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Seg, 18 Dezembro 2023 15:00

Pesquisa Unifor: Estudo analisa determinantes da sífilis congênita em Fortaleza

O trabalho é resultado da parceria entre a Unifor, a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza e a Harvard School of Public Health


Pesquisadores utilizaram uma abordagem de estudo de caso-controle para obtenção dos resultados (Foto: Getty Images)
Pesquisadores utilizaram uma abordagem de estudo de caso-controle para obtenção dos resultados (Foto: Getty Images)

A sífilis congênita – doença infectocontagiosa sistêmica causada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida da mãe para o bebê, por meio da placenta, em qualquer estágio da gestação – apresenta taxas elevadas de incidência no Brasil, emergindo como um sério problema de saúde no país. No Ceará, o município de Fortaleza é um dos mais impactados pelos expressivos índices da doença.

Nesse cenário, os docentes da Universidade de Fortaleza, vinculada à Fundação Edson Queiroz, Maria Alix Leite Araújo, professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC), e Antonio Lima Neto, docente do curso de Medicina, desempenharam papel fundamental na elaboração da pesquisa intitulada “Determinants of congenital syphilis in Fortaleza, Brazil: A retrospective case-control study".

O estudo (“Determinantes da sífilis congênita em Fortaleza, Brasil: estudo retrospectivo caso-controle”, em tradução livre) buscou analisar as interações entre fatores sociodemográficos, obstétricos e aqueles relacionados à assistência pré-natal. O foco é compreender como esses elementos influenciam a incidência da doença em recém-nascidos na cidade de Fortaleza.

O artigo destaca também as potenciais repercussões negativas da sífilis congênita no desenvolvimento fetal, incluindo riscos como natimortos, mortes neonatais, partos prematuros, baixo peso ao nascer e anomalias congênitas. Estes impactos ressaltam a urgência e relevância de iniciativas voltadas para a mitigação efetiva da doença.


Os achados deste estudo trazem importantes contribuições para as políticas de prevenção da sífilis congênita, pois os determinantes sociais não afetam apenas o acesso a serviços essenciais de cuidados pré-natais, mas também a continuidade e a qualidade dessas medidas preventivas.” — Maria Alix Leite Araújo, docente do PPGSC e autora do artigo

Maria e Antonio, junto a Higor Monteiro e Gaziel dos Santos, da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza, foram peças-chave na elaboração da pesquisa. Além disso, a atuação destacada de Melanie Etti, autora principal do artigo, e Márcia Castro, ambas vinculadas à Harvard School of Public Health, enriqueceu significativamente o desenvolvimento do estudo.

Métodos 

Para a elaboração do artigo, os pesquisadores adotaram uma abordagem retrospectiva de caso-controle, analisando dados referentes ao período de 2017 a 2020. 

As informações foram extraídas de duas fontes epidemiológicas do Ministério da Saúde do Brasil: o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC).

A primeira é utilizada para registro, análise e monitoramento de doenças e agravos de notificação compulsória, ou seja, aquelas que têm a obrigatoriedade de serem comunicadas às autoridades de saúde. 

Já a segunda tem como objetivo fornecer dados epidemiológicos sobre o perfil dos nascidos vivos, contribuindo para o planejamento e avaliação de políticas públicas. 

Os pesquisadores utilizaram também um modelo de regressão multivariada que leva em conta fatores sociodemográficos, obstétricos e relacionados à assistência pré-natal. Na análise, foram incorporados dados epidemiológicos de 8.744 nascidos vivos, abrangendo 2.186 casos e 6.588 controles.

Resultados 

As conclusões do estudo apontam uma maior probabilidade de ocorrência de sífilis congênita em mulheres com idade inferior a 20 anos, solteiras e com nível educacional inferior a oito anos. A realização de parto em hospital público, histórico de mais de quatro gestações prévias e presença de uma ou mais perdas fetais anteriores também foram identificados como fatores significativos.

Observou-se ainda uma incidência elevada da doença em mulheres que receberam uma quantidade reduzida de consultas de pré-natal, bem como naquelas que não compareceram a nenhum atendimento médico. No entanto, para as mulheres que compareceram a sete ou mais consultas, as chances eram menores. 

Dessa forma, é possível observar que a vulnerabilidade socioeconômica está fortemente associada aos nascimentos dos bebês com sífilis congênita, uma vez que as mulheres que apresentam essas características encontram-se em condições de fragilidade financeira e social.

Sendo assim, o estudo traz luz à necessidade de implementação de políticas públicas de atenção à mulher, privilegiando a assistência pré-natal.

“Em Fortaleza, é fundamental o desenvolvimento de políticas públicas de prevenção direcionadas à melhoria da qualidade da assistência à mãe e ao bebê, bem como de estratégias de prevenção que considerem as diversas necessidades sociais e de saúde de mulheres e adolescentes que correm maior risco de dar à luz a bebês com sífilis congênita”, analisa Maria Alix.

Publicação internacional 

O artigo foi publicado em dezembro deste ano na importante revista internacional “PLOS Global Public Health", que aborda desigualdades globais profundamente arraigadas na saúde pública e torna pesquisas impactantes visíveis e acessíveis a profissionais de saúde, formuladores de políticas e comunidades locais. 

O periódico publica pesquisas relacionadas à prestação de serviços de saúde global; doenças infecciosas; doenças não comunicáveis; raça e saúde; saúde mental, medicina laboratorial; saúde materna, neonatal e infantil, entre outros.