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Seg, 6 Novembro 2023 14:55

Pesquisa Unifor: Medo do fracasso afeta intenções empreendedoras em estudantes latino-americanos

O trabalho visa desenvolver estudos mais profundos dos processos emocionais na intenção do comportamento empreendedor


Pesquisa mostrou que o medo do fracasso é uma emoção multidimensional (Ilustração: Getty Images)
Pesquisa mostrou que o medo do fracasso é uma emoção multidimensional (Ilustração: Getty Images)

Empreender é uma constante de desafios para muitos que investem nessa atividade, haja vista as dificuldades existentes antes e durante tal processo. Dentre os obstáculos presentes, a questão emocional pode ser um grande empecilho quando se trata da intenção empreendedora.

Dentro desse contexto, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Fortaleza, instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz, produziu o artigo “The role of fear of failure on students’ entrepreneurial intentions in Latin America”, ou “O papel do medo do fracasso nas intenções empreendedoras dos estudantes na América Latina”, em tradução livre.

O estudo buscou desenvolver uma compreensão mais profunda dos processos motivacionais envolvidos na intenção do comportamento empreendedor. Isso acontece a partir de uma integração entre o medo, especificamente o do fracasso, e o empreendedorismo na Teoria do Comportamento Planejado (TCP).

A TCP é um conceito que baseia-se no pressuposto de que os indivíduos tomam suas decisões de forma racional e utilizam sistematicamente as informações que possuem, considerando as implicações de suas ações antes de decidirem se devem ou não se comportar de determinada forma.

Nesse sentido, o empreendedorismo é uma atividade que gera fortes emoções, dado que os indivíduos que empreendem lidam com contextos de pressão de tempo, incertezas e ambientes de consequências pessoais prolongadas ligadas aos destinos dos seus investimentos.


“O medo existe, ele é um fato, precisamos dele para sobreviver, para termos receios das consequências. Porém, essa emoção tem várias tipologias e buscamos entender como o medo do fracasso especificamente afeta a intenção de empreender.”Bruno Lessa, autor do artigo e professor do curso de Administração da Unifor

O time de pesquisa da Unifor contou com Bruno Lessa, professor do curso de Administração; Milton Sousa, Vice-Reitor de Pesquisa; e Jessyca Lages de Carvalho, egressa do doutorado em Administração de Empresas. A participação internacional ficou por conta de Elizabeth Emperatriz Garcia, docente da Universidad Nacional Tecnológica de Lima Sur (UNTELS). 

Métodos 

Para alcançar os resultados do trabalho, a equipe de pesquisadores coletou uma amostra com 979 estudantes do ensino superior em administração de países da América Latina. Os participantes tinham como origem Brasil, Colômbia, México e Peru.

A partir dessa coleta, foi estabelecida uma escala, que forneceu um construto multidimensional do medo do fracasso e está dividida em cinco dimensões, sendo elas:

  • Medo de que outras pessoas importantes percam o interesse;
  • Medo da autoestima;
  • Medo da vergonha;
  • Medo de uma situação incerta;
  • Medo de perturbar outras pessoas importantes.

Além disso, foram mensurados os construtos da atitude, do Controle Comportamental Percebido (CCP) e da intenção empreendedora por meio de um Questionário de Intenções Empreendedoras (EIQ). Esses três construtos são moduladores da TCP.

Resultados e contribuições

Alicerçado pelos métodos, os pesquisadores concluíram que o medo do fracasso é um fator psicológico inibidor do empreendedorismo. Porém, os países obtiveram relações diferentes com essa emoção.

O medo, por exemplo, afetou mais o construto da atitude entre os brasileiros e mexicanos participantes do trabalho, que está relacionado com o receio do julgamento da família. Já entre os estudantes do Peru e da Colômbia, o afetamento está mais ligado à questão social.

“O medo é uma forma e ela vai variar de acordo com cada país. As camadas de medo que influenciam a decisão de empreender no Brasil são diferentes das de outros países. Ou seja, a influência do medo na intenção de empreender tem que ser pensada a partir de suas características locais”, analisa Bruno Lessa.

Ainda assim, o artigo mostrou que o ponto em comum entre todos os países é o fato de que aqueles que pensam em empreender possuem mais medo de serem julgados por outras pessoas do que por questões envolvendo falência ou incerteza.


O medo de ser julgado pelos outros é o ponto em comum entre pessoas de diversas culturas que têm interesse em empreender (Foto: Getty Images)

Dessa forma, de acordo com as conclusões, o estudo traz uma contribuição tripla para a sociedade. A primeira contribui para a teoria ao ampliar conhecimentos sobre a influência do medo do fracasso na intenção de se tornar empreendedor.

O estudo também contribui de forma prática ao permitir a elaboração de estratégias para fomentar o empreendedorismo com foco na redução do medo do fracasso, inclusive o de ser julgado por outros. 

Por esse ângulo, o cerne seria em diminuir as consequências sociais do fracasso para alcançar um impacto positivo na intenção de empreender, dado que as pessoas estariam mais interessadas em trabalhar em uma atividade que não envergonhasse amigos e familiares.

A pesquisa também coopera no campo da educação, possibilitando que os estudantes tenham contato com currículos e práticas mais precisamente alusivas a suas realidades sociais, aumentando as perspectivas do empreendedorismo entre os alunos.

Publicação internacional

Dada a importância do estudo, ele foi publicado em outubro deste ano na “The International Journal of Management Education”, revista que oferece um fórum para relatórios acadêmicos e discussão de desenvolvimentos em todos os aspectos do ensino e aprendizagem em negócios e gestão.

A revista trabalha com artigos reflexivos que reúnam pedagogia e teorias de aprendizagem social. O periódico ainda se destaca por ter CiteScore em 7.1 e fator de impacto 5.2.