Pesquisa Unifor: aplicativo pode auxiliar profissionais de saúde no atendimento de reabilitação vestibular
seg, 22 setembro 2025 18:41
Pesquisa Unifor: aplicativo pode auxiliar profissionais de saúde no atendimento de reabilitação vestibular
Coordenado pela professora Renata Parente, o trabalho buscou apoiar a formação prática de alunos da área de saúde ao disponibilizar um acompanhamento remoto e personalizado aos pacientes

As tonturas são sintomas comuns a pacientes de todas as idades e costumam ser inofensivas, mas sua persistência pode indicar possíveis diagnósticos mais graves. Para quem precisa restabelecer o equilíbrio e parar com as vertigens, a reabilitação vestibular faz parte do tratamento, sendo uma terapia complementar, não invasiva e baseada em um grupo de exercícios personalizados. Junto ao uso de medicamentos, modificações de hábitos e orientação alimentar, ela tem o intuito de reduzir os sintomas de tontura e promover a recuperação do equilíbrio corporal.
Pensando nesse cenário, a Universidade de Fortaleza (Unifor), vinculada a Fundação Edson Queiroz, fomenta estudos que buscam melhorar a qualidade de vida do paciente e otimizar o trabalho dos profissionais de saúde no tratamento da recuperação desse equilíbrio corporal. A pesquisa para a criação do aplicativo ReaV, desenvolvida com testes de uma sequência de vídeos, é um desses exemplos.
O ReaV é uma ferramenta que integra um aplicativo para dispositivos móveis em plataforma Android, que é de uso do paciente, a um sistema website administrativo, que é de uso dos alunos e professores da área de saúde. A aplicação tem o objetivo de apoiar a formação prática dos estudantes ao disponibilizar um acompanhamento dos pacientes e de casos clínicos, bem como um banco de dados de exercícios indicados para a reabilitação vestibular.
Segundo Renata Parente, professora do curso de Fonoaudiologia da Unifor e coordenadora da pesquisa, esse sistema foi desenvolvido em parceria com os cursos de Fonoaudiologia e Ciência da Computação. A equipe conseguiu fazer com que tanto pacientes quanto alunos tivessem melhor desempenho durante as sessões de atendimento.
A docente explica que o ReaV tem duas funções: a aplicação para Android, que é para acompanhamento do paciente, permite ao discente acompanhar o tratamento; e a parte web administrativa, onde o professor consegue inserir o estudo de caso.
“O aluno tinha um banco de dados de exercícios que ele poderia selecionar de acordo com a queixa do paciente dele, fazendo uma terapia personalizada (de acordo com a necessidade de cada um). O professor conseguia acompanhar o paciente e o aluno, então era uma ferramenta que conseguia mostrar muita coisa que fazíamos na anamnese do nosso paciente.” — Renata Parente, professora do curso de Fonoaudiologia da Unifor e coordenadora da pesquisa
Além de Renata, a pesquisa teve mais representantes do curso de Fonoaudiologia, como a professora Joyce Coelho e as alunas Fernanda Fernandes, Carla Marineli Saraiva, Ana Ingrid Silva e Rebeca Cerdeira. O estudo contou ainda com o professor José Eurico Vasconcelos e os alunos Ronaldo Almeida e Jonathan Cardoso, todos de Engenharia da Computação. Já do curso de Ciência da Computação, participaram os alunos Antônio Bastos, Augusto César Pinheiro, Erick Tomé de Lima, Davi Vasconcelos e Ícaro Pinho.
Como a pesquisa foi desenvolvida?
Renata, que é doutora em Ciências, conta que a ideia surgiu a partir de uma aluna da Fonoaudiologia, Rebeca Cerdeira. “Nós tivemos muitas reuniões com o pessoal do NATI [hoje Diretoria de Tecnologia da Unifor], da Ciência da Computação e da comunicação, com todos que estiveram presentes. E aí foram feitas várias reuniões para que conseguíssemos colocar a ideia num papel que queríamos”, relembra.
A professora explica que a reabilitação vestibular também conta com exercícios que visam a melhora do paciente com vertigem, que são atendidos uma vez por semana no Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Unifor e continuam o tratamento em casa. O ReaV entra como uma forma do aluno selecionar o exercício específico para aquele paciente, já que a reabilitação vestibular é uma terapia personalizada.
“O aluno selecionava quais exercícios o paciente deveria realizar em casa e, com isso, o paciente conseguia dizer para o aluno se ele estava se sentindo bem, se ele sentia tontura, se ele não conseguia fazer os exercícios. Aí o aluno conseguia também monitorar como é que estava essa evolução do paciente”, explica.
Para chegar no momento final do aplicativo já pronto, Renata relata que foram realizados vários vídeos mostrando a execução dos exercícios, com algumas frases curtas e com vocabulário fácil para que o paciente pudesse entender em casa. Realizaram os testes de usabilidade tanto com os professores, que conheciam a reabilitação vestibular, quanto com usuários, para que fosse possível o uso e pudesse haver a definição do real valor desse sistema.
Benefícios para a sociedade
Segundo Renata, a importância do ReaV está em permitir que estudantes e professores acompanhem o paciente mesmo a distância. A cada dia que o paciente fazia os exercícios e alimentava o aplicativo, a equipe recebia essa informação. Esse acompanhamento era diário, observando se a pessoa estava realizando os exercícios e o que sentia durante a atividade. Não precisava esperar sete dias por retorno presencial para que o paciente pudesse ser acompanhado.
E se, de repente, precisasse de alguma intervenção durante essa semana, o aluno poderia entrar em contato e ajustar aquela terapia personalizada. Dessa forma, se tornava um benefício muito grande, tanto para o paciente como para a aprendizagem do discente. Estar ali de perto mesmo distante.
De acordo com Rebeca Cerdeira, hoje egressa do curso de Fonoaudiologia, essa pesquisa tem um papel essencial na promoção da saúde e da qualidade de vida das pessoas. “Com o desenvolvimento de um aplicativo voltado para essa finalidade, conseguimos democratizar o acesso à terapia, especialmente para as pessoas que vivem em regiões com acesso limitado a profissionais especializados”, declara.
A fonoaudióloga diz que os benefícios são diversos. Para ela, o principal é oferecer uma ferramenta acessível como o aplicativo nos celulares, que se baseia em evidências científicas e auxilia pacientes na realização dos exercícios de reabilitação orientada e contínua em casa. Além disso, o programa também pode ser usado como apoio pelos profissionais de saúde, ampliando o alcance do tratamento e promovendo a adesão dos pacientes. Isso contribui para a redução dos sintomas, prevenção de quedas e melhora da qualidade de vida.
“Eu acho que é essencial seguir pesquisando nessa área, pois os distúrbios vestibulares afetam uma parcela significativa da população, especialmente idosos. Além disso, novas tecnologias, como aplicativos, abrem possibilidades para tratamentos mais personalizados e acessíveis. A pesquisa contínua permite aprimorar os recursos disponíveis, validar sua eficácia e garantir que o paciente receba o melhor cuidado possível, com base em evidências atualizadas” — Rebeca Cerdeira, egressa de Fonoaudiologia da Unifor e membro da equipe de pesquisa
Resultados e estrutura
Em outubro de 2016, houve a primeira publicação sobre o aplicativo no Encontro de Iniciação à Pesquisa da Unifor, publicado sob o título “ReaV, Tecnologia M-Health de Apoio à Reabilitação Vestibular”. No mesmo evento, em 2018, foi publicado mais um trabalho sobre o teste de usabilidade do sistema.
No Encontro de Práticas Docentes de 2017, os pesquisadores levaram o artigo “ReaV: Ferramenta de Apoio à Educação Prática em Saúde e à Extensão do Tratamento em Domicílio de Pacientes em Reabilitação Vestibular”. E em 2019, a equipe da pesquisa participou do primeiro “Seminário E-health e Saúde Pública: contribuições do Brasil e da Holanda”, na Unifor, onde também apresentou um trabalho.
Já em 2020, também no Encontro de Iniciação à Pesquisa da Unifor, foi desenvolvido um estudo sobre o impacto da qualidade de vida dos indivíduos com tontura, também pelo ReaV. No mesmo ano, foi publicado o livro “E-health Technologies in the context of health promotion”, que conta com um capítulo dedicado ao Aplicativo ReaV.
Rebeca explica que a Universidade de Fortaleza foi uma parceira estratégica para o desenvolvimento da pesquisa, onde ofereceu a infraestrutura necessária, apoio técnico e incentivo à produção científica aplicada. A Unifor promove, de acordo com ela, um ambiente interdisciplinar que favorece a inovação, além de valorizar projetos com impacto social. A equipe conseguiu contar ainda com o suporte de professores, laboratórios e acesso a ferramentas fundamentais para transformar a ideia do aplicativo em uma solução real.