantes e funcionários da Unifor, que forneceram vários feedbacks para melhorar o resultado final.

Arte e inovação

Não é a primeira vez que recursos tecnológicos e interativos são utilizados nas exposições do Espaço Cultural Unifor. Em 2023, ano em que a Universidade de Fortaleza celebrou meio século de existência, foram realizadas duas mostras inovadoras, em que os visitantes puderam apreciar as obras através de óculos de realidade virtual, também desenvolvidos pelo Laboratório Vortex. 

De junho a agosto, ficou em exibição no Núcleo Diálogos, do Espaço Cultural Unifor, a exposição “Naza na Natureza”, da artista plástica piauiense radicada nos Estados Unidos, Naza Mcfarren. De setembro a dezembro, o espaço abrigou a mostra “Leonilson: Territórios em Travessia – Recorte Virtual”, a primeira individual do artista realizada em ambiente virtual. 


Os visitantes do Espaço Cultural Unifor puderam apreciar as exposições “Naza na Natureza” e “Leonilson: Territórios em Travessia” por meio de óculos especiais de realidade aumentada (Foto: Ares Soares)

“A tecnologia possibilita às artes novas ferramentas e meios para expressar suas visões criativas. Desde a pintura digital até a realidade aumentada e a realidade virtual, os avanços tecnológicos permitem a criação de obras que antes eram inimagináveis. Essa conexão não apenas moldou o modo como experienciamos e criamos arte, mas também tem implicações significativas na inovação, educação e na sociedade como um todo”, declara Adriana Helena.

A vice-reitora destaca ainda que a integração da arte e tecnologia na educação possibilita aos visitantes do Espaço Cultural, especialmente jovens e crianças, uma aprendizagem mais interativa e imersiva, facilitando o desenvolvimento do pensamento crítico, da criatividade e da curiosidade.

Serviço

Exposição Centelhas em Movimento - Coleção Igor Queiroz Barroso
Curadores: Paulo Miyada e Tiago Gualberto
Local: Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz, Fortaleza-CE)
Exibição: de 13 de março a 1º de setembro de 2024
Visitação gratuita: terças a sextas, 9h às 19h; sábados e domingos, 12h às 18h